… Mário Sérgio

Três pontos sobre…
… Mário Sérgio


(Imagem localizada no Google)

● Falecido ontem, no fatídico vôo da Chapecoense, que vitimou 75 pessoas, Mário Sérgio Pontes de Paiva se foi aos 66 anos. Nasceu no Rio de Janeiro, em 07/09/1950.

Meu pai dizia que Mário Sérgio “andava em cima da bola” e “escondia a bola” com facilidade.

Habilidoso e rebelde, Mário Sérgio marcou seu nome na história do futebol brasileiro. Era um jogador reconhecido por sua grande habilidade e criatividade. Foi o pioneiro em olhar para um lado e tocar para o outro; por causa dessa jogada (eternizada depois por Ronaldinho Gaúcho), Mário Sérgio ganhou o apelido de “Vesgo”. Tinha uma personalidade muito forte, o que acabou por prejudicar sua carreira. Era viciado em corridas de cavalos. Enquanto defendia o Inter, ficou famosa uma escapada relâmpago ao Jóquei Clube de Porto Alegre, depois de uma partida contra o São Paulo. Certa vez disse à revista Placar que “atletas são como cavalos e precisam ser bem tratados para apresentarem os resultados desejados. Só que cavalo aceita freio e eu não.”

Conquistou por quatro vezes a Bola de Prata da Revista Placar, o que mostra sua regularidade. Seu nome aparece no livro “Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos”, de Paulo Vinícios Coelho e André Kfouri. Como jogador, atuou em 13 equipes, de 1969 a 1987.

Deu seus primeiros passos no futsal do Fluminense, pois seu pai era sócio do clube e por isso podia jogar de graça. Nessa época, estudava processamento de dados e como o futsal não lhe dava dinheiro, largou o esporte e foi trabalhar em uma empresa de computadores. Em 1969, foi levado por amigos para fazer um teste no Flamengo e foi contratado. Sua habilidade originada no futsal lhe deu a fama de fominha. No ano seguinte se tornou profissional, mas o técnico Yustrich implicava com seu cabelo grande e suas roupas coloridas, o chamando de “boneca”. “Yustrich era adepto do futebol força e tinha seus métodos rígidos e absurdos de preparação. Um dia, joguei mal e ele me tirou do time. Achei injustiça, mas continuei a treinar entre os reservas. Num coletivo, querendo me mostrar, recebi uma bola longa, me esforcei, alcancei a bola a um palmo da linha e parti para o gol; já dentro da área, quando ia marcar o gol, Yustrich apitou dizendo que a bola saiu. Ah, peguei a bola e zuei. Dei um chutão para o alto, e disse que ali não jogava mais.”

Assim, Mário foi para o Vitória em 1971. No clube de Salvador, conquistou o Campeonato Baiano de 1972 e foi eleito Bola de Prata pela Revista Placar em 1973, como ponta esquerda, e em 1974, quando mudou de posição e passou a jogar na meia esquerda. Em quatro temporadas, se tornou ídolo do Vitória e é considerado um dos melhores jogadores da história do clube. Em 25/08/1991, na reinauguração do estádio Barradão, Mário Sérgio desceu de helicóptero no centro do gramado, ovacionado pela torcida.

Em 1975 partiu para fazer parte da “Máquina Tricolor”, no Fluminense, junto com Rivelino, Paulo César Caju, Gil e Edinho. Foi campeão carioca em 1975, mas se desentendeu com o presidente do Flu, Francisco Horta.

Jogou no Botafogo entre 1976 e 1979, fazendo parte do “Time do Camburão”. O jornalista botafoguense Roberto Porto, que criou o apelido, o justifica: “um time que tinha Dé, Mário Sérgio, Renê, Paulo César, Perivaldo e Nilson Dias… todos com a chave da cadeia!” A partir de 1978 sofreu com contusões, ficando mais de um ano parado, no total. Sem ambiente, em 1979 foi jogar no Rosario Central, mas sua passagem foi rápida, pois sua mulher havia acabado de começar o curso de engenharia no Brasil e não o acompanhou à Argentina.

Voltou ao Brasil no mesmo ano, para jogar no Inter. Foi Falcão quem pediu sua contratação: “Eu lembro que eu disse que o Mário só faz confusão com as pessoas que não o tratam bem, o desrespeitam e não cumprem o que está combinado com ele. Ele veio e foi de um comportamento exemplar. Puxava fila nos treinos físicos.” Foi fundamental no título do Brasileirão, conquistado de forma invicta. Chegou à final da Libertadores de 1980 (perdida para o Nacional-URU) e se tornou o principal jogador do clube após a ida de Falcão para o Roma. No mesmo 1980, conquistou a Bola de Prata pela terceira vez. Em 1981, foi campeão gaúcho. “Mário Sérgio foi o jogador mais habilidoso que conheci.” – comentou Falcão.

Jogou no São Paulo entre agosto de 1981 e dezembro de 1982. Foi no SPFC que ganhou o apelido de “Rei do Gatilho”, após esvaziar o pente de seu 38, com tiros para o alto no Vale do Paraíba, para assustar torcedores do São José, que se manifestavam na saída do ônibus tricolor para o Estádio Martins Pereira. No jogo de volta, o placar do Morumbi anunciou “nº 11: Mário Sérgio, o Rei do Gatilho”. Aí pegou! Posteriormente, ele afirmou que as balas eram de festim e se disse arrependido. Sua melhor atuação com o “manto” foi quando mais de 30 mil pessoas viram seu show, com dois gols na goleada em cima do Palmeiras, por 6 x 2. Mesmo com boas atuações, a falta de adaptação ao esquema tático e boatos de envolvimento com drogas o fez parar na Ponte Preta. Mesmo com craques como ele, Dicá e Jorge Mendonça, o time da Macaca não deu liga.

Em 11/12/1983 fez sua única partida pelo Grêmio, o suficiente para se tornar ídolo por lá. Disputou e venceu “apenas” a Copa Intercontinental, se tornando campeão mundial. Veio a pedido do técnico Valdir Espinosa: “Ninguém queria o Mário Sérgio no Grêmio. Eu que insisti. Na primeira vez que falei, todo mundo pipocou: ‘Ah, ele é isso, aquilo, é bagunceiro…’. Mas eu conhecia ele. Joguei com ele, morei com ele. Eu reconhecia nele a sua qualidade extraordinária. Jogar contra alemão só com força não adianta. Tem que ter técnica para contrapor. Precisávamos do Mário Sérgio.” Mário ditou o ritmo da partida nos 120 minutos, com lançamentos precisos e seus dribles fantásticos. Mesmo assim, não teve o contrato prolongado. Assim, voltou para o rival Inter. Logo na abertura do ano de 1984, houve o “Gre-Nal das faixas”. Segundo ele, “na hora de trocarmos as faixas, pensei: ‘Poxa, alguém aí vai me vaiar, gremista ou colorado, não vai ter jeito’. No fim, eu, com a camisa do Inter e a faixa de campeão do mundo pelo Grêmio, acabei aplaudido pelas duas torcidas. Me emocionei barbaridade.” É difícil um jogador conquistar o coração de torcedores dos dois rivais, mas Mário Sérgio conseguiu.

Jogou no Palmeiras entre 1984 e 1985 e ficou marcado por ter sido flagrado em um exame antidoping por anfetamina, após ter tomado uma limonada oferecida por Marco Aurélio Cunha, médico do adversário São Paulo. O craque foi suspenso por 90 dias e a história ficou muito mal contada, mas ficou por isso mesmo. Em 1986 jogou pelo Botafogo, de Ribeirão Preto, e pelo Bellinzona, da Suíça. Em 1987, foi para o Bahia, mas já não conseguia jogar no mesmo ritmo dos companheiros. Na quinta rodada do Brasileirão daquele ano, era o camisa 10 contra o Goiás. Ele fez um primeiro tempo exuberante e o time saiu para o intervalo vencendo o Goiás por 1 a 0. Mário saiu antes de todo mundo e quando os colegas chegaram no vestiário, ele já estava trocado: agradeceu a todos e disse que não voltaria para o segundo tempo. Tinha encerrado a carreira.

Sua fama de indisciplinado em todos clubes onde passou o afastou da Seleção Brasileira. Fez parte de toda a preparação para a Copa do Mundo de 1982, mas foi cortado na última convocação, substituído por Éder. Mesmo não estando na lista dos 22, esteve na lista de espera registrada pela FIFA, que continha 40 nomes. No total, entre 1981 e 1985, disputou oito partidas amistosas, sem marcar gols.

