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… Santos, de Diego e Robinho, Campeão Brasileiro de 2002

Três pontos sobre…
… Santos, de Diego e Robinho, Campeão Brasileiro de 2002


(Imagem: Lance!)

● Na década de 1960, o Santos foi o time a ser batido, com um esquadrão que está na ponta da língua dos amantes do futebol: Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Após essa fase, o clube viveu um terrível ostracismo, tendo apenas lampejos, como na era dos “Meninos da Vila” (Juary, Pita, Aílton Lira e João Paulo) ou com o vice-campeonato brasileiro de 1995, com o “Messias” Giovanni. Foi nesse cenário que o alvinegro praiano chegou no século XXI: com um jejum de mais de trinta anos sem levantar uma taça importante.

O Santos até tentou montar um time forte entre 2000 e 2001, mas não conseguiu seus objetivos. Assim, com alguns medalhões como Fábio Costa, Robert e Fabiano Souza, começou o Campeonato Brasileiro de 2002 desacreditado, com uma campanha toda irregular. O time só engrenou após o técnico Émerson Leão estruturar o jogo coletivo, dando mais liberdade para brilhar os talentos individuais, especialmente de Robinho (18 anos) e Diego (17). Ainda assim o time se classificou na “bacia das almas”. Perdeu as duas últimas partidas da primeira fase e terminou empatado com o Cruzeiro, ambos com 39 pontos. O saldo de gols maior foi o critério que classificou o Peixe para a fase seguinte.

Por ter passado em 8º, teve que enfrentar nas quartas de final o poderoso São Paulo, que foi o líder na classificação geral, terminando a fase com dez vitórias consecutivas. O Tricolor estava voando, com craques como Rogério Ceni, Ricardinho, Kaká e Luis Fabiano. Todos esperavam uma classificação tranquila do São Paulo. Mas os “moleques” da Vila trataram de jogar como gente grande e venceu o adversário por 3 a 1 na Vila Belmiro e por 2 a 1, dentro do Morumbi, com Diego dançando em cima do escudo do SPFC, iniciando uma confusão geral. O torcedor santista começou a acreditar, mesmo reticente por estar acostumado a se decepcionar recentemente.

Nas semifinais, enfrentou o Grêmio, que havia eliminado o rival Juventude. Na Vila, um chocolate e 3 a 0 na bagagem. No antigo Olímpico, uma derrota por 1 a 0 não impediu a classificação santista.


(Imagem: Folha UOL)

● A final seria contra um fortíssimo time do Corinthians, que havia sido campeão do Torneio Rio-São Paulo e da Copa do Brasil naquele mesmo ano. O Timão vinha sedento pela tríplice coroa, comandado pelo técnico Parreira. Foram dois jogos no Morumbi. No primeiro, o Santos venceu por 2 a 0, com gols de Alberto e Renato, mas perdeu o meia Diego, contundido.

Na finalíssima, Diego insistiu em jogar, mas durou apenas dois minutos em campo. Sem seu camisa 10, a torcida estava apreensiva. Mas Robinho se tornou o super-herói do Peixe e jogou por ele e pelo parceiro Diego. No fim do primeiro tempo, aos 37 minutos, partiu pra cima do lateral Rogério, com inúmeras “pedaladas”, enquanto o marcador se afastava. Quando Robinho entrou na área, partiu para o drible e foi chutado por Rogério, que chegou atrasado no lance. Pênalti bem cobrado pelo próprio Robinho.

Precisando de três gols, o Timão partiu pra cima e virou o jogo no final, com Deivid (aos 30) e Anderson (aos 39 minutos do segundo tempo). O Corinthians precisava de apenas mais um gol. Será que o Peixe iria morrer na praia de novo? Absolutamente não! Robinho inicia jogada pela direita e cruza para Elano empatar a dois minutos do fim. Nos acréscimos, ainda daria tempo para (de novo) Robinho colocar Vampeta pra dançar e rolar pra trás para o lateral Léo fuzilar. Gol do título.

Foi a coroação de um excepcional trabalho nas divisões de base, que renderia frutos também para a próxima década. Uma talentosa geração que entrou para a história não só do clube de Pelé, mas também do futebol brasileiro.

FICHA TÉCNICA
Corinthians 2 x 3 Santos
CORINTHIANS (4-3-3)
Doni; Rogério, Fábio Luciano, Anderson e Kléber; Vampeta, Fabinho (Fabrício) e Renato Abreu (Marcinho); Deivid, Guilherme (Leandro) e Gil. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
SANTOS (4-4-2)
Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego (Robert, Michel); Robinho e William (Alexandre). Técnico: Émerson Leão.
Data: 15/12/2002
Local: Estádio Morumbi
Público: 74.592
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Gols:
37′ Robinho (SAN) (pen)
75′ Deivid (COR)
84′ Anderson (COR)
88′ Elano (SAN)
90’+ 2′ Léo (SAN)

Além dos titulares no jogo final, compunham o elenco santista, dentre outros:

Júlio Sérgio (goleiro), Michel (lateral direito), Preto (zagueiro), Pereira (zagueiro), Robert (meia), Alexandre (meia), Canindé (meia), Adiel (atacante), Douglas (atacante), Fabiano Souza (atacante) Bruno Moraes (atacante) e Alberto (atacante, que era titular do time, mas estava suspenso para a segunda partida da final).

