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… Mário Sérgio

Três pontos sobre…
… Mário Sérgio


(Imagem localizada no Google)

● Falecido ontem, no fatídico vôo da Chapecoense, que vitimou 75 pessoas, Mário Sérgio Pontes de Paiva se foi aos 66 anos. Nasceu no Rio de Janeiro, em 07/09/1950.

Meu pai dizia que Mário Sérgio “andava em cima da bola” e “escondia a bola” com facilidade.

Habilidoso e rebelde, Mário Sérgio marcou seu nome na história do futebol brasileiro. Era um jogador reconhecido por sua grande habilidade e criatividade. Foi o pioneiro em olhar para um lado e tocar para o outro; por causa dessa jogada (eternizada depois por Ronaldinho Gaúcho), Mário Sérgio ganhou o apelido de “Vesgo”. Tinha uma personalidade muito forte, o que acabou por prejudicar sua carreira. Era viciado em corridas de cavalos. Enquanto defendia o Inter, ficou famosa uma escapada relâmpago ao Jóquei Clube de Porto Alegre, depois de uma partida contra o São Paulo. Certa vez disse à revista Placar que “atletas são como cavalos e precisam ser bem tratados para apresentarem os resultados desejados. Só que cavalo aceita freio e eu não.”

Conquistou por quatro vezes a Bola de Prata da Revista Placar, o que mostra sua regularidade. Seu nome aparece no livro “Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos”, de Paulo Vinícios Coelho e André Kfouri. Como jogador, atuou em 13 equipes, de 1969 a 1987.

Deu seus primeiros passos no futsal do Fluminense, pois seu pai era sócio do clube e por isso podia jogar de graça. Nessa época, estudava processamento de dados e como o futsal não lhe dava dinheiro, largou o esporte e foi trabalhar em uma empresa de computadores. Em 1969, foi levado por amigos para fazer um teste no Flamengo e foi contratado. Sua habilidade originada no futsal lhe deu a fama de fominha. No ano seguinte se tornou profissional, mas o técnico Yustrich implicava com seu cabelo grande e suas roupas coloridas, o chamando de “boneca”. “Yustrich era adepto do futebol força e tinha seus métodos rígidos e absurdos de preparação. Um dia, joguei mal e ele me tirou do time. Achei injustiça, mas continuei a treinar entre os reservas. Num coletivo, querendo me mostrar, recebi uma bola longa, me esforcei, alcancei a bola a um palmo da linha e parti para o gol; já dentro da área, quando ia marcar o gol, Yustrich apitou dizendo que a bola saiu. Ah, peguei a bola e zuei. Dei um chutão para o alto, e disse que ali não jogava mais.”

Assim, Mário foi para o Vitória em 1971. No clube de Salvador, conquistou o Campeonato Baiano de 1972 e foi eleito Bola de Prata pela Revista Placar em 1973, como ponta esquerda, e em 1974, quando mudou de posição e passou a jogar na meia esquerda. Em quatro temporadas, se tornou ídolo do Vitória e é considerado um dos melhores jogadores da história do clube. Em 25/08/1991, na reinauguração do estádio Barradão, Mário Sérgio desceu de helicóptero no centro do gramado, ovacionado pela torcida.

Em 1975 partiu para fazer parte da “Máquina Tricolor”, no Fluminense, junto com Rivelino, Paulo César Caju, Gil e Edinho. Foi campeão carioca em 1975, mas se desentendeu com o presidente do Flu, Francisco Horta.

Jogou no Botafogo entre 1976 e 1979, fazendo parte do “Time do Camburão”. O jornalista botafoguense Roberto Porto, que criou o apelido, o justifica: “um time que tinha Dé, Mário Sérgio, Renê, Paulo César, Perivaldo e Nilson Dias… todos com a chave da cadeia!” A partir de 1978 sofreu com contusões, ficando mais de um ano parado, no total. Sem ambiente, em 1979 foi jogar no Rosario Central, mas sua passagem foi rápida, pois sua mulher havia acabado de começar o curso de engenharia no Brasil e não o acompanhou à Argentina.

