Três pontos sobre…
… 05/06/1938 – Itália 2 x 1 Noruega
(Imagem: Youtube)
● Campeã em 1934, a Itália vinha bastante renovada e ainda melhor do que quatro anos antes. A dupla de zaga, Foni e Rava era mais jovem e mais segura que a anterior (Allemandi e Monzeglio). Na posição de centromédio, o truculento Luisito Monti deu lugar a outro oriundi, o uruguaio Michele Andreolo, mais técnico e mais criativo. O ataque estava melhor e mais móvel com Silvio Piola, um centroavante de muita mobilidade, capaz de criar e concluir as jogadas. Só dois jogadores da Copa anterior permaneceram no time titular: o agora capitão Giuseppe Meazza e o atacante Giovanni Ferrari.
Os italianos contavam com o mesmo “incentivador” de 1934: o ditador fascista Benito Mussolini. Mas como a Copa agora não era em seu território, “Il Duce” não pôde pressionar FIFA e arbitragem como quatro anos antes. Mas nem precisava, pois a Itália tinha a melhor seleção do mundo.
Um dos motivos para isso era a continuidade do técnico Vittorio Pozzo. Uma das suas principais virtudes era saber explorar a natural autoconfiança dos italianos para formar uma seleção forte.
(Imagem: Youtube)
● A Squadra Azzurra parecia imbatível e não perdia há quase três anos. Em 1935, enfrentou o Wunderteam da Áustria em Viena e venceu por 2 x 0, com dois gols de Silvio Piola – que acabaria se tornando um dos atacantes mais letais de seu tempo. Chegou embalada ao Mundial, com duas goleadas nos últimos amistosos: 6 x 1 na Bélgica, no dia 15/05 em Milão, e 4 x 0 na Iugoslávia, em 22/05 na cidade de Gênova.
O primeiro obstáculo foi a Noruega, que tinha um time jovem, alto e forte.
Mesmo com uma mais qualificada, a Noruega sofreu para eliminar a Irlanda no Grupo 2 das eliminatórias. Na primeira partida, disputada em Oslo no dia 10/10/1937, vitória por 3 x 2. No jogo disputado em Dublin, em 07/11/1937, os nórdicos venciam por 3 x 1, mas cederam o empate e levaram um sufoco. Essa partida entrou para a história porque, pela primeira vez em uma competição da FIFA, os dois times usaram camisas numeradas – o que permitia aos torcedores e à imprensa a identificação imediata dos jogadores em campo. Mas essa novidade não seria utilizada na Copa de 1938.
(Imagem: Footforever.com)
● Aqui cabe um parêntese sobre a semifinal dos Jogos Olímpicos de 1936. No dia 10/08, italianos e noruegueses se enfrentaram para 90 mil pessoas no Estádio Olímpico de Berlim. A partida foi apitada pelo húngaro Paul von Hertzka. A Itália de Pozzo foi representada por uma seleção amadora. Apenas quatro de seus jogadores estariam presentes no Mundial dois anos depois (Alfredo Foni, Pietro Rava, Ugo Locatelli e Sergio Bertoni) e só dois seriam titulares na partida de abertura (Rava e Locatelli).
Do lado nórdico, o time era praticamente o mesmo. Devido ao amadorismo do futebol do país, o técnico Asbjørn Halvorsen pôde levar seu time principal para as Olimpíadas (que não aceitava profissionais à época). Doze dos 14 presentes em Berlim estariam entre os 22 que disputariam a Copa na França. Só houve três alterações no time titular: o médio direito Kristian Henriksen era reserva e ganhou a titularidade de Frithjof Ulleberg. O zagueiro Rolf Johannessen entrou na vaga de Jørgen Juve e o centroavante Knut Brynildsen substituiu Alf Martinsen.
Naquela partida, Alfonso Negro abriu o placar aos 15′, Arne Brustad empatou aos 58′ e Annibale Frossi fez o segundo tento italiano aos 6′ da prorrogação.
Na final, a Itália bateu a Áustria por 2 x 1. E a Noruega ficou com a honrada medalha de bronze ao vencer a Polônia por 3 x 2.
A Itália jogava em uma adaptação do sistema 2-3-5 chamada “Metodo”, que consistia no ligeiro recuo de dois atacantes, deixando o ataque em uma espécie de “W”, com dois meia-atacantes, dois pontas bem abertos e um centroavante.
A Nuruega atuava como praticamente todas as equipes da época, no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5.
● Valeu a pena der feito esse parêntese, porque a partida das oitavas de final da Copa do Mundo de 1938 teve praticamente o mesmo roteiro da que havia ocorrido 664 dias antes.
Dessa vez, a poderosa Squadra Azzurra vinha com seus renomados profissionais, liderada pela lenda Giuseppe Meazza.
E inaugurou o marcador logo na segunda volta do ponteiro, com Giovanni Ferrari.
Quando todos achavam que o jogo estava ganho, o bom ponta esquerda Arne Brustad empatou aos 38′ do segundo tempo e levou o jogo para a prorrogação.
A Azzurra passou à frente no início do tempo extra, logo aos quatro minutos. O ponta direita Pietro Pasinati chutou cruzado, rasteiro e forte. O goleiro Henry Johansen espalmou e Piola escorou para o gol.