… Cinco anos sem Doutor Sócrates

Três pontos sobre…
… Cinco anos sem Doutor Sócrates


(Imagens localizadas no Google)

● Sócrates faleceu às 04h30 da manhã do dia 04 de dezembro de 2011 (há exatos cinco anos), com falência múltipla dos órgãos em decorrência do choque séptico, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo.

Em agosto de 2011, Sócrates foi internado na UTI do Hospital Albert Einstein devido a uma hemorragia digestiva causada por hipertensão portal (na veia porta, que drena o sangue do sistema digestivo). Após essa primeira internação, o craque admitiu que tinha problemas de alcoolismo. No mês seguinte voltou a ser internado pelos mesmos problemas. Já no início de dezembro de 2011, ele foi internado novamente devido a uma suporta intoxicação alimentar, que se transformou em um quadro grave de choque séptico em razão da condição debilitada de sua saúde, que o levou a óbito.

No mesmo dia 04/12/2011, o seu querido Corinthians se sagrou campeão brasileiro pela quinta vez. No início da partida, os jogadores e a comissão técnica do alvinegro prestaram uma homenagem a Sócrates, repetindo o gesto utilizado por ele na comemoração de seus gols (punho cerrado e mão ao ar, como na foto, o que foi prontamente repetido pela torcida. Botafogo, Corinthians e Fiorentina decretarem luto oficial. Sua morte repercutiu em redes sociais de quase todos as pessoas ligadas ao esporte e amigos do Magrão. Foi também destaque na imprensa esportiva mundial, como nos jornais espanhóis “As” e “Marca”, os britânicos “The Sun”, “BBC” e “The Economist”, os italianos “Gazzetta dello Sport”, “Guerin Sportivo” e “La repubblica”, os portugueses “A Bola” e “Record”, os argentinos “El Gráfico” e “Olé”, os americanos “CNN” e “New York Times” e os franceses “France Football” e “Le Monde.” Foi sepultado no mesmo dia, no cemitério Bom Pastor, na cidade de Ribeirão Preto. Ele tinha 57 anos e era pai de seis filhos.

● Sócrates Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém, no dia 19/02/1954. Era conhecido também como Dr. Sócrates ou Magrão. Era irmão mais velho de Raí, ídolo do São Paulo e pai de Gustavo Vieira de Oliveira, diretor de futebol que passou pelo SPFC em 2016. Ingressou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP aos 17 anos, mas já jogava pelo Botafogo. Se profissionalizou no esporte em 1973, mas sem abandonar o curso, que seguiu concomitantemente com o futebol até se formar, em 1977.

Se fez notar também pela sua militância política, especialmente nos anos 1980, quando fez parte do movimento pelas Diretas Já e liderou a chamada “Democracia Corintiana” (que não tinha nada de democracia, de acordo com o Guia Politicamente Incorreto do Futebol, de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior). Era conhecido por seu estilo altivo e elegante. Sua principal característica era sua habilidade no uso do calcanhar, que se justificava por ser muito alto e não ter o equilíbrio de um jogador mais baixo; por ter seu centro de gravidade mais alto, os toques de calcanhar foi a forma que encontrou para permanecer mais em pé. Mas seu futebol era completo. Dominava todos os fundamentos. Arrematava bem de todas as formas, incluindo gols de falta, de cabeça e de fora da área, além das várias assistências. Um dos maiores (senão o maior) ídolos do Corinthians e do Botafogo de Ribeirão Preto, é uma das lendas do futebol mundial. Em 28/07/2012, o Corinthians inaugurou um busto em homenagem a Sócrates no Parque São Jorge.

Pelo Botafogo, jogou de 1973 a 1978, com 274 tentos anotados em 269 jogos. Pelo Corinthians, entre 1978 a 1984, fez 172 gols em 298 partidas. Jogou na Fiorentina apenas na temporada 1984/85 (13 gols em 28 jogos). Jogou no Flamengo de 1986 a 1987, marcando 8 vezes em 45 partidas disputadas. Passou pelo Santos em 1988, com 7 gols nas 23 partidas em que atuou. Encerrou a carreira ainda em 1988, no mesmo Botafogo que o projetou, com sete jogos e um gol. Em 1988, em amistoso com ídolos corintianos em campo, jogou 15 minutos com a camisa do Corinthian-Casuals. Em 2004, aos 50 anos de idade, atendendo a um convite de um amigo, participou de uma partida festiva com a camisa do Garfoth Town, equipe da oitava divisão da Inglaterra.

