Três pontos sobre…
… 26/07/1966 – Inglaterra 2 x 1 Portugal
Cumprimentos iniciais entre os capitães Mário Coluna e Bobby Moore. (Imagem: Pinterest)
● A partida semifinal entre Inglaterra e Portugal estava, a princípio, marcado para acontecer no Goodison Park, em Liverpool. Mas o secretário geral da FIFA, Helmut Casser, informou que o jogo ocorreria no estádio de Wembley, em Londres, porque o comitê organizador “decidiu que a partida mais atraente se realizaria no lugar onde o maior número de expectadores poderia assistir”. Esse fato, evidentemente, provocou protestos, pois jogar em Wembley sempre foi uma vantagem natural para a seleção inglesa, por ser seu estádio principal. Eram 94.493 pessoas que queriam ver um futebol limpo, diferentemente da partida anterior.
Nenhuma das duas equipes tinha história em Mundiais. Era um teste do melhor ataque contra a melhor defesa da competição.
Na primeira fase, a Inglaterra foi líder do Grupo 1 com cinco pontos. Empatou sem gols com o Uruguai e venceu México e França, ambos por 2 a 0. Nas quartas de final, um embate duríssimo contra os argentinos e vitória por 1 a 0. Agora, já tinha alcançado o seu melhor desempenho na história das Copas do Mundo. Contra a estreante seleção de Portugal, tentava uma inédita vaga na final.
Por sua vez, Portugal ganhou todos os jogos do grupo 3. Venceu a Hungria por 3 a 1, a Bulgária por 3 a 0 e o Brasil por 3 a 1. [A Seleção Brasileira, então bicampeã do mundo, caiu na primeira fase, após vencer a Bulgária e perder para Hungria e Portugal.] Nas quartas de final, um épico: após 25 minutos de jogo, os portugueses perdiam para a surpreendente Coreia do Norte por 3 a 0. Mas com quatro gols de Eusébio e um de José Augusto, a seleção lusa virou o jogo para um emocionante 5 a 3.
Portugal tinha uma ótima equipe do meio para frente. Treinado pelo brasileiro Otto Glória, o time era baseado no campeoníssimo Benfica. Todos os jogadores da linha de frente vestiam a gloriosa camisa encarnada: José Augusto, Coluna, Eusébio, Torres e Simões. O “calcanhar de Aquiles” era o fraco sistema defensivo. Na semifinal contra os donos da casa, tinha dois sérios desfalques: os dois violentos zagueiros, Vicente e Morais.
O técnico Alf Ramsey até tentou utilizar o sistema 4-3-3, mas, com a lesão de Jimmy Greaves e as más partidas dos pontas na primeira fase, acabou optando pelo 4-4-2. Os grandes destaques eram os meias Martin Peters pela esquerda e o caçula Alan Ball na direita. Eles faziam um bom balanço defensivo e atacavam quando tinham a bola. Foi uma sacada genial de Ramsey, que antecipou uma tendência ao que se vê em muitas equipes em pleno século XXI.
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
● O “English Team” dominou as ações no início. Teve a primeira chance com Bobby Charlton, já dando a primeira amostra do que viria depois. Banks chutou para frente, Hunt desviou e Hurst tocou para trás para Charlton. O carequinha, camisa 9, chutou da entrada da área, no meio do gol, para a defesa do péssimo goleiro português José Pereira.
A Inglaterra sabia que precisaria tomar cuidado com Eusébio, e o técnico Alf Ramsey escalou o “buldogue” Nobby Stiles grudado nele. O craque português levou perigo, quando cruzou fechado demais e a bola passou rente ao travessão.
O equilíbrio permanecia. Na metade do primeiro tempo, Ray Wilson tocou para Bobby Charlton, que lançou de primeira para o ótimo Alan Ball. Ele cruzou para a área e José Pereira espalmou para a marca do pênalti. O zagueirão Jack Charlton dividiu com Jaime Graça e a bola sobrou para Hurst na direita. Ele chutou bem, mas Zé Pereira fez a defesa.
Portugal, que tinha impressionado nos primeiros jogos, não está mostrando o mesmo futebol. As chances criadas foram raras.
Aos 25′, Eusébio finalmente conseguiu finalizar com perigo. José Pereira chutou para a frente e Eusébio ganhou de cabeça de Nobby Stiles. Simões ficou com a sobra e devolveu para Eusébio, que arriscou com muito perigo da entrada da área. Banks tocou na bola e a desviou para escanteio.
Aos 30 minutos do primeiro tempo, Coluna faz uma inversão errada e os “Three Lions” recuperam a posse de bola. Lançamento longo de Ray Wilson para Roger Hunt dentro da área. Ele deu um drible da vaca em Batista, mas o goleiro José Pereira saiu em seus pés e tirou a bola. Caprichosamente, ela caiu no ótimo pé direito de Bobby Charlton, que emendou de primeira, da entrada da área. Inglaterra 1 a 0. Delírio em Wembley.
Depois de virar um jogo em que perdia por 3 a 0 para a Coreia do Norte, Portugal não iria desistir. Logo depois do gol, Jaime Graça virou o jogo, o gigante Torres desviou de cabeça para Simões. O ponta esquerda cruza, a defesa rebate e a bola sobra para Eusébio emendar um lindo voleio. Banks buscou a bola no cantinho direito e salvou o gol certo.
