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… 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal

Três pontos sobre…
… 05/06/2002 – Estados Unidos 3 x 2 Portugal


Luís Figo em disputa de bola com Brian McBride (Imagem: Pinterest)

● Portugal voltava a disputar a Copa após 16 anos, com status de grande sensação. Tinha uma equipe de nível mundial, bastante qualificada. Foi semifinalista da Eurocopa dois anos antes e agora queria dar um passo além, no maior palco do mundo.

Onze anos depois de faturar pela segunda vez seguida o Mundial Sub-20, os lusos chegavam à Copa de 2002 tendo em sua constelação várias estrelas daquela geração vencedora: Luís Figo (melhor jogador do planeta em 2001), Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Abel Xavier e Nuno Capucho. Além deles, haviam outros jogadores experientes e vencedores, como: Vítor Baía, Fernando Couto, Paulo Sousa, Pauleta, Sérgio Conceição, e os jovens Jorge Andrade e Nuno Gomes. Eram atletas que tinham potencial para surpreender e até sonhar com o título mundial. Mas para muitos, seria a última Copa, devido à idade.

Os acontecimentos de 11 de setembro do ano anterior deixaram os Estados Unidos e seus cidadãos em alerta máximo. Os jogadores de futebol não eram exceção e medidas de segurança foram ainda mais intensificadas para a chegada da seleção americana à Coreia do Sul. Um pequeno exército cuidou de Bruce Arena e seus comandados durante toda sua estadia.

Após uma campanha digna em 1994, quando sediou o torneio, os Estados Unidos tinham decepcionado e terminado em último entre os 32 participantes na Copa de 1998. Agora, a missão dos americanos era fazer uma campanha digna e, com uma grande dose de sorte, passar de fase. Mas eles quase não nutriam esperanças em uma chave com o favorito Portugal, a co-anfitriã Coreia do Sul e a historicamente forte Polônia. Assim, ninguém esperava que os Estados Unidos fossem oferecer resistência.

Bruce Arena escalou os Estados Unidos em um 4-4-2, com duas linhas de quatro.


Portugal jogava também jogava em uma espécie 4-4-2 que se alternava. Quando se defendia, era um 4-1-4-1, com Petit fechando no meio e João Pinto recuando. Quando atacava, se tornava um 4-1-3-2, com Sérgio Conceição e Luís Figo avançando pelas pontas, Rui Costa armando pelo meio e João Pinto se tornando atacante.

● Os 37.306 presentes no estádio de Suwon viram um dos melhores confrontos do campeonato.

A verdade é que Portugal estreou contra os Estados Unidos pensando no primeiro lugar do grupo D. Mas enquanto os lusos pensavam, os americanos jogavam.

Quatro minutos depois que o árbitro equatoriano Byron Moreno deu o apito inicial, os Estados Unidos já anotavam o primeiro gol. O capitão Earnie Stewart cobra escanteio para a área. Brian McBride tenta de cabeça, o goleiro Vítor Baía faz boa defesa, mas dá rebote. A zaga fica parada e John O’Brien aproveita a sobra e completa para o gol.

O início desastroso dos tugas começava na incapacidade de segurar a bola, continuava nos erros de posicionamento da defesa e na falta de aproximação entre o meio campo e o atacante Pauleta. Figo e Rui Costa foram nulos durante todo o jogo.

Aos 29′, Jorge Costa faz tudo que não deveria fazer. Ele erra o passe ao sair jogando pela esquerda e dá a bola aos norte-americanos. O garoto Landon Donovan fica com ela e cruza. A bola bate na nuca do próprio Jorge Costa e entra no gol. Os Estados Unidos já tinham feito mais gols nesse jogo do que em toda a Copa passada.

Aos 36 minutos, Tony Sanneh cruza da direita e McBride mergulha e cabeceia para o gol, sem ser incomodado.


Brian McBride mergulha para fazer o segundo gol dos EUA (Imagem: Pinterest)

Para os lusos, a derrota ganhava ares de vexame. A defesa se esforçou muito em falhar e deu três gols de presente aos estadunidenses, que passaram a se fechar mais, dificultando a criação dos patrícios.

Mas apenas três minutos depois, Figo cobra o escanteio, Beto tenta de cabeça, Pablo Mastroeni afasta mal e Beto manda a sobra no ângulo do ótimo Brad Friedel.

Na sequência, Portugal teve inúmeras chances perdidas, principalmente pelo centroavante Pauleta.

