… 16/06/2006 – Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro

Três pontos sobre…
… 16/06/2006 – Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro


(Imagem: UOL)

● A Argentina era um time forte, experiente, técnico, com muitas excelentes opções para a linha de frente: Hernán Crespo, Javier Saviola, Rodrigo Palacio, Julio Cruz, Carlitos Tévez e Lionel Messi.

Na primeira partida, a albiceleste havia vencido a estreante Costa do Marfim por 2 x 1. Sérvia e Montenegro tinha perdido para a Holanda por 1 x 0.

Como a FIFA considerava Sérvia e Montenegro a herdeira das estatísticas da antiga Iugoslávia, essa era a décima participação em Copas do Mundo.

Mas havia um péssimo ambiente interno. Sérvia e Montenegro se desmembraram em dois países distintos apenas treze dias antes da Copa. O país existiu com esse nome apenas de 04/02/2003 a 03/06/2006.

Apesar disso, a seleção havia chegado com moral na Copa, com uma defesa considerada entre as mais sólidas da Europa. Nas eliminatórias, sofreu apenas um gol em dez partidas. Mas, por lesão, não podiam contar com seu melhor zagueiro, Nemanja Vidić – que posteriormente se tornaria capitão e ídolo do Manchester United.

Havia uma pressão da torcida sérvia para que o técnico Ilija Petković convocasse o meia Dejan Petković (que não tinha nenhum parentesco com o treinador). Bastante conhecido no Brasil, “Pet” (como ainda hoje é carinhosamente chamado), estava em ótima fase pelo Fluminense. O próprio capitão da seleção, Savo Milošević, admitia que Pet poderia ter um lugar no time.

O técnico insistia que tinha um bom grupo e que não seria justo retirar alguém que fez parte do grupo que conquistou a classificação para a Copa para dar espaço a Pet. Mas ele teve a chance quando o atacante Mirko Vučinić precisou ser cortado por lesão. Vučinić era um dos dois montenegrinos do elenco – o outro era o goleiro Dragoslav Jevrić, que preferiu manter a cidadania sérvia após a cisão dos dois países.

Com o corte de Vučinić, o treinador convocou “D. Petković“. Muitos ligaram para Pet no Brasil para dar os parabéns, mas… não era ele! Era o zagueiro Dušan Petković, filho do técnico! Ele não era convocado desde 2004 e foi muito atacado pela mídia de seu país, tanto por terem considerado nepotismo quanto pelo fato de ter sido convocado um defensor para a vaga de um atacante.

O elenco se rebelou e Dušan Petković não aguentou a pressão, deixando a delegação antes de chegarem à Alemanha. “É muita pressão para mim, para meu pai e meus companheiros”, afirmou Dušan. Sua seleção acabou disputando a Copa com um jogador a menos.

No início das partidas, novo momento de constrangimento para os jogadores sérvio-montenegrinos. O hino tocado era o da fase comunista da antiga Iugoslávia, que não era cantado pelos jogadores e vaiado pela torcida.


Muito bem treinada por José Pekerman, a Argentina jogou no sistema 4-4-2 em losango, com Riquelme jogando como “enganche”.


A Sérvia e Montenego foi escalada no esquema 4-4-2, com duas linhas de quatro.

● Em Gelsenkirchen, a Argentina apresentou um espetáculo que ficou na memória.

O ataque argentino descobriu logo cedo a fórmula para se sobressair diante da defesa sérvia. Sem deixar o adversário respirar, abusou dos passes rápidos e movimentação constante, especialmente de Javier Saviola.

Logo aos seis minutos, o próprio Saviola avançou pela esquerda e rolou para o meio da área. Maxi Rodríguez bateu deslocando o goleiro Dragoslav Jevrić e abriu o placar.

O segundo gol saiu apenas aos 31′, em uma troca de passes envolvente que se tornou uma verdadeira obra de arte. A jogada começou com Maxi Rodríguez roubando a bola no campo defensivo. A bola passou por Cambiasso, Riquelme, Sorín, girou da direita para a esquerda e voltou da esquerda para a direita, até que Saviola tocou para Cambiasso, que deu de primeira para Hernán Crespo, que devolveu de calcanhar. Esteban Cambiasso mandou para o gol. Desde a roubada de bola até a conclusão, foram 26 passes precisos – um símbolo do estilo de jogo argentino. Foi um gol que, pela dinâmica e pela finalização, lembrou um pouco o último gol de Maradona em Copas, diante da Grécia, em 1994. 2 a 0.

Com uma marcação frágil no meio e uma defesa pesada, os sérvios foram colocados literalmente na roda pelas tabelas envolventes dos albicelestes.

Dez minutos depois, o terceiro. Com uma falta não marcada pelo árbitro italiano Roberto Rosetti, Saviola roubou a bola de Mladen Krstajić, entrou na área e chutou cruzado. Jevrić espalmou para o canto, mas Maxi Rodríguez apareceu na segunda trave e completou para o gol. A bola ainda bateu na trave e no pé do zagueiro Goran Gavrančić antes de entrar. 3 a 0.

Após virar o intervalo vencendo por 3 a 0, os hermanos tiraram o pé e diminuíram o ritmo na etapa final.

Mateja Kežman foi expulso aos 20′ da segunda etapa, facilitando mais ainda o controle de jogo argentino.


(Imagem: 90 min)

Aos 29 minutos do segundo tempo, pouca gente se deu conta de que estava ocorrendo um momento histórico no futebol. Com a camisa 19, foi esse o momento que Lionel Messi pisou no gramado da Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen. Era sua estreia em Copas do Mundo. Com 18 anos, Messi já começava a ganhar espaço no excelente time titular do Barcelona, que havia conquistado a UEFA Champions League da temporada 2005/06. No ano seguinte já se tornaria protagonista e três anos mais tarde seria eleito o melhor jogador do mundo.

Três minutos depois de entrar, em sua primeira jogada, Messi driblou um adversário, foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro da ponta esquerda. Crespo apareceu na segunda trave, se antecipou a um adversário e marcou. 4 a 0.

O quinto tento veio seis minutos depois. Riquelme lançou Carlitos Tévez, que passou a bola entre as pernas de Gavrančić, cortou a marcação de Igor Duljaj e tocou rasteiro na saída do goleiro Jevrić. 5 a 0.

O último prego no caixão servo-montenegrino foi aos 43′. Juan Román Riquelme tocou para Tévez, que tabelou com Crespo e recebeu de volta. Ele enxergou a infiltração de Messi e deu o passe na medida. Messi dominou e bateu cruzado de pé direito, marcando seu primeiro gol em Copas do Mundo.

Com esse placar esmagador, o status de favorito ficou ainda mais estampado na albiceleste.

Essa vitória igualou a maior goleada aplicada pela Argentina em Copas do Mundo (a maior até então havia sido o “famoso” 6 a 0 sobre o Peru na Copa de 1978).


(Imagem: Goal)

● Na sequência, a Argentina empatou sem gols com a Holanda e assegurou a liderança do Grupo C no saldo de gols. Nas oitavas de final, precisou de um golaço ouro de Maxi Rodríguez para eliminar o México na prorrogação de virada por 2 x 1. Nas quartas de final, depois de um jogo duríssimo diante da anfitriã Alemanha, acabou caindo na decisão por pênaltis por 4 x 2, após empate por 1 x 1 no tempo normal.

Por sua vez, a Sérvia e Montenegro perdeu para a Costa do Marfim por 3 x 2 e terminou com três derrotas em três jogos. Na classificação geral, foi a última dentre as 32º seleções do Mundial.

Após a Copa, cinco jogadores sérvios foram punidos pela federação do país por terem cometido alguma indisciplina durante a competição: Mateja Kežman, Ognjen Koroman, Danijel Ljuboja, Zvonimir Vukić e Albert Nađ. Este último até jogou contra a Costa do Marfim, mas os outros quatro foram criticados por terem deixado a Alemanha antes do restante da delegação.

