Três pontos sobre…
… Heleno de Freitas: gênio e louco
(Imagem localizada no Google)
● Heleno de Freitas nasceu em São João Nepomuceno (MG) em 12/02/1920. Advogado (formou-se pela Faculdade Nacional de Niterói em 1946), fã de jazz e literatura russa, boêmio e bon vivant, foi descoberto aos 15 anos por Neném Prancha, massagista do Botafogo, jogando na praia de Copacabana. Entre idas e vindas, Heleno começou no Botafogo em 1939, assinando seu primeiro contrato profissional em 02/04/1940. Dois anos depois, já era titular indiscutível e destaque por ser goleador, indisciplinado e polêmico. Era amado pela sua torcida e odiado pelas demais e pelos adversários em campo e vivia uma relação de amor e ódio com seus colegas de clube.
Galã e boa pinta, não suportava quando alguém o chamava pelo apelido que ganhou na metade dos anos 40: “Gilda”. O filme com esse mesmo nome foi produzido pela Columbia Pictures em 1946 e era estrelado pela atriz Rita Hayworth, que era uma personagem linda e com temperamento explosivo. Assim, quem quisesse irritar Heleno, era só gritar o apelido, mas ele logo respondia em gritos: “Gilda é a mãe!”
Suas estatísticas foram aumentando ano a ano, até atingir o ápice: 42 gols em 39 partidas pelo alvinegro, em 1946. Conforme seus números cresciam, sua soberba também, minando completamente o relacionamento com os companheiros. Assim, sem conquistar nenhum título e sem mais clima no clube, foi para o Boca Juniors (ARG) em 1948, na maior transferência envolvendo um clube brasileiro até então. Deixou o Glorioso com 204 gols em 233 jogos, uma média de 0,87. O único relato digno dessa passagem na Argentina é um possível envolvimento com Eva Perón, a Evita.
De volta ao Brasil, foi para o Vasco da Gama, conquistando o seu único Campeonato Carioca, em 1949. Mas, novamente após desentendimentos (dessa vez com o técnico cruzmaltino Flávio Costa), foi jogar no Junior de Barranquilla (COL), inspirando diversas crônicas de Gabriel García Márquez. De volta ao Brasil, jogou no Santos entre 1951 e 1952, indo jogar pelo América em 1953. Pelo Mecão, Heleno disputou apenas uma partida, sendo expulso com 25 minutos da etapa inicial, por ofensas a seus próprios companheiros de equipe. Heleno saiu sob vaias em seu único jogo no Maracanã e decidiu encerrar a carreira. Tempos depois, por indicação do técnico de basquete Kanela, tentou voltar a jogar pelo Flamengo, mas se desentendeu com os jogadores rubro-negros em um jogo treino, não foi aceito no clube e desistiu de vez.
● Continuando a vida desregrada, sua saúde mental foi completamente minada, com o vício em éter e lança-perfume, além de ter contraído sífilis. Certa vez, já ruim da cabeça, tentou se eletrocutar na rede elétrica de General Severiano, em um treinamento do Botafogo. Foi internado pela primeira vez em 1952, em uma clínica na Tijuca. A doença avançou e deixou o craque louco. A insanidade e o estado precário de sua saúde o levaram ao ser internado em definitivamente em 1953, com o apoio da família, em um um sanatório em Barbacena (MG), onde veio a óbito no dia 08/11/1959.
Sua vida foi retratada no livro “Nunca houve um homem como Heleno”, do jornalista e escritor Marcos Eduardo Neves. Em 2012 Rodrigo Santoro estrelou um filme chamado “Heleno”, que conta a fantástica e triste história do craque.
● Heleno não foi tão grande quanto poderia ter sido não só por sua forte personalidade. Em seu período pelo Botafogo, os gols de Heleno poderiam ter levado o clube a conquistar vários títulos cariocas, mas certamente era muito difícil concorrer com o Vasco e seu Expresso da Vitória, liderado por Ademir de Menezes.
Estreou pela seleção em 1944, mas seu auge coincidiu justamente com o período que as Copas do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas devido a 2ª Guerra Mundial. Se os torneios fossem realizados, certamente Heleno de Freitas seria um dos destaques do Brasil. Já em 1950 não foi convocado pelo técnico Flávio Costa, seu desafeto, também devido à passagem pelo futebol colombiano, que não era reconhecida pela FIFA e, portanto, não poderia ter jogadores selecionados para uma competição organizada por ela. Fez 18 partidas pela Seleção Brasileira marcando 19 gols, tendo sido artilheiro do Copa América de 1945, com 6 gols.
● Títulos de Heleno de Freitas:
Pela Seleção Brasileira:
– Copa Roca em 1945.
– Copa Rio Branco em 1947.
– Artilheiro da Copa América em 1945 com 6 gols.
Pelo Botafogo:
– Torneio Inicio do Campeonato Carioca em 1947.
– Campeonato Carioca de Aspirantes em 1944 e 1945.
– Campeonato Carioca de Amadores em 1944, 1943 e 1944.
– Copa Burgos (em 16/02/1941, com a vitória de 7 x 4 contra o España-MEX).
– Taça Prefeito Dr. Durval Neves da Rocha (em 15/01/1942, com a vitória de 3 x 1 contra o Bahia).
– Artilheiro do Campeonato Carioca de 1942 com 28 gols.
Pelo Vasco da Gama:
– Campeonato Carioca em 1949.
– Campeonato Carioca de Aspirantes em 1949.
Pelo Santos:
– Taça Santos em 1952.
– Torneio FPF em 1952.
– Quadrangular de Belo Horizonte em 1951.