Exatamente hoje, dia 06 de março, o Real Madrid completa 119 anos de fundação.
Como homenagem ao maior clube do mundo, contamos aqui um pouquinho da história do hino merengue.
O primeiro hino foi feito logo em 1903, um pasodoble criado pelo agrônomo Luis María de Segovia. Depois, existiram vários hinos madridistas, sendo os mais conhecidos o “Hino do Centenário” e o “Hino de La Décima“.
Mas o hino oficial, reconhecido mundialmente pelo refrão “Hala Madrid”, foi composto em 08 de março de 1952, como comemoração do aniversário de 50 anos do clube.
E esse hino surgiu de forma curiosa, dentro de um trem que viajava de Madrid a Aranjuez.
Marino García, sua esposa Mercedes Amor, Antonio Villena e o maestro Indalecio Cisneros estavam nessa viagem. Sem papel disponível, as primeiras notas foram escritas em guardanapos do restaurante La Rana Verde.
Pouco depois, o hino foi gravado pelo cantor José de Aguilar, na Columbia Discos, sob a direção e aprovação do maestro Cisneros e acompanhamento de 32 músicos da Orquestra Nacional da Espanha.
Santiago Bernabéu, presidente do clube na época, estava presente na gravação e foi trolado por Cisneros.
Bernabéu perguntou ao maestro se ele era madridista e o músico respondeu que não, que era colchonero. A cara de surpresa e desdém do presidente foi tamanha que o maestro logo desmentiu e disse que era uma piada. Disse, também, que já tinha tentado ser sócio do clube, mas nunca havia conseguido uma cota.
Rapidamente, Bernabéu procurou um telefone, ligou pra sede do clube e, em apenas meia hora, apareceu um funcionário com a carteirinha de sócio do maestro Cisneros.
Veja no vídeo o hino completo, com legenda em castelhano original e em português do Brasil.
● Luciano do Valle Queiroz nasceu em 04/07/1947, na cidade de Campinas. Era filho do comerciante Rubens do Valle e da professora Tereza de Jesus Leme do Valle.
Começou a carreira precocemente, aos 16 anos, na Rádio Educadora AM de Campinas (atual Rádio Bandeirantes Campinas). Rapidamente passou para a Rádio Brasil AM, da mesma cidade, onde já narrava futebol. Quatro anos depois foi se aventurar em São Paulo, na Rádio Gazeta, a convite do narrador Pedro Luiz Paoliello. Em 1968, mudou-se para a Rádio Nacional de São Paulo (atual Rádio Globo), onde narrava diversas modalidades, como vôlei, basquete e até o tricampeonato da Copa do Mundo de 1970.
Chegou à TV no mesmo ano de 1970, na própria Globo. Sua primeira participação foi na transmissão do Troféu Governador do Estado de São Paulo de basquete masculino. Também nessa época, substituiu por um breve período na apresentação do programa “Dois minutos com João Saldanha”, no lugar do próprio Saldanha. Após a Copa de 1974, substituiu como titular da narração o lendário José Geraldo de Almeida, na fase pré-Galvão Bueno. Ainda em 1974, narrou várias provas de Fórmula 1 e o segundo título de Emerson Fittipaldi na categoria.
Como a emissora carioca detinha a exclusividade de transmissão da Copa do Mundo de 1982, teve uma das maiores audiências da história da TV nacional. Foi a partir da inigualável voz de Luciano que o país inteiro sofreu com os gols de Paolo Rossi na “Tragédia do Sarriá”, que eliminou a Seleção Brasileira do torneio. Na Globo foram três Copas (1974, 1978 e 1982) e três Olimpíadas (1972, 1976 e 1980). Foi o narrador titular até sair da emissora, em 1982.
Depois, teve uma rápida passagem pela TV Record, mas o suficiente para fazer história. A partir dessa época, passou a desenvolver paralelamente uma carreira de empresário e promotor esportivo, criando as empresas “Promoação” e “Luqui”. Com a ajuda da emissora, Luciano organizou o jogo amistoso de vôlei entre Brasil e União Soviética, no dia 26/07/1983, em em pleno Maracanã lotado. Com transmissão ao vivo da Record, essa partida se tornou um divisor de águas no esporte brasileiro. Com 95.887 pagantes, até hoje é o recorde mundial de público em um jogo de vôlei. Teve uma nova passagem pela Record entre 2003 e 2006.
● Em 1983, Luciano chegou à Bandeirantes, iniciando uma grande reformulação na história da TV brasileira. Como a emissora não tinha os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na época, foi dada a Luciano toda a liberdade para utilizar sua criatividade e recebeu carta branca da direção para inovar e revolucionar. O marco para isso foi a criação do “Show do Esporte“, com dez horas de programação nos domingos, com grande cobertura no geral e visibilidade inédita para várias modalidades e atletas. Assim, Luciano transformou a Bandeirantes no “Canal do Esporte”.
Foi assim que ele se tornou precursor nas transmissões da Fórmula Indy, a partir de 1985, narrando especialmente o título de Fittipaldi em 1989. Foi a sua voz que levou ao Brasil a rivalidade entre as equipes da Rainha Hortência e Magic Paula que, juntas, venceram o Pan-Americano de Havana em 1991 e o título mundial de 1994, logicamente também narradas por Luciano.
