… Robert Enke: uma vida curta demais

Três pontos sobre…
… Robert Enke: uma vida curta demais


(Imagem: T-online)

● Robert Enke nasceu em 24/08/1977, na cidade alemã de Jena. Era o caçula dos três filhos de Gisela Enke e Dirk Enke, um psicólogo esportivo. Começou a jogar aos 8 anos de idade no BSG Jena Pharm, mas aos 9 já se encontrava como goleiro no Carl Zeiss Jena (clube fundado por funcionários da famosa empresa do ramo de óptica), assinando seu primeiro contrato como a equipe aos 17 anos, em 1995. Antes disso, em 1993, já era titular e fechava o gol da seleção alemã sub-15.

Sua única temporada no Carl Zeiss Jena foi a de 1995/96, disputando apenas três jogos. Já no verão de 1996, assinou com o Borussia Mönchengladbach, mas para atuar na equipe sub-23, nas divisões inferiores. Finalmente, começou a ser titular do time principal a partir de 15/08/1998, mas foi uma temporada ruim e sua equipe foi rebaixada na Bundesliga.

Se transferiu para o Benfica (POR) em junho de 1999, assinando por três anos. Robert tinha um histórico de ataques de pânico, surtando e mudando de ideia segundos depois de assinar seus contratos. Mas, recobrando a consciência, se convenceu que, por ter assinado o contrato, era obrigado a cumpri-lo. Nos lisboetas, chegou a ser capitão, quando o seu compatriota Jupp Heyckes era o técnico. Mas era uma fase em que a equipe trocou de técnico em todas as temporadas, com péssimos resultados na liga e dificuldades financeiras até para pagar salários aos jogadores. Mesmo com todos esses percalços, ganhou a admiração da torcida encarnada.

Ao fim do seu contrato, em 2002, foi para o Barcelona, em novo acordo de três anos. Mas essa se provou ter sido uma escolha errada, pois foi reserva de Roberto Bonano e Victor Valdés. Sua estreia pelos blaugranas foi uma derrota vexaminosa na Copa do Rei para o nanico Novelda, por 3 x 2, com três falhas dele, recebendo críticas até de Frank de Boer, seu companheiro de time. Na Liga Espanhola, disputou apenas 20 minutos contra o Osasuna, em março de 2003. Foi titular em dois jogos da UEFA Champions League, contra Galatasaray e Clube Brugges.

Na temporada seguinte foi emprestado para o Fenerbahçe, como moeda de troca para a contratação do goleiro Rüştü Reçber. Novamente foi uma decepção em sua estreia, na derrota por 3 x 0 para o Istanbulspor. Ainda dentro de campo, os torcedores turcos lhe xingaram e atiraram objetos, o que fez a diretoria dispensá-lo apenas 13 dias após contratá-lo. Esse episódio fez Enke ter sua primeira crise depressiva, pensando até em encerrar a carreira. No início de 2004 foi emprestado para o Tenerife, para disputar a segunda divisão espanhola, sendo destaque no time e observado para vôos maiores.

● Em julho de 2004 voltou para seu país para atuar no Hannover 96. Nesse momento sua carreira deu uma guinada, passando a ser titular e destaque da Bundesliga. Mesmo com diversas sondagens de outras equipes, decidiu permanecer e se tornou capitão do time a partir de 2007/08. Foi eleito o melhor goleiro da temporada 2008/09. Jogou sua última partida em 08/11/2009, dois dias antes de sua morte.

Estreou na seleção sub-21 em 1997, enquanto jogava nas divisões inferiores do Mönchengladbach. Dois anos depois, mesmo atuando pouco pelo time, o técnico da seleção, Erich Ribbeck, o convocou para a Copa das Confederações de 1999, mas o deixou todo o tempo no banco. Ficou sem ser selecionado pelo Nationalelf até 2006 e finalmente fez sua estreia em 28/03/2007. Foi um dos goleiros reservas na Euro 2008, quando a Alemanha foi vice-campeã. Com a aposentadoria de Jens Lehmann, Enke se tornou o goleiro titular da seleção, mas passou a sofrer muito com lesões e, consequentemente, nova depressão. Fez oito jogos pelo seu país, sendo o último uma vitória por 2 a 0 contra o Azerbaijão, em 12/08/2009. Era considerado nome certo para a Copa do Mundo de 2010 e o mais cotado para ser o goleiro titular.

● No dia 10/11/2009, logo após as 18h00, Robert parou sua Mercedes em uma rua secundária em Eilvese, Neustadt am Rübenberge, a 30 km de Hannover, deixou as chaves do carro e sua carteira no banco do passageiro, saiu na chuva em direção a um cruzamento ferroviário e se jogou embaixo das rodas de aço do trem expresso Bremen-Hannover 4427. A polícia encontrou uma carta de despedida, mas não divulgou seu conteúdo, por respeito a família e a memória do goleiro. Especula-se que ele tenha pedido perdão por sua decisão consciente de enganar a todos, fingindo que estava bem, escondendo sua depressão e seus planos de se matar.

O lugar não foi escolhido por acaso: a menos de 100 metros está o túmulo de sua filha Lara, falecida em setembro de 2006 aos 2 anos de idade. Essa foi uma tragédia familiar que Robert não conseguiu superar. A menina Lara morreu durante uma cirurgia de tentativa de correção de problemas cardíacos congênitos.

Robert era casado desde 2006 com Teresa Heim (ex-atleta de pentatlo moderno) e viviam em uma pequena fazenda em Empede, perto de onde morreu. A família sempre foi bastante envolvida em atividades a favor dos direitos dos animais, inclusive tendo o goleiro emprestado seu rosto para campanhas da PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais) contra a indústria de peles. O casal adotou uma menina chamada Leila em maio de 2009, mas Robert estava a todo tempo com medo de perder a guarda da criança se as autoridades descobrissem seus problemas depressivos. Ele fazia tratamento com o psiquiatra Valentin Markser, mas no dia que desistiu de viver, se recusou a comparecer à consulta, alegando se sentir bem e não precisar de tratamento.

Foi enterrado em 15/11, em uma cerimônia que reuniu cerca de 45 mil pessoas em Hannover, dentre elas familiares, amigos, colegas jogadores de futebol e torcedores. Seu corpo foi colocado no centro da ADW-Arena, estádio de sua equipe, onde as últimas homenagens foram prestadas. O presidente do clube, Martin Kind, declarou que “Enke foi um número um no melhor sentido da palavra. É por isso que hoje temos os corações tão pesados”. Seu caixão, coberto de rosas brancas, foi carregado por seis colegas de time. Foi enterrado junto de sua filha.

Na rodada seguinte, todos os jogos da Bundesliga tiveram um minuto de silêncio, assim como no jogo seguinte do Benfica e do Barcelona em seus campeonatos. Como forma de luto, a seleção alemã cancelou um jogo amistoso com o Chile, que seria realizado em 14 de novembro.

No restante da temporada 2009/10, os jogadores do Hannover 96 exibiram o número “1” em um círculo no peito do uniforme, como uma singela homenagem, homologada pela Bundesliga.
A Federação de Futebol da Alemanha, juntamente com a Bundesliga e o Hannover 96, criaram a “Fundação Robert Enke”, visando principalmente cuidar da saúde mental de jogadores de futebol. Seu amigo escritor Ronald Reng escreveu uma biografia do goleiro, intitulada “Uma vida curta demais”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *