Três pontos sobre…
… 10/07/1994 – Suécia 2 x 2 Romênia
O goleiro Prunea sobe mal e Kennet Anderson cabeceia para empatar o jogo na prorrogação, levando a partida para os pênaltis. (Imagem: Pinterest)
● O confronto nas quartas de final da Copa do Mundo de 1994 entre Suécia e Romênia era de garantia que haveria pelo menos uma grande surpresa nas semifinais. Apesar de ambas seleções contarem com bons jogadores, consolidados nos grandes centros europeus, elas não eram favoritas a irem tão longe no Mundial. Mas os suecos tinham o ataque mais positivo da competição até então e os romenos apresentavam o futebol mais vistoso, liderados pelo maestro Gheorghe Hagi.
A Suécia contava com o veterano goleiro Ravelli, com o lateral direito e excelente cruzador Roland Nilsson, com o seguro zagueiro Patrik Andersson, os fortes volantes Klas Ingesson, Stefan Schwarz, Jonas Thern, Anders Limpar e Håkan Mild, os rápidos e habilidosos meias Tomas Brolin e Jesper Blomqvist, além dos vorazes atacantes Kennet Andersson, Martin Dahlin e do jovem Henrik Larsson. Na fase de grupos, os suecos terminaram em segundo lugar com cinco pontos. Empataram com Camarões (2 x 2), bateram a Rússia (3 x 1) e empataram com o Brasil (1 x 1). Nas oitavas, não deram chance à zebra e venceram a Arábia Saudita por 3 a 1.
A seleção romena tinha como base o lendário time do Steaua Bucarești, campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual UEFA Champions League) em 1985/86 e vice em 1987/88. Tinha como destaques o ótimo lateral direito Dan Petrescu, o experiente e multicampeão zagueiro Miodrag Belodedici, os bons volantes Gheorghe Popescu, Ioan Lupescu e Constantin Gâlcă, o célere ponta esquerda Dorinel Munteanu e os infernais atacantes Ilie Dumitrescu e Florin Răducioiu, além do gênio Gheorghe Hagi, claro. Na primeira fase, a Romênia foi líder do equilibrado Grupo A com seis pontos. Na estreia, venceu a favorita Colômbia por 3 a 1. Depois, foi goleada pela Suíça por 4 a 1. No terceiro jogo, venceu os anfitriões Estados Unidos por 1 a 0. Nas oitavas de final, surpreendeu apenas os que não conheciam sua força, ao vencer a Argentina de Redondo, Caniggia e Batistuta (já sem Maradona, suspenso por doping) por 3 a 2.
As duas seleções usavam camisas amarelas. Mas nessa partida, nenhuma utilizaria seu uniforme principal. A Suécia jogou toda de branco e a Romênia toda de vermelho.
A Suécia jogava no 4-4-2 clássico, com muita marcação no meio de campo e velocidade com os atacantes.
Após utilizar o 4-5-1 contra a Argentina quando Răducioiu cumpriu suspensão, o técnico Anghel Iordănescu voltou a utilizar o sistema 4-4-2, aumentando o poder de fogo da equipe do leste europeu.
● O primeiro tempo das duas seleções foi bastante cauteloso. Parecia uma partida de xadrez bastante equilibrada. Os suecos tentavam preencher os espaços e impedir o avanço dos romenos. Hagi foi muito bem cercado pelos nórdicos, que o deixava isolado e marcava individualmente os demais jogadores de frente da Romênia, impossibilitando que o capitão pensasse e lançasse como nas partidas anteriores. Com as rápidas investidas de Dahlin e Brolin, a Suécia levava mais perigo ao gol romeno do que o contrário.
Mas foram 78 minutos sem gols, em parte por respeito mútuo, em parte pelo calor de 35º C com o sol a pino na tarde de San Francisco, na Califórnia. A partida viria a deslanchar apenas no fim da segunda etapa.
Aos 32′ do segundo tempo, Prodan fez falta no atacante sueco Dahlin. Na jogada ensaiada, Schwarz passou pela bola e Mild fez o passe no costado da zaga para Tomas Brolin chutar cruzado, no ângulo, e inaugurar o marcador. Era o segundo gol no Mundial anotado pelo “Boneco Assassino“, apelido de Brolin.
Faltavam apenas doze minutos para os suecos confirmarem o seu lugar nas semifinais, mas bastou um erro de concentração e posicionamento para tudo ir por água abaixo.
O empate foi heroico, também de bola parada, a dois minutos do fim. Falta para a Romênia na intermediária. O mágico pé esquerdo de Hagi lançou para a área, a bola desviou na defesa e sobrou dentro da pequena área para Răducioiu chutar alto, sem chances para Ravelli.
