… Petráš e Panenka

Três pontos sobre…
… Petráš e Panenka


(Imagem: Alchetron)

● Quando Ladislav Petráš fez o sinal da cruz, o mundo ficou chocado. Como poderia um comunista repetir esse gesto cristão? Comunistas comem criancinhas! Foi o que pensaram os telespectadores em sua pueril ignorância. Esse fato ocorreu quando ele marcou o primeiro gol de sua seleção na Copa. O Brasil viraria e golearia a Tchecoslováquia por 4 x 1, com Jairzinho passando a imitar Petráš, e desde então, fazendo o sinal da cruz em cada gol seu.

Aos 11 minutos de jogo no estádio Jalisco, Petráš arrancou pela intermediária passando pelo zagueiro Brito e chutou da entrada da área, na diagonal, no canto direito de Félix. Correu junto à bandeirinha de escanteio, fez o sinal da cruz e juntou as mãos, como se fosse uma oração. Era uma comemoração raríssima, quase única, para a época. Apenas dois anos antes, seu país tinha sido lançado em forte regime comunista, com a Primavera de Praga, forçada pela União Soviética, em um comunismo que perseguia as religiões, especialmente a católica. Com o ato, Petráš não apenas expressou sua fém mas também seu descontentamento político com profundo significado. Uma pena que depois milhões de jogadores até medíocres banalizariam o mesmo sinal cristão.

Petráš tinha menos de 24 anos nesse jogo e, se era desconhecido fora de seu país, já era um ídolo na Tchecoslováquia. Dotado de talento com a bola nos pés, era de uma personalidade difícil. Sempre tinha problemas disciplinares e era expulso frequentemente pelos árbitros. Logo após a Copa de 70, quebrou sem dó nem piedade a perda do zagueiro Václav Migas, seu colega de seleção. O regime da “Cortina de Ferro” decidiu que enquanto Migas não se recuperasse de sua fratura exposta, Petráš também não jogaria. Assim, ambos ficaram 14 meses sem jogar.

Laci-Baci (como era chamado em seu país) começou a carreira aos 17 anos no FK Baník Prievidza e aos 21 se transferiu para o FK Dukla Banska Bystrica, sendo artilheiro da liga nacional com 20 gols. No ano seguinte, em 1969, foi para o FK Inter Bratislava, onde ficou até 1980, se tornando um mito para os aurinegros. Dizem que certa vez ele fugiu do hospital para disputar uma partida, retornando ao leito após o jogo. Foi artilheiro do campeonato novamente em 1974/75, também com 20 gols. Nesse mesmo torneio, fez cinco gols no mesmo jogo contra o poderoso AC Sparta Praha (a partida foi 7 x 4 para o Inter). Virou lenda quando em uma partida, Petráš marcou três gols na sequência e, após o terceiro, simplesmente saiu de campo sorrindo, como que dizendo que já tinha feito sua parte no jogo. Pela liga tchecoslovaca, fez 85 gols em 239 partidas. Ainda jogou no WAC Viena, da Áustria, até 1983. Curiosamente nunca ganhou um título nacional em campo, mas foi campeão como auxiliar técnico do campeonato eslovaco pelo seu Inter. Foi técnico da seleção eslovaca sub-21 em 2006.

Pela seleção da Tchecoslováquia, Petráš jogou apenas 19 vezes e marcou 6 gols (entre 1969 e 1977), mas entrou para a história com grandes momentos.

Ladislav Petráš nasceu na cidade de Prievidza, em 01/12/1946 e completa 70 anos hoje.


(Imagem: Alchetron)

● Antonín Panenka nasceu em Praga, em 02/12/1948 (exatamente dois anos e um dia após Petráš, seu então conterrâneo). Começou com apenas dez anos na divisão de base do Bohemians Praha, ficando até 1981, com 318 gols em 678 partidas. A legislação do regime socialista do país só permitia o êxodo de jogadores maiores de 30 anos e entre 1981 e 1985, Panenka foi atuar no austríaco SK Rapid Wien (63 tentos em 127 jogos), sendo bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1981/82 e 1982/83. Foi também tricampeão da Copa da Áustria, entre 1983 e 1985. Chegou na final da Recopa Europeia em 1984/85, mas perdeu para o Everton por 3 x 1. Ainda passaria por outros times da Áustria: VSE St. Pölten (1985-1987), SK Slovan Wien (1987-1989), ASV Hohenau (1989-1991) e Kleinwiesendorf (1991-1993), onde encerrou definitivamente a carreira, aos 45 anos de idade. Depois, voltou a seu país natal e se tornou presidente do Bohemians, cargo que ocupa atualmente.

Meia-armador talentoso, bom passador, com excelente visão de jogo, era especialista na bola parada, tanto em faltas quanto em pênaltis. É considerado o maior jogador da Tchecoslováquia entre Josef Masopust e Pavel Nedvěd. Pela seleção da Tchecoslováquia, marcou 17 vezes em 59 partidas, entre 1973 e 1982. Disputou as Eurocopas de 1976 e 1980 (3º lugar) e a Copa do Mundo de 1982, caindo na primeira fase.

● As carreiras de Petráš e Panenka se encontraram da seleção da Tchecoslováquia, especialmente na Eurocopa de 1976, na Iugoslávia. Petráš era reserva, mas Panenka era o craque do time.

Na prorrogação, os tchecos venceram o Carrossel Holandês por 3 a 1. Após passar pelo vice-campeão da última Copa do Mundo, eles enfrentaram os campeões na final. Após empate por 2 a 2 entre Tchecoslováquia e Alemanha Ocidental, essa foi a primeira final importante a ser decidida nos pênaltis. Todos os jogadores vinham convertendo as cobranças, até que o craque alemão Uli Hoeneß chutasse por cima. Coube a Antonín Panenka decidir o título, mas ele não “apenas” converteu o chute. Mesmo com a pressão de ter no gol adversário o lendário Sepp Maier, o meia tcheco cobrou tranquilamente: enquanto o goleiro caía no canto esquerdo, o camisa 7 chutou de “cavadinha” no centro do gol. Foi a primeira vez que se cobrou um pênalti assim. Até hoje na Europa o estilo é chamado de “Panenka“. Assim, Panenka inventou moda e entrou para a história da Eurocopa e do futebol por um lance simples e genial.

Antonín Panenka e Ladislav Petráš entraram na história, no plantel da Tchecoslováquia campeã da Eurocopa de 1976, único título da história do país (e dos países que viriam a se formar em 1992, Tchéquia e Eslováquia).


(Imagem: Total Pro Sports)

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