Em homenagem ao Rei do Futebol, vamos relembrar alguns momentos que ele, que foi quem mais castigou os goleiros mundo afora, se tornou um deles, um goleiro.
Três pontos sobre… … Palmeiras: Campeão da Copa Libertadores da América 2020
(Imagem: Silvia Izquierdo / Reuters)
● Todos esperávamos uma grande decisão. Mas podemos dizer que o nível técnico decepcionou um bocado.
Mas muito pelo excelente trabalho tático. Ambos treinadores prepararam bem suas equipes, a fim de impedir a criação de jogadas pelo adversário. O posicionamento dos sistemas defensivos foi perfeito e a marcação foi muito bem feita.
Os dois times jogaram espelhados no 4-1-4-1. O Santos com: John; Pará, Lucas Veríssimo, Luan Peres e Felipe Jonatan; Alison; Diego Pituca, Sandry, Yeferson Soteldo e Marinho; Kaio Jorge.
O Palmeiras foi a campo com: Weverton; Marcos Rocha, Luan, Gustavo Gómez e Matías Viña; Danilo; Gabriel Menino, Zé Rafael, Raphael Veiga e Rony; Luiz Adriano.
Cuca fez um trabalho brilhante no Santos, usando muito bem as categorias de base e sabendo potencializar as melhores qualidades de Soteldo e Marinho. Enquanto Marinho era um refugo do Grêmio, Soteldo era praticamente um desconhecido. E ambos foram os melhores jogadores da competição. Mas, nessa decisão, foram engolidos pela marcação de Gabriel Menino e Viña. Outro que poderia ter feito algo diferente era o jovem centroavante Kaio Jorge, mas ele nem chegou a pegar na bola. E o Santos que demoliu Grêmio e Boca Juniors encontrou uma “defesa que ninguém passa”, como diz no hino do Palmeiras.
Esse Palmeiras que, treinado por Vanderlei Luxemburgo, ficou com a primeira colocação geral da primeira fase, lançando os moleques da base. Esse mesmo Palmeiras que contratou um pouco conhecido Abel Ferreira, confiando no brilho da escola de técnicos portugueses. Esse mesmo Abel (ex-Braga), que deu uma característica diferente para o time: precisando se virar com a ausência de Felipe Melo, escalou os “três porquinhos” na trinca de meio campo (Danilo, Patrick de Paula e Gabriel Menino). O mesmo técnico que transformou Rony de meme em fundamental e decisivo para que o Porco chegasse na final.
Se teve sorte em todo o chaveamento, sem pegar nenhum time minimamente decente até as semifinais, o time teve competência para passar por todos os adversários. E chegou na decisão detonando o River Plate na Argentina por 3 x 0 (fora o baile). Se o River jogou mais no Allianz Parque do que o Palmeiras jogou no jogo de ida, faltaram os gols. O River poderia ter vencido por uma diferença muito mais ampla, mas não o fez. Alguns culpam o VAR, que agiu certo. Então, méritos totais do Palestra, que soube sofrer e vencer.
● E foram 90 minutos entre cochilo, soneca e sono profundo. O telespectador não conseguia ficar de olho aberto. Talvez, nem a tensão que os cercavam, palmeirenses e santistas conseguissem ficar com os olhos abertos.
O Santos pode ter sido ligeiramente melhor, conseguindo anular o jogo do Palmeiras. Mas o Palmeiras também soube muito bem anular o jogo do Santos. Era um perde e ganha danado no meio campo e foi só isso mesmo.
Até os 40 minutos do segundo tempo, quando Abel tirou Gabriel Menino e colocou Breno Lopes, soltando mais o time. Essa ousadia seria premiada.
Cuca foi tão decisivo quanto Abel. O treinador santista tem um histórico de “tirar leite de pedra”, fazendo jogar bem elencos sem estrelas. Tem em seu currículo o título da Libertadores de 2013, mas também um caso mal solucionado de estupro coletivo cuja vítima (Sandra Pfäffli) tinha apenas 13 anos em 1987 e foi condenado a cumprir pena em regime aberto. De acordo com o “Blog do Paulinho”, “desde então, frequentemente, é atribuído a Cuca certo desequilíbrio psicológico, mesmo nos tempos atuais, em que trabalha como treinador”.
