Três pontos sobre…
… 24/06/1958 – Brasil 5 x 2 França
Pelé marca um de seus gols (Imagem: Pinterest)
● Na fase de grupos, a Seleção Brasileira bateu a Áustria por 3 a 0 e empatou sem gols com a Inglaterra (no primeiro 0 x 0 da história das Copas, depois de 116 jogos). Na partida derradeira, o Brasil enfrentaria o futebol científico da União Soviética. Para esse jogo, Feola fez três alterações: saíram da equipe Dino Sani, Joel e Mazzola, entrando Zito, Garrincha e Pelé. O Brasil começou o jogo com tudo e venceu por 2 a 0, com dois gols de Vavá. Nas quartas de final, Pelé marcou um golaço sobre o País de Gales, iniciando ali o seu reinado.
Na primeira fase, a França foi líder do Grupo 2 com quatro pontos. Estreou goleando o Paraguai por 7 a 3. Depois, perdeu para a dura Iugoslávia por 3 a 2 e venceu a Escócia por 2 a 1. Nas quartas de final, bateu a Irlanda do Norte por 4 a 0. Essa última vitória empolgou os franceses, que invadiram Estocolmo para o jogo contra o Brasil.
A França estava otimista, tanto que os jogadores mandaram buscar suas esposas, noivas e namoradas para assistir a semifinal contra a Seleção Brasileira. A defesa brasileira ainda não tinha sofrido nenhum gol na competição, mas todos estavam temerosos de enfrentar o ataque francês, que tinha marcado 15 gols em quatro jogos. Mas enquanto o ataque era monstruoso, a defesa francesa era frágil (já tinha sofrido 7 gols).
O Brasil atuava em um falso 4-2-4, se transformando em um 4-3-3 com o recuo voluntário de Zagallo.
A França jogava em um misto de WM e 4-3-3, com o recuo de Kaelbel pela direita. O craque Raymond Kopa (multicampeão pelo Real Madrid e eleito segundo melhor jogador da Copa) dominava todas as ações no meio de campo.
● No início da noite daquela terça feira, o estádio Råsunda recebeu uma multidão de franceses alegres e barulhentos, entoando a plenos pulmões a “Marselhesa“, hino de seu país. Eram as duas seleções que mostravam o futebol mais bonito da Copa do Mundo de 1958.
Vavá sofreu um corte na perna contra Gales, mas se recuperou a tempo da semifinal e abriu o placar contra a França logo com um minuto e meio de jogo, ao receber um lançamento de Didi, matar a bola no peito e fuzilar na saída do goleiro.
Ainda antes, Pelé perdeu um gol feito. Os dois lances poderiam indicar um domínio brasileiro, mas a França empatou aos nove minutos, no primeiro gol sofrido pela defesa brasileira no torneio. O artilheiro Fontaine recebeu a bola nas costas de Bellini, entrou na área, driblou Gilmar e mandou para o gol.
Mas esse gol só fez o Brasil crescer. Aos 32 minutos, Zagallo recebeu de Didi e chutou forte de três dedos. A bola pegou no travessão, dentro do gol, no travessão de novo e voltou para o campo. O árbitro galês Benjamin Griffiths não viu o gol e mandou seguir o jogo. Injustiça com o competente Zagallo.
O capitão francês Robert Jonquet é atendido após fraturar a fíbula (Imagem localizada no Google)
O jogo seguia bastante equilibrado e empatado em 1 x 1. Havia 30 minutos que o placar não era alterado. Mas o lance que determinou o desenvolvimento do restante da partida ocorreu aos 34 minutos. O zagueiro e capitão francês Robert Jonquet sofreu uma fratura na fíbula em uma dividida com Vavá e teve que deixar o campo. Ele voltaria no segundo tempo, mas apenas para fazer número na ponta esquerda (conforme esquemático abaixo).
Depois que Jonquet foi fazer número na ponta esquerda, Penverne veio para a defesa e o rápido ponta Vincent passou a jogar como volante, comprometendo as ações defensivas e perdendo força nas ofensivas.
Aos 39 minutos, Didi fez um golaço, com uma “folha seca” venenosa. O “Príncipe Etíope” dominou uma bola, levantou a cabeça como só os gênios fazem e percebeu o goleiro Abbes adiantado. Ele chutou de longe e a bola subiu muito, mas caiu de repente, entrando no ângulo esquerdo. Foi seu único gol no torneio, mas fundamental para o Brasil ganhar confiança na partida.
Nos minutos antes do intervalo, Garrincha marcou o terceiro, mas Griffiths marcou um impedimento inexistente, anulando o lance.
Na etapa final, o Brasil dominou totalmente, obrigando a França a se fechar mais no setor defensivo, à espera de um possível contra-ataque. Mas a defesa francesa foi desmontada, graças aos dribles de Garrincha, os passes preciosos de Didi, a aplicação tática de Zagallo e as tabelas entre Vavá e Pelé. O menino Rei marcou três gols em pouco mais de 30 minutos.
Aos 8 do segundo tempo, Vavá cruzou para a área. O goleiro francês Abbes pulou para interceptar, mas soltou a bola nos pés de Pelé, que ganhou o gol de presente e só teve o trabalho de empurrar para as redes.
O quarto saiu aos 19. Garrincha avançou pela direita e alçou na área. Pelé recebeu e, antes da chegada de Kaelbel, tocou para Vavá, mas ele foi travado na hora de finalizar. A bola sobrou para Pelé, que emendou de bico, no canto direito do goleiro. Era seu segundo gol de puro oportunismo. Mas logo mostrou sua genialidade.
Após o quarto gol do Brasil, a violência francesa tirou Vavá do jogo. O “Leão da Copa” sentiu uma lesão e precisou sair.
No minuto 31 da segunda etapa, Didi lançou da intermediária para Pelé, que avançou na corrida. Mostrando toda sua habilidade, dominou na meia lua com a coxa direita e finalizou forte no canto esquerdo, sem deixar a bola cair. Era seu “hat trick“.
E aos 38 minutos do segundo tempo, Roger Piantoni fez o segundo dos franceses, mexendo pela última vez no placar. Ele pôs a bola entre as pernas de Zito, avançou pelo meio e chutou de fora da área no canto esquerdo de Gylmar. Foi um lindo gol.
A sempre respeitada e linda Marselhesa continuou a ser entoada em homenagem à luta dos franceses em campo, mas os aplausos foram para o Brasil. Especialmente para Pelé, aquele menino negro e franzino de apenas 17 anos, 1,67 m e 59 kg. Nessa partida ele ganhou definitivamente a coroa de Rei do Futebol.
Didi e Raymond Kopa. No ano seguinte, o brasileiro substituiria o francês no Real Madrid, mas sem sucesso (Imagem: Pinterest)
● A imprensa francesa até hoje afirma que a goleada ocorreu só por causa da lesão de Jonquet ainda no primeiro tempo, até porque ele poderia ter dado combate a Didi no lance do segundo gol, se estivesse em campo. Mas a supremacia brasileira em campo vai muito além da ausência de um único jogador.
Sobre essa partida, o centroavante francês Just Fontaine disse: “Ninguém os conteria. Se você marcasse o Pelé, o Garrincha escapava, e vice-versa. Se você marcasse os dois, o Vavá entraria e faria o gol. Eles eram endemoniados, infernais”.
No fim da partida, Garrincha perguntou ao seu compadre Nilton Santos qual seria o próximo adversário. Nilton respondeu que seria a Suécia, no último jogo da Copa. Alheio ao regulamento e a tudo, Garrincha respondeu: “Já? Mas que campeonato mixo! Bom é o Campeonato Carioca, que tem turno e returno.”
● FICHA TÉCNICA: |
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BRASIL 5 x 2 FRANÇA |
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Data: 24/06/1958 Horário: 19h00 locais Estádio: Råsunda Público: 27.100 Cidade: Estocolmo (Suécia) Árbitro: Benjamin Griffiths (País de Gales) |
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BRASIL (4-2-4): |
FRANÇA (WM): |
3 Gylmar (G) |
1 Claude Abbes (G) |
14 De Sordi |
4 Raymond Kaelbel |
2 Bellini (C) |
10 Robert Jonquet (C) |
15 Orlando |
5 André Lerond |
12 Nilton Santos |
13 Armand Penverne |
19 Zito |
12 Jean-Jacques Marcel |
6 Didi |
22 Maryan Wisnieski |
11 Garrincha |
20 Roger Piantoni |
20 Vavá |
17 Just Fontaine |
10 Pelé |
18 Raymond Kopa |
7 Zagallo |
21 Jean Vincent |
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Técnico: Vicente Feola |
Técnico: Albert Batteux |
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SUPLENTES: |
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1 Castilho (G) |
2 Dominique Colonna (G) |
4 Djalma Santos |
3 François Remetter (G) |
16 Mauro |
6 Roger Marche |
9 Zózimo |
7 Robert Mouynet |
8 Oreco |
11 Maurice Lafont |
5 Dino Sani |
8 Bernard Chiarelli |
13 Moacir |
9 Kazimir Hnatow |
17 Joel |
14 Raymond Bellot |
18 Mazzola |
15 Stéphane Bruey |
21 Dida |
16 Yvon Douis |
22 Pepe |
19 Célestin Oliver |
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GOLS: |
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2′ Vavá (BRA) |
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9′ Just Fontaine (FRA) |
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39′ Didi (BRA) |
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52′ Pelé (BRA) |
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64′ Pelé (BRA) |
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75′ Pelé (BRA) |
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83′ Roger Piantoni (FRA) |
Gols da partida:
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