No segundo tempo, a Inglaterra voltou pressionando. O “English Team” abandonou o futebol cauteloso das partidas anteriores e jogou com mais liberdade, dominando as ações.
Logo no início, Ball tocou de cabeça e Hurst tocou para Bobby Charlton. Ele chutou da intermediária e a bola carimbou o travessão português.
Bobby Charlton foi o craque inglês por quatro Copas do Mundo. (Imagem: Pinterest)
Mas o placar só se alteraria aos 35 minutos da etapa final. George Cohen lança para Hurst na direita em profundidade. Ele avançou até a linha de fundo, ganhou no corpo de José Carlos e rolou para trás, para um desmarcado Bobby Charlton, que disparou de primeira, no canto direito do goleiro português. O desentrosamento na defesa da seleção das “Quinas” e as falhas na marcação permitiram que o craque inglês jogasse totalmente livre. Foi a melhor partida da carreira de Bobby Charlton. No fim do ano de 1966, o “todo-campista” seria eleito Bola de Ouro da Europa, pela revista France Football.
Só então a Inglaterra recuou e Portugal tentou uma reação. Aos 37′, Eusébio tocou para Simões, que cruzou. Torres ganhou no alto de Banks, mas o “Girafa” Jack Charlton meteu a mão na bola para evitar o gol. Eusébio cobrou o pênalti rasteiro no canto direito, enquanto Banks caiu para o lado esquerdo. 2 a 1, Inglaterra.
Esse gol quebrou a invencibilidade do goleiro Gordon Banks. Ele passou incólume nos quatro primeiros jogos da Copa e chegou a completar 442 minutos invicto, superando o recorde anterior, pertencente ao brasileiro Gylmar, em 1958. Banks transmitia tanta segurança para o time e para os torcedores que ganhou o apelido de “Banks of England“, em referência ao Banco da Inglaterra.
A pressão portuguesa faz a torcida prender a respiração em Wembley. Dois minutos depois do gol luso, o pequeno gigante Nobby Stiles salvou um gol certo nos pés de Simões. No último minuto, o capitão Coluna teve a chance de marcar, mas o grande Gordon Banks fez um milagre e evitou o gol de empate.
Finalmente a Inglaterra mostrou toda sua qualidade. A pátria mãe do futebol chegava na final de uma Copa do Mundo pela primeira (e única) vez.
Eusébio marca seu oitavo gol no Mundial e tira a invencibilidade de Gordon Banks. (Imagem: Pinterest)
● Na decisão (que falaremos em outra oportunidade), mesmo jogando melhor que a Alemanha Ocidental, só foi vencer por 4 a 2 na prorrogação, com um gol polêmico de Geoff Hurst. Enfim, a pátria mãe do futebol era coroada como campeã do mundo.
Não se pode dizer que o “English Team” de 1966 era maravilhoso. Mas venceu utilizando suas melhores armas, em um momento de transição entre a “era romântica” e o “futebol força”. Mas nunca se pode subestimar uma equipe com Gordon Banks (um dos melhores goleiros da história), Bobby Moore (um dos melhores, senão o melhor, zagueiro que o futebol já viu) e Bobby Charlton, o melhor e mais carismático de todos os ingleses, detentor de todos os recordes possíveis por décadas.
Eusébio chora a eliminação da ótima seleção de Portugal. (Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA: |
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INGLATERRA 2 x 1 PORTUGAL |
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Data: 26/07/1966 Horário: 19h30 locais Estádio: Wembley Público: 94.493 Cidade: Londres (Inglaterra) Árbitro: Pierre Schwinte (França) |
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INGLATERRA (4-4-2): |
PORTUGAL (4-2-4): |
1 Gordon Banks (G) |
3 José Pereira (G) |
2 George Cohen |
22 Alberto Festa |
5 Jack Charlton |
20 Alexandre Baptista |
6 Bobby Moore (C) |
21 José Carlos |
3 Ray Wilson |
9 Hilário |
4 Nobby Stiles |
16 Jaime Graça |
9 Bobby Charlton |
10 Mário Coluna (C) |
7 Alan Ball |
12 José Augusto |
10 Geoff Hurst |
13 Eusébio |
21 Roger Hunt |
18 José Torres |
16 Martin Peters |
11 António Simões |
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Técnico: Alf Ramsey |
Técnico: Otto Glória |
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SUPLENTES: |
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12 Ron Springett (G) |
1 Américo (G) |
13 Peter Bonetti (G) |
2 Joaquim Carvalho (G) |
14 Jimmy Armfield |
17 João Morais |
18 Norman Hunter |
4 Vicente |
15 Gerry Byrne |
5 Germano |
17 Ron Flowers |
14 Fernando Cruz |
20 Ian Callaghan |
19 Custódio Pinto |
22 George Eastham |
6 Fernando Peres |
19 Terry Paine |
7 Ernesto Figueiredo |
11 John Connelly |
8 João Lourenço |
8 Jimmy Greaves |
15 Manuel Duarte |
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GOLS: |
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30′ Bobby Charlton (ING) |
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80′ Bobby Charlton (ING) |
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82′ Eusébio (POR) (pen) |
Gols da partida:
Compacto da partida, com os melhores momentos: