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… 08/06/1986 – Dinamarca 6 x 1 Uruguai

Três pontos sobre…
… 08/06/1986 – Dinamarca 6 x 1 Uruguai


Elkjær, Laudrup e Andersen comemoram um dos gols (Imagem: Futebol Marketing)

● A Dinamarca já havia encantado o mundo dois anos antes durante a Eurocopa, quando chegou às semifinais e perdeu para a Espanha apenas nos pênaltis.

O técnico Sepp Piontek revolucionou, montando sua equipe no sistema 3-5-2. Era um tempo em que quase todos os times do mundo jogavam com quatro homens no meio e apenas dois atacantes. Se era necessário um zagueiro para marcar cada atacante e outro na sobra, então era desnecessária a escalação do quarto defensor. Assim, ele daria lugar a um jogador de meio. O futebol sempre foi decidido no jogo de meio de campo. Se uma equipe tem um homem a mais nessa área do gramado, a tendência é estar sempre em superioridade numérica, vencendo a maior parte dos duelos. É a teoria.

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Mas o auge do estilo de jogo dos dinamarqueses foi no dia 8 de junho de 1986. Nunca se viu um jogo igual àquele. Justificou o apelido de “Dinamáquina”.

No papel, o time uruguaio não era tão fraco, pois contava com Darío Pereyra (do São Paulo, que não atuou nessa partida), Rubén Paz (do Inter, que também não jogou), Víctor Diogo (do Palmeiras) e, principalmente, Enzo Francescoli (do River Plate).

Mas, por outro lado, a Dinamarca não era só o sistema tático. Tinha seus craques, como o jovem Michael Laudrup, que aos 22 anos já vestia a camisa da Juventus. Havia também Preben Elkjær Larsen, que havia liderado o surpreendente Verona campeão italiano da temporada 1984/85. Elkjær era um fumante inveterado, que chegava a consumir de 20 a 30 cigarros por dia, muitas vezes escondido do treinador no vestiário.


A Dinamarca jogava em um inédito 3-5-2, com muita movimentação de todos seus jogadores, quase como um “futebol total”.


O Uruguai atuava no 4-4-2, com um jogador na sobra na defesa (como era mania na época).

● Aos 11 minutos de partida, Laudrup dribla dois uruguaios e serve Elkjær, que chuta na saída do goleiro Álvez.

Oito minutos depois, o volante uruguaio Miguel Bossio (que já tinha recebido cartão amarelo seis minutos antes) foi expulso de campo. O Uruguai ficou escancarado e virou presa fácil para tomar a goleada, que tinha apenas começado.

Aos 41, Elkjær cruza da direita e Lerby aproveita-se de indecisão da defesa e manda para dentro.

No último instante da etapa inicial, Francescoli cobra pênalti no canto esquerdo, deslocando o goleiro Rasmussen.

Aos 7 da etapa complementar, o gol mais bonito do jogo. Laudrup recebe na entrada da área, dribla dois uruguaios, passa pelo goleiro e marca.

Aos 22, Laudrup (sempre ele) entra na área, ganha duas divididas com os zagueiros, fica na cara do gol e tenta encobrir Álvez. Ele defende parcialmente e Elkjær (de novo) dá o último toque antes de a bola entrar.

Aos 35, os uruguaios vão para cima e estão todos no campo de ataque. Molby toma a bola e lança Elkjær, que parte sem marcação ainda em seu campo, invade a área, dribla o goleiro e toca para o gol.

A dois minutos do fim, Elkjær avança pela direita e cruza para Jesper Olsen, que bate por baixo do goleiro, concluindo o massacre na cidade de Nezahualcóyotl.


Laudrup dribla Diogo (Imagem: Peter Robinson/EMPICS Sport)

● Foi a maior goleada sofrida pelo Uruguai em Copas. A Celeste (que nesse dia jogou de branco) ainda passaria à segunda fase graças aos empates com Alemanha (que seria vice-campeã da Copa) e Escócia (treinada por Alex Ferguson). Mas cairia nas oitavas de final, em derrota por 1 a 0 para a futura campeã Argentina, no clássico sul-americano.