(Imagem: Metrópoles)

● Como técnico, comandou 11 times, mas nunca conquistou nenhum título, embora tenha chegado perto. Começou sua carreira de técnico em 1987 no Vitória, mesmo time em que explodiu como jogador. Em 1993 treinou o Corinthians, quase levando o time para a final do Brasileirão, ficando 15 partidas sem perder. Revelou o volante Zé Elias, com apenas 16 anos. Em duas passagens pelo Timão (em 1993 e 1995), dirigiu a equipe em 31 partidas, sendo 16 vitórias, 13 empates e apenas 2 derrotas. Atritos com a diretoria o fez pedir demissão pouco antes do Paulistão de 1995 e ele se tornou comentarista pela TV Bandeirantes.

Em 1998 voltou a beira do campo, treinando o São Paulo em apenas 10 jogos (3 vitórias, 1 empate e 6 derrotas). Ficou marcado como o único técnico a não deixar Rogério Ceni cobrar faltas. Ainda em 1998, foi diretor de esportes do banco Excell Econômico, então patrocinador do Corinthians. Esteve no Atlético-PR no início da campanha que terminaria no título brasileiro de 2001. Foi diretor de futebol do Grêmio em 2005, quando o time disputou a Série B, na mítica “Batalha dos Aflitos”. Em 2007, novamente como técnico, levou o Figueirense ao vice-campeonato da Copa do Brasil. Pelo Figueira, foram 44 jogos, com 19 vitórias, 13 empares e 12 derrotas. Passou também por São Caetano, Atlético-MG, Botafogo e Portuguesa. Em 05/10/2009 se tornou técnico do Internacional, disputando 11 partidas, com 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Foi vice-campeão brasileiro, conseguindo a vaga para a Libertadores do ano seguinte (que o Inter venceria). Seu último clube foi o Ceará, em 2010, mas ficou apenas um mês. “Eles não entendem o que eu falo nos treinos, vou virar comentarista”, disse.

Foi comentarista pela primeira vez no início da década de 1990, na TV Bandeirantes e se destacou pela facilidade de se comunicar e analisar futebol. Nessa época, criou uma expressão bastante usada desde então: “o time está começando a gostar do jogo”. Além da Band, tabalhou na Record, Sportv, além das rádios Joven Pan e Band FM. Em 31/07/2012 se tornou comentarista do Fox Sports e tinha contrato até a Copa do Mundo de 2018. Era o chamado “comentarista sem papas na língua”.

Em 29/11/2016 foi uma das vítimas fatais da queda do vôo 2933 da LaMia, que transportava a equipe da Chapecoense para Medellín, onde a equipe catarinense disputaria a partida de ida da final da Copa Sul-Americana de 2016. A partida teria transmissão da Fox Sports e Mário Sérgio seria comentarista do jogo. Mário Sérgio deixa a mulher, Mara, três filhos (Bruno, Fernando e Felipe) e uma neta.


(Imagem: Fox Sports)

Feitos e premiações de Mário Sérgio:

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca de Aspirantes em 1970.
– Campeão da Taça Guanabara em 1970.
– Campeão do Troféu Marechal Mendes de Morais em 1970.
– Campeão do Troféu Ary Barroso em 1970.
– Campeão do Troféu Ponto Frio Bonzão em 1971.
– Campeão do Troféu Pedro Pedrossian em 1971.
– Campeão da Taça Presidente Mécidi em 1971.

Pelo Vitória:
– Campeão do Campeonato Baiano em 1972.

Pelo Fluminense:
– Bicampeão do Campeonato Carioca em 1975 e 1976.
– Campeão da Taça Guanabara em 1975.
– Campeão da Taça Amadeu Rodrigues Sequeira (3º Turno do Campeonato Carioca) em 1976.

Pelo Botafogo:
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1977.
– Campeão da Taça José Wander Rodrigues Mendes em 1976.

Pelo Internacional:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1979.
– Campeão do Campeonato Gaúcho em 1981 e 1984.
– Campeão da Copa Kirin em 1984.
– Campeão do Torneio Heleno Nunes em 1984.

Pelo São Paulo:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1981.

Pelo Grêmio:
– Campeão da Copa Intercontinental (Mundial de Clubes) em 1983.
– Campeão da Copa Los Angeles em 1983.
– Campeão do Troféu ‘Cell’ (ESA) em 1983.

Pela Seleção Brasileira de Masters:
– Campeão da Copa Pelé (Copa do Mundo de Masters) em 1991

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1973, 1974, 1980 e 1981.

… #ForçaChape

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#ForçaChape


(Imagem localizada no Google)

● Difícil escrever algo nesse momento. Toda e qualquer morte, de quem quer que seja, já é uma lamentação. Quando há alguma tragédia, muitos lamentam e sofrem. Casos de grande proporção, mais ainda. Mas nos últimos 30 anos não houve nenhum acidente de tamanha repercussão quanto a queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín. O Vôo 2933 de LaMia caiu a região colombiana de Antióquia. Entre jogadores, comissão técnica, dirigentes, profissionais da imprensa e da empresa de aviação, eram 77 pessoas a bordo e apenas 6 sobreviveram: Alan Ruschel (lateral), Neto (zagueiro), Jackson Follman (goleiro, que teve uma das pernas amputada), Rafael Henzel (jornalista da rádio Oeste Capital, de Chapecó), Ximena Suárez (comissária de bordo) e Erwin Tumiri (técnico da aeronave).

Luciano Buligon (prefeito de Chapecó), Plínio David de Nes Filho (presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense), Gelson Merisio (presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina) e o jornalista Ivan Carlos Agnoletto (da rádio Super Condá, de Chapecó), estavam com seus nomes na lista, mas não embarcaram. Matheus Saroli, filho do técnico Caio Júnior, esqueceu o passaporte em casa, que também o impediu de embarcar.

● Chapecó é uma cidade que abraçou sua equipe e a carregou desde sua fundação, em 1973. Era o time modelo do futebol brasileiro atualmente. Nos últimos dez anos, é uma arrancada espetacular, uma aula de gestão de futebol, conquistando os títulos do Campeonato Catarinense em 2007, 2011 e 2016. Em extrema evolução, o time estava na Série D em 2009, na Série C em 2012, na Série B em 2013 e a partir de 2014 passou a jogar a Série A do Campeonato Brasileiro. É das únicas equipes que nunca foi rebaixada na história do Brasileirão (junto com São Paulo, Flamengo, Santos, Cruzeiro e Inter, por enquanto). Vendeu caro sua eliminação nas quartas-de final da Copa Sul-Americana em 2015. Já em 2016, fez toda a América se apaixonar pelo clube, pela alta qualidade de seu futebol e pela entrega total em campo. Na final, enfrentaria o melhor time das Américas no momento: O Atlético Nacional, de Medellín. Esperávamos ansiosamente por esse jogo, mas uma das maiores fatalidades da história recente levou quase todos para o céu.

● Se foram grandes heróis que vestiam verde. Eram todos fundamentais. É uma grande injustiça citar nomes, mas impossível não falar no goleiro Danilo. Se os palmeirenses e atleticanos, respectivamente, apelidaram seus goleiros de São Marcos e São Victor, certamente para os torcedores da Chape o goleiro é São Danilo. Desde 2013 no clube, São Danilo fez seu maior milagre no último lance do jogo de volta das semifinais da Copa Sul-Americana, contra o San Lorenzo, em um chute a queima roupa dentro da área. Esse lance levou a Chape para essa final. Ele quase conseguiu outro milagre ao ser resgatado vivo, mas as lesões torácicas o levaram a óbito. Ananias, o heroi autor do gol mais importante da história do clube, no jogo fora de casa, na mesma semifinal… Cléber Santana era o capitão, fonte de experiência, a alma da Chape… Bruno Rangel é o maior artilheiro da história o clube, com 77 gols… O técnico Caio Junior, de tantos clubes, também pode ser considerado ídolo da equipe de Chapecó. Foi fundamental nessa aventura sul-americana.

Outras perdas doloridas foram a de todos os profissionais da imprensa. Morreram várias referências para mim, como Victorino Chermont, Deva Pascovicci, Paulo Julio Clement e, especialmente, Mario Sergio Pontes de Paiva. Este merece um espaço a parte. Comentarista de opinião, técnico ranzinza e jogador genial. Ídolo do Inter e craque campeão mundial com Grêmio.

