Três pontos sobre…
… 11/06/1978 – Escócia 3 x 2 Holanda
Da esquerda para a direita: Hartford, Donachie, Buchan, Forsyth, Jordan, Souness, Dalglish, Gemmill, Kennedy, Rough e Rioch. (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)
● A seleção da Escócia viajou à Argentina numa onda exagerada de otimismo. Deixou boa impressão em 1974, quando terminou invicta e foi eliminada pela Seleção Brasileira apenas no saldo de gols. Era apontada pelo presidente da FIFA, o brasileiro João Havelange, como uma das possíveis finalistas.
O técnico Ally MacLeod tinha bons jogadores que eram destaques no futebol inglês, como Joe Jordan (Leeds United), Kenny Dalglish (Liverpool) e Graeme Souness (que chegaria ao Liverpool depois da Copa para se tornar uma lenda).
O nacionalismo escocês estava aceso como poucas vezes no século XX e o maior pecado do time foi o excesso de autoconfiança.
Contra o Peru, na estreia, a Escócia abriu o placar e sofreu a virada por 3 a 1. Para piorar, o ponta de lança Willie Johnston foi pego no teste antidoping, que acusou a presença do estimulante proibido fencamfamina.
No empate por 1 x 1 diante do Irã, a Escócia entrou bem diferente. A confiança havia desaparecido e a Escócia acabou não marcando nem seu próprio gol (foi de Andranik Eskandarian, contra).
Por tudo isso, o jogo contra a Holanda, em Mendoza, seria decisivo às pretensões dos escoceses. O treinador fez alterações decisivas no time. O capitão Bruce Rioch voltou ao time e o meia Graeme Souness foi titular pela primeira vez na competição.
Para passar de fase pela primeira vez em uma Copa do Mundo, a Escócia teria que vencer a Holanda por três gols de diferença.
(Imagem: Pinterest)
● A poderosa Holanda não contava mais com o genial Johan Cruijff e nem com o técnico Rinus Michels. Mas a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff. O treinador agora era Ernst Happel, austríaco linha dura.
A principal ausência, além de Cruijff, foi Willem van Hanegem. A duas semanas do Mundial, o jogador fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa.
Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 no “piloto automático”, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru ficou de bom tamanho. Bastava segurar a Escócia para se classificar.
A Escócia jogava no 4-3-3, com Graeme Souness como responsável pela armação.
A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.
● Graeme Souness era o grande líder dos escoceses no meio de campo, sendo o responsável pela criação das jogadas mais perigosas. Em uma delas, cruzou da direita e Rioch apareceu livre na pequena área, mas cabeceou na trave.
Ficava cada vez mais incompreensível a ausência de Souness nos jogos anteriores.
Aos 10′, Rioch cobrou uma falta de esquerda com força, mas ficou na barreira. A bola sobrou para Archie Gemmill e Johan Neeskens foi disputá-la com um carrinho. O holandês levou a pior. Ele já vinha sofrendo com problemas físicos e teve que sair para dar lugar a Johan Boskamp. A Holanda perdia seu cérebro no meio de campo logo no princípio.
O primeiro tempo foi mais amarrado. A Escócia tentava o ataque sem conseguir abrir o placar e a Holanda não conseguia criar, principalmente devido à ausência de Neeskens e pela ótima marcação escocesa sobre Rob Rensenbrink.
Aos 33′, Johnny Rep avançou sozinho e foi derrubado dentro da área por Stuart Kennedy. O árbitro austríaco Erich Linemayr apontou a penalidade. Rob Rensenbrink assumiu a responsabilidade e bateu com segurança, rasteiro, no canto direito do goleiro Alan Rough – que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar.
Com esse pênalti, Rob Rensenbrink marcou o milésimo gol da história das Copas.
Após o gol, a Holanda conseguia se organizar melhor. Por duas vezes o goleiro Rough precisou sair do gol para dividir com Rep e evitar o segundo tento holandês.
Mas a Escócia não se intimidava. Gemmill criava as jogadas mais incisivas e era parado de qualquer forma – na bola ou na pancada.
Kenny Dalglish chegou a marcar um golaço, com um toquinho por cobertura sobre o goleiro, mas o juiz anulou por uma suposta falta do atacante em um defensor holandês.
Mas Dalglish não se deu por vencido e empatou um minuto antes do intervalo. Após cruzamento da esquerda, a defesa holandesa tirou e a bola sobrou para Souness. Ele cruzou da esquerda para a segunda trave, Jordan fez o pivô e escorou de cabeça para o meio e Dalglish, sozinho, acertou um voleio no ângulo esquerdo. Um belo gol.
