Três pontos sobre… … 07/06/1970 – México 4 x 0 El Salvador
(Imagem: elsalvador.com)
● Essa partida foi um importante marco histórico. Foi o primeiro jogo entre duas seleções que não eram da Europa ou da América do Sul. Curiosamente, as duas do mesmo continente. Era reflexo de como as vagas eram distribuídas. Em 1970, das 16 equipes, nove eram da Europa, três da América do Sul, duas da América do Norte e Central (sendo uma a anfitriã), uma da Ásia e uma da África. Era o início da globalização do futebol.
O futebol mexicano não era totalmente profissional em 1970. Dos 22 jogador inscritos pelo México, havia nove que tinham outras profissões bem diferentes: um dentista, um economista, um advogado, um arquiteto, um administrador, um engenheiro químico, um filósofo, um artista ceramista e até mesmo um seminarista.
O técnico mexicano Raúl Cárdenas tinha experiência em Mundiais. Defendeu seu país como zagueiro nas Copas de 1954, 1958 e 1962.
Um dos atletas mexicanos convocados por Cárdenas foi o defensor José Vantolrá, filho de Martín Ventolrá, que jogou a Copa de 1934 pela Espanha. Esse é dos raros casos em que um pai atuou por uma seleção e o filho por outra. Os outros dois casos envolvem dissolução de países: Ilija Petković jogou pela Iugoslávia em 1974 e seu filho, Dušan Petković, foi convocado pela Sérvia e Montenegro em 2006 (acabou não ficando na delegação por desavenças); e Vladimír Weiss jogou pela Tchecoslováquia em 1990 e seu filho, de mesmo nome, atuou pela Eslováquia em 2010.
Jogando em casa, o México contava com a altitude, com clima seco e quente, para alimentar o sonho de passar de fase pela primeira vez em sua rica história em Copas. O empate sem gols na primeira partida contra a União Soviética foi um bom presságio.
El Salvador precisou até de uma guerra para disputar sua primeira Copa do Mundo. Mas o time era fraco. Chegava sem nenhuma expectativa. Na estreia, perdeu para a Bélgica por 3 x 0.
Ambas equipes atuavam no sistema tático 4-2-4.
● O jogo transcorreu normalmente até o fim do primeiro tempo, sem chances claras para nenhuma das duas equipe.
Mas um lance polêmico acabou por mudar a história da partida.
No último minuto do primeiro tempo, o árbitro egípcio Ali Kandil marcou uma falta próximo à linha lateral. Os salvadorenhos entenderam que a falta era a seu favor – o que realmente foi a impressão geral.
Mas o mexicano Aarón Padilla quis ser mais esperto e tocou a bola. O juiz deixou o jogo correr e o México seguiu com a bola. Javier Fragoso avançou e cruzou da esquerda, Padilla ajeitou e Javier Valdivia escorou para o gol.
Os jogadores de El Salvador nem se mexeram para impedir, esperando o apito do egípcio. Mas quando o gol foi confirmado, os salvadorenhos ficaram inconformados e cercaram o juiz, tirando a bola de campo e não deixando que o jogo recomeçasse.
Até que o capitão Salvador Mariona perdeu a paciência e deu um bico na bola para fora de campo. Para não se complicar ainda mais (como se fosse possível), o árbitro apitou logo o fim do primeiro tempo e se mandou para o vestiário.
(Imagem: Reprodução / FIFA)
A comissão técnica de El Salvador cogitou não voltar para o segundo tempo, mas a ideia não foi adiante.
Mas, psicologicamente abalados, os salvadorenhos foram presas fáceis na etapa final e a goleada foi uma consequência natural.
Logo no primeiro minuto, Fragoso rolou para Valdivia, perto da área. O camisa 19 girou em cima da marcação e chutou na saída do goleiro Raúl Magaña, anotando seu segundo gol na partida.
Aos 13′, após bola alta na área salvadorenha, López Salgado escorou de cabeça e Fragoso emendou de primeira. 3 a 0.
A sete minutos do fim, Valdivia, o melhor em campo, lançou e Basaguren tocou na saída do goleiro. Juan Ignacio Basaguren entrou para a história das Copas ao se tornar o primeiro jogador a marcar um gol depois de ter saído do banco.
(Imagem: Reprodução / FIFA)
● Em seu último jogo da primeira fase, El Salvador perdeu para a União Soviética por 2 x 0. “La Selecta Cuscatleca” (apelido da seleção salvadorenha) acabou sendo eliminada com três derrotas em três jogos, nenhum gol marcado e nove gols sofridos.
Na terceira partida, o México venceu a Bélgica por 1 x 0 no confronto direto (no maior público da Copa, com 108.192 expectadores) e se classificou em segundo lugar no Grupo 1. Nas oitavas de final, o México fez o que pôde, mas acabou sendo eliminado ao perder para a Itália por 4 x 1.
(Imagem: Pinterest)
● FICHA TÉCNICA:
MÉXICO 4 x 0 EL SALVADOR
Data: 07/06/1970
Horário: 12h00 locais
Estádio: Azteca
Público: 103.058
Cidade: Cidade do México (México)
Árbitro: Ali Kandil (República Árabe Unida, atual Egito)