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… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”

Três pontos sobre…
… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”


(Imagem localizada no Google)

● Luigi Riva nasceu em 07/11/1944, no vilarejo de Leggiuno, na província de Varese, localizado na região da Lombardia, norte da Itália. Foi concebido em uma família humilde. Sua mãe, Edis, era dona de casa e seu pai, Ugo, foi cabeleireiro e alfaiate. O menino perdeu o pai aos nove anos, em um acidente de trabalho em uma fábrica, quando um pedaço de metal se soltou de uma máquina e perfurou sua barriga. Sua mãe passou a trabalhar na indústria têxtil e complementava seus ganhos como faxineira. Luigi foi enviado para o colégio interno, mas sempre fugia dizendo que os pobres eram humilhados na instituição. Sua mãe morreu quando ele tinha 16 anos. Teve que cuidar sozinho das duas irmãs mais novas. Esse fato lhe acendeu a vontade, ou melhor, a necessidade de vencer: o salário de eletricista não bastava e ele complementava jogando pelo Laveno Mombello (1960-1962), uma equipe amadora, ganhando 3 dólares por partida, desde que vencesse o jogo. Apesar de seus esforços, uma das irmãs faleceu de leucemia e a outra ficou paralítica após um acidente automobilístico. Gigi nunca deixou transparecer seus problemas pessoais e, pela sua introspecção, ganhou também o apelido de “Homem do Lago”, já que também gostava de pescar às margens do Lago Maggiore.

Só pôde se dedicar exclusivamente ao esporte na temporada de 1962/63, quando foi aceito no time do Legnano, equipe profissional da Serie C1. Na temporada seguinte, foi contratado pelo Cagliari, que jogava a Serie B, por 37 milhões de liras. Mesmo com saudade de casa, pois na época Riva tinha ainda apenas 19 anos de idade, permaneceu no Cagliari porque sabia que ali seria o seu lugar. Fez sua estreia no time em uma derrota por 1 x 2 para a Roma, em 13/09/1964 e logo em sua primeira temporada, a equipe consegue o acesso para a Serie A pela primeira vez em sua história. No primeiro ano na elite, em 1964/65, conseguiu um honroso 6º lugar, com 9 gols de Riva. Imediatamente passou a fazer parte da seleção.

Na temporada 1966/67 marcou incríveis 18 gols em 23 jogos, levando o time novamente à 6ª colocação, a apenas 9 pontos da campeã Juventus.

Em 1967/68, solidificou sua posição na seleção e venceu a Euro68. No ano seguinte, foi novamente o goleador e levou seu time ao vice-campeonato. Recebeu uma proposta da Internazionale, que pagaria US$ 2 milhões e ainda financiaria a construção de um moderno hospital na cidade, para esfriar uma eventual fúria da torcida. A recusa da proposta foi explicada por um dirigente: “até agora, só o atum nos deu fama. Com Riva, a Sardenha tem a admiração de toda a Itália”. Gigi Riva não teria outra forma melhor de retribuir o carinho. Na temporada seguinte à oferta, foi novamente o artilheiro e levou o Cagliari ao título da Serie A 1969/70. Mesmo com o Scudetto, novamente fraturou a perna e mesmo assim teve moral o suficiente para ser chamado para a Copa do Mundo de 1970.

Na UEFA Champions League de 1970/71, Riva marcou 3 gols nas 4 partidas do time. Após eliminar o Saint-Étienne, caiu frente ao Atlético de Madrid na fase seguinte.
Nos anos seguintes, o Cagliari continuou em boas posições no campeonato. Em 1973, Riva recusou nova proposta de um gigante, dessa vez da Juventus.

Mas em 1976 ele sofreu a lesão que abreviaria sua carreira, ao machucar o tendão direito. Infelizmente, o Cagliari não conseguiu se virar sem seu craque e foi lanterna e rebaixado na Serie A de 1975/76. Riva ficou dois anos sem jogar até assumir que não poderia voltar e anunciou o fim da carreira. O corpo arrebentado por lesões o obrigou a encerrar a carreira com apenas 32 anos, com o saldo de 156 gols marcados em 289 partidas disputadas na Serie A, um enorme feito na época de grandes retrancas do país (“Cattenaccio”). Após encerrar a carreira, continuou morando em Cagliari, inclusive fundando uma escolinha de futebol com o seu nome, em 1976 (primeira escolinha de futebol na Sardenha). Foi presidente do clube em 1986/87 e foi dirigente da Federação Italiana de 1990 a 2013. Em 05/01/2005, o Cagliari aposentou a camisa nº 11 em sua homenagem. Foi laureado como cidadão honorário da cidade em 09/02/2005. O cantor e compositor Piero Marras, de Nuoro, na Sardenha, lhe dedicou a canção “Quando Gigi Riva tornerà” (Quando Gigi Riva retornará).

● Estreou na seleção em 27/06/1965, em amistoso contra a Hungria, perdendo por 2 a 1, logo após sua primeira temporada na Serie A, sendo o primeiro jogador de sua equipe a defender a seleção. Poderia ter jogado a Copa do Mundo de 1966, ainda mais porque um grande concorrente não poderia ser convocado. José João Altafini (o brasileiro Mazzola, campeão do mundo em 1958) não poderia mais defender a Squadra Azzurra, pois a FIFA passou a proibir estrangeiros que já tivessem atuado pelo seu país de origem. Mas uma fratura na perna e, principalmente, a inexperiência impediu Riva de ser convocado. Foi para a Inglaterra apenas como um jogador extra, para completar o time em treinamentos. Nos treinos, voava baixo, deixando o técnico Edmondo Fabbri bastante arrependido por não tê-lo inscrito na competição.