Todas as perdas são lamentáveis. Estamos realmente chocados e muito tristes por escrever sobre isso quando estávamos preparando para narrar os feitos dentro de campo desse super time. Infelizmente a Chapecoense entrou para a história da maneira mais triste possível, mas sempre estará dentro dos corações dos amantes do futebol.

… Palmeiras: Campeão Brasileiro 2016

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… Palmeiras: Campeão Brasileiro 2016


(Imagem: iG Esporte)

● Um estádio de primeiríssimo mundo, que ontem bateu seu recorde de público, com 40.986 expectadores, que conseguiu vender e bem os seus “naming rights” para uma seguradora alemã. Um grande clube em uma belíssima casa, com conforto aos torcedores e sócio-torcedores, que chegaram a enormes 126.728 associados no “Avanti”. Um presidente que assumiu o clube na Série B e o entrega a seu sucessor como campeão brasileiro, além de injetar muitos milhões do próprio bolso nas finanças deste clube. Um presidente que conseguiu manter uma rara paz política e soube fechar um excepcional contrato de patrocínio máster com uma financeira. Uma diretoria que trabalhou muito bem, inclusive incorporando o melhor diretor executivo de futebol do país na atualidade, Alexandre Mattos. Este, com sua influência, montou um elenco deveras numeroso (39 jogadores), mas muitíssimo completo e cheio de opções para o treinador escalar o time.

● Após a queda na primeira fase da Copa Libertadores desse ano, o Palmeiras demitiu o técnico Marcelo Oliveira e fez a contratação certeira. Cuca sempre foi palmeirense (contrariando seu pai corintiano, que faleceu em 1997). Cuca prometeu ser campeão com o manto alviverde em duas ocasiões. A primeira foi no Campeonato Paulista de 1992, quando ostentava a camisa nº 8 do time pré-Parmalat. Fez um gol contra o Ituano e fez o sinal transversal no peito, significando uma faixa de campeão. O time perderia a final para um poderoso São Paulo.

A segunda vez foi como treinador, após o time ser eliminado nos pênaltis na semifinal do Paulistão desse ano. Prometeu que seria campeão brasileiro e o time começou o campeonato voando, com um futebol ofensivo e gostoso de assistir. Mas com diversas lesões de jogadores importantes (especialmente Fernando Prass e Moisés) e a convocação de Gabriel Jesus para a Seleção Olímpica, Cuca reestruturou o time, que passou a ser menos vulnerável e, por consequência, o futebol vistoso foi deixando de aparecer. Cuca, com todo seu conhecimento e suas superstições, cumpriu o que prometeu por duas vezes e foi fundamental no primeiro título palmeirense do Campeonato Brasileiro em pontos corridos.

● Mas o trunfo principal foi o vasto elenco. Fernando Prass se contundiu, entrou o desconhecido (e ótimo) Jailson. Vitor Hugo se destacou ainda mais quando passou a compor dupla de zaga com o bom colombiano Yerry Mina. Super Zé Roberto é um caso para ser estudado, pois continua sendo um dos grandes do futebol brasileiro aos 42 anos (e contando…). Arouca e Gabriel seriam titulares em qualquer time brasileiro, mas Tchê Tchê chegou para elevar o nível do time, acompanhado por um exuberante Moisés (para mim, o melhor jogador do campeonato). Da mesma forma, qualquer equipe gostaria de contar com atacantes como Rafael Marques, Lucas Barrios, Alecsandro e Erik, mas os jovens e leves Róger Guedes e o capitão Dudu eram os preferidos para formarem o trio de frente junto a um adolescente. A cereja do bolo era o menino Jesus. Gabriel Jesus tem aproximadamente 18 meses no time principal do Palmeiras e já conquistou dois títulos pelo clube, ganhou a medalha de ouro olímpica, é titular da Seleção Brasileira e irá jogar no Manchester City, de Pep Guardiola.

Difícil montar um elenco mais diversificado. Se mantiver a base e o técnico, o mesmo Palmeiras que acabou com o tabu nacional de 22 anos, pode também encerrar o jejum sul-americano que completará 18 anos em 2017.

… Héctor Scarone: lenda olímpica e campeão do mundo

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… Héctor Scarone: lenda olímpica e campeão do mundo


(Imagem: UOL)

● Héctor Pedro Scarone Beretta nasceu em Montevidéu em 24/11/1898 e faleceu na mesma cidade em 04/04/1967. Tinha um irmão atacante, dez anos mais velho, também muito famoso na mesma época, chamado Carlos “Rasqueta” Scarone, que também jogava no Nacional e na seleção uruguaia.

Era conhecido como “El Mago”, pelas maravilhas que fazia em campo. Tinha também o apelido de “La Borelli” (uma artista do cinema italiano), por ser muito caprichoso e exigente fora de campo – era genial em campo e genioso fora dele. Também era chamado de “Gardel do Futebol”, pois jogava como se tivesse cantando em um show. Era um jogador completo, considerado o melhor jogador do mundo em seu tempo (décadas de 1920 e 1930) e por vezes considerado o melhor jogador da história do futebol uruguaio. Tinha uma excelente finalização, bom passe, exímio em lançamentos longos e cobranças de faltas. Batia escanteios dos dois lados, com qualquer das pernas (era ambidestro). Tinha agilidade e bom drible. Com apenas 1,70 m de altura, fazia muitos gols de cabeça. Era praticamente imparável em cobrança de pênaltis, sendo que cobrou 117 e errou apenas um. Criou a chamada “tabelinha” (um-dois, chamada no Uruguai de “pared”), com seu colega Pedro Petrone. Sua grande qualidade era reconhecida também por adversários. O italiano Giuseppe Meazza dizia que Scarone era o jogador mais fantástico que já viu. O goleiro espanhol Ricardo Zamora se referiu a ele como “o símbolo do futebol”. Por sua vez, a imprensa argentina dizia que era o rival mais temido pela sua seleção.

Jogou a maior parte de sua carreira no Nacional, se tornando uma lenda do clube. Estreou na equipe em 1916 e se despediu em 1939, jogando depois uma temporada no Montevideo Wanderers para encerrar de vez sua carreira. Antes disso, jogou por três temporadas no futebol europeu: em 1926, jogando pelo Barcelona; entre 1931 e 1932, pela Società Sportiva Ambrosiana (atual Internazionale de Milão – foi o primeiro estrangeiro da Inter e o segundo uruguaio a jogar na Europa, depois de Julio Bavasto, que passou pelo Milan em 1910) e entre 1932 e 1934, pelo Palermo, também da Itália. Seu compromisso com os Bolsos (apelido do Nacional) e com sua pátria, refletiu em suas atitudes enquanto jogava pelo Barcelona em 1926. Com o advento do profissionalismo na Espanha, Scarone decidiu abandonar o clube catalão porque, se assinasse um contrato profissional, complicaria sua situação na preparação junto a seleção para os Jogos Olímpicos de 1928 e também nunca voltaria a jogar no seu Nacional.

“Eu pensei em meu país, que logo viriam as Olimpíadas de 1928, na qual eu devia vestir a camisa celeste, pensei no Nacional também, no qual eu não voltaria a jogar, e não quis assinar. Poucos dias antes de embarcar, me fizeram a última proposta: 30 mil pesos em dinheiro por um contrato de cinco anos e também não aceitei. Eu voltei para jogar de novo pela Celeste e pelo meu Nacional.” — Héctor Scarone, sobre sua saída do Barcelona.

Decisões como essa ganharam para sempre o coração da torcida uruguaia, que ainda se lembra dele como um dos maiores expoentes da história do futebol local. Em sua homenagem, uma das tribunas populares do Estádio Parque Central leva o seu nome.

● Teve uma extensa trajetória profissional, com 24 anos jogando. No Nacional, possui o recorde de maior quantidade de anos jogando pelo clube (20 anos) e é o terceiro maior artilheiro do Campeonato Uruguaio, com 163 gols. Ainda é o segundo maior goleador da história do Club Nacional de Football, com 301 gols em 369 jogos, incluindo amistosos (atrás apenas de Atilio García, com 468 gols).

