… 15/06/1986 – Bélgica 4 x 3 União Soviética

Três pontos sobre…
… 15/06/1986 – Bélgica 4 x 3 União Soviética


O capitão Jan Ceulemans é perseguido pela marcação soviética (Imagem: Pinterest)

● Era uma tarde de sol escaldante no estádio Nou Camp, em León, estado mexicano de Guanajuato. Mais quente ainda seria a partida das quartas de final entre Bélgica e União Soviética.

As duas seleções vinham cumprindo papéis distintos no Mundial. Na primeira fase, os belgas ficaram em terceiro lugar no grupo B, com uma derrota (2 a 0 para o México), uma vitória (2 a 1 sobre o Iraque) e um empate (2 a 2 com o Paraguai). Foi um desempenho fraco, para quem ainda tinha como base a equipe vice-campeã da Eurocopa em 1980. Não era o time dos sonhos, mas aquela foi a primeira “ótima geração belga”. Aliando experiência e juventude, os destaques eram Eric Gerets, Stéphane Demol, Jan Ceulemans, Jean-Marie Pfaff (eleito melhor goleiro da Copa) e o prodígio Enzo Scifo (então com 20 anos).

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Por outro lado, a União Soviética sempre foi uma equipe dura de ser batida. Terminaram a primeira fase como líderes do grupo C, com vitórias sobre a Hungria (goleada por 6 a 0) e Canadá (2 a 0), além de um empate com a fortíssima França (1 a 1). Com a base do Dínamo de Kiev, campeão da Recopa Europeia, o técnico Valeriy Lobanovs’kyi tinha em seu time destaques como Igor Belanov, Aleksandr Zavarov, o ótimo goleiro Rinat Dasayev (que tinha completado 29 anos dois dias antes) e o veterano Oleg Blokhin (Bola de Ouro em 1975).

Esses resultados colocavam a URSS amplamente favorita a passar para as quartas de final. O retrospecto histórico ainda era favorável, com quatro vitórias soviéticas em quatro jogos disputados entre eles.


A Bélgica era escalada no 3-5-2, com Ceulemans coordenando as ações entre o meio e o ataque.


A URSS jogava no 4-5-1, com um líbero atrás da linha de três defensores. Os meias laterais tinham muita habilidade e apoiavam Belanov no ataque.

● A partida começou com belas e contínuas trocas de passes entre os soviéticos. Mesmo pressionando, eles demoraram 27 minutos a abrirem o placar. Com uma ótima jogada, Zavarov encontrou Belanov entre as linhas e ele chutou forte da entrada da área para inaugurar o marcador.

Os soviéticos tentaram ampliar, mas Pfaff estava exuberante no gol.

No começo do segundo tempo, aos 11 minutos, a Bélgica foi para cima e Scifo (em posição duvidosa) finalizou com muita tranquilidade um cruzamento de Vercauteren.

O empate se seguiu até os 25 minutos, quando Ceulemans perdeu a bola na intermediária defensiva e, novamente, o ótimo Zavarov deu uma excelente assistência para Belanov marcar o segundo, chutando cruzado na saída de Pfaff.

Sete minutos depois, Demol faz um longo lançamento e Ceulemans (em posição de impedimento) dominou no peito, girou e finalizou ao gol. Era o empate.

No minuto final do tempo regulamentar, Dasayev faz uma defesa monumental em cabeçada de Ceulemans.

No tempo normal, empate em 2 a 2. Em uma partida em que a Bélgica jogava no contra-ataque e a URSS esbarrava em Pfaff, a prorrogação se tornou um caminho natural.

Os soviéticos saíram de campo pregados e reclamando bastante dos lances irregulares. A verdade é que a URSS foi prejudicada pela arbitragem em dois lances vitais na partida.

Além do bom preparo físico, os belgas voltaram com outra mentalidade e passaram a ter mais posse de bola. E foi assim que os “Diabos Vermelhos” começaram a criar suas chances.

Aos 12 minutos do tempo extra, Vercauteren cobra um escanteio curto e Gerets fez um cruzamento precioso na cabeça do zagueiro Demol, que apareceu como um foguete e cabeceou no ângulo.

Aos 5 do segundo tempo, a Bélgica ampliou. Após ótima jogada de Ceulemans, Lei Clijsters (pai da tenista Kim Clijsters) e Claesen tabelam pelo miolo da área. A bola sobe e Claesen, de primeira, acerta o canto direito.

O resto da partida foi toda de Pfaff.

Um minuto depois, Belanov é empurrado por Gerets dentro da área. O próprio Belanov cobrou, chutando forte, alto e no meio do gol.