“Prefiro não saber porque Fabbri não me chamou. Por outro lado, eu me esforçava para valer nos rachões, que era a única maneira que eu tinha para extravasar. Eu marcava um gol atrás do outro. Estava em plena forma e furioso!” — Gigi Riva

Foi um dos heróis do título da Itália na Eurocopa de 1968, jogando apenas o replay da final contra a Iugoslávia, mas marcando o gol que abriu o placar e encaminhou o título italiano. Foi escolhido para a seleção do torneio, mesmo tendo disputado apenas uma partida.

Nas eliminatórias, marcou 7 dos 10 gols que garantiram a Azzurra na Copa de 1970. No torneio, passou toda a primeira fase sem marcar, mas fez 2 mas quartas de final, contra os anfitriões mexicanos, na virada por 4 x 1. Faria outro gol no 4 x 3 da lendária prorrogação na semifinal, contra a Alemanha Ocidental. Na final contra o Brasil, Riva desdenhou do adversário, dizendo que iria acabar com as pretensões da “ridícula Seleção Brasileira”. Mesmo com a goleada sofrida por 4 a 1, enquanto os colegas de equipe demonstravam claro esgotamento, Riva foi um dos poucos italianos a lutar até o fim da partida, mas nada pôde fazer. Mesmo com a condição física já prejudicada, ainda se despediu de sua seleção disputando a Copa de 1974, mas não marcou nenhum gol e a Itália caiu ainda na primeira fase.

É considerado um dos melhores jogadores da história da Itália, sendo um atacante completo, oportunista e com faro de gol. Era muito bom na conclusão das jogadas. Começou jogando como ponta esquerda, mas posteriormente foi adiantado para ser centroavante, se destacando mais. Por sua velocidade, potência e precisão na frente do gol, o jornalista Gianni Brera o apelidou de “Rombo di Tuono” (Estouro do Trovão). Chutava preferencialmente com a perna esquerda e tinha um chute muito forte e preciso. Segundo o técnico Manlio Scopigno, campeão com o Cagliari em 1970, “o pé direito de Gigi Riva só servia para entrar no bonde”. Mas ele provou que também era capaz de marcar gols com o pé direito e de cabeça, devido à sua presença física e bom posicionamento. Apesar de ser forte, tinha muita habilidade, drible e bom passe. Também era muito veloz, se destacando com grandes arrancadas a gol. Era um excelente cobrador de pênaltis.

Na eleição da Bola de Ouro da revista France Football, Gigi Riva foi o 13º em 1967, 6º em 1968 e em 1969, foi o segundo melhor jogador do ano, perdendo para Gianni Rivera por apelas 4 pontos. Em 1970, foi o terceiro melhor, atrás de Gerd Müller e Bobby Moore.

VEJA MAIS:
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Feitos e premiações de Gigi Riva:

– Campeão da Serie A da temporada 1969/70 com o Cagliari.
– Campeão da Eurocopa de 1968 com a Itália.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1970 pela Itália.
– Artilheiro da Serie A por três vezes: 1966/67 (18 gols), 1968/69 (20 gols) e 1969/70 (21 gols).
– Artilheiro da Coppa Italia também por três vezes: 1964/65 (3 gols), 1968/69 (9 gols) e 1972/73 (8 gols).
– Maior artilheiro da história da Squadra Azzurra com 35 gols em 42 jogos (média de 0,8 gols por partida).
– Um dos seis jogadores a marcar 4 gols no mesmo jogo pela seleção italiana.
– Maior Artilheiro da História do Cagliari: 164 gols em 315 jogos (na Serie A) e 213 gols em 392 jogos (no total).
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1968.
– Eleito o 33º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 24º Maior Jogador do Século XX pelo Guerín Sportivo em 1999.
– Eleito o 74º Melhor Jogador do Século XX pela revista World Soccer.
– Eleito o 43º Melhor Jogador Europeu do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 8º Melhor Jogador Italiano do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 87º Melhor Jogador da História das Copas pela revista Placar em 2006.
– Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Desde 2005 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Em 2011 entrou para o Hall da Fama do futebol italiano, sendo o primeiro homenageado como “veterano”.
– Eleito para o Hall da Fama dos esportes na Itália em 2015.
– Foi nomeado duas vezes como “Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana”, por iniciativa dos respectivos presidentes da Itália, em 30/09/1991 e 12/07/2000.
– Ganhou também a homenagem do Comitê Olímpico Italiano, de “Estrela de Ouro do Mérito Esportivo”, em 23/10/2006, por ser dirigente da seleção durante o título da Copa do Mundo de 2006.
– Em 03/11/2016, em Roma, ganhou a “Medalha de Ouro do Mérito Esportivo”.

“Não entro em campo para outra coisa que não seja marcar meus gols. Prefiro jogar mal e marcar do que jogar apenas muito bem.” — Gigi Riva