Pela seleção do Uruguai, com 19 anos e apenas na quarta partida com a camisa celeste, fez o gol do título da Copa América de 1917, na final contra a Argentina. Venceu a Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926. Ainda foi vice em 1919 e 1927. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 e a Copa do Mundo de 1930. Disputou 51 partidas oficiais e anotou 31 gols. Se contar amistosos não reconhecidos pela FIFA, fez 52 gols em 70 jogos. Era o maior artilheiro da história da seleção até 11/10/2011, quando foi superado por Diego Forlán (e posteriormente, por Luis Suárez e Edinson Cavani). Na Copa América de 1926, fez cinco gols na Bolívia, na vitória por 6 x 0 e se tornou o único jogador a anotar cinco gols pela seleção uruguaia. Foi eleito o melhor jogador da Copa América de 1917 e foi o artilheiro da Copa América de 1927, com três gols. É o quinto maior artilheiro da história da competição, com 13 gols em 21 jogos.

Héctor Scarone é um dos cinco campeões da Copa do Mundo que nasceram no século XIX, mas ele é o mais velho, nascido em 1898 (Domingo Tejera veio ao mundo em 1899, enquanto Lorenzo Fernández, Pedro Cea e Santos Urdinarán somente em 1900).

Depois de se retirar dos gramados, Scarone se tornou treinador. Foi o segundo técnico da história do Millonarios (Colômbia) desde sua fundação, entre 1946 e 1947, enquanto o clube ainda era amador. Dentre outros, treinou o próprio Nacional (1954), o Deportivo Quito (Equador) e o Real Madrid. Na temporada 1951/52, os merengues estavam a ponto de cair para a segunda divisão espanhola, mas Héctor a salvou. Posteriormente, o presidente Santiago Bernabéu lhe presenteou com um anel de ouro muito valioso, pela sua façanha de evitar a queda do Real Madrid.

(Imagem: Pinterest)

Feitos e premiações de Héctor Scarone:

Pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928.
– Campeão da Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926.
– Vice-campeão da Copa América em 1919 e 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1921, 1922 e 1929.

Pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1916, 1917, 1919,1920, 1922, 1923, 1924 e 1934.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1916, 1919 e 1920.
– Campeão da Copa Competencia em 1919, 1921 e 1923.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão da Copa de Honor em 1916 e 1917.
– Campeão da Copa de Honor Cousenier em 1916 e 1917.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935, 1938 e 1939.
– Campeão da Copa León Peyrou em 1920, 1921 e 1922.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.

Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1926.
– Campeão da Copa da Catalunha em 1926.

Distinções e premiações individuais:
– Melhor jogador da Copa América de 1917.
– Artilheiro da Copa América de 1927 (3 gols).
– Maior artilheiro histórico da seleção do Uruguai em partidas oficiais entre 1931 e 2011.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 40º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 21º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– 4º lugar na lista dos melhores jogadores uruguaios do século XX pela IFFHS.

… George Best: o destruidor (até de sua própria vida)

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… George Best: o destruidor (até de sua própria vida)


(Imagem: mountroyalsoccer.com)

● George Best nasceu em Belfast em 22/05/1946 e morreu em Londres em 25/11/2005, com apenas 59 anos. Havia passado por um transplante de fígado em 2002, devido ao altíssimo consumo de álcool em toda sua vida. É considerado o melhor jogador britânico da história. Os ingleses lamentam que ele tenha nascido na “ilha errada”, pois com certeza poderia elevar o jogo da Inglaterra a um nível acima, com conquista de títulos. Nunca disputou uma Copa do Mundo, pois em sua época a seleção da Irlanda do Norte era muito fraca. Era chamado de “Quinto Beatle“, não só pelo talento ímpar, mas também pelo “frisson” que causava onde estava, especialmente com as mulheres. É uma das poucas pessoas do mundo que se pode resumir sua biografia apenas com citações e frases.

● Frases de George Best e sobre George Best:

“Maradona Good. Pelé Better. George BEST.” (Maradona bom. Pelé melhor. George O MELHOR.) — ditado popular na Irlanda do Norte, fazendo um trocadilho do sobrenome de Best com o significado da palavra: o melhor.

“Em 1969, eu abandonei as mulheres e o álcool. Foram os piores 20 minutos da minha vida.”

“Eu gastei muito dinheiro com mulheres, bebidas e carros. O resto eu desperdicei.”

“Comprei uma casa na praia. Para ir até o mar tinha que cruzar uma rua onde havia um bar. Nunca vi o mar.”

“Eu parei de beber, mas somente quando estou dormindo.”

“Dizem que eu tentei dormir com sete Misses Mundo. Não é verdade. Foram apenas quatro. As outras três é que vieram atrás de mim.”

Um repórter que anotava o número de telefone de Best disse: “Você sabia que metade das mulheres do mundo pagaria muito dinheiro para ter esse número?” E Best respondeu: “Metade das mulheres do mundo tem esse número!”

“Há anos disse que se eu pudesse escolher entre marcar um golaço contra o Liverpool ou dormir com uma Miss Mundo, ia ter uma escolha difícil. Felizmente, tu tive a oportunidade de fazer as duas coisas.”

“Eu sou o cara que levou o futebol das páginas internas para a capa dos jornais.”

“Se eu tivesse nascido feio, vocês não ouviriam falar de Pelé. Me dou muito bem com as garotas, gosto de me divertir, de tirar prazer do dinheiro que ganho e por isso não me dedico inteiramente ao futebol. Eu não serei um monge do futebol apesar de treinar com vontade e de jogar com mais vontade ainda. Sinto que posso fazer o que quiser com a bola, não importa o adversário. Por isso, poderia ser melhor que Pelé, se quisesse.”


(Imagem: Papo de Homem)

“Odeio táticas, elas me aborrecem. O que me importa são os dribles, chego a sonhar com eles.”

“Eu costumava sonhar em driblar o goleiro, parar a bola na linha, agachar-me nas mãos e nos joelhos e empurrar para o gol. Na final da Liga dos Campeões de 1968, eu quase fiz isso, mas não tive coragem. O técnico teria um ataque cardíaco.”

“Eu podia jogar com as duas pernas, marcava gols, muitos deles de cabeça. Busby dizia que eu era o melhor na disputa da bola. Trabalhava duro em campo, voltava pra defender sem fazer falta. Se perdia a bola, era um insulto pessoal e a queria recuperar. Sim senhor, me irritava muito que a tomassem de mim, porque era minha bola.”

“Toda vez que entro nos lugares existem 60 pessoas que querem me convidar para beber, e eu não sei dizer não.”

“Nasci com um grande dom que algumas vezes tem um lado destrutivo. Queria superar todo mundo em campo quando jogava e, da mesma maneira, queria superar todo mundo nas minhas saídas noturnas.”

“Nunca saí de manhã com a intenção de ficar bêbado. Simplesmente acontecia.”

“Infelizmente não há antídoto contra o alcoolismo. A bebida foi o único adversário que não consegui superar.”

“Falam um monte de bobagens sobre defensores brutos e volantes grosseiros. Eu, simplesmente os chamo de filhos da puta.”

“De certo modo, Angie me salvou e, provavelmente, ela lamentará o resto de sua vida.” — falando do dia que tentou suicídio.

“Teria que ser o Superman para fazer algumas coisas que se supunha que eu havia feito. Dizem que eu estive em seis lugares diferentes em um mesmo momento.”

“Meu maior objetivo é que meu pai pense que eu fui o melhor, e ele pensa.”


(Imagem: Bob Thomas / Getty Images)

“Pelé me disse que eu era o melhor jogador do mundo. Essa foi a maior homenagem que recebi.”

“Pelé disse que pensava que eu era o melhor jogador da história. Sempre pensei que eu era o melhor, é como você tem que se ver. Nunca olhei para outro jogador e me senti inferior.”

“Ele não chuta de perna esquerda, não sabe cabecear, não sabe marcar e não faz muitos gols. Tirando isso ele é um bom jogador.” — Best sobre David Beckham.

“Ele usa a camisa 10. Eu achava que era por causa da sua posição, mas na verdade é o número do seu QI.” — Best sobre Paul Gascoigne.

“Uma vez eu disse ao Gazza (Paul Gascoigne) que o Q.I dele era menor que o número de sua camisa. Ele me perguntou o que era Q.I.”

“Não serve nem para amarrar os cadarços de minha chuteira.” — sobre Paul Gascoigne.

