Três pontos sobre…
… 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha
(Imagem: Impromptuinc)
● Foi a primeira partida na história entre Alemanha e Tchecoslováquia.
Nas eliminatórias, a Tchecoslováquia eliminou a Polônia – contra quem tinha uma disputa territorial. Os tchecos venceram em Varsóvia por 2 x 1 e os poloneses abriram mão de jogar a partida de volta, dando a qualificação ao rival.
Na Copa, os tchecoslovacos venceram a Romênia nas oitavas de final (2 x 1) e a Suíça nas quartas (3 x 2).
Por sua vez, os alemães venceram a Bélgica por 5 a 2 nas oitavas e bateram a Suécia por 2 x 1 nas quartas.
(Imagem: Impromptuinc)
● Essa era uma partida considerada “inferior” pela imprensa europeia. “Itália vs. Áustria” era uma “final antecipada”. Nem Tchecoslováquia, nem Alemanha (que pouco apresentaram nos primeiros jogos) seriam páreo para nenhum dos outros dois adversários.
Enquanto o San Siro lotou na primeira semifinal, onde os favoritos se digladiavam por uma vaga na decisão, apenas 15 mil pessoas compareceram ao Stadio Nazionale PNF para assistir ao duelo entre tchecoslovacos e alemães – em partida que a imprensa chamou de “atalho para a grande decisão”.
O público não apreciava o jeito alemão de jogar. Tanto que, mesmo com pouca gente, essa foi a partida da Alemanha com maior público nessa Copa.
No quesito organização, a Tchecoslováquia estava à frente de seu tempo. Foi a primeira seleção a ter oficialmente um segundo uniforme, sem precisar de nenhuma improvisação. Até então, quando dois adversários tinham camisas de mesma cor, o costume era pedir camisas emprestadas de outras seleções ou de times locais que tivessem cores diferentes do adversário. Em uma emergência, também compravam camisas novas em cima da hora. Mas os tchecos inovaram. A camisa principal era toda vermelha e a reserva era toda branca – ambas contando com o brasão de armas do país. A camisa branca foi usada nos dois primeiros jogos, mas, contra os alemães, foi utilizado o fardamento vermelho.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.
Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.
● Foi um choque de estilos de jogo. Com um time formado por jogadores de apenas duas equipes – Sparta Praga e Slavia Praga – a Tchecoslováquia tinha melhor entrosamento e uma técnica mais apurada, enquanto os alemães apostaram na obediência tática e na força física.
Taticamente, a Alemanha era a seleção mais avançada da competição. Era a única que jogava no sistema W-M. Todas as outras ainda atuavam no sistema “clássico”, com dois zagueiros de área, três médios e cinco atacantes. No W-M, o centromédio era recuado para uma linha de três zagueiros e dois atacantes jogavam um pouco mais recuados para armar as jogadas como meias. Com isso, formava-se um quadrado no meio de campo, com os dois médios restantes e os dois meias – numa espécie de 3-2-2-3, que, visto de cima, pareciam as letras W e M. Essa inovação tática se tornaria padrão no Mundial seguinte, em 1938, mas a Alemanha já era vanguardeira em 1934.
Mas a ousadia tática dos alemães foi deveras prejudicada por dois sensíveis desfalques. O meia-atacante Karl Hohmann estava lesionado. Mas a ausência do médio Rudolf Gramlich foi mais inusitada.
Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia nas quartas de final, Gramlich recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava como curtidor, em Frankfurt, tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.
A ausência de ambos desmontou o sistema de jogo alemão, o W-M ficou sem dois de seus mais importantes artífices e o time ficou um pouco perdido em campo.
Assim, prevaleceu o jogo mais técnico e metódico dos tchecos. Eles se sobressaíram no meio de campo, conseguiram controlar o jogo com seu estilo mais refinado: com toques curtos, de pé em pé, evoluindo lentamente, mas com muita eficiência.
(Imagem: Impromptuinc)
A Tchecoslováquia justificou a superioridade e mereceu abrir o placar ainda na etapa inicial. Nejedlý fez o primeiro gol aos 19′.
No segundo tempo, a Alemanha reagiu e buscou o empate aos 17′, quando František Plánička não conseguiu segurar um chute fraco de Rudolf Noack.
Com o empate, muitos pensaram que os alemães tinham o aspecto psicológico a seu favor. Mas foi justamente o contrário. O gol germânico acordou a equipe eslava, que soube aproveitar seu potencial ofensivo para marcar mais duas vezes.
A Alemanha não conseguiu resistir ao forte adversário e o goleiro Willibald Kreß falhou em dois gols, soltando bolas fáceis nos pés do artilheiro tcheco. Oldřich Nejedlý estava impossível e completou seu “hat trick”, marcando aos 26′ e aos 35′.
O goleiro Kreß teve uma jornada infeliz (Imagem: Impromptuinc)
● Essa acabou por ser a primeira derrota dos alemães na história das Copas. Quatro dias depois, a Alemanha conquistou o 3º lugar ao bater a arquirrival e vizinha Áustria por 3 x 2.
Apesar de não constar em nenhuma das relações dos prováveis candidatos ao título, a Tchecoslováquia chegou na decisão da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história.
Na final, a Tchecoslováquia perdeu para a anfitriã Itália por 2 a 1 e ficou com o vice-campeonato. Um resultado muito digno e merecido para os tchecos.
● FICHA TÉCNICA: |
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TCHECOSLOVÁQUIA 3 X 1 ALEMANHA |
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Data: 03/06/1934 Horário: 16h30 locais Estádio: Stadio Nazionale PNF Público: 15.000 Cidade: Roma (Itália) Árbitro: Rinaldo Barlassina (Itália) |
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TCHECOSLOVÁQUIA (2-3-5): |
ALEMANHA (W-M): |
František Plánička (G)(C) |
Willibald Kreß (G) |
Jaroslav Burgr |
Willy Busch |
Josef Čtyřoký |
Sigmund Haringer |
Josef Košťálek |
Paul Zielinski |
Štefan Čambal |
Fritz Szepan (C) |
Rudolf Krčil |
Jakob Bender |
František Junek |
Ernst Lehner |
František Svoboda |
Otto Siffling |
Jiří Sobotka |
Edmund Conen |
Oldřich Nejedlý |
Rudolf Noack |
Antonín Puč |
Stanislaus Kobierski |
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Técnico: Karel Petrů |
Técnico: Otto Nerz |
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SUPLENTES: |
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Ehrenfried Patzel (G) |
Hans Jakob (G) |
Ladislav Ženíšek |
Fritz Buchloh (G) |
Ferdinand Daučík |
Hans Schwartz |
Jaroslav Bouček |
Reinhold Münzenberg |
Vlastimil Kopecký |
Ernst Albrecht |
Adolf Šimperský |
Rudolf Gramlich |
Erich Srbek |
Josef Streb |
František Šterc |
Paul Janes |
Antonín Vodička |
Franz Dienert |
Géza Kalocsay |
Matthias Heidemann |
Josef Silný |
Karl Hohmann |
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GOLS: |
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21′ Oldřich Nejedlý (TCH) |
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62′ Rudolf Noack (ALE) |
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69′ Oldřich Nejedlý (TCH) |
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80′ Oldřich Nejedlý (TCH) |
Imagens da partida: