Três pontos sobre…
… 23/07/1966 – Portugal 5 x 3 Coreia do Norte
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Ambas seleções estreavam em Copas do Mundo.
Portugal não era uma surpresa. Era uma seleção em afirmação no cenário mundial. Tinha terminado o Grupo 3 com 100% de aproveitamento, vencendo Hungria (3 x 1) e Bulgária (3 x 0), além de eliminar diretamente o bicampeão Brasil na última rodada (vitória lusa por 3 x 1). Os patrícios tinham uma equipe coesa, que superava seus problemas defensivos com uma fortíssima (e violenta) marcação. Além disso, possuía o melhor jogador do mundo na época, o moçambicano Eusébio, eleito Bola de Ouro de 1965 pela revista France Football.
Ninguém conhecia a seleção da Coreia do Norte, principalmente por causa de seu fechado sistema político que perdura até os dias atuais. A Coreia já tinha causado surpresa na primeira fase. Começou perdendo para a União Soviética por 3 a 0 e empatando com o Chile por 1 a 1. Mas, na última rodada, fez o mundo inteiro ficar de queixo caído ao vencer a toda-poderosa Itália por 1 a 0. Se classificou em segundo lugar do Grupo 4, atrás apenas dos soviéticos.
De qualquer forma, mesmo em igualdade de condições a partir do mata-mata, os asiáticos eram considerados azarões.
Portugal atuava no 4-2-4. Liderado por Eusébio, o ataque tinha muita força e mobilidade. O capitão Coluna era mesmo a coluna vertebral do time, aparecendo em todos os espaços.
A Coreia do Norte jogava no 4-2-4, com muita correria e velocidade.
● Os norte-coreanos começaram o jogo com muita personalidade. Com poucos segundos jogados, o meio campo rouba a bola e em apenas dois passes cria a primeira chance de gol. Han Bong-zin avança pela ponta direita e rola para a entrada da área. Pak Seung-zin chuta de primeira. A bola bate no travessão e entra. O goleiro português nem se mexe. Surpresa geral. O começo letal e em alta velocidade deixou todos boquiabertos em Liverpool.
Portugal pressionava. Mas aos 22 minutos, um novo contra-ataque rápido da Coreia resulta no segundo gol. Yang Seung-kook evita a saída da bola pela linha de fundo e cruza da esquerda. Na pequena área, o goleiro José Pereira afasta mal e Li Dong-woon emenda de primeira para as redes.
Era difícil de acreditar. A maioria da torcida presente no estádio era pela seleção asiática. E essa torcida começou a gritar: “We want three!” (“Nós queremos três!”) Foi atendida três minutos depois. Yang Seung-kook avançou pelo meio, entrou na área, trombou com a marcação e chutou no canto direito.
Os portugueses estavam perplexos. A defesa que tinha sofrido apenas dois gols na primeira fase, tinha acabado de tomar o terceiro em apenas 25 minutos. Eusébio diria, a respeito desse jogo: “No primeiro gol, pensei na derrota da Itália. No segundo gol, achei que a coisa estava ficando perigosa. No terceiro gol, pensei: ‘a Itália não conseguiu fazer nenhum gol neles… complicou!'”
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● Foi só a partir desse momento que Portugal colocou a bola no chão, respirou e correu atrás do prejuízo. O craque Eusébio chamou a responsabilidade para si e acabaria se tornando o herói da partida. Ele jogou a Copa com a camisa nº 13 a contragosto, mas o número parece ter dado sorte a ele. Dois minutos depois do terceiro gol coreano, ele diminuiu a diferença. José Augusto rolou a bola para a área e Eusébio apareceu antes de dois zagueiros e do goleiro, mandando no alto do gol.
Aos 43 minutos, passe de Eusébio para Torres. O centroavante grandalhão foi derrubado na área por Shin Yung-kyoo. O árbitro israelense Menachem Ashkenazi apontou para a marca penal. Eusébio cobrou no alto, no canto direito e voltou a dar esperança de classificação a seu país. Com apenas um gol de diferença contra, os europeus voltaram para o jogo.
O goleiro Lee Chang-myung fez grandes defesas e evitou a virada dos ibéricos ainda na primeira etapa. Mas, com Eusébio naquela forma esplendorosa, seria inevitável.
Sem experiência, o time asiático não conseguiu sustentar sua enorme vantagem no segundo tempo e continuou jogando no ataque. Mas nenhuma equipe do mundo conseguiria manter esse ritmo de correria alucinante. Os coreanos, que haviam corrido muito até então em todo o Mundial, começaram a sentir mais ainda o desgaste físico.
Por sua vez, Portugal tocava a bola, se aproveitando da técnica mais apurada. Enquanto Eusébio brilhava individualmente, seu conterrâneo, o também moçambicano Mário Coluna, o capitão e camisa 10, marcava, organizava, lançava, criava e finalizava. Outra grande estrela daquela seleção lusa.
Aos 11 minutos da etapa complementar, Simões lançou Eusébio pela direita. Do bico da pequena área, o camisa 13 disparou e tocou por cobertura. Um golaço! Era o empate! Incrível!
A virada veio apenas três minutos depois. Eusébio arrancou em velocidade pela esquerda e enfileirou dois marcadores. Ao invadir a área, foi derrubado infantilmente por Lim Zoong-sun. Pênaltis eram uma das especialidades de Eusébio. Ele cobrou com força, no alto, à direita, e colocou Portugal em vantagem pela primeira vez na partida. Era o quarto gol de Eusébio, igualando o recorde de gols marcados em uma partida de Copa do Mundo.