“Antes, Robert Redford era um tipo muito atraente. Agora, olhe, está flácido, tem a pele pendurada e uma cor muito estranha.”

“Se o futebol é uma arte, então sou um artista.”

“Se formas tua própria mente, só pode culpar a ti mesmo.”

“Sempre quis mais, mais de tudo.”

“Quando eu me for, as pessoas se esquecerão de todo o lixo e só recordarão o futebol.”

“O amor é respeito mútuo, além da atração.”

“O futebol é um jogo triste.”

“Talvez “solitário” seja uma palavra muito forte, mas sempre gostei de estar sozinho.”

“Definitivamente não penso que o dinheiro possa comprar amor. Pode comprar afeto, mas não amor.”

“Não se pode confiar em muitas pessoas.”

“- O que você acha sobre Cruyff?

– Um jogador de destaque.

– Melhor do que você?

– Porra você tá falando sério (Best olha para o jornalista e ri)? Você tá brincando, não tá? Eu te digo o que eu vou fazer hoje à noite… Eu vou dar uma caneta no Cruyff na primeira chance que eu tiver.” — em jogo da Irlanda do Norte contra a poderosa Holanda (Laranja Mecânica, Carrossel Holandês), em entrevista ao jornalista Bill Eliot. Logo aos cinco minutos de jogo, Best recebeu a bola na lateral esquerda e em vez de ir em direção ao gol, passou por pelo menos três jogadores holandeses até chegar na lateral esquerda, onde estava Cruyff, e aplicou uma caneta no holandês, comemorando com um soco no ar quando efetuou o drible, cumprindo sua promessa.

“Achei um gênio para você.” — Bob Bishop, olheiro consagrado do Manchester United, dizendo para o lendário técnico Matt Busby.

“Fique parado, garoto, para eu ver seu rosto, pois passei o jogo inteiro apenas vendo seu traseiro!” — zagueiro Willians, do West Bromwich, cumprimentando Best ao fim de um jogo em que correu o tempo todo atrás do ponta.

“Obviamente, você não ouviu as minhas instruções.” — Matt Busby, técnico do Manchester United na década de 1960, para George Best. Busby pediu para sua equipe apenas estudar o timaço do Benfica nos primeiros 15 minutos de jogo pelas quartas de final da Copa dos Campeões da UEFA. Best contrariou o técnico, pois com apenas 12 minutos, já tinha marcado dois gols.

“Ele nunca será como Best e ninguém será. George era único, o maior talento que o nosso futebol jamais produziu, sem sombra de dúvida.” — Alex Ferguson.

“Quando está bêbado, George é o mais deplorável, burro e ignorante pedaço de merda que já vi.” — disse sua mulher.

“Cada noite que ele bebe dois copos de champanhe com vodca, é impossível levantar na manhã seguinte para ir treinar.” — disse sua mulher.

“Do segundo melhor jogador de todos os tempos, Pelé.” — carta em envelope aberta pelo amigo Denis Law, entregue por Pelé com desejos de melhoras, quando foi visitar Best nos seus últimos dias de vida, no hospital Cromwell, em Londres.

“Esse foi o último brinde de minha vida.” — disse Best olhando para o teto do hospital, após ouvir o que Law leu da carta de Pelé.

“Não morram como eu.” — após deixar-se fotografar pela imprensa em estado lamentável, cinco dias antes de sua morte.


(Imagem: Papo de Homem)

Feitos e premiações de George Best:

Pelo Manchester United:
– Campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) em 1967/68.
– Campeão do Campeonato Inglês (atual Premier League) em 1964/65 e 1966/67.
– Campeão da Supercopa da Inglaterra em 1965 e 1967.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Inglês em 1967/68 (28 gols).
– Bola de Ouro pela revista France Football em 1968.
– Eleito jogador do ano pela FWA em 1967/68.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Prêmio Jogador de Ouro da Irlanda do Norte no Jubileu da UEFA em 2004.
– Prêmio Tributo da FWA em 2007.
– Eleito para o Hall da Fama do futebol inglês em 2002.
– Eleito para o Hall da Fama do futebol europeu em 2008.
– 27º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista Placar em 1999.
– 16º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 11º lugar na lista dos melhores jogadores europeus do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador britânico do século XX pela IFFHS.
– Melhor jogador norte-irlandês do século XX pela IFFHS.

Números de destaque:
– Disputou 370 partidas pelo Manchester United e marcou 179 gols (foi artilheiro da equipe na temporada por seis vezes consecutivas).
– Disputou 37 partidas pela seleção da Irlanda do Norte e marcou nove gols.

… Charles Miller e seu pioneirismo

Três pontos sobre…
… Charles Miller e seu pioneirismo ¹*


(Imagem localizada no Google)

Charles Miller imaginou que pelo menos alguns britânicos residentes em São Paulo deveriam conhecer o futebol. Sim, conheciam e ouviam falar, mas estavam demais apegados ao críquete para se lançarem a um outro esporte.

A “missão” de Charles Miller, de introduzir o futebol no Brasil, começava aqui. Num depoimento à revista “O Cruzeiro” em 1952, Charles Miller relata como foi o primeiro treino em solo paulistano:

“Numa tarde fria de outono de 1895, reuni os amigos e convidei-os a disputarem uma partida de “football”. Aquele nome, por si só era novidade, já que naquela época somente conheciam o críquete.

“Como é esse jogo?” – perguntavam uns.

“Com que bola vamos jogar?” – indagavam outros.

“Eu tenho a bola. O que é preciso é enchê-la” – respondeu Miller.

“Encher com o que?” – perguntaram.

“Com ar” – retrucou Miller.

“Então vá buscar, que eu encho” – respondeu um dos integrantes.

Charles Miller foi e trouxe a bola. Não se limitou apenas ao ensinamento do futebol a tarefa de Charles Miller naqueles primeiros ensaios nos terrenos da Várzea do Carmo, mas sim à catequese junto aos próprios britânicos.

¹* Bibliografia:
MILLS, John R. Charles Miller: Centenário 1894-1994 – Memoriam SPAC São Paulo Athletic Club. Rio de Janeiro: Editorial Support, 1996.

… Charles Miller: o “pai” do futebol brasileiro (futebol, rugby, polo aquático…)

Três pontos sobre…
… Charles Miller: o “pai” do futebol brasileiro (futebol, rugby, polo aquático…)


(Imagem localizada no Google)

● Charles William Miller nasceu em 24/11/1874 na cidade de São Paulo, no bairro do Brás, perto da estação ferroviária da São Paulo Railway Company. Seu pai era o escocês John Miller, que se mudou para o Brasil para trabalhar na própria São Paulo Railway (futura Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, EFSJ). Sua mãe era uma brasileira descendente de ingleses, chamada Carlota Antunes Fox.

Em 1884, com apenas nove anos de idade, foi mandado junto com seu irmão para estudar em Southampton, no sul da Inglaterra. Ele chegou na Grã-Bretanha justamente no momento em que o futebol vivia o seu boom, difundido nas escolas públicas como método de educação física e disciplina, se popularizando entre as camadas populares. Na Bannister Court School, desde cedo aprendeu a praticar futebol, rugby e críquete. Aos 17 anos, Charles já se destacava no futebol, o que lhe deu a chance de disputar 34 partidas pela Bannister Court School, marcando 51 gols. Pelo principal time da cidade, o St. Mary’s Football Club (atual Southampton FC, que disputa a Premier League), jogou 13 vezes e anotou três gols. Se tornou o primeiro jogador brasileiro em um clube profissional da Europa.

“Temos aqui na escola vários bons garotos que levam jeito para o futebol, especialmente um chamado Charles Miller, que veio do Brasil e parece ter nascido para esse jogo. Um raro talento, é ouro puro. É um artilheiro nato e recomendo sua escalação. Não vai se arrepender.” — indicação do professor de Banister ao técnico do St. Mary’s antes de sua estreia. Se saiu tão bem (marcou logo em seu primeiro jogo, ainda aos 17 anos) que foi convocado para o amistoso com o lendário Corinthian Team, considerado o melhor time do país e que selecionava apenas os melhores entre os amadores britânicos. Mesmo jogando improvisado, Miller se saiu bem contra vários membros da seleção inglesa e seu time venceu por 1 x 0.

Ao mesmo tempo, atuava pela Seleção do Condado de Hampshire, onde jogou seis vezes e fez três gols. Continuava atuante pela Banister School, não só dentro de campo, mas também na organização (capacidade que seria fundamental no retorno ao seu país).

