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… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão

Três pontos sobre…
… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão


(Imagem: R7)

● Quem vê Dadá Maravilha sempre sorrindo não imagina quão sofrida foi sua infância. Dario José dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em 04/03/1946. Aos cinco anos de idade, viu sua mãe, Dona Metropolitana, que sofria alucinações, jogar querosene em todo o próprio corpo, tocar fogo e sair pelas ruas em chamas. O menino Dario, em desespero, foi abraçar a mãe, que, em um último ato, o afastou e o jogou em uma vala a céu aberto. Foi de lá, de dentro do esgoto, que o garoto viu sua mãe ser completamente carbonizada.

Sem condições de cuidar dos filhos, seu pai separou toda a família, internando os três filhos na antiga Febem (que servia também como um orfanato). A partir daí, convivendo com crianças a adolescentes que viviam no mundo do crime, Dario se tornou um garoto rebelde e passou a fugir constantemente para praticar assaltos com sua inseparável faca, “espetando” quem ousasse lhe desafiar. Certa vez tentou cortar os próprios pulsos, mas foi socorrido a tempo. Por tudo que tinha vivido, não acreditava em Deus.

Depois de um assalto, ele e um comparsa estavam fugindo da polícia, quando um tiro acertou seu colega, que já caiu sem vida. A partir daí, Dario teve certeza de que não queria isso para ele. A esperança era a bola, mas ele não era bom nisso também. Porém, a experiência em correr da polícia e em pular muros, o preparou para ser um atacante veloz e de impulsão única.

Começou tarde no futebol, aos 19 anos, no Campo Grande, do Rio. Aos 22 anos, chamou a atenção do Clube Atlético Mineiro, onde já chegou sendo campeão, marcando época e escrevendo a história que todos amantes de futebol conhecem. Ele foi um itinerante, um cigano do futebol, atuando por 17 clubes em 20 anos de carreira: Campo Grande-RJ (1966-1968), Atlético Mineiro (1968-72, 1974, 1978-1979 e 1983), Flamengo (1973-1974), Sport (1974-1975), Internacional (1976-1977), Ponte Preta (1977-1978), Paysandu (1979), Náutico (1980), Santa Cruz (1981), Bahia (1981), Goiás (1981), Coritiba (1982), Bahia (1983), Nacional-AM (1984), XV de Piracicaba (1984-1985), Douradense-MS (1985) e Comercial de Registro-SP (1986).

Em suas contas, o Rei Dadá tem 926 gols, mas nas súmulas foram “apenas” 539 gols, número que já é formidável.

Pela Seleção Brasileira, disputou 11 partidas, anotando dois gols.

Pelo seu carisma a pela forma única de contar histórias, passou a trabalhar na imprensa, inicialmente na Bancada Democrática, do Alterosa Esportes. Pelo enorme sucesso, passou pela Rede Globo, pelo SporTV e pela Rede Minas, voltando ao Alterosa Esporte.

● Dadá “Peito de Aço” é um daqueles personagens que poderíamos ficar falando por horas e horas, mas vamos resumir no que já dissemos e nas próprias frases dele, do Rei Dadá:

“Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática.”

“Somente três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha.”

“Não existe gol feio; feio é não fazer gol.”

“Com Dadá em campo, não tem placar em branco.”

“Um rei tem que ser sempre recebido por bandas de música.”

“Pelé, Garrincha e Dadá tinham que ser curriculum escolar.”

“Nunca aprendi a jogar futebol pois perdi muito tempo fazendo gols.”

“São duas coisas que eu não aprendi: Jogar futebol e perder gol!”

“Isso é mamão com açúcar.”

“Só existem três poderes no universo: Deus no Céu, o Papa no Vaticano e Dadá na grande área.”

“Melhor do que Dadá, só Jesus Cristo!”

“A área é o habitat natural do goleador, nela ele está protegido pela constituição, se for derrubado é pênalti.”

“Num time de futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante.”

“Pra fazer gol de cabeça era queixo no peito ou queixo no ombro.”

“Fiz mais de 500 gols, só correndo e pulando.”

“Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira.”

“Bola, flor e mulher, só com carinho.”

