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… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”

Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”


(Imagem: paixaocanarinha.com.br)

● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)

● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.

● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.

– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.

– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.

– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.

– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.

– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.

P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.

… Garrincha e o restaurante francês

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… Garrincha e o restaurante francês

(Imagem: UOL)

Durante uma excursão à Europa, a Seleção precisou fazer escala em Paris. E, entre um voo e outro, os jogadores acabaram almoçando no próprio restaurante do aeroporto. Dentista da equipe, Mário Trigo foi ajudar os jogadores com o cardápio em francês. Mas Garrincha recusou qualquer intervenção:

– Doutor, deixa que eu mesmo peço.

– Como é que você vai pedir, se não conhece a língua?

– Deixa, doutor. É simples. Só preciso apontar o dedo para o prato que quiser.

Enquanto todos almoçavam, Garrincha esperava. E o impaciente Mané reclamou da demora da comida ao doutor, que foi verificar com os garçons o que tinha acontecido. Desfez-se o mistério. O que ele tinha pedido?

– Não o servimos porque ele indicou que quer comer o dono do restaurante, Monsieur Jean Paul.

… Mané Garrincha: “Alegria do Povo”

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… Mané Garrincha: “Alegria do Povo”


(Imagem: Globo Esporte)

● Nascido Manoel dos Santos em 28/10/1933, sua irmã Rosa lhe deu o apelido de Garrincha aos quatro anos, por ser pequeno como um pássaro muito comum na região em que nasceu, Pau Grande, distrito da cidade de Magé (RJ). Quando adolescente, como quase todos na cidade, trabalhou na tecelagem América Fabril. Lá, começou a assinar “Manuel Francisco dos Santos” depois que o chefe da seção da fábrica acrescentou o “Francisco” (nome de seu pai) em sua ficha para evitar confusões com outros “Manuéis”. Ele trabalhava na fábrica quando foi convidado para treinar no Botafogo, em 1952, mas só apareceu um ano depois para fazer o teste. Justificou: “Sabe como é?! Quem trabalha em fábrica não pode sair a qualquer hora, não. O patrão manda a gente embora”. Sua perna direita era seis centímetros mais curta que a esquerda e ambas as pernas eram arqueadas para o lado esquerdo. Na biografia escrita pelo jornalista Ruy Castro, “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, de 1995, ele afirma que o menino já nasceu com essa deficiência. Em outras versões, as pernas tortas seriam resultado de uma poliomielite. Já era um milagre que andasse; jogar futebol, ainda mais com a mágica nos pés, era mais milagre ainda.

Se casou com a namorada de infância, Nair, e teve oito filhas. Se separou da primeira esposa e se casou com a cantora Elza Soares, atraindo a fúria do povo carioca, que ofendia a artista e atirava ovos e tomates em sua casa; era acusada de ter acabado com o casamento de Garrincha. Os amigos de Mané nunca aceitaram Elza. Ficaram juntos de 1968 a 1977. Antes, com uma amante chamada Iraci, Garrincha teve uma filha e um filho que também se tornou jogador de futebol, chamado Neném, que faleceu em Portugal aos 28 anos, em acidente automobilístico. Da mesma forma também morreu seu filho com Elza, Garrinchinha. O único filho homem vivo, foi concebido em 1959, em uma excursão do Botafogo à cidade sueca de Umeå. Ulf Lindberg não conheceu o pai e sofre de uma grave doença óssea, que o impede de praticar atividades físicas. Hoje, vive em Halmstad (Suécia). Também teve uma menina com a última mulher, Vanderleia (viúva do ponta vascaíno Jorginho Carvoeiro).

