Três pontos sobre…
… 27/05/1934 – Itália 7 x 1 Estados Unidos
Raimundo “Mummo” Orsi marca o segundo gol italiano, aos 20 minutos do primeiro tempo. (Imagem localizada no Google)
● Como já contamos, após o sucesso da primeira Copa do Mundo, 32 nações se inscreveram em busca de uma das 16 vagas. Por isso, precisou-se disputar partidas qualificatórias. E pela primeira e única vez na história, o país sede teve que disputar as eliminatórias para confirmar presença em seu próprio Mundial. Seria imaginável o país organizador não participar da competição. Mas a Itália nem passou sustos, ao golear a Grécia por 4 x 0 no estádio San Siro, em Milão.
A Itália de Benito Mussolini lutava para deixar a marca do regime fascista no mundo e a Copa era um meio de alcançar esse objetivo. Jogando em casa, “Il Duce” queria a Itália campeã a qualquer custo e abriu as portas para descendentes de italianos que se dispusessem a defender a Azzurra. Eram os chamados “oriundi”. Com isso, cinco jogadores nascidos fora da Velha Bota disputaram o Mundial em 1934: o centromédio Luisito Monti (argentino vice-campeão da Copa de 1930), o atacante Attilio Demaría (argentino que também jogou a Copa anterior), o ponta direita Enrique Guaita (argentino), o ponta esquerda Raimundo Orsi (argentino) e o ponta direita Anfilogino Guarisi (brasileiro). Nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa, Amphilóquio Guarisi Marques, Filó, teve destaque no Corinthians e na Lazio e se tornaria o primeiro brasileiro campeão do mundo, mesmo atuando apenas no jogo de estreia.
Todos os esforços eram válidos para reforçar a “Squadra Azzurra”. Em 1928, o zagueiro Luigi Allemandi, da Juventus, foi banido do futebol por ter, supostamente, aceitado suborno para facilitar em um clássico entre Juve e Torino. Depois, a pedido do técnico italiano Vittorio Pozzo, o jogador foi perdoado pela Federação e Allemandi participou de todos os jogos da Itália na Copa de 1934.
Mussolini obrigou Giorgio Vaccaro, presidente da FIGC (Federazione Italiana Giuoco Calcio, a federação italiana de futebol) a fazer a maior propaganda política em via pública como nenhuma outra competição esportiva jamais teve. Um mês antes do evento, todas as cidades do país, não só as sedes das partidas, amanheceram cobertas de cartazes anunciando o torneio. Os cartazes mostravam jovens atletas fazendo a clássica saudação fascista, com o braço reto para cima e um pouco para frente.
Giuseppe Meazza chuta, mas o goleiro americano Julius Hjulian faz a defesa. (Imagem localizada no Google)
● Nos jogos da Itália, era Mussolini quem dava a ordem de início da partida, após obrigar a todos, inclusive os árbitros, a fazerem a saudação fascista dentro de campo. Foi a primeira Copa politizada e bizarra que o mundo viu. Quase todos os expectadores eram filiados ao partido fascista. Eles pouco motivavam os craques. Passavam a partida inteira exaltando a Itália e “Il Duce”.
Diferentemente do Mundial anterior, essa edição não teve fase de grupos. A competição seria disputada em formato de mata-mata desde o princípio, começando pelas oitavas de final. Na prática, oito seleções viajariam à Itália para disputar somente uma partida. Apenas Espanha e Suíça reclamaram, em vão, contra essa fórmula.
Vittorio Pozzo era nascido em Turim. Embora fosse mais ligado ao Torino, ele escalou cinco jogadores da Juventus no time titular da seleção italiana: Giampiero Combi, Luis Monti, Luigi Bertolini, Giovanni Ferrari e Raimundo Orsi, o que garantiu maior entrosamento à equipe. Outro grande feito do treinador foi montar uma equipe reserva quase tão qualificada quanto a titular.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécia de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
Nos anos 1930, praticamente todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● A partida inaugural ocorreu diante de 25 mil presentes no estádio Nazionale PNF (Partido Nacional Fascista), em Roma. A Itália enfrentou os Estados Unidos, que só decidiram participar em cima da hora, como já contamos aqui. Estimulados pela presença de Mussolini, a equipe da casa dominou a partida, mostrou a força de seu futebol e aplicou a maior goleada da Copa.
Foi uma enchurrada de gols. Angelo Schiavio abriu o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. O argentino Raimundo “Mumo” Orsi ampliou dois minutos depois. Schiavio fez outro aos 29′.
Aos 12 minutos da segunda etapa, os EUA diminuíram com Aldo Donelli. Mas aos 18′, a porteira se abriu definitivamente, com o quarto gol, marcado por Giovanni Ferrari. No minuto seguinte, Schiavio completa seu “hat trick”, que fica marcado por ter sido o 100º da história das Copas. “Mumo” Orsi anota seu segundo tento aos 69′ e o prodígio Giuseppe Meazza faz o sétimo e último gol no derradeiro minuto de jogo.
Final: 7 a 1 para a Itália.
Os fascistas procuraram valorizar o resultado, afirmando que os EUA não eram um time qualquer, já que tinha sido o terceiro colocado da Copa anterior. Porém, o fato é que os norte-americanos agora estavam com um time completamente diferente de quatro anos antes.
“A Itália era provavelmente a melhor seleção do mundo naquela época. Monti! Eu ainda posso vê-lo! Ele estava em cima de mim. Porque eu fiz quatro gols contra o México, Monti não me deixaria em paz. Ele era durão e um grande marcador.” ― Aldo Donelli, no livro “U.S. Soccer vs The World”, de Tony Cirino
Delegação norte-americana entra em campo para protocolo oficial. (Imagem: FIFA.com)
● Os Estados Unidos haviam vencido o rival México em uma “pré-Copa” no dia 24/05, já em Roma, por 4 a 2. Foram eliminados logo na primeira partida do Mundial, com essa goleada sofrida para os italianos.
Enquanto a Itália despachava os EUA, os outros dois representantes do Novo Mundo também foram eliminados. O time amador da Argentina caiu para a Suécia por 3 x 2 e o mal organizado Brasil perdeu para a Espanha por 3 x 1. Com isso, todas as oito seleções das quartas de final eram da Europa – supremacia que nunca mais voltaria a acontecer.
A Itália se classificou para as quartas de final e enfrentaria a fortíssima Espanha, que tinha batido o Brasil por 3 x 1.
Cumprimentos iniciais entre o trio de arbitragem e os capitães George Moorhouse e Virginio Rosetta. Essa foi a última partida de Rosetta como capitão da seleção italiana. A partir dos jogos seguintes, o técnico Vittorio Pozzo o substituiria por Eraldo Monzeglio na defesa, dando a faixa de capitão ao goleiro Giampiero Combi. (Imagem localizada no Google)
● FICHA TÉCNICA: |
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ITÁLIA 7 x 1 ESTADOS UNIDOS |
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Data: 27/05/1934 Horário: 16h30 locais Estádio: Nazionale PNF Público: 25.000 Cidade: Roma (Itália) Árbitro: René Mercet (Suíça) |
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ITÁLIA (2-3-5): |
ESTADOS UNIDOS (2-3-5): |
Giampiero Combi (G) |
Julius Hjulian (G) |
Virginio Rosetta (C) |
Ed Czerkiewicz |
Luigi Allemandi |
George Moorhouse (C) |
Mario Pizziolo |
Peter Pietras |
Luis Monti |
Billy Gonsalves |
Luigi Bertolini |
Tom Florie |
Anfilogino Guarisi |
Francis Ryan |
Giuseppe Meazza |
Werner Nilsen |
Angelo Schiavio |
Aldo Donelli |
Giovanni Ferrari |
Walter Dick |
Raimundo Orsi |
Bill McLean |
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Técnico: Vittorio Pozzo |
Técnico: David Gould |
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SUPLENTES: |
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Guido Masetti (G) |
Al Harker |
Giuseppe Cavanna (G) |
Joe Martinelli |
Umberto Caligaris |
Herman Rapp |
Eraldo Monzeglio |
Bill Lehman |
Armando Castellazzi |
Tom Amrhein |
Attilio Ferraris IV |
Jimmy Gallagher |
Mario Varglien I |
Bill Fiedler |
Pietro Arcari |
Tom Lynch |
Felice Borel II |
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Enrique Guaita |
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Attilio Demaría |
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GOLS: |
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18′ Angelo Schiavio (ITA) |
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20′ Raimundo Orsi (ITA) |
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29′ Angelo Schiavio (ITA) |
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57′ Aldo Donelli (EUA) |
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63′ Giovanni Ferrari (ITA) |
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64′ Angelo Schiavio (ITA) |
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69′ Raimundo Orsi (ITA) |
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90′ Giuseppe Meazza (ITA) |
Algumas imagens da partida:
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