Retornou ao Brasil em 18/02/1894 para trabalhar na São Paulo Railway, como seu pai, tornando-se também correspondente de Coroa Britânica e vice-cônsul inglês em 1904. Trouxe na bagagem duas bolas usadas, um par de chuteiras, um livro com as regras do futebol, uma bomba de encher bolas e uniformes usados do Hampshire FA (seleção de futebol regional do condado de Hampshire).

No dia 13/04/1895, na Várzea do Carmo, no Brás, em São Paulo, foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil, disputada de forma organizada, entre os funcionários da Gas Company of São Paulo (Companhia de Gás de São Paulo) e da São Paulo Railway Company (Companhia Ferroviária de São Paulo). O time da Ferrovia, onde Charles Miller atuava, venceu por 4 x 2 (com dois gols seus).

Charles Miller foi fundamental na estruturação e montagem do time de futebol do São Paulo Athletic Club (SPAC), que antes jogava apenas críquete. Além de jogador, era também o capitão e o treinador (já que naquela época os próprios jogadores assumiam essa responsabilidade). Foi também o principal responsável pela organização do primeiro torneio de futebol no Brasil. Em 14/12/1901 foi fundada a Liga Paulista de Foot-Ball (LPF), composta por cinco equipes: São Paulo Athletic, Internacional, Mackenzie, Germânia e Paulistano. Entre abril e outubro de 1902, estas equipes competiram e o São Paulo Athletic foi campeão e o próprio Miller foi o artilheiro, com 10 gols. Seus dois últimos tentos foram anotados na partida desempate, uma espécie de final no Estádio do Velódromo, contra o Paulistano. As duas equipes terminaram com 12 pontos na liga de pontos corridos. O resultado de 2 a 1 deu o primeiro título ao SPAC.

O clube foi tricampeão nos três primeiros torneios, em 1902, 1903 (com 3 gols de Charles na liga) e 1904 (Miller marcou o gol do título, em vitória por 1 x 0). Nos três títulos foi necessária uma partida-extra para derrotar o vice-campeão, o Paulistano (tri-vice).

Miller foi um dos primeiros jogadores a utilizar o calcanhar para tocar a bola. Há alguns relatos de que ele conseguia até mesmo executar uma forma de elástico. O domínio da bola no ar com o calcanhar, que hoje conhecemos por “chaleira”, era conhecido como “Charles”, em sua homenagem.

Em 1906, foi o primeiro técnico e capitão de um amontoado de jogadores paulistas representando o Brasil. O primeiro esboço do que seria uma seleção brasileira foi goleado em um amistoso pelo All-White South African Team, no Estádio do Velódromo, por 6 a 0.

Passou a segunda metade de década de 1900 se revezando entre atacante e como goleiro, além de árbitro (foi juiz desde 1902 até 1916). Em 1906, enquanto jogava no gol, foi personagem da maior derrota da história do SPAC, sendo goleado por 9 a 1 pelo Sport Club Internacional (de São Paulo – não confundir com o Inter de Porto Alegre, que tem o mesmo nome). Após esse resultado, o clube se retirou da liga e Miller saiu da direção do torneio. No ano seguinte o clube regressou. Encerrou a carreira em 1910, com quase 36 anos, em um amistoso contra o Corinthian, que excursionava pelo Brasil. Os ingleses venceram por 8 a 2, mas os dois gols foram de Miller. No total, enfrentou por duas vezes o mítico Corinthian Team (que inspirou o nome do Timão em 1910), clube pelo qual nutria grande admiração. Na criação do Sport Club Corinthians Paulista, foi Miller quem sugeriu o nome de seu primeiro presidente, o italiano Miguel Battaglia.

Em 1911 o SPAC foi novamente campeão e em 1912 o clube se retirou das competições, pois pregava um completo amadorismo, enquanto o profissionalismo velado já imperava.

● Sua biografia foi relatada pela primeira vez pelo historiador John R. Mills, em um livro que detalha sua família, casamento, negócios, carreira e seu time de coração. Foi casado com Antonieta Rugdge, uma grande pianista brasileira de prestígio internacional e teve dois filhos: Carlos (nascido em 1907) e Helena (de 1909). Sua descendência ficou conhecida como “Família Rudge Miller”. Porém, a artista abandonou Charles Miller na década de 1920 para viver com o poeta modernista paulistano Menotti Del Picchia.

Em 1939, no seu último retorno à Inglaterra, quase foi morto no primeiro bombardeio da história do IRA (grupo radical separatista irlandês). Quando ele ia pegar o trem, sua filha parou para ver a vitrine de uma loja e o atrasou segundos suficientes para que eles não estivessem a estação bombardeada. Continuou jogando críquete e golfe até próximo de sua morte, que ocorreu na mesma São Paulo onde nasceu, em 30/06/1953, e está enterrado em um cemitério presbiteriano.

Alguns historiadores contestam o pioneirismo de Charles Miller na história do futebol brasileiro, argumentando e apresentando documentação como prova de que o esporte já era praticado no país antes de sua volta da Inglaterra. Certamente há registros da prática recreativa e não organizada (as chamadas “peladas”) desde meados da década de 1870, jogada por marinheiros de origem britânica, francesa ou holandesa em passagem pelo Brasil. Foi documentado um jogo realizado em 1878 em frente ao Palácio Isabel (atual Palácio Guanabara), no Rio de Janeiro. Mas deixemos claro que o mérito de Charles Miller foi ter trago ao Brasil todo o aparato necessário para a prática do esporte de forma organizada. Outro fator é que Charles influenciou e introduziu o futebol em clubes já existentes e que praticavam apenas o críquete. Ou seja, não foi jamais o primeiro praticante de futebol em nossas terras, mas foi o primeiro dirigente. Em sua homenagem, a praça onde fica o Estádio do Pacaembu recebeu o nome de Praça Charles Miller.

Charles Miller não ajudou a disseminar “apenas” o futebol no Brasil. Foi um divulgador e entusiasta dos esportes em geral, pois foi também um dos fundadores da Associação Paulista de Tênis. Foi também um dos responsáveis por introduzir o polo aquático no país, mas não teve o mesmo incentivo e apoio. E junto com a bola de futebol, em sua mala trouxe uma bola de rugby.

Feitos e premiações de Charles Miller:

Pelo São Paulo Athletic Club (SPAC):
– Campeão do Campeonato Paulista em 1902, 1903 (invicto) e 1904.
– Artilheiro do Campeonato Paulista em 1902 (10 gols) e 1904 (9 gols, empatado com Herbert Boyes, também do SPAC).
– 3º lugar no Campeonato Paulista em 1910.
– 4º lugar no Campeonato Paulista em 1905.

… Domingos da Guia: uma lenda do futebol mundial

Três pontos sobre…
… Domingos da Guia: uma lenda do futebol mundial


(Imagem localizada no Google)

● Jogou em uma época em que os bons zagueiros eram os que davam chutão, carrinho e botinada. Domingos foi o primeiro zagueiro a não ter raiva da bola, a agredindo com chutões. Os mais entusiasmados diziam que em um cruzamento, ele era capaz dominar a bola com a testa e sair jogando. Amava a bola, assim como ela o amava. Jogava de cabeça erguida, com um senso de posicionamento e poder de antecipação absurdos e inéditos para a época. Sua postura discreta, séria e sua maneira de jogar, recordava o estilo britânico clássico do século XIX. Foi um dos primeiros defensores a ser chamado de craque. Possuidor de excelente técnica, é apontado como um dos melhores na posição em todos os tempos. Jogava sempre com a cabeça erguida, antevendo os lances e dificultando para o adversário a missão de driblá-lo. Não cometia muitas faltas e sempre saía jogando com classe. Essa sua costumeira jogada, de extremo risco, era executada sempre com perfeição e foi apelidada de “Domingada”. Mesmo sendo raros seus registros em vídeo, impossível contestar seu posto de maior zagueiro brasileiro de todos os tempos.

Gilberto Freyre o definiu como “um apolíneo em meio aos dionisíacos”. José Lins do Rego o chamava de “intelectual de calção, meias e chuteiras”, devido a sua grande inteligência e exuberância.