Conseguiria diminuir só aos 26′ do segundo tempo. Pauleta ergue a bola na área. Jeff Agoos tenta cortar e joga a bola contra seu próprio patrimônio, mas isso não evitou o naufrágio português na estreia.

Foi a primeira (e, por enquanto, única) vez na história das Copas em que houveram dois gols contra na mesma partida, um para cada seleção.

Portugal teve mais posse de bola (57%, contra 43% dos adversários), mais chutes a gol (12 a 10) e mais oportunidades criadas. Um empate talvez deixasse o placar mais justo, mas quem joga tão mal e comete erros tão graves com os lusos fizeram no primeiro tempo, não merece um resultado melhor. A valentia dos ianques foi recompensada com a vitória.


O garoto Landon Donovan foi decisivo para a vitória de sua seleção, ao contrário do badalado Luís Figo (Imagem: EPA / Telegraph)

● “Entramos para o segundo tempo meio desanimados. Sofremos um gol logo antes do intervalo, depois de um escanteio, e ficou 3 a 1, mas achamos que a vantagem era boa, estando dois gols à frente. Eles não iam desistir facilmente.” ― Bruce Arena, técnico americano

“Foi inacreditável, uma noite confusa, nevoeiro asiático. Em 20 minutos, já estava 3 a 0 para nós. Nem parecia verdade, parecia um sonho. Só sei que vencemos por 3 a 2 e acho que isso vai nos trazer mais resultados bons nesta Copa.” ― John O’Brien.

E realmente aconteceram boas coisas para os EUA na sequência da competição. Após baterem os lusos, empataram com a Coreia do Sul por 1 x 1 e perderam para a Polônia por 3 x 1. Nas oitavas de final, venceram os arquirrivais mexicanos por 2 x 0. Nas quartas, jogaram bem e venderam caro a derrota para a Alemanha por 1 x 0, perdendo muitas chances de vencer, com um grande jogo e grandes defesas do goleiro alemão Oliver Kahn. Mas saíram de cabeça erguida, ao contrário dos portugueses.

Portugal caiu ainda na primeira fase. Após essa derrota para os EUA, goleou a Polônia por 4 a 0. Na última rodada, com a vitória dos poloneses sobre os americanos, Portugal jogava pelo empate com a co-anfitriã Coreia do Sul. Com dois jogadores a menos (João Pinto e Beto foram expulsos), os portugueses tentaram sinalizar para os sul-coreanos para que mantivessem o placar zerado, garantindo as duas equipes na próxima fase. Mas os asiáticos não entenderam ou não quiseram saber do empate, seguiram atacando e venceram por 1 a 0, eliminando os tugas e classificando os americanos.

John O’Brien aproveita a sobra e abre o placar (Imagem: Getty Images)

FICHA TÉCNICA:

 

ESTADOS UNIDOS 3 x 2 PORTUGAL

 

Data: 05/06/2002

Horário: 18h00 locais

Estádio: Suwon World Cup Stadium

Público: 37.306

Cidade: Suwon (Coreia do Sul)

Árbitro: Byron Moreno (Equador)

 

ESTADOS UNIDOS (4-4-2):

PORTUGAL (4-4-2):

1  Brad Friedel (G)

1  Vítor Baía (G)

22 Tony Sanneh

22 Beto

23 Eddie Pope

5  Fernando Couto (C)

12 Jeff Agoos

2  Jorge Costa

2  Frankie Hejduk

23 Rui Jorge

8  Earnie Stewart (C)

20 Petit

5  John O’Brien

10 Rui Costa

4  Pablo Mastroeni

11 Sérgio Conceição

17 DaMarcus Beasley

7  Luís Figo

21 Landon Donovan

8  João Pinto

20 Brian McBride

9  Pauleta

 

Técnico: Bruce Arena

Técnico: António Oliveira

 

SUPLENTES:

 

 

18 Kasey Keller (G)

16 Ricardo (G)

19 Tony Meola (G)

15 Nélson (G)

3  Gregg Berhalter

3  Abel Xavier

6  David Regis

13 Jorge Andrade

14 Steve Cherundolo

4  Marco Caneira

16 Carlos Llamosa

18 Nuno Frechaut

10 Claudio Reyna

6  Paulo Sousa

13 Cobi Jones

17 Paulo Bento

7  Eddie Lewis

14 Pedro Barbosa

11 Clint Mathis

12 Hugo Viana

15 Josh Wolff

19 Capucho

9  Joe-Max Moore

21 Nuno Gomes

 