Foi uma espécie de promotor de Maguila, principal peso pesado brasileiro da história do boxe.
Em um período em que as grandes estrelas do futebol brasileiro das décadas de 1960 e 1970 já estavam aposentados e caindo no ostracismo, Luciano do Valle criou a Seleção Brasileira de Masters. Com o apoio de empresários, criou a Copa Pelé – Mundial de Masters, da qual participaram cinco seleções campeãs do mundo e estrelas do quilate de: Uwe Seeler, Paul Breitner, Gerd Müller, Giacinto Facchetti e Roberto Boninsegna. O próprio Luciano foi o técnico da Seleção Brasileira, treinando feras como Pelé, Rivellino, Gérson, Jairzinho, Paulo César Carpegiani, Djalma Dias, Edu e Dadá Maravilha.
Seleção Brasileira de Masters em amistoso de 1988. Em pé (da esquerda para direita): Zico, o técnico Luciano do Valle, Eurico, Rocha, Amaral, Paulo Vítor, Luís Pereira e Vladimir. Agachados: Cafuringa, Lola, Claudio Adão, Rivelino e Eduardo.
(Imagem: Acervo/Gazeta Press)
O locutor fez diversas apostas, acertando a maioria. Bancou a transmissão do Campeonato Paulista de Aspirantes e de diversas competições de futebol feminino, popularizando nomes como Sissi, Kátia Cilene e Formiga. Tinha espaço até para jogos de sinuca, tornando Rui Chapéu famoso nacionalmente.
Acertou demais quando passou a transmitir a NBA no país, em 1987, pegando a época áurea do Chicago Bulls de Michael Jordan e parte da disputa ferrenha entre o Los Angeles Lakers, de Magic Johnson, e o Boston Celtics, de Larry Bird. Feras que o povo brasileiro começou a conhecer antes mesmo de formarem o “Dream Team” nos Jogos Olímpicos de 1992.
Sempre com apoio de toda equipe da Band, abriu espaço até para o futebol americano.
Luciano também criou modelos bem sucedidos para a TV. Um foi o Verão Vivo, transmitido de postos da Band no litoral brasileiro, misturando competições esportivas e eventos culturais. Outro foi o Apito Final, programa de debate esportivo após a rodada do futebol, reunindo diversas personalidades. É a base do modelo de mesa redonda que faz muito sucesso desde os anos 1990.
Em 1999, quando morava em Porto de Galinhas, apostou na compra dos direitos de transmissão do Campeonato Pernambucano, que se revelou um sucesso de audiência, obrigando a Rede Globo Nordeste a abrir o bolso em 2000, para readquirir o pacote completo para TV aberta e fechada por R$ 1,92 mi.
A lista de feitos de Luciano do Valle é enorme. Apresentou programa de variedades (Valle Tudo), programa matinal (Tudo em Dia, ao lado da esposa Flávia do Valle, para a Band RS) e até o Carnaval.
● Em janeiro de 2012, sofreu um AVC que prejudicou sua voz e o obrigou a passar por sessões de fonoaudiologia. Tentou voltar rapidamente às transmissões e, durante um Santos x Palmeiras, errou quase tudo, virando motivo de chacota nas implacáveis redes sociais. Mas manteve tudo em segredo e só revelou o AVC após passado mais de um ano.
Mesmo com a saúde debilitada, o locutor não se afastou das transmissões, transmitindo sempre a principal partida do fim de semana na Band. Ainda em 2012, ficou um tempo fora do ar por conta de uma operação na bexiga, que o tirou da cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres, pelo BandSports.
Seu último trabalho foi no título do Ituano no Campeonato Paulista de 2014, em vitória nos pênaltis sobre o Santos.
Faleceu aos 66 anos, em 19/04/2014, em Uberlândia, Triângulo Mineiro, onde narraria a partida entre Atlético Mineiro e Corinthians, pela primeira rodada do Brasileirão 2014. A causa da morte foi uma parada cardíaca ainda durante o vôo, resultado de um infarto agudo do miocárdio. Chegou a ser levado para a UTI do Hospital Santa Genoveva, mas não sobreviveu. Foi velado na Câmara Municipal de Campinas e enterrado no cemitério Parque Flamboyant, da mesma cidade.
Coincidentemente e de forma triste, Luciano se foi a poucos meses da Copa do Mundo no Brasil. Faltou realizar seu grande sonho: transmitir os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.
Luciano do Valle: locutor, jornalista esportivo, torcedor da Ponte Preta, empreendedor, promotor de eventos, pioneiro, técnico e a voz mais marcante de seu tempo. Com 50 anos de carreira e um estilo singular, colocava a paixão evidente na sua bela e vibrante voz, com um estilo inconfundível de transformar o gol (cesta, ponto, etc.) em um momento mágico. Mas ele transcendeu a figura de narrador esportivo brilhante que foi e virou um patrimônio da televisão e do esporte brasileiro. É preciso agradecer para sempre o legado que Luciano deixou aos fãs do esporte.