Voltou ao Brasil no mesmo ano, para jogar no Inter. Foi Falcão quem pediu sua contratação: “Eu lembro que eu disse que o Mário só faz confusão com as pessoas que não o tratam bem, o desrespeitam e não cumprem o que está combinado com ele. Ele veio e foi de um comportamento exemplar. Puxava fila nos treinos físicos.” Foi fundamental no título do Brasileirão, conquistado de forma invicta. Chegou à final da Libertadores de 1980 (perdida para o Nacional-URU) e se tornou o principal jogador do clube após a ida de Falcão para o Roma. No mesmo 1980, conquistou a Bola de Prata pela terceira vez. Em 1981, foi campeão gaúcho. “Mário Sérgio foi o jogador mais habilidoso que conheci.” – comentou Falcão.

Jogou no São Paulo entre agosto de 1981 e dezembro de 1982. Foi no SPFC que ganhou o apelido de “Rei do Gatilho”, após esvaziar o pente de seu 38, com tiros para o alto no Vale do Paraíba, para assustar torcedores do São José, que se manifestavam na saída do ônibus tricolor para o Estádio Martins Pereira. No jogo de volta, o placar do Morumbi anunciou “nº 11: Mário Sérgio, o Rei do Gatilho”. Aí pegou! Posteriormente, ele afirmou que as balas eram de festim e se disse arrependido. Sua melhor atuação com o “manto” foi quando mais de 30 mil pessoas viram seu show, com dois gols na goleada em cima do Palmeiras, por 6 x 2. Mesmo com boas atuações, a falta de adaptação ao esquema tático e boatos de envolvimento com drogas o fez parar na Ponte Preta. Mesmo com craques como ele, Dicá e Jorge Mendonça, o time da Macaca não deu liga.

Em 11/12/1983 fez sua única partida pelo Grêmio, o suficiente para se tornar ídolo por lá. Disputou e venceu “apenas” a Copa Intercontinental, se tornando campeão mundial. Veio a pedido do técnico Valdir Espinosa: “Ninguém queria o Mário Sérgio no Grêmio. Eu que insisti. Na primeira vez que falei, todo mundo pipocou: ‘Ah, ele é isso, aquilo, é bagunceiro…’. Mas eu conhecia ele. Joguei com ele, morei com ele. Eu reconhecia nele a sua qualidade extraordinária. Jogar contra alemão só com força não adianta. Tem que ter técnica para contrapor. Precisávamos do Mário Sérgio.” Mário ditou o ritmo da partida nos 120 minutos, com lançamentos precisos e seus dribles fantásticos. Mesmo assim, não teve o contrato prolongado. Assim, voltou para o rival Inter. Logo na abertura do ano de 1984, houve o “Gre-Nal das faixas”. Segundo ele, “na hora de trocarmos as faixas, pensei: ‘Poxa, alguém aí vai me vaiar, gremista ou colorado, não vai ter jeito’. No fim, eu, com a camisa do Inter e a faixa de campeão do mundo pelo Grêmio, acabei aplaudido pelas duas torcidas. Me emocionei barbaridade.” É difícil um jogador conquistar o coração de torcedores dos dois rivais, mas Mário Sérgio conseguiu.

Jogou no Palmeiras entre 1984 e 1985 e ficou marcado por ter sido flagrado em um exame antidoping por anfetamina, após ter tomado uma limonada oferecida por Marco Aurélio Cunha, médico do adversário São Paulo. O craque foi suspenso por 90 dias e a história ficou muito mal contada, mas ficou por isso mesmo. Em 1986 jogou pelo Botafogo, de Ribeirão Preto, e pelo Bellinzona, da Suíça. Em 1987, foi para o Bahia, mas já não conseguia jogar no mesmo ritmo dos companheiros. Na quinta rodada do Brasileirão daquele ano, era o camisa 10 contra o Goiás. Ele fez um primeiro tempo exuberante e o time saiu para o intervalo vencendo o Goiás por 1 a 0. Mário saiu antes de todo mundo e quando os colegas chegaram no vestiário, ele já estava trocado: agradeceu a todos e disse que não voltaria para o segundo tempo. Tinha encerrado a carreira.

Sua fama de indisciplinado em todos clubes onde passou o afastou da Seleção Brasileira. Fez parte de toda a preparação para a Copa do Mundo de 1982, mas foi cortado na última convocação, substituído por Éder. Mesmo não estando na lista dos 22, esteve na lista de espera registrada pela FIFA, que continha 40 nomes. No total, entre 1981 e 1985, disputou oito partidas amistosas, sem marcar gols.