Assim, revolucionando e encantando, a Dinamarca terminou a primeira fase como líder do “grupo da morte”, com 100% de aproveitamento, três vitórias em três jogos, sobre Escócia (1 x 0), Uruguai (6 x 1) e Alemanha Ocidental (2 x 0); anotou nove gols e sofreu apenas um, de pênalti.

Nas oitavas de final, perdeu-se o encanto e a Dinamarca foi goleada pela Espanha por 5 a 1 (com quatro gols de Emilio Butragueño) e deu adeus à Copa.

FICHA TÉCNICA:

 

DINAMARCA 6 x 1 URUGUAI

 

Data: 08/06/1986

Horário: 16h00 locais

Estádio: Neza 86

Público: 26.500

Cidade: Nezahualcóyotl (México)

Árbitro: Antonio Márquez Ramírez (Mexico)

 

DINAMARCA (3-5-2):

URUGUAI (4-3-3):

1  Troels Rasmussen (G)

12 Fernando Álvez (G)

3  Søren Busk

4  Víctor Diogo

4 Morten Olsen (C)

2  Nelson Gutiérrez

5  Ivan Nielsen

3  Eduardo Mario Acevedo (C)

12 Jens Jørn Bertelsen

6  José Batista

15 Frank Arnesen

5  Miguel Bossio

6  Søren Lerby

16 Mario Saralegui

9  Klaus Berggreen

11 Sergio Santín

21 Henrik Andersen

10 Enzo Francescoli

11 Michael Laudrup

9  Jorge Orosmán da Silva

10 Preben Elkjær Larsen

7  Antonio Alzamendi

 

Técnico: Sepp Piontek

Técnico: Omar Borrás

 

SUPLENTES:

 

 

16 Ole Qvist (G)

1  Rodolfo Rodríguez (G)

22 Lars Høgh (G)

22 Celso Otero (G)

2  John Sivebæk

13 César Veja

17 Kent Nielsen

14 Darío Pereyra

7  Jan Mølby

15 Eliseo Rivero

13 Per Frimann

8  Jorge Barrios

20 Jan Bartram

17 José Zalazar

8  Jesper Olsen

18 Rubén Paz

14 Allan Simonsen

19 Venancio Ramos

18 Flemming Christensen

20 Carlos Aguilera

19 John Eriksen

21 Wilmar Cabrera

 

GOLS:

11′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

41′ Søren Lerby (DIN)

45′ Enzo Francescoli (URU) (pen)

52′ Michael Laudrup (DIN)

67′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

80′ Preben Elkjær Larsen (DIN)

88′ Jesper Olsen (DIN)

 

CARTÕES AMARELOS:

7′ Ivan Nielsen (DIN)

35′ Jorge Orosmán da Silva (URU)

13′ Miguel Bossio (URU)

 

CARTÃO VERMELHO: 19′ Miguel Bossio (URU)

 

SUBSTITUIÇÕES:

57′ Sergio Santín (URU) ↓

José Zalazar (URU) ↑

 

57′ Antonio Alzamendi (URU) ↓

Venancio Ramos (URU) ↑

 

57′ Jens Jørn Bertelsen (DIN) ↓

Jan Mølby (DIN) ↑

 

81′ Michael Laudrup (DIN) ↓

Jesper Olsen (DIN) ↑ 

Melhores momentos da partida:

… Allan Simonsen: o pequeno gigante dinamarquês

Três pontos sobre…
… Allan Simonsen: o pequeno gigante dinamarquês


(Imagem localizada no Google)

● Se hoje a Dinamarca é um país respeitado dentro do futebol, isso se deve a Allan Simonsen. Ele é sem sombra de dúvidas o jogador mais importante da história de seu país. Foi fundamental na formação da nova geração dinamarquesa vitoriosa nos anos 1980 e 1990, com sua atitude de humildade e dedicação, sempre colocando os objetivos da equipe acima dos seus, independentemente de seu status de um dos melhores jogadores do continente na época.