“Faço tudo com amor, inclusive o amor.”

“Futebol não pode ficar acima da educação, não!”

“Chuto tão mal que no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol.”

“Se minha estrela não brilhar, vou lá e passo lustrador nela.”

“Deixando a modéstia de lado, falando de futebol, eu falo o que eu sei, sou um expert, com doutorado nessa matéria. No futebol, eu sou o máximo, conheço tudo e sou atleticano.”

“Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povo.”

“O divino mestre é o fã mais poderoso de Dadá. Ele sempre esteve ao meu lado.”

“Futebol é um universo maravilhoso, que faz as pessoas se aproximarem, que faz multiplicar os amigos, que ensina a gente a amar e a respeitar o próximo.”

“Eu sofri muito, minha tristeza exorbitou, meu sofrimento passou dos limites para um ser humano. Mas eu tive um auge violento, tive o mundo aos meus pés, bati recordes, fui falado em todos campos. Hoje vivo na imaginação do povo. Sou personagem do planeta bola.”

“Praga de urubu magro, não pega em cavalo gordo.”

“Me empolgo pelas palavras, me realizo nos atos.”

“A lei do menor esforço é usar a inteligência.”

“Quando vou para o trabalho só penso em vitória.”

“O gol é o orgasmo do futebol.”

“Dadá não é eterno. Sua história será eterna.”


(Imagem localizada no Google)

Feitos e premiações de Dario:

Pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo de 1970.
– Campeão da Taça Independência de 1972.

Pelo Atlético Mineiro:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1971.
– Campeão do Campeonato Mineiro Módulo 1 em 1970 e 1978.
– Campeão da Taça Minas Gerais em 1979.
– Tricampeão da Taça Belo Horizonte em 1970, 1971 e 1972.
– Campeão da Taça Inconfidência (MG) em 1970.
– Campeão da Taça Independência (MG) em 1970.
– Campeão da Taça Cidade de Goiânia (MG x GO) em 1970.
– Campeão da Taça do Trabalho (MG x RJ) em 1972.
– Campeão da Taça Gil César Moreira de Abreu (MG) em 1970.
– Campeão do Torneio de León (México) em 1972.
– Campeão do Torneio dos Grandes de Minas Gerais (Federação Mineira de Futebol) em 1974.

Pelo Internacional:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1976.
– Campeão do Campeonato Gaúcho em 1976.

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca em 1974.
– Campeão da Taça Guanabara em 1973.
– Campeão da Taça Pedro Magalhães Corrêa em 1974.

Pelo Bahia:
– Bicampeão do Campeonato Baiano em 1981 e 1982.

Pelo Goiás:
– Campeão do Campeonato Goiano em 1983.

Pelo Sport:
– Campeão do Campeonato Pernambucano em 1975.

Pelo Náutico:
– Campeão do Torneio Início de Pernambuco em 1980.

Pelo Nacional-AM:
– Campeão do Campeonato Amazonense em 1984.

Pelo Campo Grande:
– Campeão do Torneio José Trócoli (Campo Grande) em 1967.

Como técnico, pelo Ypiranga Clube-AP:
– Campeão do Campeonato Amapaense em 1994.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Brasileiro em 1971 (15 gols), 1972 (17 gols), 1976 (16 gols)
– Artilheiro do Campeonato Mineiro em 1969 (29 gols), 1970 (16 gols), 1972 (22 gols) e 1974 (24 gols).
– Artilheiro do Campeonato Carioca em 1973 (15 gols).
– Artilheiro do Campeonato Pernambucano em 1975 (32 gols) e 1976 (30 gols).
– Artilheiro do Campeonato Amazonense em 1984 (14 gols).
– Anotou 10 gols no mesmo jogo, no Campeonato Pernambucano de 1976, na vitória do seu Sport sobre o Santo Amaro por 14 a 0, em 06/04/1976.

… Atlético Mineiro, Campeão Brasileiro de 1971

Três pontos sobre…
… Atlético Mineiro, Campeão Brasileiro de 1971


(Imagem localizada no Google)

● Após alguns torneios nacionais como a Taça Brasil, a Taça de Prata e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, enfim a CBD (atual CBF) decidiu criar um Campeonato Brasileiro de verdade em 1971, pegando embalo com a conquista da Copa do Mundo do ano anterior. Surgiram então vários favoritos ao título, como o Fluminense campeão do Robertão de 1970, o Santos de Pelé, o Botafogo de Jairzinho, o São Paulo de Toninho Guerreiro e Gérson ou o Cruzeiro de Dirceu Lopes e Tostão.

Nessa época, o Clube Atlético Mineiro não aguentava mais ver o rival Cruzeiro vencer comemorar, pois era pentacampeão mineiro e tinha conquistado a Taça Brasil de 1966 goleando o poderoso Santos. Mas em 1970, o Galo do recém chegado técnico Telê Santana mostrou sua força e venceu o estadual, quebrando um jejum de seis anos sem títulos.

Já em 1971, com a mesma base campeã mineira no ano anterior, o time decepcionou com um 3º lugar no estadual. Todavia, no recém criado Brasileirão, o time foi engrenando e terminou a primeira fase em 2º lugar, com 7 vitórias, 9 empates e apenas 3 derrotas (o Grêmio foi o líder). Foram muitos empates, mas uma época em que a vitória valia dois pontos e o empate valia um, empatar era um bom negócio. Na segunda fase, os atleticanos venceram três vezes, empataram uma e perderam duas, sendo o líder de sua chave e se classificando para a fase final.

Seria um triangular de turno único, contra os fortes Botafogo e São Paulo. O Galo encarou no Mineirão o Tricolor, de Pablo Forlán, Terto e Gérson e venceu por 1 x 0, com um gol de Oldair aos 30 minutos do segundo tempo. Três dias depois, o mesmo SPFC goleou o Botafogo por 4 x 1, o que obrigou ao alvinegro carioca a vencer o mineiro por seis gols para ser campeão.

(Imagem: Super Esportes)

● A decisão era duríssima, pois jogariam no Maracanã e o craque Jairzinho estava em seu auge técnico, em uma tarde muito “endiabrada”, dando muito trabalho para a zaga adversária. O Fogão jogava melhor, mas o Galo demonstrou uma maturidade muito grande, suportando totalmente a pressão. O time seria campeão com um empate, mas aos 16 minutos do segundo tempo, o meia Humberto Ramos fez uma excelente jogada individual, passando por Mura, Carlos Roberto e Marco Aurélio, chegando dentro da área e cruzando para o centro. Coube a Dario marcar o gol do título, de cabeça, sua especialidade. O Botafogo nada mais conseguiu fazer e o Atlético controlou o resto da partida.

Foi um merecido campeão. Era a coroação definitiva do ídolo Dario, o grande Dadá Maravilha, que além de fazer o gol do título ainda foi o artilheiro do torneio com 15 gols. Foi a “gênese” do Mestre Telê Santana, que após o título desabafou: “Peguei um time talentoso, que há cinco anos não ganhava títulos e estava com o moral baixo. Fiz a equipe entrar em campo sempre confiante nos dois pontos, eu mandava o time atacar e se preocupar só em jogar futebol. Assim são maiores as chances de vencer”.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 0 x 1 Atlético-MG
BOTAFOGO (4-3-3)
Wendell; Mura, Djalma Dias, Queirós e Valtencir; Carlos Roberto, Marco Aurélio (Didinho) e Careca (Tuca); Zequinha, Nei Oliveira e Jairzinho. Técnico: Paraguaio.
ATLÉTICO-MG (4-3-3)
Renato; Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei Paiva, Humberto Ramos e Lôla (Spencer); Ronaldo, Tião e Dadá Maravilha. Técnico: Telê Santana.
Data: 19/12/1971
Local: Estádio Maracanã
Público: 46.458
Árbitro: Armando Marques
Gol:
61′ Dadá Maravilha (ATL)

Além dos titulares no jogo final, compunham o elenco atleticano, dentre outros: o uruguaio Héctor Cincunegui, Spencer, Pedrinho, Guará, Beto, Salvador, Bibi, Zé Maria, Romeu, Ângelo e Normandes (que é dentista formado e mora na cidade de Uberaba).