A URSS continuou em busca do empate, mas sem sucesso.

Apesar da quantidade de gols, os dois goleiros foram protagonistas na partida.


Sergey Aleynikov tenta driblar o menino Scifo (Imagem: Pinterest)

● Esse jogo contra os soviéticos provavelmente foi o momento mais importante da história do futebol belga, pois foi o início de uma campanha histórica, que colocou de vez a Bélgica no hall das grandes seleções mundiais.

Na sequência, os embalados “Diabos Vermelhos” eliminaram a Espanha nos pênaltis (5 a 4, após um empate por 1 a 1 no tempo normal e prorrogação). Nas semifinais, caíram de pé para a Argentina (2 a 0), com um inspirado Maradona, autor dos dois gols.

Na decisão do 3º lugar, ainda perderiam para a França de Michel Platini na prorrogação por 4 a 2. Não faz mal. Já havia feito história.

Como curiosidade, a seleção soviética tinha onze jogadores que atuavam no Dínamo de Kiev, cidade a pouco mais de 100 km de Chernobyl, que sofreu um gravíssimo acidente nuclear menos de dois meses antes do desembarque da equipe no México.

A delegação belga repetiu o que os ingleses fizeram em 1970 e levaram mantimentos próprios para evitar o “mal de Montezuma“, que causa intoxicação alimentar em alguns estrangeiros no México. Dessa vez, no entanto, os mexicanos não se sentiram ofendidos com essa atitude (diferentemente de 1970, em relação à Inglaterra).

Igor Belanov, destaque da URSS e do Dínamo de Kiev, foi o segundo jogador em Copas do Mundo a fazer um “hat trick” (três gols no mesmo jogo) e sua equipe perder. [Falaremos do primeiro caso no dia 26/06.] No fim do ano de 1986, Belanov seria eleito Bola de Ouro pela revista France Football.


Vladimir Bessonov rouba a bola de Ceulemans (Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BÉLGICA 4 X 3 UNIÃO SOVIÉTICA

 

Data: 15/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: Nou Camp

Público: 32.277

Cidade: León (México)

Árbitro: Erik Fredriksson (Suécia)

 

BÉLGICA (4-4-2):

UNIÃO SOVIÉTICA (4-5-1):

1  Jean-Marie Pfaff (G)

1  Rinat Dasayev (G)

2  Eric Gerets

2  Vladimir Bessonov

13 Georges Grün

10 Oleg Kuznetsov

5  Michel Renquin

21 Vasiliy Rats

22 Patrick Vervoort

5  Anatoliy Dem’yanenko (C)

21 Stéphane Demol

12 Andriy Bal

11 Jan Ceulemans (C)

20 Sergey Aleynikov

8  Enzo Scifo

7  Ivan Yaremchuk

6  Franky Vercauteren

8  Pavel Yakovenko

16 Nico Claesen

9  Aleksandr Zavarov

18 Daniel Veyt

19 Igor Belanov

 

Técnico: Guy Thys

Técnico: Valeriy Lobanovs’kyi

 

SUPLENTES:

 

 

12 Jacky Munaron (G)

16 Viktor Chanov (G)

20 Gilbert Bodart (G)

22 Sergey Krakovs’kyi (G)

14 Lei Clijsters

3  Aleksandr Chivadze

19 Hugo Broos

4  Gennady Morozov

4  Michel De Wolf

6  Aleksandr Bubnov

3  Franky Van der Elst

15 Nikolay Larionov

15 Leo Van der Elst

13 Gennadiy Litovchenko

7  René Vandereycken

17 Vadim Yevtushenko

10 Philippe Desmet

14 Sergey Rodionov

17 Raymond Mommens

18 Oleg Protasov

9  Erwin Vandenbergh

11 Oleg Blokhin

 

GOLS:

27′ Igor Belanov (URSS)

56′ Enzo Scifo (BEL)

70′ Igor Belanov (URSS)

77′ Jan Ceulemans (BEL)

102′ Stéphane Demol (BEL)

110′ Nico Claesen (BEL)

111′ Igor Belanov (URSS) (pen)

 

CARTÃO AMARELO: 65′ Michel Renquin (BEL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

72′ Aleksandr Zavarov (URSS) ↓

Sergey Rodionov (URSS) ↑

 

79′ Pavel Yakovenko (URSS) ↓

Vadim Yevtushenko (URSS) ↑

 

99′ Georges Grün (BEL) ↓

Lei Clijsters (BEL) ↑

 

112′ Eric Gerets (BEL) ↓

Leo Van der Elst (BEL) ↑

 Seguem os gols da partida:

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