Três pontos sobre…
… 18/06/1986 – Espanha 5 x 1 Dinamarca
(Imagem: FourFourTwo)
● A “Dinamáquina” era a favorita de todos os expectadores e uma das grandes favoritas ao título. E sua força de confirmava, a cada vitória no “grupo da morte”: 1 x 0 sobre a Escócia treinada pelo ainda jovem Alex Ferguson, 6 x 1 sobre o Uruguai de Enzo Francescoli e 2 x 0 na Alemanha Ocidental, vice-campeã da Copa anterior. Foi a dona da melhor campanha da primeira fase.
A Espanha chegou no Mundial invicta desde abril de 1985. Perdeu para o Brasil por 1 x 0 na estreia. Na segunda partida, venceu a Irlanda do Norte por 2 x 1. Bateu a Argélia por 3 x 0 na terceira rodada. Se classificou em segundo lugar do Grupo D.
Essas duas seleções haviam se enfrentado dois anos antes, na semifinal da Eurocopa de 1984. Na época, a Dinamarca já encantava. Mas a Espanha venceu nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1. Mas agora havia um diferencial que não deixaria a partida ficar empatada: “El Buitre”.
Jogando em casa, a Espanha não fez uma boa Copa em 1982. Mas, quatro anos depois, renovou grande parte do elenco, chegando no México com um time mais jovem e forte. O técnico Miguel Muñoz, multicampeão com o Real Madrid nas décadas de 1960 e 1970, renovou grande parte do elenco que não fez uma boa Copa em 1982, mesmo jogando em casa. Mas com um time mais jovem e forte, foi vice-campeã da Eurocopa de 1984 e chegou bem mais cotada para o Mundial de 1986. No gol, começava a se firmar o jovem Andoni Zubizarreta. Os laterais Tomás e José Antonio Camacho não costumavam apioar, mas eram firmes na marcação. No miolo da zaga, Ricardo Gallego substituiu Antonio Maceda – lesionado e fora da competição. Seu parceiro era o violento Andoni Goikoetxea, o “Açougueiro de Bilbao”, famoso por quebrar Diego Maradona e Bernd Schuster. No meio, Victor era o marcador e Ramón Calderé o organizador. Julio Alberto fechada o lado esquerdo da segunda linha e o meia direita Míchel era o criador, além de chutar bem de longa distância. A dupla de ataque era formada pelo basco Julio Salinas, caindo mais pelo lado direito, e por Emilio Butragueño – “El Buitre” (“O Abutre”).
Butragueño tinha apenas 22 anos, mas já era adorado pela torcida do Real Madrid, liderando a famosa “Quinta del Buitre”, uma geração de jogadores formados na base merengue (Butragueño, Manolo Sanchís, Míchel, Martín Vázquez e Miguel Pardeza) que conquistou vários títulos na metade dos anos 1980. Ele se tornaria mundialmente conhecido a partir daquele 18 de junho de 1986.
Miguel Muñoz escalou a Espanha em uma formação 4-4-2, quase com duas linhas de quatro. No ataque, contava com o faro de gol de Julio Salinas e Butragueño. Na defesa, destaque para o jovem goleiro Zubizarreta e para o capitão Camacho.
Sepp Piontek escalou a Dinamarca no futurista sistema 3-5-2. Søren Busk e Ivan Nielsen eram os dois defensores centrais e Morten Olsen era o líbero. Jens Jørn Bertelsen fazia o balanço defensivo, voltando para jogar entre os zagueiros se necessário. Søren Lerby e Klaus Berggreen eram meias que marcavam e criavam. Os alas Henrik Andersen e Jesper Olsen eram meias de origem e tinham como maior característica a velocidade com a bola. Michael Laudrup e Elkjær era uma dupla de ataque de muita movimentação.
O bom ala Frank Arnesen foi uma ausência muito sentida contra a Espanha. Ele havia sido expulso na partida anterior, a vitória sobre a Alemanha Ocidental por 2 x 0, em um desentendimento com Lothar Matthäus.