Embora Dušan Petković nem tenha jogado, o caso dele é um dos raros em que um pai atuou por uma seleção e o filho por outra, já que Ilija Petković havia jogado pela Iugoslávia em 1974. Outro caso que envolve dissolução de países foi o de Vladimír Weiss, que jogou pela Tchecoslováquia em 1990 e seu filho, de mesmo nome, atuou pela Eslováquia em 2010. O último caso envolve imigração: Martín Ventolrá jogou a Copa de 1934 pela Espanha e seu filho, José Vantolrá, atuou pelo México em 1970.

O meia Dejan Stanković disputou três Copas do Mundo, por três países diferentes. Ele representou a Iugoslávia em 1998, a Sérvia e Montenegro em 2006 e a Sérvia em 2010.


(Imagem: Twitter @OptaJoe)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 6 x 0 SÉRVIA E MONTENEGRO

 

Data: 16/06/2006

Horário: 15h00 locais

Estádio: Arena AufSchalke (atual Veltins-Arena)

Público: 52.000

Cidade: Gelsenkirchen (Alemanha)

Árbitro: Roberto Rosetti (Itália)

 

ARGENTINA (4-3-1-2):

SÉRVIA E MONTENEGRO (4-4-2):

1  Roberto Abbondanzieri (G)

1  Dragoslav Jevrić (G)

21 Nicolás Burdisso

4  Igor Duljaj

2  Roberto Ayala

6  Goran Gavrančić

6  Gabriel Heinze

20 Mladen Krstajić

3  Juan Pablo Sorín (C)

15 Milan Dudić

8  Javier Mascherano

7  Ognjen Koroman

22 Lucho González

17 Albert Nađ

18 Maxi Rodríguez

10 Dejan Stanković

10 Juan Román Riquelme

11 Predrag Đorđević

7  Javier Saviola

9  Savo Milošević (C)

9  Hernán Crespo

8  Mateja Kežman

 

Técnico: José Pékerman

Técnico: Ilija Petković

 

SUPLENTES:

 

 

12 Leo Franco (G)

23 Vladimir Stojković (G)

23 Óscar Ustari (G)

12 Oliver Kovačević (G)

4  Fabricio Coloccini

14 Nenad Đorđević

17 Leandro Cufré

5  Nemanja Vidić

15 Gabriel Milito

16 Dušan Petković (cortado da
delegação)

13 Lionel Scaloni

3  Ivica Dragutinović

5  Esteban Cambiasso

13 Dušan Basta

16 Pablo Aimar

2  Ivan Ergić

19 Lionel Messi

18 Zvonimir Vukić

14 Rodrigo Palacio

22 Saša Ilić

11 Carlos Tevez

21 Danijel Ljuboja

20 Julio Cruz

19 Nikola Žigić

 

GOLS:

6′ Maxi Rodríguez (ARG)

31′ Esteban Cambiasso (ARG)

41′ Maxi Rodríguez (ARG)

78′ Hernán Crespo (ARG)

84′ Carlos Tevez (ARG)

88′ Lionel Messi (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

7′ Ognjen Koroman (SER)

27′ Albert Nađ (SER)

36′ Hernán Crespo (ARG)

42′ Mladen Krstajić (SER)

 

CARTÃO VERMELHO:
65′ Mateja Kežman (SER)

 

SUBSTITUIÇÕES:

17′ Lucho González (ARG) ↓

Esteban Cambiasso (ARG) ↑

 

INTERVALO Albert Nađ (SER) ↓

Ivan Ergić (SER) ↑

 

50′ Ognjen Koroman (SER) ↓

Danijel Ljuboja (SER) ↑

 

59′ Javier Saviola (ARG) ↓

Carlos Tevez (ARG) ↑

 

70′ Savo Milošević (SER) ↓

Zvonimir Vukić (SER) ↑

 

75′ Maxi Rodríguez (ARG) ↓

Lionel Messi (ARG) ↑

Gols da partida:

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