Feitos e premiações de Domingos da Guia:

Pela Seleção Brasileira:
– 3º lugar na Copa do Mundo de 1938.
– Bicampeão da Copa Rio Branco em 1931 e 1932.
– Campeão da Copa Rocca em 1945.

Pela Seleção do Rio de Janeiro:
– Campeão do Campeonato Brasileiro de Seleções em 1931, 1940 e 1943.

Pelo Nacional (Uruguai):
– Campeão Uruguaio em 1933.

Pelo Vasco da Gama:
– Campeão Carioca em 1934.
– Campeão da Copa dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo em 1934.
– Campeão Carioca de Aspirantes em 1934.
– Campeão do Torneio Início do Rio de Janeiro em 1932.

Pelo Boca Juniors (Argentina):
– Campeão Argentino em 1935.

Pelo Flamengo:
– Campeão Carioca em 1939, 1942 e 1943.
– Campeão do Torneio Aberto do Rio de Janeiro em 1936.
– Campeão do Torneio Relâmpago do Rio de Janeiro em 1943.
– Campeão da Taça João Vianna Seilir em 1936, no Paraná.
– Campeão da Taça da Paz em 1937, no Rio de Janeiro.

Pelo Corinthians:
– Bicampeão da Taça Cidade de São Paulo em 1947 e 1948.
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Paulista em 1944.

Pelo Bangu:
– Campeão da Taça Euvaldo Lodi em 1950, no Rio de Janeiro.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1938.
– Eleito melhor jogador do Campeonato Sul-Americano de 1945.
– 40º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela revista Placar em 1999.
– 80º lugar na lista dos melhores jogadores da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– 17º lugar na lista dos melhores jogadores brasileiros do século XX pela IFFHS.
– 43º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– Eleito um dos 100 melhores jogadores de todos os tempos pela revista World Soccer em 1999.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal Sunday Times.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians pela revista Placar em 1982.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Corinthians pela revista Placar em 1994.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 1982.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 1994.
– Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar em 2006.

Frases de Domingos e sobre Domingos:

“O jogo estava paralisado. Piola vinha na corrida e me atingiu com um pontapé, que eu revidei. Admitiria que o juiz fosse rigoroso comigo. Mas ele não podia prejudicar todo o time com a partida paralisada.” — Domingos, sobre o pênalti que cometeu na semifinal da Copa do Mundo de 1938, contra a Itália.

“Esta aqui, a bola, me ajudou muito. Ela ou as irmãs dela, não é? É uma família e sinto gratidão por ela. Na minha passagem pela Terra, ela foi o principal. Porque sem ela ninguém joga. Comecei na fábrica em Bangu, trabalhando, trabalhando, até que encontrei minha amiga. E fui muito feliz com essa aí. Conheço o mundo inteiro, viajei muito, muitas mulheres. Isso também é uma coisa gostosa, não é?” — Domingos, em entrevista a Roberto Moura.

“Coloco em primeiro lugar o Garrincha. Depois, Pelé, Zizinho, Ademir, Rivelino, Gérson, Zico, meu filho Ademir.” — Domingos, em entrevista ao Jornal do Brasil, em novembro de 1992.

“O melhor que vocês já tiveram foi Domingos, completo. Campeão lá [Brasil], aqui [Uruguai] e na Argentina” — declarou Obdulio (capitão uruguaio na Copa de 1950) para um repórter brasileiro em 1970.

“Ele era um verdadeiro ídolo da torcida do Boca. QUando fui jogar lá, anos depois, todos falavam dele.” — Orlando Peçanha, zagueiro brasileiro campeão da Copa do Mundo em 1958, sobre Domingos da Guia.

“Domingos, sempre com grande serenidade, não corria atrás do jogador adversário. Ele corria em uma faixa entre o jogador e a baliza. Quando o adversário se aproximava do gol, Domingos já estava na frente dele, coisa que Nilton Santos viria a fazer anos depois.” — Thiago de Mello, poeta amazonense e flamenguista.

“De certa forma Domingos foi o “Machado de Assis do futebol”… Era um inglês por fora, brasileiro por dentro e sobretudo carioca.” — Mário Filho.

“A leste, a Muralha da China. A oeste, Domingos da Guia. Nunca houve zagueiro mais sólido na história do futebol. Domingos da Guia foi campeão em quatro cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires) e foi adorado pelas quatro: quando jogava, os estádios enchiam. Antes, os zagueiros se agarravam aos atacantes feito selos em envelope, e livravam-se da bola como se ela lhes queimasse os pés, chutando-a o quanto antes para o alto. Domingos, ao contrário, deixava passar o adversário, investida vã, enquanto lhes roubava a bola, e depois tomava todo o tempo do mundo para tirar a pelota da zona de perigo. Homem de estilo imperturbável, fazia tudo assobiando e olhando para o outro lado. Desprezava a velocidade. Jogava em câmera lenta, mestre do suspense, amante da lentidão”. — Eduardo Galeano em seu livro “Futebol ao Sol e à Sombra”.

… Domingos da Guia na Seleção Brasileira

Três pontos sobre…
… Domingos da Guia na Seleção Brasileira


(Imagem localizada no Google)

● Pela Seleção, Domingos da Guia disputou 30 partidas entre 1931 e 1946, com 19 vitórias, 3 empates e 8 derrotas. Estreou em 06/09/1931, na vitória contra o Uruguai (campeão do mundo e bi olímpico), por 2 a 0, pela Copa Rio Branco, no Estádio das Laranjeiras. Domingos tinha apenas 18 anos e, mesmo atuando contra os atacantes campeões mundiais, jogou como um veterano. Segundo o jornalista Mário Filho, neste jogo Domingos protagonizou um lance hilário: o mítico ponta esquerda Pablo Dorado (autor do gol que abriu o placar da final da Copa do Mundo de 1930), conhecido pela velocidade, partiu em disparada para cima de Domingos. Passou por ele, pelo goleiro Veloso e só parou dentro do gol. Os jogadores celestes correram para comemorar o gol com Dorado, imaginando que ele havia entrado no gol com bola e tudo. Mas domingos olhava a cena sem entender nada, pois estava ele parado com a bola nos pés. O desarme foi tão perfeito que ninguém reparou. Nem Dorado, que entre os aplausos e gargalhadas da torcida brasileira, cumprimentou Domingos com um sorrisinho amarelo.

No estádio Centenário, em outra atuação monstra contra o Uruguai, Domingos comandou o Brasil em nova vitória por 2 a 1. Na mesma excursão, a Seleção também venceu os fortes Peñarol e Nacional. Em tempos de amadorismo no Brasil e profissionalismo no Uruguai, Domingos ficou por lá mesmo para jogar no Nacional. Não disputou a Copa de 1934, pois o clube uruguaio só o liberaria para a seleção se a CBD pagasse 45 contos de réis (uma fortuna para a época).


(Imagem: Memórias do Esporte)

● Na Copa do Mundo de 1938, a delegação brasileira se preparou um pouco melhor do que nas duas primeiras Copas, levando os principais jogadores em atuação. A viagem rumo à França, a bordo de um navio, durou 15 dias. No primeiro jogo, contra a forte Polônia, o esquema ofensivo brasileiro deixou muitos buracos entre as linhas e levou 5 gols, sendo 4 de Wilimowski. Sorte que o ataque brasileiro marcou 6 vezes. O jogo seguinte foi um empate com a Tchecoslováquia por 1 a 1, com muita disputa e violência. No jogo desempate, Domingos não jogou, mas o Brasil venceu por 2 a 1 e se classificou. Na semifinal viria a então campeã, a fascista Itália. Quando o Brasil já perdia por 1 a 0 e pressionava em busca do empate, aos 17 minutos do segundo tempo Domingos não se segurou diante das provocações do atacante Silvio Piola e lhe agrediu dentro da área com um chute. Mesmo com a bola não estando em jogo, o árbitro suíço equivocadamente marcou pênalti. Mesmo com os brasileiros inconformados, Giuseppe Meazza marcou o gol da vitória italiana por 2 x 1 sobre o Brasil. Domingos nunca aceitou a marcação: “A bola estava parada. Se ele tivesse que punir alguém seria eu, com a expulsão. Não poderia ter prejudicado o time todo”. Devido ao lance de infantilidade de Domingos, a “Domingada”, que era utilizada para seus lances geniais, passou também a ser usada como sinônimo de “trapalhada”. O Brasil teve de se contentar com o 3º lugar, vencendo a Suécia por 4 x 2. Mesmo assim, Domingos foi eleito o melhor zagueiro da competição e foi bastante aplaudido no retorno a seu país. Foi bastante atrapalhado pelo amadorismo (em 1934) e pela 2ª Guerra Mundial, que impediu a realização das Copas de 1942 e 1946 e tirou dele a chance de dar a volta por cima e se redimir em Copas. Nada que abalasse sua idolatria na América do Sul.