A virada da Tartan Army veio logo no primeiro minuto do segundo tempo. Souness foi derrubado na área. Gemmill bateu fraco e rasteiro no canto esquerdo. O goleiro Jan Jongbloed foi na bola, mas não conseguiu pegar.
Aos 23′, Dalglish ficou na marcação de dois adversários. Gemmill pegou o rebote pela direita, escapou do carrinho de Wim Jansen, driblou Ruud Krol, passou a bola entre as pernas de Jan Poortvliet e, do bico da pequena área, tocou por cima do goleiro Jongbloed. Um verdadeiro golaço.
A Escócia começou a acreditar e partiu para cima. Como o placar estava 3 x 1, os britânicos precisavam apenas de mais um gol para conseguirem o milagre da classificação.
Mas não foi o que aconteceu. Aos 26′, Johnny Rep matou as esperanças dos escoceses. Ele recebeu de Krol e chutou de longe, acertando o ângulo direito do goleiro Rough, que chegou a tocar na bola, mas não impediu o gol.
A Holanda garantia a classificação em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru, contrariando os prognósticos.
(Imagem: bleacherreport.com)
● Os escoceses estavam eliminados, mas caíram de cabeça erguida. Até hoje a Escócia nunca passou de fase em uma Copa do Mundo.
Pelo Grupo A da segunda fase, a Holanda lembrou um pouco o já distante “Carrossel Holandês” e goleou a Áustria por 5 x 1. Na sequência, na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.
Kenny Dalglish também fez o seu golaço (Imagem: The Print Collector / Alamy / The Guardian)
● FICHA TÉCNICA: |
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ESCÓCIA 3 x 2 HOLANDA |
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Data: 11/06/1978 Horário: 16h45 locais Estádio: Malvinas Argentinas Público: 35.130 Cidade: Mendoza (Argentina) Árbitro: Erich Linemayr (Áustria) |
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ESCÓCIA (4-3-3): |
HOLANDA (4-3-3): |
1 Alan Rough (G) |
8 Jan Jongbloed (G) |
13 Stuart Kennedy |
20 Wim Suurbier |
14 Tom Forsyth |
17 Wim Rijsbergen |
4 Martin Buchan |
2 Jan Poortvliet |
3 Willie Donachie |
5 Ruud Krol (C) |
6 Bruce Rioch (C) |
6 Wim Jansen |
18 Graeme Souness |
13 Johan Neeskens |
10 Asa Hartford |
11 Willy van de Kerkhof |
15 Archie Gemmill |
10 René van de Kerkhof |
8 Kenny Dalglish |
16 Johnny Rep |
9 Joe Jordan |
12 Rob Rensenbrink |
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Técnico: Ally MacLeod |
Técnico: Ernst Happel |
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SUPLENTES: |
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12 Jim Blyth (G) |
1 Piet Schrijvers (G) |
20 Bobby Clark (G) |
19 Pim Doesburg (G) |
2 Sandy Jardine |
7 Piet Wildschut |
5 Gordon McQueen |
22 Ernie Brandts |
17 Derek Johnstone |
4 Adrie van Kraaij |
22 Kenny Burns |
15 Hugo Hovenkamp |
7 Don Masson |
9 Arie Haan |
16 Lou Macari |
3 Dick Schoenaker |
11 Willie Johnston |
14 Johan Boskamp |
19 John Robertson |
18 Dick Nanninga |
21 Joe Harper |
21 Harry Lubse |
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GOLS: |
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34′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen) |
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45′ Kenny Dalglish (ESC) |
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46′ Archie Gemmill (ESC) (pen) |
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68′ Archie Gemmill (ESC) |
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71′ Johnny Rep (HOL) |
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CARTÃO AMARELO: 35′ Archie Gemmill (ESC) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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10′ Johan Neeskens (HOL) ↓ |
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Johan Boskamp (HOL) ↑ |
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44′ Wim Rijsbergen (HOL) ↓ |
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Piet Wildschut (HOL) ↑ |
Golaço marcado por Archie Gemmill:
Jogo completo (em inglês):
Gols da partida (em portugês):
● Sequência de fotos do golaço de Archie Gemmill:
Ele escapou de Win Jansen… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)
… passou por Ruud Krol… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)
… colocou a bola entre as pernas de Jan Poortvliet… (Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)
… e deu um toque por cima do goleiro Jan Jongbloed (Imagem: Mirrorpix / Getty Images / The Guardian)
(Imagem: Colorsport / Shutterstock / The Guardian)