Três pontos sobre…
… 09/06/2006 – Alemanha 4 x 2 Costa Rica
A belíssima Allianz Arena, em Munique, foi inaugurada em maio de 2005, especialmente para abrigar jogos da Copa do Mundo de 2006, inclusive a abertura oficial da competição (Imagem: Foto-net / FIFA)
● Essa partida era o início do sonho alemão de repetir 1974 e conquistar a Copa do Mundo em casa. E Munique era o lugar certo para o jogo inaugural. Foi lá que Franz Beckenbauer tinha erguido a taça do mundo pela Alemanha Ocidental 32 anos antes.
O time treinado por Jürgen Klinsmann não suscitava grandes expectativas (leia mais abaixo). Os alemães vinham de resultados ruins. Caíram na primeira fase da Eurocopa de 2004 quando ainda era comandada por Rudi Völler. Depois, já dirigida por Klinsmann, tinha sido goleada pela Itália por 4 x 1 em um amistoso. Se já não bastasse tudo isso, Michael Ballack, o craque do time, estava lesionado e era dúvida para a competição – era certo que não jogaria na estreia.
A Costa Rica tinha uma equipe muito limitada. Mas apostava na famosa zebra que historicamente costumava aparecer no primeiro jogo dos Mundiais. Mas dessa vez, a seleção caribenha tinha chances mínimas de surpreender.
A Alemanha atuou no 4-4-2. As jogadas fluíam bem no meio de campo, com a qualidade de Schneider, Frings, Borowski e Schweinsteiger, apoiados pelas constantes subidas de Lahm ao ataque.
O brasileiro naturalizado costarriquenho Alexandre Guimarães armou sua seleção no defensivo sistema 5-3-2, contando com as escapadas dos experientes atacantes Ronald Gómez e Paulo Wanchope.
● E as duas seleções contrariaram o histórico das partidas de abertura das Copas do Mundo, que geralmente têm placares econômicos.
A partida começou sem a típica cautela das estreias e com os donos da casa marcando pressão e criando diversas chances de gol a todo momento.
Com o apoio da torcida e os jogadores ligados, a Alemanha imprimiu um ritmo alucinante na partida.
Com apenas seis minutos, o placar foi aberto. Atuando na esquerda, o jovem lateral Philipp Lahm pegou a sobra da defesa, avançou pelo meio passando por dois adversários e chutou no ângulo.
Mas a vantagem que o ataque alemão produzia, a defesa ajudava a desfazer com erros de posicionamento. Aos 12′, a zaga falhou. Rónald Gómez lançou para Paulo Wanchope, que ficou cara a cara com o goleiro Lehmann e tocou no canto direito. Tudo igual no marcador.
Mas a pressão dos locais continuou e foi premiada cinco minutos depois. Bernd Schneider tentou a jogada pela direita e passou para Schweinsteiger, na área. O meia driblou um zagueiro e chutou cruzado. Miroslav Klose apareceu no meio do caminho e mandou para as redes. Festa e presente de aniversário para o camisa 11, que comemorava seus 28 anos naquele mesmo dia.
O ritmo foi menos intenso até os 16′ do segundo tempo, quando Lahm cruzou da esquerda, a zaga desviou mal e a bola ficou para Klose cabecear. O goleiro Porras salvou, mas o próprio atacante estava lá para aproveitar a sobra e fazer o gol.
Mas a defesa deu mole de novo para Wanchope aos 28′. Centeno tabelou com Gómez e deixou o camisa 9 na cara do gol, livre para tocar na saída de Lehmann. Os alemães pediram impedimento, em vão.
O placar se mexeu pela última vez aos 42′. Em uma falta na intermediária, Schweinsteiger rolou para Frings chutar de primeira no ângulo. Um verdadeiro golaço!
O jovem Philipp Lahm comemora o primeiro gol do torneio (Imagem: Kai Pfaffenbach / Reuters)
● A vitória memorável por 4 a 2, logo na abertura, é mais do que a Alemanha podia esperar e era um alerta aos futuros adversários, demonstrando a força da anfitriã.
Nas ruas, os torcedores foram à loucura. O desempenho alemão confundiu os críticos e deu um tom ao torneio. A febre da Copa do Mundo começava a contaminar todo o país.
Na segunda partida, o gol da vitória (1 x 0) da Alemanha sobre a rival Polônia foi arrancado aos 46 minutos do segundo tempo. No terceiro jogo, completou os 100% de aproveitamento ao atropelar o Equador por 3 a 0. Nas oitavas de final, ganhou tranquilamente da Suécia por 2 a 0. Nas quartas, uma verdadeira batalha no clássico contra a Argentina: após empate por 1 a 1, venceu nos pênaltis por 4 a 2, com uma grande confusão no final. Nas semifinais, perdeu para a Itália por 2 a 0, com gols nos dois últimos minutos da prorrogação. Na decisão do 3º lugar, venceu Portugal por 3 a 1 e saiu de cabeça erguida.
A Costa Rica foi a lanterna do grupo A, com três derrotas. Perdeu por 4 a 2 para a Alemanha, 3 a 0 para o Equador e 2 a 1 para a Polônia.
Paulo Wanchope deu trabalho para a defesa alemã (Imagem: Bongarts / Getty Images / Daily Mail)
● Pela sua importância naquela seleção da Alemanha, o técnico Jürgen Klinsmann merece um espaço a parte. E quem melhor escreveu sobre o tema foram Axel Torres e André Schön, no livro “Gol da Alemanha” (2016):
“Klinsmann [como técnico] não funcionou, mas é o símbolo da mudança. […] Fez todos entenderem que era preciso mudar, que era preciso procurar outra mentalidade.”
“Circulavam boatos pela internet de que o trabalho [em 2006] não fora de Klinsmann, mas daquele que seria seu sucessor, Joachim Löw. A tarefa de Klinsmann, diziam, consistia unicamente em motivar o time. Essas pessoas esqueciam o trabalho – sutil, porém colossal – que significava mudar tudo. Klinsmann desafiou o sistema e o ‘establishment’ do futebol alemão.”
“Ele morava na Califórnia… e apostava em um futebol ofensivo, confiando o futuro do país a garotos jovens; não era pragmático e dava pouca importância a valores tradicionais como a experiência, o trabalho e a ordem defensiva acima de tudo.”
“Quando o árbitro apitou o início de Alemanha x Costa Rica, jogo de abertura da Copa, a pressão sobre Klinsmann era máxima. […] O que aconteceu naquele jogo diante da seleção caribenha é digno de estudo. Nunca uma goleada tão previsível pela diferença de nível entre as duas seleções teve um impacto tão revolucionário. Jamais uma resultado tão normal ‘para quem era de fora’ mudou tanto a percepção das pessoas.”
“Dois meses antes do início da Copa, Klinsmann reuniu-se com [o goleiro Oliver] Kahn em um hotel […] para anunciar que ele seria convocado como reserva. Os jornais do dia seguinte publicaram a história e trataram-na quase como um sacrilégio. […] Mexer com uma ‘entidade’ como Kahn era inédito, mas Klinsmann bancou o risco. Inesperadamente e contra todos os prognósticos, seu time só parou aos catorze minutos do segundo tempo da prorrogação na semifinal contra a Itália, com um golaço do lateral esquerdo Fabio Grosso [e outro belo gol e Alessandro Del Piero, marcado em contra-ataque no último lance da partida].”
“Depois disso, a Alemanha não apenas fez as pazes com Jürgen Klinsmann, como o santificou. Na manhã seguinte àquela honrosa derrota, todo o país queria que ele continuasse no cargo. Até o ‘Bild’ elogiou. Mas Klinsmann deu por terminado seu ciclo na seleção, deixando toda a Alemanha com lágrimas nos olhos.”
Jürgen Klinsmann foi importantíssimo para quebra de paradigmas de um país conhecido pela sua rigidez nas tradições (Imagem: AFP)
● FICHA TÉCNICA: |
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ALEMANHA 4 x 2 COSTA RICA |
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Data: 09/06/2006 Horário: 18h00 locais Estádio: Allianz Arena Público: 66.000 Cidade: Munique (Alemanha) Árbitro: Horacio Elizondo (Argentina) |
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ALEMANHA (4-4-2): |
COSTA RICA (5-3-2): |
1 Jens Lehmann (G) |
18 José Porras (G) |
3 Arne Friedrich |
5 Gilberto Martínez |
17 Per Mertesacker |
4 Michael Umaña |
21 Christoph Metzelder |
20 Douglas Sequeira |
16 Philipp Lahm |
3 Luis Marín |
19 Bernd Schneider (C) |
12 Leonardo González |
8 Torsten Frings |
6 Danny Fonseca |
18 Tim Borowski |
10 Walter Centeno |
7 Bastian Schweinsteiger |
8 Mauricio Solís |
20 Lukas Podolski |
11 Rónald Gómez |
11 Miroslav Klose |
9 Paulo Wanchope |
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Técnico: Jürgen Klinsmann |
Técnico: Alexandre Guimarães |
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SUPLENTES: |
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12 Oliver Kahn (G) |
1 Álvaro Mesén (G) |
23 Timo Hildebrand (G) |
23 Wardy Alfaro (G) |
4 Robert Huth |
2 Jervis Drummond |
6 Jens Nowotny |
17 Gabriel Badilla |
2 Marcell Jansen |
22 Michael Rodríguez |
5 Sebastian Kehl |
15 Harold Wallace |
15 Thomas Hitzlsperger |
14 Randall Azofeifa |
13 Michael Ballack |
16 Carlos Hernández |
22 David Odonkor |
7 Christian Bolaños |
14 Gerald Asamoah |
13 Kurt Bernard |
10 Oliver Neuville |
21 Víctor Núñez |
9 Mike Hanke |
19 Álvaro Saborío |
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GOLS: |
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6′ Philipp Lahm (ALE) |
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12′ Paulo Wanchope (COS) |
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17′ Miroslav Klose (ALE) |
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61′ Miroslav Klose (ALE) |
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73′ Paulo Wanchope (COS) |
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87′ Torsten Frings (ALE) |
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CARTÃO AMARELO: 30′ Danny Fonseca (COS) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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66′ Gilberto Martínez (COS) ↓ |
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Jervis Drummond (COS) ↑ |
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72′ Tim Borowski (ALE) ↓ |
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Sebastian Kehl (ALE) ↑ |
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78′ Mauricio Solís (COS) ↓ |
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Christian Bolaños (COS) ↑ |
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79′ Miroslav Klose (ALE) ↓ |
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Oliver Neuville (ALE) ↑ |
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90+1′ Bernd Schneider (ALE) ↓ |
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David Odonkor (ALE) ↑ |
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90+1′ Rónald Gómez (COS) ↓ |
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Randall Azofeifa (COS) ↑ |
Philipp Lahm puxa a bola para o meio, de onde sairia o chute que inaugurou as redes da Copa da 2006 (Imagem: Coub)
Gols da partida:
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