Três pontos sobre…
… Luiz Felipe Scolari
(Imagem: Gazeta Press)
● Luiz Felipe Scolari nasceu em 09/11/1948 na cidade gaúcha de Passo Fundo. Zagueiro central, Luiz Felipe começou sua carreira no Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo, aos 17 anos de idade. Em 1973, foi jogar no Caxias, onde ficou mais sete anos. Esteve pouco mais de um ano no rival Juventude (1979-1980), passando pelo mesmo tempo no Novo Hamburgo (1980-81). No fim deste mesmo ano foi para sua primeira aventura fora do Rio Grande do Sul, no CSA, de Alagoas, levado pelo técnico do clube Valmir Louruz (também gaúcho e também ex-zagueiro).
Com apenas quatro meses na equipe, foi no CSA que Luiz Felipe conquistou o único título da carreira como jogador: o Campeonato Alagoano de 1981. Em uma fase final com quatro clubes, o jogo do título foi um empate por 1 x 1 com o CRB em 29/11/1981. Neste jogo, o CSA formou com: Zé Luiz; Flávio, Luiz Felipe, Jerônimo e Geraldo; Veiga (Josenilton), Ademir e Rommel; Freitas, Dentinho e Mug (Paraná). No fim, o capitão Luiz Felipe levantou a taça de campeão.
Logo após o título, já em 1982, o técnico Valmir Louruz precisou acompanhar sua esposa doente no Rio Grande do Sul. Aos 33 anos, Luiz Felipe foi nomeado técnico do CSA pelo presidente do clube: Fernando Collor de Mello. Isso mesmo! Foi Collor quem deu o primeiro emprego como treinador a Felipão! Já mostrando desde o começo um futebol duro (também de assistir), levou o CSA ao título estadual do ano.
Scolari tinha boa convivência com os políticos da diretoria do CSA: além de Fernando Collor, o usineiro e ex-senador João Lyra (pai de Thereza Collor) e o ex-deputado Augusto Farias (irmão de PC Farias). Na época da Guerra do Golfo, em 1990, o então Presidente da República ajudou na liberação dos brasileiros que moravam no país, inclusive e principalmente de Scolari, que já afirmou diversas vezes que nutre carinho e respeito pelo atual senador.
Após passagens por outros clubes, principalmente gaúchos e do Oriente Médio, Felipão foi treinar o Criciúma, que disputava a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele não quis nem saber e montou uma equipe competitiva, praticamente imbatível dentro de casa, com jogadores esforçados e todo o grupo muito unido. Assim, o bigodudo começou a marcar seu nome na história, levando o pequeno Criciúma ao título da Copa do Brasil de 1991.
Depois de nova aventura pelo mundo árabe, chegou ao Grêmio. Pareciam que tinham sido criados um para o outro, Felipão e Grêmio. Novamente com jogadores aguerridos, obediência tática e muitos cuidados defensivos, a equipe possuía jogadores de qualidade e acostumados a vencer, como o capitão Dinho. O time sabia aproveitar as oportunidades de gol, principalmente com o ataque formado por Paulo Nunes e Jardel, além de ídolos históricos como Danrlei, Arce, Rivarola, Luís Carlos Goiano, Roger, Émerson e outros. A soma de tudo isso só poderia ter um final: Grêmio campeão da Copa do Brasil de 1994, campeão da Libertadores de 1995 e campeão brasileiro de 1996, além de quatro campeonatos gaúchos (sendo um da sua primeira passagem pelo tricolor, em 1987). Por pouco também não conquista a Copa Intercontinental em 1995, perdendo para o forte Ajax apenas nos pênaltis, mesmo com um homem a menos desde os 11 minutos do segundo tempo.
● Em 1997 voltou do futebol japonês para o Palmeiras e “transplantou” o lado direito de seu Grêmio para o alviverde, com Arce e Paulo Nunes (além de Rivarola, que não se adaptou ao clube). Foi vice-campeão brasileiro naquela temporada. No ano seguinte, conquistou a Copa do Brasil e a Copa Mercosul (primeiro título sul-americano do clube). A cereja do bolo foi em 1999, quando levou o clube à conquista da Taça Libertadores da América, com destaques para Arce e Paulo Nunes (novamente), Cléber, Roque Júnior, Júnior, César Sampaio, Zinho, Evair e Oséas, além de São Marcos (“canonizado” neste torneio). Na Copa Intercontinental, jogou melhor que o o poderoso Manchester United, mas perdeu por 1 a 0. Em 2000, ainda conquistou o Torneio Rio-São Paulo e chegou na final da Libertadores, perdendo nos pênaltis para o Boca Juniors de Carlos Bianchi. Teve uma rápida passagem pelo Cruzeiro, mas vitoriosa, conquistando a Copa Sul-Minas em 2001, tendo como destaque o ídolo argentino Juan Pablo Sorín.
Ainda em 2001 assumiu a Seleção Brasileira, livrando a equipe canarinho da ameaça de ficar fora de uma Copa do Mundo. Na Copa América, passou vexame após ser eliminado por Honduras ainda nas quartas de final. Recebeu infinitas críticas por deixar de fora da Copa o artilheiro e ídolo mundial Romário. Outro motivo de discordância foi a manutenção de Rivaldo no time, mesmo machucado, e de Ronaldo, que estava há quase dois anos lesionado e sem nenhum ritmo de jogo. Montou seu esquema tático em um 3-5-2 defensivo no papel e ofensivo na prática, dando liberdade total aos alas Cafu e Roberto Carlos, apostando na criatividade de seus jogadores de frente. O resultado foi uma campanha perfeita, com sete vitórias em sete jogos, vencendo a Alemanha por 2 a 0 na decisão, tendo os contestados Rivaldo e Ronaldo como os melhores jogadores daquela Copa.
Com o sucesso, foi treinar a seleção de Portugal, levando o país à sua primeira final, na Eurocopa, jogando em casa, mas perdeu para a “zebra” Grécia por 1 x 0. Mesmo com esta derrota, foi agraciado pelo então presidente português, Jorge Sampaio, com o título de “Comendador da Ordem do Infante D. Henrique”, uma das maiores distinções do país. Na equipe lusa foi bastante contestado no começo por ir aos poucos retirando das convocatórias ídolos nacionais como o goleiro Vítor Baía, mas foi o primeiro treinador a convocar o rapazote Cristiano Ronaldo. Em 2006, levou Portugal novamente a uma semifinal de Copa do Mundo, mas ficou em 4º lugar. Com essa campanha, detém o recorde de treinador com mais vitórias consecutivas em Copa do Mundo, sendo 7 pelo Brasil em 2002 e 4 com Portugal em 2006. Na Euro 2008, não obteve sucesso, caindo logo nas quartas de final para a Alemanha.
Foi para o rico Chelsea em 01/07/2008 e em dezembro levou o clube a atingir 11 vitórias consecutivas fora de casa pela Premier League (recorde que durava 48 anos). Após alguns resultados ruins, especialmente em clássicos, foi demitido em 09/02/2009. Reza a lenda que “Big Phil” foi derrubado por problemas de relacionamento com alguns “senadores” dos Blues: especialmente Petr Cech, Frank Lampard e Didier Drogba. Logo em seguida foi para o Uzbequistão, treinar o Bunyodkor, de Rivaldo, conquistando a liga nacional do país por duas vezes.
Retornou ao Palmeiras depois da Copa de 2010 e conquistou nova Copa do Brasil pelo Palestra em 2012. Deixou o clube em setembro por maus resultados, que terminariam em rebaixamento do clube para a Série B no fim do ano.
● Como “prêmio” e pela esperança de seu espírito de campeão ajudar a conquistar a a Copa de 2014 em casa, foi novamente chamado para a Seleção Brasileira, conquistando merecidamente a Copa das Confederações em 2013. Mas quando realmente valia, na Copa do Mundo do ano seguinte, o Brasil teve campanha irregular até a “chacoalhada” histórica para a Alemanha, no malfadado 7 x 1. Mesmo com os observadores técnicos e a imprensa sugerindo para substituir o lesionado Neymar por outro homem de meio campo, que “casaria” melhor com o esquema adversário, Felipão preferiu escalar um atacante (que tem suas qualidades), mas que foi nulo na partida. Com todos com o emocional prejudicado e em outra trapalhada do técnico, o Brasil perdeu novamente na decisão do 3º lugar para a Holanda, em nova “bordoada”, por leves 3 x 0.
Todo brasileiro ama Felipão pelo título mundial de 2002, mas ele manchou um pouco desa imagem com o “Mineirazo”. Conseguiu fazer a mesma coisa no Grêmio, logo após a Copa. Não conquistou nada na nova passagem pelo tricolor gaúcho, saindo pela porta dos fundos menos de um ano depois. A única nota digna de passagem é a goleada de 4 a 1 no rival Internacional pelo Campeonato Brasileiro de 2014.
Foi treinar o Guangzhou Evergrande, da China, conquistando o título do Campeonato Chinês de 2015 e da Liga dos Campeões da Ásia do mesmo ano. No Mundial Interclubes, o Evergrande ficou em um honroso 4º lugar. Voltou a vencer a liga chinesa em 2016.
Felipão pertence a uma linha de treinadores que dão mais importância ao relacionamento interpessoal e à motivação do que a treinamentos específicos e montagem de esquemas táticos. Não é um demérito, mas como a maioria da “velha guarda” dos técnicos brasileiros, precisa se reciclar se quiser voltar a ter sucesso em alto nível. Mas nada jamais irá apagar a imagem vitoriosa que conseguiu em sua carreira.
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