Mas “Os Magriços” só descansaram mesmo ao anotarem o quinto gol, a dez minutos do fim. Coluna cobrou escanteio para a área, Torres escorou de cabeça e José Augusto, sozinho na pequena área, cabeceia para o gol e põe fim às movimentações no placar. Fim de jogo: Portugal 5 x 3 Coreia do Norte.
(Imagem: AP / PA Archive / Press Association Images)
● Certamente esse foi um dos jogos mais emocionantes e dramáticos da história dos Mundiais. É a segunda maior virada da história das Copas, atrás apenas de Suíça 5 x 7 Áustria, em 1954.
Nessa partida, Eusébio, o “Pantera Negra” se tornou o quinto jogador a marcar quatro gols em uma partida de Copa do Mundo. Os outros foram o polonês Ernest Wilimowski (Polônia 5 x 6 Brasil, em 1938), o brasileiro Ademir de Menezes (Brasil 7 x 1 Suécia, em 1950), o húngaro Sándor Kocsis (Hungria 8 x 3 Alemanha Ocidental, em 1954) e o francês Just Fontaine (França 6 x 3 Alemanha Ocidental, em 1958). Em diversas localidades, esse feito é chamado de “Pôquer” ou “Quatrilho”.
Após a eliminação do Brasil, a Coreia do Norte herdou o ônibus que transportava a Seleção, ainda com a expressão “Brazilian Football Team” pintada na lateral. Não deu muita sorte. Assim como os brasileiros, os coreanos também foram eliminados pelos portugueses jogando em Liverpool.
Curiosamente, o comitê organizador do Mundial decidiu não executar nenhum hino nacional antes das partidas, como sempre foi o protocolo. O Reino Unido não tinha relações diplomáticas com a Coreia do Norte e não tocaria o hino do país em seu território. Assim, decidiram não tocar nenhum. Os hinos só começaram a ser executados após a eliminação dos norte-coreanos.
Em sua primeira Copa do Mundo, Portugal estava merecidamente entre os quatro melhores e enfrentaria a anfitriã Inglaterra nas semifinais.
Mas, curiosamente, quando o árbitro apitou o final da partida, a seleção da Coreia do Norte que foi aplaudida de pé pelos 40.248 presentes no estádio Goodson Park. O conto de fadas norte-coreano chegava ao fim. Eles exibiram um belo e envolvente futebol. Chegaram entre os oito melhores do Mundial, feito que só seria superado pela co-irmã Coreia do Sul em 2002.
(Imagem: FIFA.com / Popper Foto)
● FICHA TÉCNICA: |
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PORTUGAL 5 x 3 COREIA DO NORTE |
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Data: 23/07/1966 Horário: 15h00 locais Estádio: Goodison Park Público: 40.248 Cidade: Liverpool (Inglaterra) Árbitro: Menachem Ashkenazi (Israel) |
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PORTUGAL (4-2-4): |
COREIA DO NORTE (4-2-4): |
3 José Pereira (G) |
1 Lee Chang-myung (G) |
17 João Morais |
14 Ha Jung-won |
20 Alexandre Baptista |
5 Lim Zoong-sun |
4 Vicente |
13 Oh Yoon-kyung |
9 Hilário |
3 Shin Yung-kyoo |
16 Jaime Graça |
6 Im Seung-hwi |
10 Mário Coluna (C) |
11 Han Bong-zin |
12 José Augusto |
8 Pak Seung-zin (C) |
13 Eusébio |
16 Li Dong-woon |
18 José Torres |
7 Pak Doo-ik |
11 António Simões |
15 Yang Seung-kook |
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Técnico: Otto Glória |
Técnico: Myung Rye-hyun |
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SUPLENTES: |
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1 Américo (G) |
9 Lee Keun-hak (G) |
2 Joaquim Carvalho (G) |
2 Pak Li-sup |
22 Alberto Festa |
19 Kim Yung-kil |
21 José Carlos |
20 Ryoo Chang-kil |
5 Germano |
4 Kang Bong-chil |
14 Fernando Cruz |
18 Ke Seung-woon |
19 Custódio Pinto |
21 An Se-bok |
6 Fernando Peres |
10 Kang Ryong-woon |
7 Ernesto Figueiredo |
12 Kim Seung-il |
8 João Lourenço |
17 Kim Bong-hwan |
15 Manuel Duarte |
22 Li Chi-na |
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GOLS: |
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50” Pak Seung-zin (COR) |
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22′ Li Dong-woon (COR) |
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25′ Yang Seung-kook (COR) |
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27′ Eusébio (POR) |
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43′ Eusébio (POR) (pen) |
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56′ Eusébio (POR) |
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59′ Eusébio (POR) (pen) |
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80′ José Augusto (POR) |
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ADVERTÊNCIA: Mário Coluna (POR) |
Gols e outros lances da partida:
Por favor! Olhem as fotos! O capitão do time coreano era Shin Yung-Kyoo, o número 3. O número 8 e 11 estão invertidos. Han Bong-Zin, número 11 era o ponta direita. A zaga está toda invertida também. 3 e 14, zaga; 5 e 13, laterais.
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