Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: “Alegria do Povo”
(Imagem: Globo Esporte)
● Nascido Manoel dos Santos em 28/10/1933, sua irmã Rosa lhe deu o apelido de Garrincha aos quatro anos, por ser pequeno como um pássaro muito comum na região em que nasceu, Pau Grande, distrito da cidade de Magé (RJ). Quando adolescente, como quase todos na cidade, trabalhou na tecelagem América Fabril. Lá, começou a assinar “Manuel Francisco dos Santos” depois que o chefe da seção da fábrica acrescentou o “Francisco” (nome de seu pai) em sua ficha para evitar confusões com outros “Manuéis”. Ele trabalhava na fábrica quando foi convidado para treinar no Botafogo, em 1952, mas só apareceu um ano depois para fazer o teste. Justificou: “Sabe como é?! Quem trabalha em fábrica não pode sair a qualquer hora, não. O patrão manda a gente embora”. Sua perna direita era seis centímetros mais curta que a esquerda e ambas as pernas eram arqueadas para o lado esquerdo. Na biografia escrita pelo jornalista Ruy Castro, “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, de 1995, ele afirma que o menino já nasceu com essa deficiência. Em outras versões, as pernas tortas seriam resultado de uma poliomielite. Já era um milagre que andasse; jogar futebol, ainda mais com a mágica nos pés, era mais milagre ainda.
Se casou com a namorada de infância, Nair, e teve oito filhas. Se separou da primeira esposa e se casou com a cantora Elza Soares, atraindo a fúria do povo carioca, que ofendia a artista e atirava ovos e tomates em sua casa; era acusada de ter acabado com o casamento de Garrincha. Os amigos de Mané nunca aceitaram Elza. Ficaram juntos de 1968 a 1977. Antes, com uma amante chamada Iraci, Garrincha teve uma filha e um filho que também se tornou jogador de futebol, chamado Neném, que faleceu em Portugal aos 28 anos, em acidente automobilístico. Da mesma forma também morreu seu filho com Elza, Garrinchinha. O único filho homem vivo, foi concebido em 1959, em uma excursão do Botafogo à cidade sueca de Umeå. Ulf Lindberg não conheceu o pai e sofre de uma grave doença óssea, que o impede de praticar atividades físicas. Hoje, vive em Halmstad (Suécia). Também teve uma menina com a última mulher, Vanderleia (viúva do ponta vascaíno Jorginho Carvoeiro).
● Aos 14 anos já era amador, jogando no EC Pau Grande. Aos 19 passou rapidamente pela base do Serrano FC. Antes do início da carreira, foi levado para fazer um teste no Vasco, mas não o deixaram treinar porque não tinha levado as chuteiras. Portariormente, foi descoberto pelo ex-zagueiro Araty e levado para fazer um teste no Borafogo. No momento em que faria o primeiro teste no Botafogo, ainda no vestiário, o técnico Gentil Cardoso disse: “Neste time aparece de tudo. Até aleijado”. No segundo treino foi enfrentar a fera Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”. Após meia dúzia de dribles desconcertantes, Nilton apelou e pediu que o contratassem, pois nunca mais queria enfrentá-lo. Jogou no Botafogo de 1953 a 1965, em 614 partidas e 245 gols. Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1962 e 1964; da Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo em 1961; do Campeonato Carioca em 1957, 1961 e 1962; do Torneio Início do Carioca 1961, 1962 e 1963; além de outros nove torneios amistosos internacionais. Já em fim de carreira, fez um amistoso pelo Vasco, contra a Seleção de Cordeiro, e foi jogar no Corinthians em 1966, sem o mesmo sucesso. Venceu apenas o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (empatado com outros três clubes) e torneio amistoso da Copa Cidade de Turim do mesmo ano. Passou pela Portuguesa (RJ, em 1967), Fortaleza (1968), Atlético Júnior (de Barranquilha, Colômbia, em 1968), Flamengo (1968-1969), Red Star Paris (França, 1971-1972) e encerrou a carreira profissional no Olaria, em 1972. Emtre 1969 e 1971, cumpriu pena em liberdade, considerado culpado por homocídio culposo pela morte da mãe de Elza Soares, em um acidente com o automóvel que ele dirigia. Garrincha participou também de diversos amistosos pelo Brasil e pelo exterior, pelo time do Milionários (formado por veteranos com carreiras já encerradas), o time da AGAP-RJ (Associação de Garantia ao Atleta Profissional do Estado do Rio de Janeiro) e diversas equipes amadoras da Itália e clubes de menor expressão do interior do Brasil.
Pela Seleção Carioca, jogou 9 vezes entre 1955 e 1962 e fez 7 gols. Fez parte da seleção brasileira entre 1957 a 1966, jogando 60 partidas (52 vitórias e sete empates) e marcando 17 gols (oficiais: 50 jogos e 12 gols). Disputou três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1966) e fez cinco gols pela competição. Foi fundamental títulos de 1958 e 1962. Pelo escrete nacional, possui também os seguintes títulos: Copa Roca: 1960; Taça Bernardo O’Higgins em 1955, 1959 e 1961; e Taça Oswaldo Cruz em 1958, 1961 e 1962. Em 19/12/1973, no Maracanã com 131 mil expectadores, fez sua despedida do futebol em um amistoso entre a Seleção Brasileira e a Seleção da FIFA (composta majoritariamente por argentinos e uruguaios). Foi eleito para a seleção das Copas do Mundo de 1958 e 1962, sendo o melhor jogador em 1962. Em 1998, em votação de 250 jornalistas do mundo todo, Garrincha foi escalado pela FIFA na seleção de todos os tempos. Em qualquer lista que se faça dos melhores, seu nome sempre está. Ficou na história o seu estilo de jogo arrojado, com dribles bastante abusados, alta velocidade, cruzamentos e chutes certeiros. Fez quatro gols olímpicos na carreira.
● Na capital Brasília, o Anjo das Pernas Tortas dá nome ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Em 2010, o artista plástico Edgar Duviver produziu uma estátua de Garrincha, medindo quatro metros e meio e 300 kg, com o custo de R$ 56.000,00, custeados entre torcedores do Botafogo. Esse monumento está colocado em frente ao Estádio Olímpico Nilton Santos (também chamado João Havelange, mais conhecido como Engenhão), onde o Glorioso manda seus jogos. Foi homenageado por diversos artistas, como Vinícius de Moraes com o poema “O Anjo de Pernas Tortas” e com a música “Balada Número 7”, composta por Alberto Luiz e gravada por Moacyr Franco. Foi tema dos filmes: “Garrincha, Alegria do Povo” (1962, documentário de Joaquim Pedro de Andrade); Mané Garrincha (1978, documentário curta-metragem de Fábio Barreto); “Pelé e Garrincha, Deuses do Brasil” (2002, documentário da BBC); “Garrincha – Estrela Solitária” (2003, baseado no livro de Ruy Castro “Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha”, em que foi vivido por Rodrigo Santoro e teve Taís Araújo como Elza Soares). Garrincha participou como ator convidado do filme “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro” (1980). Faleceu aos 49 anos, em 20/01/1983, vítima de cirrose hepática, por ter ingerido bastante bebida alcoólica por toda a vida, assim como seu pai. Quem pagou por seu enterro foi o cantor Agnaldo Timóteo. Em seu velório, em cima do caixão, pairava a bandeira do seu Botafogo. Em sua lápide está escrito: “Aqui jaz em paz aquele que foi a Alegria do Povo – Mané Garrincha.”
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