… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia

Três pontos sobre…
… 23/06/1954 – Alemanha Ocidental 7 x 2 Turquia


Seleção alemã que entrou em campo para o jogo extra diante da Turquia. Da esquerda para a direita: Fritz Walter, Turek, Eckel, Laband, Posipal, Ottmar Walter, Klodt, Mai, Schäfer, Bauer e Morlock. (Imagem: Impromptuinc)

● A seleção alemã de futebol foi usada como uma importante arma de divulgação do governo de Adolf Hitler. Com a queda do nazismo e a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, em 1947 o país foi dividido em Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Sarre e Áustria (que voltou a ser uma nação independente). As seleções de futebol, com exceção da invadida Áustria, ficaram impedidas de disputar qualquer competição internacional até 1950. Depois do fim dessa suspensão, a Alemanha Ocidental – que herdou o histórico esportivo da Alemanha unificada – tratou de reorganizar o futebol local e voltou a disputar jogos oficiais. Mas enquanto os alemães passearam nas eliminatórias, se qualificando facilmente no Grupo 1 e deixando para trás as fracas seleções de Sarre e Noruega, a vida dos turcos foi muito mais difícil.

O Grupo 6 tinha apenas Turquia e Espanha. A Fúria era amplamente favorita, contando com veteranos que ficaram em 4º lugar no Mundial de 1950 (Agustín Gaínza, Antonio Puchades e Mariano Gonzalvo), além do craque húngaro naturalizado László Kubala.

Em Madri, os espanhóis fizeram valer o favoritismo e venceram fácil por 4 x 1. Na volta, em Istambul, a Turquia venceu por 1 x 0. Como não havia o critério de saldo de gols, foi necessária uma partida extra, que foi jogada em Roma. Houve empate por 2 x 2 no tempo normal e na prorrogação. E, como previa o regulamento na época, o vencedor foi decidido por sorteio! De olhos vendados, um menino italiano de 14 anos cujo pai trabalhava no estádio, Luigi Franco Gemma, foi o responsável por sortear o nome da Turquia. É isso mesmo: a Turquia disputou sua primeira Copa do Mundo porque teve seu nome sorteado num pote. Mas nada disso mais importava. No Mundial, todos começavam “do zero”.

O regulamento da Copa de 1954 era mesmo muito estranho. Na primeira fase, em grupos compostos por quatro seleções, haviam dois cabeças de chave que não se enfrentavam. Eles enfrentariam diretamente apenas as duas seleções teoricamente mais fracas do grupo – que também não se enfrentariam. Dessa forma, cada seleção faria apenas dois jogos. Se os duelos da primeira fase terminassem empatados, seria jogada uma prorrogação; mas, caso essa prorrogação terminasse empatada, o resultado de empate seria mantido. Caso duas equipes terminassem empatadas em pontos no segundo lugar do grupo, a vaga seria decidida em um jogo extra entre ambos. E foi o que aconteceu: Alemanha Ocidental e Turquia terminaram iguais, com dois pontos (uma vitória e uma derrota).


Seleção turca que foi a campo na partida desempate contra a Alemanha Ocidental. (Imagem: Impromptuinc)

● Seis dias antes, essas mesmas seleções haviam jogado para 39 mil pessoas no estádio Wankdorf, em Berna. A Alemanha Ocidental venceu com propriedade por 4 a 1, com gols de Schäfer, Klodt, Ottmar Walter e Morlock.

Mesmo com a boa vitória na estreia, o técnico alemão Sepp Herberger seguia criticado pela imprensa alemã. E a reprovação foi ainda maior quando seu time perdeu por 8 x 3 para a poderosa Hungria. O que quase ninguém sabia é que a derrota fazia parte dos planos de Herberger – uma verdadeira raposa. Ele havia entendido muito bem o regulamento.

Prevendo uma derrota para os magiares [na verdade, todos previam], ele poupou seis titulares para o jogo desempate, novamente contra a Turquia. E, pior, deixou os húngaros sem saber como realmente jogava o time principal da Nationalelf. Melhor que isso, só a terrível lesão que Liebrich causou no húngaro Ferenc Puskás, praticamente tirando o craque do restante da Copa.


