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… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra


Gerd Müller marca o gol da virada alemã (Imagem: Daily Mail)

● Prejudicada por ter caído no grupo do Brasil, a Inglaterra ficou em segundo lugar na primeira fase. Por isso, nas quartas de final, teve que enfrentar logo de cara a Alemanha Ocidental. Era a reedição da decisão de quatro anos antes, mas dessa vez os ingleses não jogaram em casa. Muito pelo contrário. Para os mexicanos, a Inglaterra era inimiga.

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Os ingleses tinham medo do chamado “mal de Montezuma“, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Por isso, levaram quilos de comida e toda a água que consumiriam no país. Um jornalista local descobriu o fato e logo a manchete estava estampada: “Sua majestade nos chamou de porcos!” Esse fato revoltou a população local. Os mexicanos passaram a fazer barulho em frente os hotéis em que a delegação inglesa se hospedava, para atrapalhar o sono dos atletas. E em todas as partidas, a Inglaterra era vaiada do início ao fim.

Mesmo com todos esses “cuidados”, por ironia do destino, o lendário goleiro Gordon Banks teve uma diarreia e não disputou a partida contra os alemães. Em seu lugar jogou o irregular (para não falar ruim) Peter Bonetti, do Chelsea.

Mesmo sem Banks, a partida tinha onze remanescentes a decisão de 1966.


Alemanha jogava no 4-2-4, com Beckenbauer como volante à frente da defesa.


A Inglaterra atuava no seu 4-4-2 clássico, com duas linhas de quatro.

● Nos primeiros segundos, Franz Beckenbauer, o “Kaiser” (imperador), avançou e chutou de perna esquerda, da intermediária, mas a bola foi para fora.

Os campeões do mundo abriram o placar aos 31 minutos de partida. O lateral Keith Newton rolou da direita para a pequena área e o volante Alan Mullery se antecipou a um adversário, desviando para o gol.

O primeiro tempo terminou assim, para alegria dos poucos torcedores britânicos em León. Apesar do calor, a Inglaterra demonstrou melhor preparo físico.

Aos 4 minutos do segundo tempo, Alan Ball rouba a bola e inicia o contra-ataque. Geoff Hurst recebe e toca para Newton. De novo o lateral inglês cruza da direita, no segundo pau. Peters aparece à frente de um zagueiro e, na pequena área, escora para o gol. Sepp Maier nada pode fazer. Inglaterra, 2 a 0. Tudo caminhava para uma vitória categórica dos “Three Lions“.

Aos 23, Beckenbauer recebe de Overath, dribla Mullery fora da área e chuta no canto direito de Bonetti, diminuindo o marcador. Os ingleses reclamaram que havia um jogador caído (o “catimbeiro” Francis Lee) e os alemães não tiveram fair play. Mas o fato é que o gol valeu.

Logo em seguida, o técnico Alf Ramsey cometeu o mesmo erro de sempre: tirou o maestro Bobby Charlton e se fechou na defesa. Como consequência, Beckenbauer, livre da tarefa de marcá-lo, estava livre para reinar em campo.

A Alemanha continuou trabalhando e, a oito minutos do fim, Schnellinger ergue a bola para a área. O capitão Uwe Seeler, marcado e de costas para o gol, consegue desviar de cabeça, encobrindo Bonetti. Um lance lindo, de quem conhece bem o caminho do gol. Seeler, Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo são os únicos jogadores a marcarem em quatro Mundiais diferentes.

No tempo normal, mesmo placar da decisão de 1966.

A Inglaterra começa o tempo extra com jogadas agudas. Logo nos primeiros segundos, Colin Bell cruza e Hurst cabeceia para fora. Pouco depois, o próprio Hurst marcou um gol ilegal (como em 1966), mas dessa vez a arbitragem anulou. O moral do “English Team” estava baixo, enquanto o do “Nationalelf” estava lá em cima.

O momento decisivo veio pouco depois, aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Grabowski arranca pela direita e cruza para a segunda trave, Löhr escora de cabeça para a pequena área e Gerd Müller, sozinho, manda de voleio para o fundo das redes.


Bobby Charlton sempre bem marcado por Franz Beckenbauer (Imagem: Pinterest)

● O público delira. Os gritos demonstram sua antipatia pela Inglaterra. O campeão perde o trono. Virada e vingança da Alemanha. O fantasma de Wembley estava definitivamente enterrado e a história foi outra.

A então campeã, Inglaterra, se despedia da Copa precocemente, nas quartas de final, após uma primeira fase com vitórias por 1 a 0 sobre Romênia e Tchecoslováquia, além de derrota para o Brasil pelo mesmo placar.

Curiosamente, a Inglaterra foi a primeira seleção a utilizar três camisas diferentes em uma Copa do Mundo. Vestiu uma camisa vermelha contra a Alemanha, jogou de branco contra Brasil e Romênia e utilizou um uniforme azul claro contra a Tchecoslováquia. Como o uniforme dos tchecos era todo branco, a imagem na TV preto e branco ficou terrível, pois a tonalidade dos dois uniformes era semelhante.

A Alemanha Ocidental se classificou para as semifinais e jogaria contra a Itália, três dias depois.


Capitães, Bobby Moore e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest) 

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 2 INGLATERRA

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: León

Público: 23.357

Cidade: León (México)

Árbitro: Ángel Norberto Coerezza (Argentina)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Sepp Maier (G)

12 Peter Bonetti (G)

7  Berti Vogts

2  Keith Newton

11 Klaus Fichtel

5  Brian Labone

3  Karl-Heinz Schnellinger

6  Bobby Moore (C)

2  HorstDieter Höttges

3  Terry Cooper

4  Franz Beckenbauer

4  Alan Mullery

12 Wolfgang Overath

9  Bobby Charlton

14 Stan Libuda

8  Alan Ball

9  Uwe Seeler (C)

10 Geoff Hurst

13 Gerd Müller

7  Francis Lee

17 Hannes Löhr

11 Martin Peters

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

21 Manfred Manglitz (G)

1 Gordon Banks (G)

22 Horst Wolter (G)

13 Alex Stepney (G)

5  Willi Schulz

14 Tommy Wright

6  Wolfgang Weber

17 Jack Charlton

15 Bernd Patzke

18 Norman Hunter

18 Klaus-Dieter Sieloff

16 Emlyn Hughes

16 Max Lorenz

15 Nobby Stiles

19 Peter Dietrich

19 Colin Bell

8  Helmut Haller

20 Peter Osgood

10 Sigfried Held

21 Allan Clarke

20 Jürgen Grabowski

22 Jeff Astle

 

GOLS:

31′ Alan Mullery (ING)

49′ Martin Peters (ING)

68′ Franz Beckenbauer (ALE)

82′ Uwe Seeler (ALE)

108′ Gerd Müller (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

Gerd Müller (ALE)

Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Horst-Dieter Höttges (ALE) ↓

Willi Schulz (ALE) ↑

 

55′ Stan Libuda (ALE) ↓

Jürgen Grabowski (ALE) ↑

 

70′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

81′ Martin Peters (ING) ↓

Norman Hunter (ING) ↑ 

Gols do jogo:

Melhores momentos da partida:

 

… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé

Três pontos sobre…
… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé


(Imagem localizada no Google)

● Jogavam na segunda rodada da primeira fase da Copa do Mundo de 1970 os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, praticamente parando no ar e impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

“Quando o Jairzinho cruzou, eu estava voltando em direção ao meio do gol. Ao ver a trajetória da bola, tive certeza que ninguém alcançaria. Foi aí que vi Pelé, saltando de uma maneira impressionante para alcançar a bola.” — Gordon Banks.

“Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trava e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, tive de pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Achei que tinha sido gol, que tinha entrado no ângulo. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem.” — Gordon Banks .

“Banks foi o melhor goleiro da Copa de 1970 e talvez o melhor entre todos os jogadores de defesa.” — Pelé.

(Imagem: Lance!)

● Foram poucos os goleiros na história a se tornarem lendas, a ponto de serem chamados de craques, mas Banks certamente é um deles. Alto (1,88 m) e atlético, nasceu em Sheffield, no dia 30/12/1937. Começou sua carreira já tardiamente, com 19 anos, mas impressionando, sendo um dos destaques do Chesterfield, que perdeu na final da FA Youth Cup de 1956 para os “Busby Babes” do Man. Utd. Já em 1959, foi para o Leicester por £7.000. Nos “Foxes”, esperou com calma a sua chance e a agarrou quando apareceu. Em oito anos, foram 356 partidas. Em 1967, estava prestes a perder a titularidade no Leicester para o jovem Peter Shilton (outra lenda) e preferiu se transferir ao Stoke City. No Stoke, venceu apenas a Copa da Liga de 1972. Passou também por outros clubes, em empréstimos relâmpagos, mas sem maiores destaques: Cleveland Stokers (EUA, em 1967), Hellenic (África do Sul, em 1971) e St Patrick’s Athletic (Irlanda, em 1977).

Disputou seu primeiro jogo pela seleção inglesa em 1963, contra a Escócia. Foi o goleiro titular da Inglaterra campeã em casa na Copa do Mundo de 1966, com um time contestado, mas muito bom. No torneio, só foi sofrer o primeiro gol na quinta partida, na semifinal contra Portugal, em um pênalti convertido pelo craque Eusébio (442 minutos sem ser vazado). Na final, na vitória por 4 x 2 na prorrogação, não teve culpa em nenhum dos gols da Alemanha Ocidental. Na Copa seguinte, em 1970, mesmo contestado e em má fase, foi o titular de sua seleção, inclusive fazendo a “defesa do século” na cabeçada de Pelé. Mas estranhamente foi acometido pelo “Mal de Montezuma”, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Mesmo com os ingleses levando quilos de comidas e até água para consumo no México, o goleiro não conseguiu entrar em campo nas quartas de final contra a rival Alemanha Ocidental, por causa de uma diarreia. Sem ele, os ingleses perderam por 3 a 2 de virada e foram eliminados. Pelo English Team, entre 1963 e 1972, foram 73 partidas disputadas, com apenas nove derrotas e sofrendo apenas 57 gols (em 35 jogos não foi vazado). Virou algo comum na Inglaterra o apelido “Banks of England quando alguém se referia ao goleiro. A segurança do camisa 1 era comparada aos bancos do país.

Mas em outubro de 1972, Banks dirigia seu Ford Granada e tentou fazer uma curva acentuada, quando bateu de frente com um Austin A60. Acordou no hospital com mais de 200 pontos no rosto e sem a visão do olho direito, que não resistiu à gravidade do choque. Sem a visão de um olho, seus movimentos e reflexos se foram, assim como sua posição na seleção e em seu clube. Não houve outro jeito a não ser anunciar a aposentadoria em 1973, aos 35 anos.

Tempos depois, em 1977, aceitou o desafio de jogar nos Estados Unidos, no Fort Lauderdale Strikers, mas suas dificuldades na visão foram aumentando. Mesmo com um olho só, foi o melhor goleiro do campeonato. Decidiu pendurar as chuteiras e as luvas em 1978, sem ter defendido nenhuma grande equipe do futebol inglês e com raros títulos no currículo. Ironicamente, Peter Shilton sucedeu Gordon Banks no gol do Leicester City (1967), do Stoke City (1974) e da seleção inglesa (1972), mas não nos corações dos amantes do futebol.

Feitos e premiações de Gordon Banks:

Pela seleção da Inglaterra:
– Campeão da Copa do Mundo de 1966.
– 3º lugar na Eurocopa de 1968.
– Campeão do Campeonato Britânico de Seleções (British Home Championship) em 1964 (título dividido com Escócia e Irlanda do Norte), 1965, 1966, 1968, 1969, 1970 (título dividido com Escócia e País de Gales), 1971 e 1972.

Pelo Chesterfield:
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra de Juniores (FA Youth Cup) em 1955/56.

Pelo Leicester City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1963/64.
– Vice-campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1964/65.
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra (FA Cup) em 1960/61 e 1962/63.

Pelo Stoke City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1971/72.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o goleiro do ano pela FIFA em 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1966.
– Eleito o esportista do ano pelo jornal Daily Express em 1971 e 1972.
– Eleito o jogador do ano na Inglaterra pelos jornalistas em 1972.
– Eleito para o All-Star Team da NASL em 1977.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Eleito o 21º maior jogador do século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 2º maior goleiro do século XX pela IFFHS.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 14º maior jogador da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– Eleito para a seleção do século (1907-1976) pelos jogadores ingleses em 2007.
– Eleito para a lista dos 100 + do futebol inglês (Football League 100 Legends) em 1973.
– Membro do Hall da Fama do futebol inglês desde 2002.
– Membro da Ordem do Império Britânico (OBE – Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico) desde 1970.

(Imagem: PA Images / Getty Images)

Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006. p. 160.

Esse também foi o título de sua primeira autobiografia, publicada em 1980.