… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria

Três pontos sobre…
… 19/06/1938 – Itália 4 x 2 Hungria


(Imagem: The Score)

● Um mês e meio antes da Copa, o jornal France Soir dizia que o Brasil era uma incógnita. E arriscou uma previsão certeira: a final seria entre Itália e Hungria, com amplo e maciço favoritismo dos italianos.

A Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que em 1934. Só dois jogadores permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.

Parte da renovação comandada pelo técnico Vittorio Pozzo veio com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas.

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A Itália era a atual campeã do mundo e vinha de uma semifinal difícil contra o Brasil, na qual precisou demonstrar todo seu potencial. Antes, teve que passar pela Noruega (2 a 1) e pela anfitriã França (3 a 1). Já a Hungria, para chegar à final, tinha vencido as Índias Holandesas (atual Indonésia, 6 a 0), a Suíça (2 a 0) e a Suécia (5 a 1).

A Squadra Azzurra era a favorita contra a Hungria. Nos quatro anos anteriores, as duas seleções tinham se enfrentado quatro vezes, com três vitórias italianas e um empate.

Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, o Duce não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Assim, ele foi se despedir dos atletas antes do embarque para a França. Eis que na véspera da decisão o técnico Vittorio Pozzo recebeu um telegrama assinado pelo secretário-geral do Partido Fascista, Achille Starece, com uma ordem clara de Mussolini: “Vencer ou morrer”. Assim, a Squadra Azzurra não tinha escolha. Posteriormente, o goleiro húngaro Antal Szabó disse que não se importava de ter tomado quatro gols, pois sabia que tinha salvado vidas. Mas a ameaça do Duce nem era necessária, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.


A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.


A Hungria atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.

● A Itália abriu o placar logo 6 minutos de partida. Após cruzamento alto da direita, a defesa húngara não cortou e o ponta Colaussi, que entrava livre pela esquerda, dominou e, sem deixar a bola cair, chutou de primeira no canto direito do goleiro Szabó.

Em seu primeiro ataque, a Hungria empatou apenas dois minutos depois. Sárosi ergue a bola pelo meio, Sas desviou de cabeça para trás e encontrou Titkos. No bico esquerdo da pequena área, ele mata no peito e bate alto, sem chances de defesa para Olivieri.

Apesar de ter conseguido a igualdade rapidamente, em momento algum os húngaros deram a impressão de que esperavam algo melhor que o vice-campeonato.

Aos 16 minutos, o gol mais bonito do jogo. A Itália trocou passes dentro da área adversária. Começou com Colaussi na esquerda, foi para Piola no meio, que tocou para Ferrari. Mesmo com o gol aberto à sua frente, Ferrari passou para Meazza, na direita. O capitão ainda driblou seu marcador e rolou para Piola, na marca do pênalti. O melhor jogador do torneio dominou e acertou o ângulo esquerdo.

A vantagem italiana aumentou aos 35 do primeiro tempo. Colaussi recebeu um lançamento de 30 metros feito por Meazza. O ponta ganhou na corrida de Polgár e entrou na área. O goleiro Szabó não saiu e Colaussi, quase da linha da pequena área, teve calma para finalizar no canto esquerdo.

A Hungria mostrava clara dificuldade em marcar o jogo mais veloz dos italianos, ficando muito exposta em sua própria área.

No segundo tempo, a Hungria ainda diminuiu. Aos 15 minutos, em um rápido contra-ataque, Titkos avança pela direita e rola a bola no bico da área. Sárosi apareceu de surpresa entre os zagueiros e chutou de primeira no canto esquerdo. Mas nem assim se mandou ao ataque, apesar de todo o apoio da torcida francesa.

A Itália continuou dominando facilmente o jogo, enquanto a Hungria só tentava se defender. A oito minutos do fim, Piola fechou o placar. Biavatti foi lançado pela direita, foi até a linha de fundo e cruzou para trás. Da marca do pênalti, Piola chegou antes da marcação e bateu prensado, mas a bola foi no cantinho direito de Szabó. Foi seu quinto gol no campeonato (dois a menos que o artilheiro Leônidas).

Daí em diante, os húngaros só ficaram esperando o tempo passar e o jogo acabar.


(Imagem: FIFA)

● Quando o árbitro francês Georges Capdeville apitou o fim da partida, a torcida vaiou o time campeão, em uma atitude jamais vista. As vaias só aumentaram quando o capitão Giuseppe Meazza fez a saudação fascista antes de depois de receber a Taça Jules Rimet das mãos do presidente francês, Albert Lebrun, nas tribunas de honra do estádio.

Assim, a Itália, merecidamente, se sagrou bicampeã da Copa do Mundo, feito que apenas o Brasil de 1958 e 1962 conseguiu repetir. O técnico Vittorio Pozzo ainda hoje é o mais vitorioso à frente da seleção, a qual comandou por 19 anos. Além das duas Copas, ele conquistou também a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.

Na volta à “Velha Bota”, os campeões foram recebidos por Mussolini em Roma, no Palazzo Venezia, a sede do governo. Após abraços e saudações oficiais, cada um recebeu míseras 8.000 liras pela conquista do título (equivalente ao carro mais popular do país em 1938, um Fiat Topolino).

Como curiosidade, o autor do segundo gol da Hungria, o centroavante “Dr. György Sárosi” era um brilhante advogado em seu país. Na Copa de 1934 ele já tinha deixado de participar de um jogo de sua seleção devido ao seu trabalho num escritório de advocacia. Em 1938, às vésperas da Copa, ele estava diante de um caso importante, que poderia lhe render bom retorno profissional e financeiro e, por isso, comunicou à comissão técnica que não disputaria o torneio. Mas devido à sua importância para a equipe, toda a delegação o convenceu a mudar de ideia. Ele foi o capitão do time e um dos destaques da Copa, com cinco gols anotados em quatro jogos.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Giuseppe Meazza e György Sárosi (Imagem: The Score)

FICHA TÉCNICA:

 

ITÁLIA 4 x 2 HUNGRIA

 

Data: 19/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Olímpico de Colombes

Público: 45.000

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Georges Capdeville (França)

 

ITÁLIA (2-3-5):

HUNGRIA (2-3-5):

Aldo Olivieri (G)

Antal Szabó (G)

Alfredo Foni

Sándor Bíró

Pietro Rava

Gyula Polgár

Pietro Serantoni

Gyula Lázár

Michele Andreolo

György Szűcs

Ugo Locatelli

Antal Szalay

Amedeo Biavati

Pál Titkos

Giuseppe Meazza (C)

Gyula Zsengellér

Silvio Piola

György Sárosi (C)

Giovanni Ferrari

Jenő Vincze

Gino Colaussi

Ferenc Sas

 

Técnico: Vittorio Pozzo

Técnicos: Károly Dietz / Alfréd Schaffer

 

SUPLENTES:

 

 

Guido Masetti (G)

József Háda (G)

Carlo Ceresoli (G)

József Pálinkás (G)

Eraldo Monzeglio

Lajos Korányi

Bruno Chizzo

János Dudás

Aldo Donati

István Balogh

Renato Olmi

József Turay

Mario Genta

Béla Sárosi

Mario Perazzolo

Mihály Bíró

Sergio Bertoni

László Cseh

Pietro Ferraris

Vilmos Kohut

Pietro Pasinati

Géza Toldi

 

GOLS:

6′ Gino Colaussi (ITA)

8′ Pál Titkos (HUN)

16′ Silvio Piola (ITA)

35′ Gino Colaussi (ITA)

70′ György Sárosi (HUN)

82′ Silvio Piola (ITA)

Lances da partida:

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