Após deixar os gramados, foi um técnico sem sucessos no Botafogo-SP em 1990, na LDU Quito (Equador) em 1996 e na Cabofriense-RJ em 1999.

Estreou na Seleção Brasileira em 1979, em amistoso contra o Paraguai. Era líder e capitão de uma Seleção de estrelas na Copa do Mundo de 1982, mas o destino não quis laureá-lo como campeão do mundo, saindo do torneio na fase quartas de final, contra a Itália. Mas Sócrates foi destaque da competição. Teve também excelente atuação na Copa América de 1983, mas o Brasil foi vice-campeão, perdendo para o Uruguai no placar agregado das finais em ida e volta. Jogou também a Copa do Mundo de 1986, mas já estava fora de sua forma ideal e não foi tão exuberante quanto quatro anos antes. Não usava mais a faixa de capitão (era do zagueiro Edinho), mas ainda era o líder natural do time. Na decisão por pênaltis nas quartas de final contra a França, perdeu o seu. Ao todo pela Seleção Canarinho, disputou jogou 69 vezes e marcou 25 gols.

● Em fevereiro de 2015, o jornal britânico The Guardian, em seu quadro “The Joy of Six”, elegeu Sócrates como um dos seis esportistas mais inteligentes da história, sendo o único futebolista da lista. Para isso, o periódico levou em conta currículos que extrapolam a linha esportiva, com atuação preponderante em suas áreas e fora delas. Sócrates fez de tudo enquanto viveu:

– Em parceria com o jornalista Ricardo Gozzi, escreveu o livro “Democracia Corinthiana: A utopia em jogo” (2002), onde conta sua experiência de democracia interna no clube durante o período de 1982-1984.

– Gravou um disco solo, de música sertaneja, chamado “Canto de caboclo” (1980), pela gravadora RCA, em tiragem de 50.000 exemplares rapidamente vendidos.

– Participou do disco “Aquarela” de seu amigo Toquinho, em 1982.

– No teatro, produziu a peça “Perfume de Camélia” (1983), com a atriz Maria Isabel de Lisandra. A peça foi exibida no teatro Ruth Escobar.

– Participou do documentário “Ser campeão é detalhe” (2011) sobre a Democracia Corintiana, realizado pelos alunos da disciplina Projeto de Cinema do curso de Midialogia da Unicamp.

– Ao lado de Zico, fez uma participação especial na novela “Feijão Maravilha”, da Rede Globo, em 1979, contracenando com os atroes Ivon Cury, Grande Otelo e Olney Cazarré.

– Em 1992, inaugurou em Ribeirão Preto, com um investimento de US$ 300 mil, a “Medicine Sócrates Center”, uma clínica médica destinada a atender profissionais de diversas modalidades esportivas, além de pacientes comuns.

– Era comentarista esportivo no programa esportivo “Cartão Verde”, da TV Cultura, desde 2008 até sua morte.

Feitos e premiações de Sócrates:

Pelo Botafogo-SP:
– Campeão da Taça Cidade de São Paulo (1º turno do Campeonato Paulista) em 1977.

Pelo Corinthians:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1979, 1982 e 1983.
– Campeão da Taça Governador do Estado de São Paulo em 1984.
– Campeão da Copa dos Campeões SP x RJ em 1984.
– Campeão da Taça Cidade de Porto Alegre em 1983.
– Campeão da Copa da Feira de Hidalgo em 1981, no México.
– Campeão da Copa Cidade de Turim em 1983, na Itália.

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca em 1986.
– Campeão da Taça Rio em 1986.

Pela Seleção Brasileira:
– Vice-campeão do Mundialito de Montevidéu em 1980.
– Vice-campeão da Copa América de 1983.
– 3º lugar na Copa América de 1979.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1982.
– 5º lugar na Copa do Mundo de 1986.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1982.
– Troféu Sport Billy – Troféu Fair Play da FIFA da Copa do Mundo de 1986.
– Campeão da Taça da Inglaterra em 1981.
– Campeão da Taça da França em 1981.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Paulista de 1976 (27 gols).
– Artilheiro da Taça Cidade de Porto Alegre de 1983 (7 gols).
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o melhor jogador sul-americano pelo jornal El Mundo em 1983.
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1980.
– Eleito o 5º melhor jogador do mundo pela revista World Soccer em 1982.
– Eleito o 21º melhor jogador brasileiro do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 6º melhor jogador da Copa do Mundo de 1982.
– Convocado para a Seleção da FIFA em 1982.
– Eleito para a lista dos 100 craques do Século XX pela revista World SOccer em 1999.
– Eleito para a lista dos 100 craques das Copas do Mundo pela CNN Sports em 2002.
– Craque do ano de 1982 da Revista Placar, eleito pela crítica e pelos leitores.
– Craque do ano de 1983 da Revista Placar, eleito pela crítica.
– 4º maior craque do Brasil na década de 1970 da Revista Placar, eleito pela crítica em 1979.