(Imagem: Impromptuinc)

● Em sua segunda partida, a Turquia encarou com seriedade os amadores da Coreia do Sul e venceu por 7 x 0.

Para o jogo desempate diante dos alemães, os dirigentes turcos convidaram o garoto talismã – Luigi Franco Gemma – para ir a Zurique. Mas dessa vez ele não conseguiu trazer a sorte necessária.

Em uma tentativa de surpreender os alemães, o técnico italiano Sandro Puppo fez várias alterações na equipe da Turquia, principalmente no ataque. O trio de frente (Suat, Feridun e Burhan) havia atuado bem nas eliminatórias e no jogo diante da Coreia do Sul, mas, embora tivessem mais técnica, tinha menos força física para encarar os gigantes zagueiros alemães – como o primeiro jogo entre ambos já havia mostrado.

Suat e Burhan eram os artilheiros da equipe na Copa com três gols cada. Sem poder de fogo, “Ay-Yıldızlılar” (“Estrelas da Lua”, em turco – apelido da seleção) foi presa fácil para os alemães.

Outra das principais alterações foi a troca dos goleiros. Saiu Turgay para a entrada de Şükrü.


As duas equipes jogavam no sistema tático W-M.

● Por ter vencido o primeiro duelo entre as duas seleções, Die Mannschaft era amplamente favorita. Vários titulares, que haviam ficado de fora contra os húngaros, estavam de volta ao time. Em compensação, foram poupados os zagueiros Werner Liebrich e Werner Kohlmeyer, além do ponta direita Helmut Rahn.

Mas o jogo foi mais fácil que o previsto. A Alemanha Ocidental começou a partida de forma avassaladora, pressionando muito a inexperiente seleção turca. E foi enfileirando gols com relativa facilidade.

O placar foi aberto logo aos sete minutos do primeiro tempo. Em uma transição rápida desde o círculo central, Horst Eckel passou na meia esquerda para Karl Mai, que abriu na esquerda para Hans Schäfer. O ponta foi até a linha de fundo e cruzou rasteiro. Ottmar Walter veio de frente, finalizou da marca do pênalti e mandou a bola para o fundo da rede.

Cinco minutos depois, Schäfer avançou pela esquerda sem marcação, invadiu a área e bateu para o gol, fazendo 2 a 0 para os alemães.

A Turquia manteve a esperança aos 17′. Após cruzamento de Coşkun da esquerda, Mustafa subiu sozinho e cabeceou no canto esquerdo do goleiro Toni Turek. Ele chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol.

A Alemanha nem se incomodou e seguiu atacando. Eckel apareceu quase na pequena área e chutou. Şükrü defendeu bem e Rıdvan chutou para longe para afastar o perigo.

A situação dos turcos ficou muito mais complicada com a lesão no ombro do goleiro Şükrü, quando o placar estava em 2 x 1 para a Alemanha. Como não eram permitidas substituições na época, teve que continuar jogando.

E o 3 a 1 veio aos 31 minutos. Max Morlock aproveitou falha de Rober e finalizou de dentro da área, na saída do goleiro.


(Imagem: Impromptuinc)

No segundo tempo, a Alemanha não se deu por satisfeita. O instinto sanguinário fazia a “Die Adler” (“As Águias”, em alemão) querer trucidar o adversário.

Sem correr riscos na defesa e sem sofrer resistência no ataque, os alemães marcaram novamente aos 15′, quando Morlock anotou seu segundo tento na partida. Depois de um cruzamento rasteiro de Schäfer na esquerda, ele deu um carrinho quase em cima da linha e mandou para o gol. 4 a 1. Esse foi o gol de número 400 da história das Copas.

O quinto saiu segundos depois. Ottmar Walter rolou da esquerda e seu irmão Fritz Walter bateu da entrada da área no cantinho direito, sem chances para o combalido Şükrü.