GOLS:

4′ John O’Brien (EUA)

29′ Jorge Costa (EUA) (gol contra)

36′ Brian McBride (EUA)

39′ Beto (POR)

71′ Jeff Agoos (POR) (gol contra)

 

CARTÕES AMARELOS:

34′ Beto (POR)

52′ Petit (POR)

90’+ 2′ DaMarcus Beasley (EUA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Earnie Stewart (EUA) ↓

Cobi Jones (EUA) ↑

 

69′ Rui Jorge (POR) ↓

Paulo Bento (POR) ↑

 

74′ Jorge Costa (POR) ↓

Jorge Andrade (POR) ↑

 

75′ Landon Donovan (EUA) ↓

Joe-Max Moore (EUA) ↑

 

80′ Eddie Pope (EUA) ↓

Carlos Llamosa (EUA) ↑

 

80′ Rui Costa (POR) ↓

Nuno Gomes (POR) ↑

Gols da partida:

… Luís Figo

Três pontos sobre…
… Luís Figo


(Imagem localizada no Google)

● No dia 04/11/1972 nascia em Lisboa o craque Luís Filipe Madeira Caeiro Figo, ou, simplesmente, Luís Figo. Vindo de uma família pobre, começou a dar seus primeiros passos no União Futebol Clube “Os Pastilhas”, um time do bairro da freguesia da Cova da Piedade. Logo depois, se mudou para a freguesia do Laranjeiro e chamou a atenção de olheiros do Sporting Clube de Portugal, que o contratou. Começou a jogar nos “leões” aos 17 anos, em 1989 e venceu apenas a Taça e a Supertaça em 1995. Nesse ano, Figo decidiu sair do Sporting por problemas na renovação contratual. o Campeonato Italiano ainda estava no auge e vários clubes estavam atrás do português. Mas enquanto o clube o vendeu para a Juventus, ele já tinha assinado com o Parma. Foi punido pela Federação Italiana de Futebol e proibido de jogar no futebol do país por dois anos. Assim, o Barcelona entrou no negócio e contratou o meia. Na Catalunha, chegou com a responsabilidade de substituir Michael Laudrup e cativou a exigente torcida do Barça e foi bicampeão espanhol (1997/98 e 1998/99), venceu a Supercopa da Espanha em 1996 e a Recopa Europeia em 1996/97. Curiosamente, sua formação no Sporting foi como meio-campista e só passou a jogar pelos lados no Barcelona.

Em 2000 foi protagonista de uma das transferências mais controversas da história, trocando o Barcelona onde era o craque (ao lado de Rivaldo), líder, capitão e ídolo, pelo maior rival, o Real Madrid. Dizia se sentir desvalorizado pelos dirigentes do Barça e o presidente merengue Florentino Pérez pagou a cláusula de rescisão de Figo, com 60 milhões de euros, recorde de valor mais alto pago por um jogador naquela época. A torcida do Barça se sentiu traída e alguns meses depois (23/10/2000), em visita do Real Madrid ao estádio Camp Nou, a cada escanteio batido pelo ex-ídolo (foram cinco), a torcida blaugrana atirava objetos em campo, como: moedas, celulares, bolas de golfe e até mesmo cabeças assadas de um galo e de um porco. Posteriormente, o craque disse: “Talvez eu tenha sido o único jogador do mundo que jogou com mais de 100 mil pessoas contra. Senti medo em vários momentos da partida, pois estava assustado e com medo de que algum louco perdesse a cabeça”.

Com a camisa 10 dos “blancos”, enfim conquistou a UEFA Champions League em 2001/02, além da Copa Intercontinental e da Supercopa Europeia em 2002, do Campeonato Espanhol em 1997/98 e 2002/03 e da Supercopa da Espanha em 2001 e 2003. Figo foi o primeiro dos “Galacticos”, apelido dado à equipe na época em que jogavam juntos estrelas como o próprio Figo, Zinedine Zidane, Ronaldo, David Beckham, Roberto Carlos e Raúl. Essa equipe ficou marcada na história pelos craques, mas infelizmente não conquistou nenhum título relevante com todas as feras juntas.