“Em 1938, o que eles falavam muito era que pegaram um navio aqui no Brasil, viajaram não sei quantos dias para a França, treinavam no navio. Chegaram lá sem muita condição e preparo físico e no jogo contra a Itália o juiz deu um pênalti que na verdade foi um lance muito discutido, porque primeiro a bola não estava dentro de campo, a bola tinha saído, e era uma jogada que se houve uma agressão tinha que ser expulso e não dar pênalti. Eu lembro muito disso porque as pessoas falavam: “Oh Domingos, como que foi aquele pênalti?”. E ele contava como é que foi a viagem e é mais ou menos isso que eu lembro. Mas que as pessoas sempre falavam que ele era um zagueiro muito técnico de uma condição espetacular”. – Contou Ademir, filho de Domingos.

● Domingos disputou os Campeonatos Sul-Americanos de 1942, 1945 e 1946, conseguindo no máximo o vice-campeonato dos dois últimos. Foi campeão da Copa Rio Branco em 1931 e 1932, além da Copa Rocca em 1945.

… Domingos da Guia: o “Divino Mestre”

Três pontos sobre…
… Domingos da Guia: o “Divino Mestre”


(Imagem localizada no Google)

● Domingos Antônio da Guia veio ao mundo em 19/11/1912 (algumas fontes citam que seu ano de nascimento é 1911), na então capital federal, Rio de Janeiro. Nascido e criado próximo da igreja de São Sebastião e Santa Cecília, no bairro de Bangu. Era de família humilde, filho de lavradores e neto de escravos. Deu seus primeiros passos no futebol no time da fábrica de tecidos Bangu, em 1929, assim como seus três irmãos: Luiz, Mamede (Médio) e Ladislau, meia que reinava no time do Bangu na época e que ainda é o maior artilheiro da história do clube, com 222 gols. Em seu início, Domingos ficou conhecido como o irmão de Ladislau. Mas sua ligação com o time é tão grande, que foi citado por Lamartine Babo quando este compôs a letra do hino do Bangu:

“O Bangu tem também a sua história e glória,
Enchendo seus fãs de alegria.
De lá pra cá, surgia Domingos da Guia.”

Sua habilidade começou cedo, nas peladas no subúrbio de Bangu. Sua posição original era de centromédio. Logo em seus primeiros treinos, Kanela (o maior técnico de basquete da história do Brasil, bicampeão mundial, que também foi treinador de futebol e passou pelo Bangu) achou melhor adaptar o garoto na defesa. Domingos ensinou que os defensores também podem ter habilidade. Estreou no Bangu em 04/04/1929, em uma vitória de 4 x 2 sobre o Fluminense (algumas fontes afirmam que o jogo era contra o Flamengo) pelo Campeonato Carioca, substituindo o zagueiro Conceição. Até a profissionalização do futebol no Brasil, Domingos conciliava os compromissos do futebol com as trabalhos como carpinteiro, na Fábrica de Tecidos Bangu e até como mata-mosquitos no Departamento de Saúde Pública do Rio de Janeiro. Após três temporadas, em 1932, trocou o Bangu pelo Vasco da Gama.

● Em 1933, após jogo da Copa Rio Branco pela Seleção Brasileira contra o Uruguai, decidiu ficar no futebol profissional uruguaio e assinar com o Nacional. Provocou uma revolução, pois jogava na mesma posição que José Nasazzi (capitão celeste campeão da primeira Copa do Mundo, em 1930). Assim, formaram uma inédita dupla em que os dois eram zagueiros pelo lado direito. Quando Domingos foi contratado, os uruguaios se revoltaram, alegando que não precisavam de zagueiro, pois tinham Nasazzi. Quando Domingos saiu do clube, disseram que só aprenderam com ele o verdadeiro significado da palavra “zagueiro”. No país vizinho, com apenas 20 anos, ganhou o apelido de “Divino Mestre”. Foi campeão uruguaio em 1933. Voltou ao Brasil para nova passagem pelo Vasco, já profissionalizado, e foi campeão do Campeonato Carioca da LCF em 1934.

Despertou novo interesse estrangeiro e foi para o Boca Juniors em 1935. Em terras portenhas, fez uma ótima dupla de zaga com Victor Valussi, dando uma proteção “divina” ao goleiro Yustrich. Se tornou lenda também no Boca Juniors, de Francisco Varallo, e venceu o campeonato argentino de 1935. Seu maior orgulho foi ter sido campeão tricampeão consecutivo em três países diferentes: Uruguaio (1933), Carioca (1934) e Argentino (1935). Onde passou, deixou sua marca. Mesmo com o talento singular, nunca lhe faltou raça. Às vezes nem precisava se mexer. “Eu vou pelo atalho”, explicou certa vez. Mas um desentendimento de Domingos com um árbitro local o levou a uma suspensão de dois meses, o que motivou novas investidas de clubes brasileiros. Com diversas propostas, Domingos foi ser ídolo do Flamengo a partir de 1936.

Estreou em um empate em 2 x 2 com o Fluminense, em 16/08/1936. Após passar de novo e rapidamente pelo Boca em 1937, se consagrou definitivamente com a camisa do rubro-negra, jogando entre 1937 e 1943, disputando 223 partidas pelo Flamengo, com 138 vitórias, 46 empates e 39 derrotas. Se tornou campeão carioca em 1939, 1942 e 1943. Posteriormente, foi homenageado pelo Flamengo dando seu nome a escolinha do clube em São Gonçalo.

Em 1944, Domingos brigou com a diretoria do Flamengo e se mandou para jogar no Corinthians, já aos 32 anos. Chegou ao Timão por 300 contos de réis (maior transação da época). Foi um fato marcante que revolucionou o futebol paulista. Pelo Timão, entre 1944 e 1948, disputou 116 jogos, com 77 vitórias, 17 empates e 22 derrotas. Foi capitão do time e chegou a ser convocado para a Seleção Paulista, provando que a idade nunca foi um empecilho para o craque. Já tinha jogado pela Seleção do Rio de Janeiro entre 1931 e 1943, no antigo Campeonato Brasileiro de Seleções. Encerrou a carreira onde começou, no Bangu, onde jogou novamente de 1958 a 1950.


(Imagem: Globo)

● Após se despedir dos gramados, treinou o Olaria Atlético Clube, mas não teve sucesso como técnico. Em 1952 voltou a trabalhar no serviço público, no qual se aposentou como fiscal de renda. Depois, trabalhou como comerciante em um bar de sua propriedade. Não era um simples dono do bar. Sempre aparecia alguém da imprensa interessado apenas em suas histórias e em reviver seus grandes momentos dentro do gramado. Se estabeleceu no bairro de Bangu, em busca de suas raízes. Costumava passear pelas calçadas da Avenida Rio Branco, onde encontrava velhos amigos e a prosa era certa. Vestia-se com a mesma elegância com que jogava: com um terno branco e uma cartola. Se tornou parceiro de Zizinho, como morador do bairro do Méier, em 1974. Faleceu aos 87 anos, em 18/05/2000, em um quarto do Hospital Quarto Centenário, vítima de um acidente vascular cerebral, no mesmo Rio de Janeiro onde nasceu.

Seu maior orgulho era seu filho Ademir da Guia, maior ídolo da história do Palmeiras, que herdou o apelido e a “divindade” do pai. “Quando meu pai jogou no Nacional do Uruguai, ganhou o apelido de Divino Mestre. E quando eu cheguei aqui em São Paulo, os jornais colocaram: ‘O Palmeiras contratou o filho do Divino’. Então o apelido na verdade é do meu pai. Ele me incentivou bastante no início da carreira. Todo início de carreira em qualquer profissão é difícil e ele me incentivou, me ajudou muito, me abriu portas”. “Ele sabia de sua categoria, mas preferia não ficar se gabando. As pessoas falavam mais sobre as suas qualidades do que ele próprio”, afirmou certa vez Ademir, que não chegou a ver o pai atuando.

(Imagem: Gazeta Press)