Com um pouquinho de boa vontade, podemos dizer que o jogo de Marselha foi praticamente o replay de Berlim. Por uma incrível coincidência, o resultado se repetiu quase nos mesmos detalhes: a Itália abriu o placar no início do jogo, Brustad empatou para a Noruega no segundo tempo e a Itália venceu o jogo no início da prorrogação.
(Imagem: Keystone Franc /Gamma Keystone / Getty Images)
● A tão aguardada estreia dos campeões do mundo decepcionou os 19 mil presentes no estádio Vélodrome, em Marselha, que esperavam uma goleada. Juntou-se a essa decepção o fato de o time italiano ter feito a saudação fascista antes e depois da partida. Estava dado o sinal para a enorme vaia ouvida logo ao apito final.
A primeira fase do Mundial de 1938 foi marcada pelo equilíbrio. Das sete confrontos, cinco foram para a prorrogação (Itália 2 x 1 Noruega, Brasil 6 x 5 Polônia, Tchecoslováquia 3 x 0 Holanda, Alemanha 1 x 1 Suíça e Cuba 3 x 3 Romênia). Duas dessas partidas terminaram empatadas e foram necessários jogos extras.
Nas quartas de final, a Itália jogou toda de preto (cor do fascismo) e venceu a anfitriã França por 3 x 1. Nas semifinais, arbitragem foi conivente com os azuis e acabou com o sonho brasileiro, na polêmica vitória dos italianos por 2 x 1. Na decisão, derrotou a Hungria por 4 x 2 e, de forma incontestável, se se sagrou bicampeã do mundo.
(Imagem: AP)
● FICHA TÉCNICA: |
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ITÁLIA 2 x 1 NORUEGA |
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Data: 05/06/1938 Horário: 17h00 locais Estádio: Vélodrome Público: 19.000 Cidade: Marselha (França) Árbitro: Alois Beranek (Áustria / Alemanha) |
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ITÁLIA (2-3-5): |
NORUEGA (2-3-5): |
Aldo Olivieri (G) |
Henry Johansen (G) |
Eraldo Monzeglio |
Rolf Johannessen |
Pietro Rava |
Øivind Holmsen |
Pietro Serantoni |
Kristian Henriksen |
Michele Andreolo |
Nils Eriksen (C) |
Ugo Locatelli |
Rolf Holmberg |
Pietro Pasinati |
Odd Frantzen |
Giuseppe Meazza (C) |
Reidar Kvammen |
Silvio Piola |
Knut Brynildsen |
Giovanni Ferrari |
Magnar Isaksen |
Pietro Ferraris |
Arne Brustad |
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Técnico: Vittorio Pozzo |
Técnico: Asbjørn Halvorsen |
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SUPLENTES: |
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Guido Masetti (G) |
Anker Kihle (G) |
Carlo Ceresoli (G) |
Sverre Nordby (G) |
Alfredo Foni |
Roald Amundsen |
Bruno Chizzo |
Oddmund Andersen |
Aldo Donati |
Gunnar Andreassen |
Renato Olmi |
Sverre Hansen |
Mario Genta |
Frithjof Ulleberg |
Mario Perazzolo |
Jørgen Juve |
Sergio Bertoni |
Hjalmar Andresen |
Amedeo Biavati |
Arne Ileby |
Gino Colaussi |
Alf Martinsen |
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GOLS: |
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2′ Pietro Ferraris (ITA) |
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83′ Arne Brustad (NOR) |
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94′ Silvio Piola (ITA) |
Veja algumas imagens da partida:
Veja abaixo também a ficha técnica da partida válida pelas semifinais dos Jogos Olímpicos de 1936.
● FICHA TÉCNICA: |
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ITÁLIA 2 x 1 NORUEGA |
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Data: 10/08/1936 Horário: 17h00 locais Estádio: Olímpico Público: 95.000 Cidade: Berlim (Alemanha) Árbitro: Pál von Hertzka (Hungria) |
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ITÁLIA (2-3-5): |
NORUEGA (2-3-5): |
Bruno Venturini (G) |
Henry Johansen (G) |
Alfredo Foni (C) |
Nils Eriksen |
Pietro Rava |
Øivind Holmsen |
Giuseppe Baldo |
Frithjof Ulleberg |
Achille Piccini |
Jørgen Juve (C) |
Ugo Locatelli |
Rolf Holmberg |
Annibale Frossi |
Odd Frantzen |
Libero Marchini |
Reidar Kvammen |
Sergio Bertoni |
Alf Martinsen |
Carlo Biagi |
Magnar Isaksen |
Alfonso Negro |
Arne Brustad |
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Técnico: Vittorio Pozzo |
Técnico: Asbjørn Halvorsen |
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SUPLENTES: |
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Luigi Scarabello |
Fredrik Horn |
Giulio Cappelli |
Sverre Hansen |
Francesco Gabriotti |
Magdalon Monsen |
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GOLS: |
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15′ Alfonso Negro (ITA) |
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58′ Arne Brustad (NOR) |
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96′ Annibale Frossi (ITA) |