E esse desequilíbrio, como se fosse uma certa malandragem, aconteceu já nos acréscimos. Ele tentou retardar o lateral que seria cobrado por Marcos Rocha, que tem força nos braços suficiente para fazer um lançamento perigoso naquele que poderia ser o último ataque do jogo. Cuca impediu o reinício rápido. Marcos Rocha tentou pegar a bola em velocidade e atropelou Cuca, causando um alvoroço e empurra-empurra entre membros dos dois times. O árbitro argentino Patricio Lostau veio com a decisão tomada: cartão amarelo para Marcos Rocha e vermelho para Cuca. Solução mais do que justa.
Muitos defendem que Cuca foi agredido. Mas o que ele estava fazendo ao retardar o jogo? Isso é de jogo? Claro que não. Isso é malandragem e a malandragem deve ser punida – especialmente de quem não está dentro das quatro linhas. Renato Gaúcho e Mano Menezes são outros que já fizeram algo do tipo. Isso é anti-jogo e, como todo anti-jogo, deveria ser punido com uma punição exemplar, em caráter pedagógico.
Mais ridículo ainda foi a entrevista coletiva de Cuquinha, irmão e auxiliar técnico de Cuca. “E o atleta que passou o pé no treinador é o mesmo que a gente foi resgatar no América-MG e levamos ao Atlético-MG.” “Dá certa dor porque foi o Marcos Rocha.” Fica uma sensação de que Marcos Rocha foi ingrato ao agredir Cuca, mas a única coisa que o jogador queria era cobrar logo o lateral, defendendo as cores de sua equipe – assim como fez por muitos e muito bem, defendendo as cores do Atlético Mineiro, dando o sangue e a vida por Cuca.
Ridículo. Assim como também é ridículo quem pede a demissão de Cuca. Ele foi o principal responsável pela campanha brilhante do Santos e merece todos os méritos.
● Bom… e teve gol…
Logo depois desse episódio lamentável, Danilo fez o lançamento na ponta direita e Rony teve tempo e espaço para dominar no peito, ajeitar a bola, pensar no que fazer e cruzar com perfeição no segundo pau. A bola passou por Pará, que não conseguiu subir, e Breno Lopes cabeceou no contrapé, sem chances para o goleiro John. Gol do título, feito pelo jogador que foi uma aposta de Abel Ferreira e que até setembro jogava no Juventude (que nos tempos da Parmalat era irmão de leite do Palmeiras).
Assim como o pênalti cobrado para fora por Martín Zapata em 1999, o gol de Breno Lopes entra para a história palmeirense como um dos momentos mais importantes do clube.
Meu pai, que era palmeirense verde, deve estar em festa lá no céu.
Agora, no próximo domingo começa a busca pelo título do Campeonato Mundial de Clubes, a fim de acabar com a eterna piada.
Três pontos sobre… … Mengálvio: o motor do Santos de Pelé
(Imagens localizadas no Google)
● Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Repetido diversas vezes, bem que poderia ser um mantra de vibrações positivas, mas é o ataque santista bicampeão mundial, uma das maiores linhas de ataque que o futebol conheceu. Jogaram juntos apenas 99 vezes, mas esses nomes falados todos juntos, parecem ser um só, o máximo que o futebol pode proporcionar. Nessas 99 partidas, foram 71 vitórias, 9 empates e 19 derrotas (aproveitamento de 76,6%), com 327 gols marcados (sendo 295 do quinteto – 90%) e 158 sofridos. Mengálvio foi o último desse ataque a chegar ao Santos, em 1960.
Do “quinteto mágico”, era ele quem menos brilhava, pois sua missão principal era auxiliar o capitão Zito na marcação e iniciar a transição para o ataque. Defendia e atacava com a mesma intensidade. Era um jogador de grande habilidade, criatividade, dinâmica, inteligência e um fôlego privilegiado.
Mengálvio Pedro Figueiró nasceu em 17/12/1939, na cidade de Laguna, no litoral sul de Santa Catarina. Foi revelado por uma equipe de sua cidade natal, chamado Barriga Verde FC (clube atualmente extinto), onde jogava como volante. Com 17 anos, foi jogar no Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo-RS, onde esteve de 1957 a 1959, sendo vice-campeão gaúcho neste último ano, perdendo a final para o Grêmio. Foi contratado pelo Santos após o Pan-Americano por indicação do zagueiro Calvet, recém chegado ao Santos, com quem atuou nesse mesmo torneio. Estreou pelo Peixe em 19/04/1960, empatando com a Portuguesa em 2 a 2 pelo Torneio Rio São-Paulo, entrando no segundo tempo no lugar do meia Ney. Jogou pela primeira vez como titular dois dias depois, em empate por 1 a 1 com o São Paulo, pelo mesmo torneio.
