Três pontos sobre…
… Domingos da Guia: uma lenda do futebol mundial
(Imagem localizada no Google)
● Jogou em uma época em que os bons zagueiros eram os que davam chutão, carrinho e botinada. Domingos foi o primeiro zagueiro a não ter raiva da bola, a agredindo com chutões. Os mais entusiasmados diziam que em um cruzamento, ele era capaz dominar a bola com a testa e sair jogando. Amava a bola, assim como ela o amava. Jogava de cabeça erguida, com um senso de posicionamento e poder de antecipação absurdos e inéditos para a época. Sua postura discreta, séria e sua maneira de jogar, recordava o estilo britânico clássico do século XIX. Foi um dos primeiros defensores a ser chamado de craque. Possuidor de excelente técnica, é apontado como um dos melhores na posição em todos os tempos. Jogava sempre com a cabeça erguida, antevendo os lances e dificultando para o adversário a missão de driblá-lo. Não cometia muitas faltas e sempre saía jogando com classe. Essa sua costumeira jogada, de extremo risco, era executada sempre com perfeição e foi apelidada de “Domingada”. Mesmo sendo raros seus registros em vídeo, impossível contestar seu posto de maior zagueiro brasileiro de todos os tempos.
Gilberto Freyre o definiu como “um apolíneo em meio aos dionisíacos”. José Lins do Rego o chamava de “intelectual de calção, meias e chuteiras”, devido a sua grande inteligência e exuberância.
● Feitos e premiações de Domingos da Guia:
Pela Seleção Brasileira:
– 3º lugar na Copa do Mundo de 1938.
– Bicampeão da Copa Rio Branco em 1931 e 1932.
– Campeão da Copa Rocca em 1945.
Pela Seleção do Rio de Janeiro:
– Campeão do Campeonato Brasileiro de Seleções em 1931, 1940 e 1943.
Pelo Nacional (Uruguai):
– Campeão Uruguaio em 1933.
Pelo Vasco da Gama:
– Campeão Carioca em 1934.
– Campeão da Copa dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo em 1934.
– Campeão Carioca de Aspirantes em 1934.
– Campeão do Torneio Início do Rio de Janeiro em 1932.
Pelo Boca Juniors (Argentina):
– Campeão Argentino em 1935.
Pelo Flamengo:
– Campeão Carioca em 1939, 1942 e 1943.
– Campeão do Torneio Aberto do Rio de Janeiro em 1936.
– Campeão do Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro em 1943.
– Campeão da Taça João Vianna Seilir em 1936, no Paraná.
– Campeão da Taça da Paz em 1937, no Rio de Janeiro.
Pelo Corinthians:
– Bicampeão da Taça Cidade de São Paulo em 1947 e 1948.
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Paulista em 1944.
Pelo Bangu:
– Campeão da Taça Euvaldo Lodi em 1950, no Rio de Janeiro.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1938.
– Eleito melhor jogador do Campeonato Sul-Americano de 1945.
– 40º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista Placar em 1999.
– 80º lugar na lista dos melhores jogadores da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– 17º lugar na lista dos melhores jogadores brasileiros do século XX pela IFFHS.
– 43º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– Eleito um dos 100 melhores jogadores de todos os tempos pela revista World Soccer em 1999.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal Sunday Times.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians pela revista Placar em 1982.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians pela revista Placar em 1994.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 1982.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 1994.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 2006.
● Frases de Domingos e sobre Domingos:
“O jogo estava paralisado. Piola vinha na corrida e me atingiu com um pontapé, que eu revidei. Admitiria que o juiz fosse rigoroso comigo. Mas ele não podia prejudicar todo o time com a partida paralisada.” — Domingos, sobre o pênalti que cometeu na semifinal da Copa do Mundo de 1938, contra a Itália.
“Esta aqui, a bola, me ajudou muito. Ela ou as irmãs dela, não é? É uma família e sinto gratidão por ela. Na minha passagem pela Terra, ela foi o principal. Porque sem ela ninguém joga. Comecei na fábrica em Bangu, trabalhando, trabalhando, até que encontrei minha amiga. E fui muito feliz com essa aí. Conheço o mundo inteiro, viajei muito, muitas mulheres. Isso também é uma coisa gostosa, não é?” — Domingos, em entrevista a Roberto Moura.
“Coloco em primeiro lugar o Garrincha. Depois, Pelé, Zizinho, Ademir, Rivelino, Gérson, Zico, meu filho Ademir.” — Domingos, em entrevista ao Jornal do Brasil, em novembro de 1992.
“O melhor que vocês já tiveram foi Domingos, completo. Campeão lá [Brasil], aqui [Uruguai] e na Argentina” — declarou Obdulio (capitão uruguaio na Copa de 1950) para um repórter brasileiro em 1970.
“Ele era um verdadeiro ídolo da torcida do Boca. QUando fui jogar lá, anos depois, todos falavam dele.” — Orlando Peçanha, zagueiro brasileiro campeão da Copa do Mundo em 1958, sobre Domingos da Guia.
“Domingos, sempre com grande serenidade, não corria atrás do jogador adversário. Ele corria em uma faixa entre o jogador e a baliza. Quando o adversário se aproximava do gol, Domingos já estava na frente dele, coisa que Nilton Santos viria a fazer anos depois.” — Thiago de Mello, poeta amazonense e flamenguista.
“De certa forma Domingos foi o “Machado de Assis do futebol”… Era um inglês por fora, brasileiro por dentro e sobretudo carioca.” — Mário Filho.
“A leste, a Muralha da China. A oeste, Domingos da Guia. Nunca houve zagueiro mais sólido na história do futebol. Domingos da Guia foi campeão em quatro cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires) e foi adorado pelas quatro: quando jogava, os estádios enchiam. Antes, os zagueiros se agarravam aos atacantes feito selos em envelope, e livravam-se da bola como se ela lhes queimasse os pés, chutando-a o quanto antes para o alto. Domingos, ao contrário, deixava passar o adversário, investida vã, enquanto lhes roubava a bola, e depois tomava todo o tempo do mundo para tirar a pelota da zona de perigo. Homem de estilo imperturbável, fazia tudo assobiando e olhando para o outro lado. Desprezava a velocidade. Jogava em câmera lenta, mestre do suspense, amante da lentidão”. — Eduardo Galeano em seu livro “Futebol ao Sol e à Sombra”.