Deixou o Real após pequenas desavenças com o então técnico, o brasileiro Vanderlei Luxemburgo. Em 2005 foi para a Internazionale de Milão, onde voltou a usar a camisa nº 7. Mesmo não atuando em um grande número de jogos, foi importante para a equipe. No clube “nerazzurri” foi tetracampeão italiano (2005/06 a 2008/09), campeão da Coppa Italia de 2006 e da Supercopa Italiana em 2005, 2006 e 2008. Se aposentou em 31/05/2009, jogando no estádio Giuseppe Meazza contra a Atalanta, com a Inter já campeã italiana. Nesse jogo, Javier Zanetti entregou a braçadeira de capitão a Luís Figo, como homenagem.

● Foi o líder de uma geração dourada da seleção de Portugal, campeã do Europeu Sub-17 em 1989, campeã do Mundial Sub-20 em 1991 e vice-campeão do Europeu Sub-21 em 1994, ao lado dos parceiros Rui Costa e João Pinto. Ainda em 1991, estreou pela seleção principal em um amistoso empatado em 1 a 1 com Luxemburgo. Jogou pelo seu país nas Eurocopas de 1996, 2000 (3º lugar) e 2004 (vice) e nas Copas do Mundo de 2002 e 2006 (4º lugar). Após a Euro 2004, na qual Portugal perdeu a final por 1 a 0 para a Grécia, Figo chegou a anunciar que não mais jogaria pela seleção. Mas quando a nação lusa precisou dele, nas rodadas finais das eliminatórias para a Copa de 2006, ele voltou e ajudou sua equipe na qualificação para o torneio. Foi o capitão de Portugal nessa Copa, levando a equipe às semifinais (algo que eles não conseguiam desde 1966), mas perderam para a França por 1 x . Na decisão do terceiro lugar, foi poupado pelo técnico Luiz Felipe Scolari, mas entrou aos 32 minutos do segundo tempo e ainda deu a assistência para o gol de honra do seu time, na derrota para a Alemanha por 3 x 1. Fez 125 jogos pela seleção de Portugal (por enquanto perde apenas para Cristiano Ronaldo) e marcou 32 gols (quarto maior artilheiro).

● Jogou profissionalmente por 20 anos (1989 a 2009) e se aposentou em 31/05/2009. Em 19 anos atuando nas equipes principais de seus clubes, a pior classificação final jogando nas ligas foi o 4º lugar (apenas 2 vezes). Conquistou a Bola de Ouro da revista France Football em 2000 e foi eleito o Melhor do Mundo pela FIFA em 2001. Pelé o nomeou para a polêmica lista FIFA 100 (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004). Foi eleito o jogador português do ano em 1995, 1996, 1997, 1998, 1999 e 2000 e só não foi mais porque esse prêmio deixou de existir em 2000. Ficou em 30º lugar na lista dos 100 maiores portugueses de todos os tempos, feita no programa “Os Grandes Portugueses”. Seus ídolos são Diego Maradona, Zico, Fernando Chalana e Paulo Futre. Seus marcadores mais difíceis, segundo ele, foram Roberto Carlos e Bixente Lizarazu.

É embaixador da UNICEF e em 05/07/2004 se tornou “Oficial da Ordem do Infante D. Henrique”, por prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no exterior, com a expansão da cultura portuguesa, sua história e seus valores. Na curiosa modalidade automobilística “A1 Grand Prix” (que ocorria nas férias da Fórmula 1 e durou de 2005 a 2009), em que cada país tinha uma equipe com “padrinhos”, os padrinhos da equipe portuguesa “A1 Team Portugal” eram Luís Figo e o técnico Carlos Queiroz. Uma de suas grandes paixões é colecionar relógios. É embaixador dos relógios IWC, uma das marcas mais exclusivas de relógios de luxo do mundo. Fez uma participação especial como ator no filme português “Second Life” (2009), de Miguel Gaudêncio e Alexandre Valente. Após se aposentar, o ex-craque cuida de sua fundação para crianças carentes e faz alguns trabalhos como modelo. Em janeiro de 2015, Figo anunciou sua intenção de se candidatar a presidente da FIFA, mas desistiu e nem se inscreveu na disputa.

Certa vez Figo confessou que aprendeu a falar inglês para conquistar sua atual esposa. Apesar de nunca ter morado em um país de língua inglesa, quando jogava no Barcelona ele fez aulas do idioma para aprender a seduzir a linda modelo sueca Helen Svedin, com quem é casado desde 2001 e tem três filhas: Daniela (nascida em 29/03/1999), Martina (23/02/2002) e Stella (09/12/2004). Pep Guardiola é padrinho de uma delas, devido à grande amizade que se formou entre ele e Figo na época do Barça.