Foi multi-campeão pelo Santos, com destaque para os títulos da Libertadores e Mundial em 1962 e 1963. No fim do ano 1968, recebeu o passe livre do Santos. Na ocasião, o presidente do clube, Athiê Jorge Coury, foi bastante feliz em suas palavras: “A liberação é um justo prêmio aos inestimáveis serviços que Mengálvio prestou à coletividade alvinegra, com dedicação, real valor e consciência profissional exemplar, tanto em campos brasileiros como no exterior. Seus feitos e a sua participação marcante a serviço do Santos e do glorioso futebol brasileiro permanecerão inolvidáveis, e aqui permanecerão amigos e admiradores que, nesta oportunidade, com estima, lhe desejam votos de toda sorte de felicidade e de sucesso ímpar em sua consagrada carreira.” Pelo Peixe, esteve em 371 partidas e marcou 28 gols. Foi emprestado ao Grêmio em 1968 e atuou no Millonarios, da Colômbia, em 1969, onde foi campeão do Torneio Finalización.
● Era o reserva de Didi na Seleção Brasileira que conquistou a Copa do Mundo de 1962, no Chile. Pela Seleção Brasileira, fez 14 jogos e anotou um gol, em 15/03/1960, abrindo o placar contra o México em vitória por 2 a 1 pelo Campeonato Pan-Americano, enquanto ainda jogava pelo Aimoré.
Por ser grande, molengão no andar e bochechas meio caídas, ganhou de Garrincha o apelido de “Pluto”, em referência ao simpático personagem da Disney. De acordo com o livro “Time dos Sonhos”, do jornalista Odir Cunha, Mengálvio era alvo constante de brincadeiras e zoação dos demais colegas de equipe, por ser meio bonachão e desligado. No mesmo livro, o ex-centro-avante Coutinho conta que certa vez Mengálvio chegou em um hotel bastante cansado e acabou adormecendo sobre as malas que levava no elevador, permanecendo dormindo dentro dele por muito tempo. São creditadas a ele várias histórias e citações hilárias, mas uma verdadeira é quando certa vez enviou um telegrama “secreto” aos seus familiares dizendo: “Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG”.
Foi técnico interino do Santos rapidamente, em 1978. Quando deixou o futebol em 1969, Mengálvio trabalhou como supervisor de uma rede de cinemas no litoral paulista e posteriormente na cooperativa dos ex-atletas profissionais de São Paulo. Atualmente Mengálvio está aposentado e vive em situação modesta na cidade de Santos.
Era o chamado “falso lento”, que ao invés de correr com a bola, fazia a bola correr.
● Feitos e premiações de Mengálvio:
Pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo de 1962.
– Campeão da Copa Roca em 1963.
– Campeão da Taça Oswaldo Cruz em 1962.
– Vice-campeão do Campeonato Pan-Americano em 1960.
Pelo Santos:
– Bicampeão da Copa Intercontinental em 1962 e 1963.
– Bicampeão da Taça Libertadores da América em 1962 e 1963.
– Pentacampeão da Taça Brasil em 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965.
– Campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1963, 1964 e 1966.
– Campeão do Campeonato Paulista em 1960, 1961, 1962, 1964, 1965 e 1967.
– Campeão da Supercopa dos Campeões Intercontinentais em 1968.
– Bicampeão do Torneio de Paris em 1960 e 1961.
Pelo Millonarios (Colômbia):
– Campeão do Torneio Finalización da Colômbia em 1969.
Três pontos sobre… … Santos, de Diego e Robinho, Campeão Brasileiro de 2002
(Imagem: Lance!)
● Na década de 1960, o Santos foi o time a ser batido, com um esquadrão que está na ponta da língua dos amantes do futebol: Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Após essa fase, o clube viveu um terrível ostracismo, tendo apenas lampejos, como na era dos “Meninos da Vila” (Juary, Pita, Aílton Lira e João Paulo) ou com o vice-campeonato brasileiro de 1995, com o “Messias” Giovanni. Foi nesse cenário que o alvinegro praiano chegou no século XXI: com um jejum de mais de trinta anos sem levantar uma taça importante.