Allan Rodenkam Simonsen nasceu em Vejle, no dia 15/12/1952. Nascido na cidade de Vejle, era apenas um jovem nanico (1,65 m) quando começou a jogar no time menor de sua cidade, o Vejle FC, antes de passar para o maior em 1963, o Vejle BK, onde faria história. Aos 17 anos, participou de um torneio internacional em Dusseldorf (Alemanha), chamando a atenção de Hennes Weisweiler, então técnico do Borussia Mönchengladbach. Estreou profissionalmente em 24/03/1971, em vitória em casa contra o Karlskoga FF. Foi bicampeão da liga nacional em 1971 e 1972 e em 1972 conquistou também a Copa da Dinamarca. Depois de três gols em seis partidas com seu país nos Jogos Olímpicos de 1972, Simonsen foi defender o clube alemão Borussia Mönchengladbach.

Sofreu um bocado nas suas duas primeiras temporadas, com apenas 17 jogos e dois gols. Entretanto, fez parte da equipe que conquistou a Copa da Alemanha de 1972/73. Passou a ser titular na temporada 1974/75, disputando todos os 34 jogos da Bundesliga, marcando 18 gols e conquistando o título. Fez também 10 gols em 12 jogos na Copa da UEFA do mesmo ano, incluindo dois na final em que o Gladbach goleou o holandês FC Twente por 5 x 1. Já em 1975/76, seu time conquistou o bicampeonato nacional e ele marcou 16 gols. Na Copa da Europa, fez quatro gols em seis partidas e foi eliminado nas quartas de final pelo Real Madrid, apenas no critério do gol marcado fora de casa.

Mas seu auge foi mesmo a temporada 1976/77. Além do tricampeonato nacional, na Copa dos Campeões, Simonsen foi fundamental para que o Borussia Mönchengladbach chegasse na final contra o Liverpool. Na decisão, fez o gol de empate em 1 a 1, mas seu time acabou derrotado por 3 a 1. Mas no fim do ano, o craque acabou sendo condecorado com a Bola de Ouro da revista France Football, como o melhor jogador da Europa no ano de 1977. Foi o primeiro (e até hoje o único) atleta dinamarquês a conseguir o feito. A votação foi apertada e ele venceu o inglês Kevin Keegan por três pontos e o francês Michel Platini por quatro pontos.

Nas duas temporadas seguintes, Simonsen continuou brilhando, mas o Gladbach terminou em segundo e oitavo, respectivamente. Em sua última temporada no clube alemão, 1978/79, conquistou novamente a Copa da UEFA, anotando nove gols em nove jogos. Na final, fez o gol do título, em vitória por 2 a 1 contra o Estrela Vermelha, da Iugoslávia. No início da temporada, o Barcelona já queria Allan Simonsen, mas o Gladbach não o deixou ir. Assim, o pequeno craque deixou seu contrato chegar a fim e foi para os Blaugranas, rejeitando ofertas do Hamburgo, da Juventus e de vários times do mundo árabe.

No clube catalão, recebeu o apelido de “El pequeño gran danés” (o pequeno gigante dinamarquês). Foram três anos bem sucedidos. Na primeira temporada, foi o artilheiro de sua equipe com 10 gols em 32 jogos, mas o Barça terminou em 4º lugar na liga de 1979/80. No ano seguinte, com uma reestruturação na base, o clube conquistou a Copa do Rei e Simonsen foi o terceiro maior goleador de seu time, com 10 gols (atrás dos novatos Quini, com 20 e Bernd Schuster, com 11) e o Barça termina novamente no decepcionante 5º lugar em 1980/81. Já em 1981/82, foi o segundo artilheiro blaugrana, atrás de Quini, com 11 gols, e seu time foi vice-campeão nacional. Foi importante para seu time chegar à final da Recopa Europeia e marcou de cabeça o gol do título na vitória por 2 a 1 sobre o Standard Liège.


(Imagem: Cais da Memória)

Mas quando o Barcelona contratou Diego Armando Maradona, em 1982, a situação de Simonsen ficou mais difícil. Na época, La Liga restringia o número de jogadores estrangeiros e só dois poderiam ser titulares. Assim, ele deveria disputar essas vagas com Maradona e Bernd Schuster. Simonsen se sentiu humilhado e pediu a rescisão com o time espanhol. Forçou a barra para sair e rejeitou ofertas do Real Madrid e do Tottenham Hotspur, sendo vendido em outubro por 300 mil libras para o Charlton Athletic, que militava na 2ª divisão. O clube inglês teve dificuldade para pagar sua transferência e seu salário e Simonsen deixou o clube apenas três meses depois, com 9 gols em 16 partidas.