(Imagem: Metrópoles)

● Como técnico, comandou 11 times, mas nunca conquistou nenhum título, embora tenha chegado perto. Começou sua carreira de técnico em 1987 no Vitória, mesmo time em que explodiu como jogador. Em 1993 treinou o Corinthians, quase levando o time para a final do Brasileirão, ficando 15 partidas sem perder. Revelou o volante Zé Elias, com apenas 16 anos. Em duas passagens pelo Timão (em 1993 e 1995), dirigiu a equipe em 31 partidas, sendo 16 vitórias, 13 empates e apenas 2 derrotas. Atritos com a diretoria o fez pedir demissão pouco antes do Paulistão de 1995 e ele se tornou comentarista pela TV Bandeirantes.

Em 1998 voltou a beira do campo, treinando o São Paulo em apenas 10 jogos (3 vitórias, 1 empate e 6 derrotas). Ficou marcado como o único técnico a não deixar Rogério Ceni cobrar faltas. Ainda em 1998, foi diretor de esportes do banco Excell Econômico, então patrocinador do Corinthians. Esteve no Atlético-PR no início da campanha que terminaria no título brasileiro de 2001. Foi diretor de futebol do Grêmio em 2005, quando o time disputou a Série B, na mítica “Batalha dos Aflitos”. Em 2007, novamente como técnico, levou o Figueirense ao vice-campeonato da Copa do Brasil. Pelo Figueira, foram 44 jogos, com 19 vitórias, 13 empares e 12 derrotas. Passou também por São Caetano, Atlético-MG, Botafogo e Portuguesa. Em 05/10/2009 se tornou técnico do Internacional, disputando 11 partidas, com 6 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. Foi vice-campeão brasileiro, conseguindo a vaga para a Libertadores do ano seguinte (que o Inter venceria). Seu último clube foi o Ceará, em 2010, mas ficou apenas um mês. “Eles não entendem o que eu falo nos treinos, vou virar comentarista”, disse.

Foi comentarista pela primeira vez no início da década de 1990, na TV Bandeirantes e se destacou pela facilidade de se comunicar e analisar futebol. Nessa época, criou uma expressão bastante usada desde então: “o time está começando a gostar do jogo”. Além da Band, tabalhou na Record, Sportv, além das rádios Joven Pan e Band FM. Em 31/07/2012 se tornou comentarista do Fox Sports e tinha contrato até a Copa do Mundo de 2018. Era o chamado “comentarista sem papas na língua”.

Em 29/11/2016 foi uma das vítimas fatais da queda do vôo 2933 da LaMia, que transportava a equipe da Chapecoense para Medellín, onde a equipe catarinense disputaria a partida de ida da final da Copa Sul-Americana de 2016. A partida teria transmissão da Fox Sports e Mário Sérgio seria comentarista do jogo. Mário Sérgio deixa a mulher, Mara, três filhos (Bruno, Fernando e Felipe) e uma neta.


(Imagem: Fox Sports)

Feitos e premiações de Mário Sérgio:

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca de Aspirantes em 1970.
– Campeão da Taça Guanabara em 1970.
– Campeão do Troféu Marechal Mendes de Morais em 1970.
– Campeão do Troféu Ary Barroso em 1970.
– Campeão do Troféu Ponto Frio Bonzão em 1971.
– Campeão do Troféu Pedro Pedrossian em 1971.
– Campeão da Taça Presidente Mécidi em 1971.

Pelo Vitória:
– Campeão do Campeonato Baiano em 1972.

Pelo Fluminense:
– Bicampeão do Campeonato Carioca em 1975 e 1976.
– Campeão da Taça Guanabara em 1975.
– Campeão da Taça Amadeu Rodrigues Sequeira (3º Turno do Campeonato Carioca) em 1976.

Pelo Botafogo:
– Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca em 1977.
– Campeão da Taça José Wander Rodrigues Mendes em 1976.

Pelo Internacional:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1979.
– Campeão do Campeonato Gaúcho em 1981 e 1984.
– Campeão da Copa Kirin em 1984.
– Campeão do Torneio Heleno Nunes em 1984.

Pelo São Paulo:
– Campeão do Campeonato Paulista em 1981.

Pelo Grêmio:
– Campeão da Copa Intercontinental (Mundial de Clubes) em 1983.
– Campeão da Copa Los Angeles em 1983.
– Campeão do Troféu ‘Cell’ (ESA) em 1983.

Pela Seleção Brasileira de Masters:
– Campeão da Copa Pelé (Copa do Mundo de Masters) em 1991

Distinções e premiações individuais:
– Eleito para a Bola de Prata da Revista Placar em 1973, 1974, 1980 e 1981.

… #ForçaChape

Três pontos sobre…
#ForçaChape


(Imagem localizada no Google)

● Difícil escrever algo nesse momento. Toda e qualquer morte, de quem quer que seja, já é uma lamentação. Quando há alguma tragédia, muitos lamentam e sofrem. Casos de grande proporção, mais ainda. Mas nos últimos 30 anos não houve nenhum acidente de tamanha repercussão quanto a queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellín. O Vôo 2933 de LaMia caiu a região colombiana de Antióquia. Entre jogadores, comissão técnica, dirigentes, profissionais da imprensa e da empresa de aviação, eram 77 pessoas a bordo e apenas 6 sobreviveram: Alan Ruschel (lateral), Neto (zagueiro), Jackson Follman (goleiro, que teve uma das pernas amputada), Rafael Henzel (jornalista da rádio Oeste Capital, de Chapecó), Ximena Suárez (comissária de bordo) e Erwin Tumiri (técnico da aeronave).

Luciano Buligon (prefeito de Chapecó), Plínio David de Nes Filho (presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense), Gelson Merisio (presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina) e o jornalista Ivan Carlos Agnoletto (da rádio Super Condá, de Chapecó), estavam com seus nomes na lista, mas não embarcaram. Matheus Saroli, filho do técnico Caio Júnior, esqueceu o passaporte em casa, que também o impediu de embarcar.

● Chapecó é uma cidade que abraçou sua equipe e a carregou desde sua fundação, em 1973. Era o time modelo do futebol brasileiro atualmente. Nos últimos dez anos, é uma arrancada espetacular, uma aula de gestão de futebol, conquistando os títulos do Campeonato Catarinense em 2007, 2011 e 2016. Em extrema evolução, o time estava na Série D em 2009, na Série C em 2012, na Série B em 2013 e a partir de 2014 passou a jogar a Série A do Campeonato Brasileiro. É das únicas equipes que nunca foi rebaixada na história do Brasileirão (junto com São Paulo, Flamengo, Santos, Cruzeiro e Inter, por enquanto). Vendeu caro sua eliminação nas quartas-de final da Copa Sul-Americana em 2015. Já em 2016, fez toda a América se apaixonar pelo clube, pela alta qualidade de seu futebol e pela entrega total em campo. Na final, enfrentaria o melhor time das Américas no momento: O Atlético Nacional, de Medellín. Esperávamos ansiosamente por esse jogo, mas uma das maiores fatalidades da história recente levou quase todos para o céu.

● Se foram grandes heróis que vestiam verde. Eram todos fundamentais. É uma grande injustiça citar nomes, mas impossível não falar no goleiro Danilo. Se os palmeirenses e atleticanos, respectivamente, apelidaram seus goleiros de São Marcos e São Victor, certamente para os torcedores da Chape o goleiro é São Danilo. Desde 2013 no clube, São Danilo fez seu maior milagre no último lance do jogo de volta das semifinais da Copa Sul-Americana, contra o San Lorenzo, em um chute a queima roupa dentro da área. Esse lance levou a Chape para essa final. Ele quase conseguiu outro milagre ao ser resgatado vivo, mas as lesões torácicas o levaram a óbito. Ananias, o heroi autor do gol mais importante da história do clube, no jogo fora de casa, na mesma semifinal… Cléber Santana era o capitão, fonte de experiência, a alma da Chape… Bruno Rangel é o maior artilheiro da história o clube, com 77 gols… O técnico Caio Junior, de tantos clubes, também pode ser considerado ídolo da equipe de Chapecó. Foi fundamental nessa aventura sul-americana.

Outras perdas doloridas foram a de todos os profissionais da imprensa. Morreram várias referências para mim, como Victorino Chermont, Deva Pascovicci, Paulo Julio Clement e, especialmente, Mario Sergio Pontes de Paiva. Este merece um espaço a parte. Comentarista de opinião, técnico ranzinza e jogador genial. Ídolo do Inter e craque campeão mundial com Grêmio.

Todas as perdas são lamentáveis. Estamos realmente chocados e muito tristes por escrever sobre isso quando estávamos preparando para narrar os feitos dentro de campo desse super time. Infelizmente a Chapecoense entrou para a história da maneira mais triste possível, mas sempre estará dentro dos corações dos amantes do futebol.