● Aos 14 anos já era amador, jogando no EC Pau Grande. Aos 19 passou rapidamente pela base do Serrano FC. Antes do início da carreira, foi levado para fazer um teste no Vasco, mas não o deixaram treinar porque não tinha levado as chuteiras. Portariormente, foi descoberto pelo ex-zagueiro Araty e levado para fazer um teste no Borafogo. No momento em que faria o primeiro teste no Botafogo, ainda no vestiário, o técnico Gentil Cardoso disse: “Neste time aparece de tudo. Até aleijado”. No segundo treino foi enfrentar a fera Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”. Após meia dúzia de dribles desconcertantes, Nilton apelou e pediu que o contratassem, pois nunca mais queria enfrentá-lo. Jogou no Botafogo de 1953 a 1965, em 614 partidas e 245 gols. Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1962 e 1964; da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo em 1961; do Campeonato Carioca em 1957, 1961 e 1962; do Torneio Início do Carioca 1961, 1962 e 1963; além de outros nove torneios amistosos internacionais. Já em fim de carreira, fez um amistoso pelo Vasco, contra a Seleção de Cordeiro, e foi jogar no Corinthians em 1966, sem o mesmo sucesso. Venceu apenas o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (empatado com outros três clubes) e torneio amistoso da Copa Cidade de Turim do mesmo ano. Passou pela Portuguesa (RJ, em 1967), Fortaleza (1968), Atlético Júnior (de Barranquilha, Colômbia, em 1968), Flamengo (1968-1969), Red Star Paris (França, 1971-1972) e encerrou a carreira profissional no Olaria, em 1972. Emtre 1969 e 1971, cumpriu pena em liberdade, considerado culpado por homocídio culposo pela morte da mãe de Elza Soares, em um acidente com o automóvel que ele dirigia. Garrincha participou também de diversos amistosos pelo Brasil e pelo exterior, pelo time do Milionários (formado por veteranos com carreiras já encerradas), o time da AGAP-RJ (Associação de Garantia ao Atleta Profissional do Estado do Rio de Janeiro) e diversas equipes amadoras da Itália e clubes de menor expressão do interior do Brasil.

Pela Seleção Carioca, jogou 9 vezes entre 1955 e 1962 e fez 7 gols. Fez parte da seleção brasileira entre 1957 a 1966, jogando 60 partidas (52 vitórias e sete empates) e marcando 17 gols (oficiais: 50 jogos e 12 gols). Disputou três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1966) e fez cinco gols pela competição. Foi fundamental títulos de 1958 e 1962. Pelo escrete nacional, possui também os seguintes títulos: Copa Roca: 1960; Taça Bernardo O’Higgins em 1955, 1959 e 1961; e Taça Oswaldo Cruz em 1958, 1961 e 1962. Em 19/12/1973, no Maracanã com 131 mil expectadores, fez sua despedida do futebol em um amistoso entre a Seleção Brasileira e a Seleção da FIFA (composta majoritariamente por argentinos e uruguaios). Foi eleito para a seleção das Copas do Mundo de 1958 e 1962, sendo o melhor jogador em 1962. Em 1998, em votação de 250 jornalistas do mundo todo, Garrincha foi escalado pela FIFA na seleção de todos os tempos. Em qualquer lista que se faça dos melhores, seu nome sempre está. Ficou na história o seu estilo de jogo arrojado, com dribles bastante abusados, alta velocidade, cruzamentos e chutes certeiros. Fez quatro gols olímpicos na carreira.

● Na capital Brasília, o Anjo das Pernas Tortas dá nome ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Em 2010, o artista plástico Edgar Duviver produziu uma estátua de Garrincha, medindo quatro metros e meio e 300 kg, com o custo de R$ 56.000,00, custeados entre torcedores do Botafogo. Esse monumento está colocado em frente ao Estádio Olímpico Nilton Santos (também chamado João Havelange, mais conhecido como Engenhão), onde o Glorioso manda seus jogos. Foi homenageado por diversos artistas, como Vinícius de Moraes com o poema “O Anjo de Pernas Tortas” e com a música “Balada Número 7”, composta por Alberto Luiz e gravada por Moacyr Franco. Foi tema dos filmes: “Garrincha, Alegria do Povo” (1962, documentário de Joaquim Pedro de Andrade); Mané Garrincha (1978, documentário curta-metragem de Fábio Barreto); “Pelé e Garrincha, Deuses do Brasil” (2002, documentário da BBC); “Garrincha – Estrela Solitária” (2003, baseado no livro de Ruy Castro “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, em que foi vivido por Rodrigo Santoro e teve Taís Araújo como Elza Soares). Garrincha participou como ator convidado do filme “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1980). Faleceu aos 49 anos, em 20/01/1983, vítima de cirrose hepática, por ter ingerido bastante bebida alcoólica por toda a vida, assim como seu pai. Quem pagou por seu enterro foi o cantor Agnaldo Timóteo. Em seu velório, em cima do caixão, pairava a bandeira do seu Botafogo. Em sua lápide está escrito: “Aqui jaz em paz aquele que foi a Alegria do Povo – Mané Garrincha.”