● Logicamente, a Dinamarca entrou em campo como favorita. A Espanha começou a partida conseguindo impedir a criação das jogadas dinamarquesas. Com uma forte marcação individual, pressionava e não dava tempo para que os nórdicos carregassem a bola ou criassem espaços. Mas logo a pressão se afrouxaria e as trocas de passes da “Dinamáquina” começaram a aparecer.
Aos 33 minutos, Gallego derrubou Søren Lerby na grande área. Jesper Olsen cobrou de esquerda com categoria. A bola foi no canto direito, deslocando Zubizarreta, que caiu para o esquerdo.
A Dinamarca teve domínio absoluto do jogo nos minutos seguintes e a goleada parecia ser apenas questão de tempo. Mas esse domínio durou apenas dez minutos.
Pouco antes do intervalo, Lars Høgh bateu o tiro de meta curto para Jesper Olsen, que driblou Julio Salinas e fez um passe sem olhar para o meio da grande área, na tentativa de recuar para seu goleiro. Butragueño chegou antes e empatou o jogo. O empate foi um presente do céu para a Fúria.
Os dinamarqueses voltaram nervosos para o segundo tempo e não conseguiram criar. E a Espanha sabia jogar e foi construindo o placar.
(Imagem: Mais Futebol)
O “abutre” foi mortal ao demonstrar bom senso de posicionamento. Aos 11′, após cobrança de escanteio, o capitão Camacho desviou de cabeça e Butragueño testou para o fundo do gol.
Aos 23, Bertelsen fez pênalti em Butragueño. Goikoetxea bateu forte, com raiva, no canto esquerdo de Høgh.
No minuto 35′, Míchel abriu na direita para Eloy cruzar na medida para Butragueño finalizar no contrapé do goleiro.
Os dinamarqueses se entregaram e, a dois minutos do fim, Morten Olsen cometeu pênalti em Butragueño. O atacante merengue não havia feito nenhum gol até então. Depois de ter anotado a tripleta, já estava de olho na artilharia da Copa. E cobrou a penalidade no canto direito, deslocando o goleiro. “El Buitre” completou o “poker” (quatro gols em uma só partida), destruindo completamente os prognósticos favoráveis aos dinamarqueses.
Era o fim do sonho dos nórdicos. Butragueño havia emperrado as engrenagens da “Dinamáquina”.
(Imagem: Mais Futebol)
● Desnorteados, os nórdicos tentaram arranjar explicações para a goleada sofrida: “Butragueño só apareceu quando demos espaço a ele”, disse o meia Frank Arnesen. “El Buitre” foi tímido: “Nunca pensei em ser estrela. Aqui no México, há muitos jogadores melhores do que eu”.
A revista Placar da época já adiantava sobre o que poderia acontecer aos dinamarqueses: “Muito badalada, está cotada como uma das favoritas, mas pode decepcionar”.
Com certeza o problema dos nórdicos não foi falta de experiência, já que os atletas atuavam em grandes clubes europeus (apenas o goleiro Høgh jogava no país). Não foi a juventude, já que a média de idade era de 28 anos (a dos espanhóis era 26). Talvez o clima quente mexicano tenha prejudicado a velocidade e intensa troca de posições dos “vikings”. Talvez o que tenha impedido a Dinamarca de ir mais longe seja o sentimento de “missão cumprida” ao fazer mais do que já tinha feito em quase cem anos de futebol no país. Talvez tenha faltado ambição e tenha sobrado autoconfiança. Foi apenas o dia de “El Buitre”.
O pênalti convertido por Butragueño foi o 100º assinalado na história das Copas. Desses, 82 haviam sido aproveitados e 18 desperdiçados.
Ninguém marcava quatro gols em uma partida de Copa do Mundo desde Eusébio, na virada inesquecível de Portugal sobre a Coreia do Norte por 5 x 3, nas quartas de final em 1966. Curiosamente, Butragueño havia completado três anos um dia antes desse jogo.
Antes de Butragueño e Eusébio, apenas outros quatro jogadores marcaram quatro gols em um único jogo, em toda a história das Copas: o polonês Ernest Wilimowski (contra o Brasil, em 1938), o brasileiro Ademir de Menezes (contra a Suécia, em 1950), o húngaro Sándor Kocsis (contra a Alemanha Ocidental em 1954) e o francês Just Fontaine (contra a Alemanha Ocidental em 1958). Depois deles, apenas Oleg Salenko alcançou a marca, com cinco gols marcados sobre Camarões em 1994.
Após vencer os dinamarqueses, os espanhóis comemoraram em seu hotel até a madrugada. Certamente isso foi ainda mais doloroso para os dinamarqueses, que estavam hospedados bem no mesmo hotel. Mas o mundo dá voltas e a Espanha foi eliminada pela Bélgica nos pênaltis (5 x 4) após empate por 1 x 1 no tempo normal. Curiosamente, ambas as delegações também estavam no mesmo hotel e agora foi a vez dos espanhóis ouvirem até tarde a festa dos belgas.
(Imagem: Planet World Cup)
● FICHA TÉCNICA: |
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ESPANHA 5 x 1 DINAMARCA |
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Data: 18/06/1986 Horário: 16h00 locais Estádio: La Corregidora Público: 38.500 Cidade: Querétaro (México) Árbitro: Jan Keizer (Holanda) |
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ESPANHA (4-4-2): |
DINAMARCA (3-5-2): |
1 Andoni Zubizarreta (G) |
22 Lars Høgh (G) |
2 Tomás |
3 Søren Busk |
14 Ricardo Gallego |
4 Morten Olsen (C) |
8 Andoni Goikoetxea |
5 Ivan Nielsen |
3 José Antonio Camacho (C) |
21 Henrik Andersen |
5 Víctor Muñoz |
9 Klaus Berggreen |
18 Ramón María Calderé |
12 Jens Jørn Bertelsen |
21 Míchel |
6 Søren Lerby |
11 Julio Alberto |
8 Jesper Olsen |
19 Julio Salinas |
11 Michael Laudrup |
9 Emilio Butragueño |
10 Preben Elkjær Larsen |
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Técnico: Miguel Muñoz |
Técnico: Sepp Piontek |
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SUPLENTES: |
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13 Javier Urruticoechea (G) |
1 Troels Rasmussen (G) |
22 Juan Carlos Ablanedo (G) |
16 Ole Qvist (G) |
15 Chendo |
2 John Sivebæk |
6 Rafael Gordillo |
17 Kent Nielsen |
7 Juan Antonio Señor |
7 Jan Mølby |
4 Antonio Maceda |
13 Per Frimann |
17 Francisco |
20 Jan Bartram |
12 Quique Setién |
15 Frank Arnesen |
10 Francisco José Carrasco |
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16 Hipólito Rincón |
18 Flemming Christensen |
20 Eloy |
19 John Eriksen |
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GOLS: |
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33′ Jesper Olsen (DIN) (pen) |
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43′ Emilio Butragueño (ESP) |
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56′ Emilio Butragueño (ESP) |
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68′ Andoni Goikoetxea (ESP) (pen) |
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80′ Emilio Butragueño (ESP) |
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88′ Emilio Butragueño (ESP) (pen) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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26′ Henrik Andersen (DIN) |
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27′ Andoni Goikoetxea (ESP) |
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32′ José Antonio Camacho (ESP) |
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60′ Míchel (ESP) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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INTERVALO Julio Salinas (ESP) ↓ |
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Eloy (ESP) ↑ |
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60′ Henrik Andersen (DIN) ↓ |
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John Eriksen (DIN) ↑ |
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71′ Jesper Olsen (DIN) ↓ |
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Jan Mølby (DIN) ↑ |
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83′ Míchel (ESP) ↓ |
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Francisco (ESP) ↑ |
Gols da partida: