Três pontos sobre…
… Evolução tática e regressão técnica do futebol brasileiro
(Imagem: Pedro Nunes / Reuters / Veja)
Historicamente, desde os primórdios, os torcedores brasileiros sempre questionaram o atraso tático do futebol tupiniquim em relação aos europeus, argentinos e uruguaios.
Essa crítica foi muito pesada em alguns momentos em especial. Na Copa do Mundo de 1938, a defesa composta por Domingos da Guia e Machado sofria sem a cobertura dos médios, ficando sempre em inferioridade quando era atacada. Tanto, que Domingos cometeu três pênaltis em quatro partidas.
Em 1982, a técnica dos homens de meio da Seleção Canarinho era tanta, que pouco se importava em fechar os espaços. A confiança era do tamanho das brechas que deram para Paolo Rossi fazer os três gols.
Em 1994, Carlos Alberto Parreira mudou essa rotina de fracassos táticos. “Fechou a casinha” e manteve a posse de bola o quanto pode. Deu certo, porque tinha a técnica de Bebeto e Romário lá na frente.
Em 2006, todos pensavam que o “quadrado mágico” iria resolver qualquer parada. Mas Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo não cumpriram as expectativas. Os laterais já mais velhos e em má fase e um meio campo que mais cercava do que marcava, deixava a zaga desguarnecida.
A partir de 2010, Dunga (um monstro tático quando jogava), preferiu jogadores à sua imagem e semelhança: tecnicamente medianos, mas cumpridores de funções.
O Brasil, mais do que nunca, cada vez mais cedo exporta “pé de obra” para o exterior. O jovem jogador vai atuar no futebol da Ucrânia, Rússia, Holanda, França, Turquia, etc… E se forma como atleta e até como ser humano, com características do país onde terminou sua formação.
O brasileiro, sempre elogiado e tendo como principais armas a técnica, habilidade, velocidade de pensamento e poder de decisão, perde um pouco disso. Aprende a marcar, a recompor o meio para ajudar na marcação, a fechar os espaços, mas, perde muito do improviso, da ginga – que é seu principal diferencial.
Por isso o futebol mundial está tão equilibrado, principalmente nos últimos 15 anos. Com a exportação em massa de jogadores jovens no mundo todo, o futebol internacional está nivelado taticamente. E, se o brasileiro não mantém seu diferencial, se nivela também.
Assistimos várias partidas se arrastando, sem que se consiga criar chances de gols – que saem, em grande parte, de bolas paradas. É muito mais fácil destruir do que construir.
É uma crise de identidade. Deixamos de ser nós mesmos para sermos mais dos outros.
Falando nisso, hoje o Brasil empatou com o Panamá por 1 x 1.
(Imagem: Pedro Nunes / Reuters / Veja)
Hoje o moleque não pode mais ficar na rua brincando. Fica nos joguinhos eletrônicos. Então, perde-se aí os Pelés, Romários, Ronaldos, Ronaldinhos, Robinhos da vida forjados nos campinhos de bairro, na rua, na várzea ou praia. Teremos bons jogadores sempre, mas cada vez menos teremos gênios como os citados. O mais que ainda podemos produzir é pelo futebol de salão. Desde 82 os técnicos brasileiros passaram a prestigiar demais os volantes brucutus. Tudo bem, um é aceitável. Ficar ali na cabeça de área só fazendo o limpador, mas o que temos visto no Brasil desde então são times com dois, três e até quatro volantes brucutus em campo. Aí não dá, né. Que camisa vai sobrar pros jogadores de talento? Acho que isso tá acontecendo na base dos times e continua nos profissionais.
Concordo contigo, Joel. Infelizmente não há mais espaço para jogadores de talento, mas que não ajudam na composição tática. O Brasil perdeu seu diferencial.
A formação desses craques mirins continua, mas não se desenvolve quando chega no sub-20. Muito também por culpa dos supostos empresários dessas crianças, que já querem ver seus “produtos” vendidos antes de estrear no profissional. Muito também pela necessidade dos clubes de vender.
Triste.
O blog poderia levantar dois pontos fundamentais que podem ser a causa do que foi abordado: 1- a medíocre geração pós Lei Pelé, a qual colocou o futebol de base sob comando de empresários e sem incentivos aos clubes na formação de jogadores; 2- A fórmula da principal competição dos clubes de elite, o Campeonato Brasileiro, não estimula a competitividade, a formação de jogadores talhados para decisões. Basta ver que desde 2003 ( ano do início dos pontos corridos), não ganhamos mais Copas; perguntem quais clubes brasileiros desde 2003, 15 edições de pontos corridos, foram campeões brasileiros e da Libertadores no ano seguinte? Apenas no Corinthians, campeão nacional em 2011 e Libertadores em 2012. 1 único campeão em 15 edições! Jogos de estádios vazios, de campeões antecipados quase todos os anos, impopularizam o futebol para as novas gerações. Por que não os velhos campeonatos com turno único e play-offs de 16 ou 8 clubes, estádios lotados, reversões de resultado no segundo jogo ( como vemos na Champions) e, principalmente, finais!? Gostaria que o blog abordasse essas duas causas da queda do futebol brasileiro.