Max Morlock chegou ao “hat trick” aos 32. Bernhard Klodt protegeu na área e rolou para trás. Morlock dominou e bateu da meia lua, no ângulo direito do goleiro turco.

O sétimo gol alemão foi marcado por Schäfer apenas dois minutos depois, completando um cruzamento de Fritz Walter.

A Turquia teve uma pequena alegria ao marcar o segundo, a seis minutos do fim. Após cruzamento da esquerda, Lefter dominou e bateu por baixo de Turek.

Final: Alemanha Ocidental 7, Turquia 2.


(Imagem: Impromptuinc)

● O presidente honorário da FIFA, Jules Rimet (que já dava nome à taça de campeão do mundo), foi assistir a essa partida. Na sua chegada, ele não teve entrada autorizada no estádio Hardturm, pois não estava portando seus documentos. Com paciência, ele explicou que seus documentos haviam ficado no hotel. Ele só teve sua entrada permitida quando um diretor da organização local o reconheceu e liberou seu ingresso.

Curiosamente, a Copa do Mundo de 1954 foi a primeira em que os jogadores atuaram com numeração fixa. Cada atleta tinha seu próprio número para ser usado na camisa durante todo o torneio, de 1 a 22.

No fim, a estratégia de Herberger acabou dando certo. Com a nova vitória diante dos turcos, a Alemanha se classificou para as quartas de final, onde venceu a Iugoslávia por 2 x 0. Nas semifinais, goleou a vizinha Áustria por 6 x 1. Na decisão, enfim Herberger escalou seu melhor time e venceu a Hungria de virada por 3 x 2, com a Alemanha conquistando o primeiro dos seus quatro títulos em Copas do Mundo. E esse primeiro troféu muito se deve à astúcia do técnico Sepp Herberger.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 7 X 2 TURQUIA

 

Data: 23/06/1954

Horário: 18h00 locais

Estádio: Hardturm

Público: 17.000

Cidade: Zurique (Suíça)

Árbitro: Raymond Vincenti (França)

 

ALEMANHA (WM):

TURQUIA (WM):

1  Toni Turek (G)

12 Şükrü Ersoy (G)

2  Fritz Laband

2  Rıdvan Bolatlı

7  Josef Posipal

3  Basri Dirimlili

4  Hans Bauer

17 Naci Erdem

6  Horst Eckel

5  Çetin Zeybek

8  Karl Mai

6  Rober Eryol

14 Bernhard Klodt

7  Erol Keskin

13 Max Morlock

4  Mustafa Ertan

15 Ottmar Walter

d 20 Necmi Onarıcı

16 Fritz Walter (C)

11 Lefter Küçükandonyadis (C)

20 Hans Schäfer

22 Coşkun Taş

 

Técnico: Sepp Herberger

Técnico: Sandro Puppo

 

SUPLENTES:

 

 

22 Heinz Kwiatkowski (G)

1  Turgay Şeren (G)

21 Heinz Kubsch (G)

13 Bülent Eken

10 Werner Liebrich

14 Ali Beratlıgil

3  Werner Kohlmeyer

16 Nedim Günar

5  Herbert Erhardt

18 Akgün Kaçmaz

11 Karl-Heinz Metzner

19 Ahmet Berman

19 Alfred Pfaff

15 Mehmet Dinçer

12 Helmut Rahn

1 Kadri Aytaç

17 Richard Herrmann

8  Suat Mamat

18 Ulrich Biesinger

9  Feridun Buğeker

9  Paul Mebus

10 Burhan Sargun

 

GOLS:

7′ Ottmar Walter (ALE)

12′ Hans Schäfer (ALE)

17′ Mustafa Ertan (TUR)

31′ Max Morlock (ALE)

60′ Max Morlock (ALE)

62′ Fritz Walter (ALE)

77′ Max Morlock (ALE)

79′ Hans Schäfer (ALE)

84′ Lefter Küçükandonyadis (TUR)

 Gols da partida:

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