O Santos até tentou montar um time forte entre 2000 e 2001, mas não conseguiu seus objetivos. Assim, com alguns medalhões como Fábio Costa, Robert e Fabiano Souza, começou o Campeonato Brasileiro de 2002 desacreditado, com uma campanha toda irregular. O time só engrenou após o técnico Émerson Leão estruturar o jogo coletivo, dando mais liberdade para brilhar os talentos individuais, especialmente de Robinho (18 anos) e Diego (17). Ainda assim o time se classificou na “bacia das almas”. Perdeu as duas últimas partidas da primeira fase e terminou empatado com o Cruzeiro, ambos com 39 pontos. O saldo de gols maior foi o critério que classificou o Peixe para a fase seguinte.
Por ter passado em 8º, teve que enfrentar nas quartas de final o poderoso São Paulo, que foi o líder na classificação geral, terminando a fase com dez vitórias consecutivas. O Tricolor estava voando, com craques como Rogério Ceni, Ricardinho, Kaká e Luis Fabiano. Todos esperavam uma classificação tranquila do São Paulo. Mas os “moleques” da Vila trataram de jogar como gente grande e venceu o adversário por 3 a 1 na Vila Belmiro e por 2 a 1, dentro do Morumbi, com Diego dançando em cima do escudo do SPFC, iniciando uma confusão geral. O torcedor santista começou a acreditar, mesmo reticente por estar acostumado a se decepcionar recentemente.
Nas semifinais, enfrentou o Grêmio, que havia eliminado o rival Juventude. Na Vila, um chocolate e 3 a 0 na bagagem. No antigo Olímpico, uma derrota por 1 a 0 não impediu a classificação santista.
(Imagem: Folha UOL)
● A final seria contra um fortíssimo time do Corinthians, que havia sido campeão do Torneio Rio-São Paulo e da Copa do Brasil naquele mesmo ano. O Timão vinha sedento pela tríplice coroa, comandado pelo técnico Parreira. Foram dois jogos no Morumbi. No primeiro, o Santos venceu por 2 a 0, com gols de Alberto e Renato, mas perdeu o meia Diego, contundido.
Na finalíssima, Diego insistiu em jogar, mas durou apenas dois minutos em campo. Sem seu camisa 10, a torcida estava apreensiva. Mas Robinho se tornou o super-herói do Peixe e jogou por ele e pelo parceiro Diego. No fim do primeiro tempo, aos 37 minutos, partiu pra cima do lateral Rogério, com inúmeras “pedaladas”, enquanto o marcador se afastava. Quando Robinho entrou na área, partiu para o drible e foi chutado por Rogério, que chegou atrasado no lance. Pênalti bem cobrado pelo próprio Robinho.
Precisando de três gols, o Timão partiu pra cima e virou o jogo no final, com Deivid (aos 30) e Anderson (aos 39 minutos do segundo tempo). O Corinthians precisava de apenas mais um gol. Será que o Peixe iria morrer na praia de novo? Absolutamente não! Robinho inicia jogada pela direita e cruza para Elano empatar a dois minutos do fim. Nos acréscimos, ainda daria tempo para (de novo) Robinho colocar Vampeta pra dançar e rolar pra trás para o lateral Léo fuzilar. Gol do título.
Foi a coroação de um excepcional trabalho nas divisões de base, que renderia frutos também para a próxima década. Uma talentosa geração que entrou para a história não só do clube de Pelé, mas também do futebol brasileiro.
● FICHA TÉCNICA
Corinthians 2 x 3 Santos
CORINTHIANS (4-3-3)
Doni; Rogério, Fábio Luciano, Anderson e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato Abreu (Marcinho); Deivid, Guilherme (Leandro) e Gil. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
SANTOS (4-4-2)
Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, Michel); Robinho e William (Alexandre). Técnico: Émerson Leão.
Data: 15/12/2002
Local: Estádio Morumbi
Público: 74.592
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Gols:
37′ Robinho (SAN) (pen)
75′ Deivid (COR)
84′ Anderson (COR)
88′ Elano (SAN)
90’+ 2′ Léo (SAN)
Além dos titulares no jogo final, compunham o elenco santista, dentre outros:
Júlio Sérgio (goleiro), Michel (lateral direito), Preto (zagueiro), Pereira (zagueiro), Robert (meia), Alexandre (meia), Canindé (meia), Adiel (atacante), Douglas (atacante), Fabiano Souza (atacante) Bruno Moraes (atacante) e Alberto (atacante, que era titular do time, mas estava suspenso para a segunda partida da final).