Com mais de 30 anos, Simonsen escolheu retornar ao seu clube de formação e de coração em 1983, o Vejle BK. Ele ficou fora de metade da temporada de 1984 devido a uma lesão sofrida na Euro84, mas o Vejle BK conseguiu conquistar o campeonato dinamarquês sem ele. Mesmo voltando ao seu país como uma estrela, infelizmente nunca mais conseguiu recuprar sua melhor forma. Se aposentou dos gramados em 1989, com 37 anos, disputando seu último jogo em novembro. Pelo Vejle BK, disputou 282 partidas, anotando 104 gols (sendo 89 gols em 208 jogos pela liga dinamarquesa).

● Allan Simonsen estreou na seleção da Dinamarca em julho de 1972, sob o comando do técnico Rudi Strittich e marcou logo dois gols, ajudando seu país a vencer a Islândia por 5 a 2. Foi convocado para os Jogos Olímpicos de 1972, marcando três gols nas três primeiras partidas. Depois, ele não manteve o nível e foi substituído no intervalo em dois dos últimos três jogos, e a Dinamarca foi eliminada na segunda fase.

Simonsen foi fundamental para a seleção sob o comando do técnico Sepp Piontek, na campanha nas eliminatórias da Euro84. A Dinamarca liderava seu grupo com um ponto de diferença sobre a Inglaterra, quando se enfrentaram em setembro de 1983, no mítico estádio Wembley. Simonsen marcou o gol mais importante da história de sua nação até então, convertendo um pênalti em cima do goleiro Peter Shilton. A vitória finalmente classificou o país para a primeira Eurocopa desde 1964. Ainda em 1983, ficou em 3º lugar na premiação da Bola de Ouro. Infelizmente Simonsen não guarda boas recordações da Euro84, pois quebrou a perna em uma dividida com o francês Yvon Le Roux logo na estreia. Mesmo sem o craque, a Dinamarca chegou às semifinais, caindo nos pênaltis para a Espanha.

Fez parte do elenco da Dinamáquina que encantou na Copa do Mundo de 1986, mas só jogou uma única partida, entrando no segundo tempo na vitória por 2 a 0 contra a Alemanha Ocidental. Naquele momento, ele percebeu que já tinha dado toda sua contribuição para seu país e estava sendo ultrapassado por outros jogadores, como, por exemplo, Michael Laudrup. Vestiu a camisa vermelha de seu país em 55 jogos, anotando 20 gols.

Após se retirar dos gramados, se tornou técnico do seu querido Vejle BK de 1991 a 1994, sendo rebaixado para a 2ª divisão nacional. Depois treinaria a seleção das Ilhas Faroe de 1994 a 2001 e de Luxemburgo de 2001 a 2004. Em 2011 se tornou diretor do FC Fredericia, de seu país. Em 08/04/2013, quando o técnico Thomas Thomasberg foi demitido, Simonsen e Steen Thychosen assumiram o comando técnico da equipe até o fim da temporada 2012/13.

É o único jogador a ter anotado gols na Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League), na Copa UEFA (atual Liga Europa) e na extinta Recopa Europeia. Desde 2008 faz parte do Hall da Fama do Futebol Dinamarquês.

Feitos e premiações de Allan Simonsen:

Pelo Vejle Boldklub:
– Campeão do Campeonato Dinamarquês em 1971, 1972 e 1984.
– Campeão da Copa da Dinamarca em 1972.

Pelo Borussia Mönchengladbach:
– Tricampeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1974/75, 1975/76 e 1976/77.
– Campeão da Copa da UEFA em 1974/75 e 1978/79.
– Campeão da Copa da Alemanha em 1972/73.

Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1980/81.
– Campeão da Recopa Europeia em 1981/82.

Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football em 1977.
– Bola de Bronze da revista France Football em 1983 (3º lugar na Bola de Ouro).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1977/78 (5 gols).
– Artilheiro da Copa da UEFA em 1978/79 (9 gols).
– Eleito melhor ponta direita da história da Bundesliga.
– Membro do Hall da Fama do futebol da Dinamarca desde 2008.