Sem mais gols, era a quarta partida do Mundial que iria para a prorrogação. Por mais que se refrescassem do forte calor, iriam ter que jogar por mais trinta minutos.
Após 11 minutos do tempo extra, Mild cometeu uma falta no meio campo. Hagi, sempre ele, lançou para Dumitrescu. A zaga cortou, mas a bola ficou nos pés de Răducioiu, que chutou da entrada da área, no canto esquerdo do goleiro. Florin Răducioiu, atacante do Milan, estava suspenso na partida anterior contra os argentinos e fez muita falta à sua seleção. Agora, de volta, mostrava o quanto era importante no esquema do técnico Anghel Iordănescu.
Na sequência, Schwarz foi expulso. Faltavam apenas 20 minutos e a Suécia estava com um jogador a menos. Seria muito difícil conseguir empatar.
Mas, aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação, Roland Nilsson cruzou para a área a o gigante sueco (1,95 m) Kennet Andersson subiu mais alto que o goleiro Prunea e empatou de cabeça.
Nos últimos segundos, a Suécia teve a chance de virar o jogo. Dahlin lançou em profundidade na direita para Kennet Anderson, que chutou cruzado para grande defesa de Prunea. No rebote, Larsson chutou e Prunea pegou de novo, se redimindo da falha grotesca no segundo gol escandinavo.
Após 120 minutos, a vaga seria decidida nos pênaltis.
A Suécia começaria batendo. Logo na primeira cobrança, Håkan Mild chutou por cima.
Depois, todos converteram: Răducioiu, Kennet Andersson, Hagi, Brolin, Lupescu e Klas Ingesson, o “Gigante Branco“, que faleceu em outubro de 2014 devido a um câncer.
No quarto pênalti romeno, Petrescu bateu na esquerda, à meia altura e sem força. O excêntrico goleiro Ravelli acertou o canto e igualou tudo. 3 a 3 até então.
Roland Nilsson e Dumitrescu converteram suas cobranças.
Na série alternada, Larsson marcou.
Belodedici, um dos mais experientes e campeões do time, precisaria converter para empatar a série. Ele cobrou de forma idêntica a Petrescu e Ravelli também pegou, se tornando o herói da classificação.
Ravelli defendeu o quarto pênalti romeno, batido por Dan Petrescu. (Imagem localizada no Google)
● A Suécia estava na semifinal 36 anos após a derrota na decisão em casa, na Copa de 1958, quando perdeu por 5 a 2 para o Brasil. Agora, teria a chance de se vingar nas semifinais contra a mesma Seleção Brasileira, em gramados norte-americanos.
Terminava assim, de forma precoce, a campanha da melhor seleção romena de todos os tempos. Foi o bastante para eternizar aqueles jogadores na história das Copas. A Romênia tinha, finalmente e para sempre, marcando seu lugar na história do futebol mundial, devido ao futebol vistoso e ofensivo.
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Depois da façanha de Popescu, Hagi, Dumitrescu e Răducioiu, a seleção amarela jamais brilhou de maneira tão intensa em outra Copa. Desde então, disputou apenas o Mundial de 1998, com a mesma equipe base de quatro anos antes. Se saiu bem na primeira fase, mas caiu nas oitavas de final para a Croácia de Davor Šuker.
Răducioiu comemora um de seus dois gols contra a Suécia. (Imagem: Planet World Cup)
● FICHA TÉCNICA: |
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SUÉCIA 2 x 2 ROMÊNIA |
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Data: 10/07/1994 Horário: 12h30 locais Estádio: Stanford Público: 83.500 Cidade: Stanford (Estados Unidos) Árbitro: Philip Don (Inglaterra) |
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SUÉCIA (4-4-2): |
ROMÊNIA (4-4-2): |
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1 Thomas Ravelli (G) |
1 Florin Prunea (G) |
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2 Roland Nilsson (C) |
2 Dan Petrescu |
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3 Patrik Andersson |
3 Daniel Prodan |
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4 Joachim Björklund |
4 Miodrag Belodedici |
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5 Roger Ljung |
13 Tibor Selymes |
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6 Stefan Schwarz |
6 Gheorghe Popescu |
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18 Håkan Mild |
5 Ioan Lupescu |
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8 Klas Ingesson |
7 Dorinel Munteanu |
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11 Tomas Brolin |
10 Gheorghe Hagi (C) |
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10 Martin Dahlin |
11 Ilie Dumitrescu |
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19 Kennet Andersson |
9 Florin Răducioiu |
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Técnico: Tommy Svensson |
Técnico: Anghel Iordănescu |
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SUPLENTES: |
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12 Lars Eriksson (G) |
12 Bogdan Stelea (G) |
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22 Magnus Hedman (G) |
22 Ștefan Preda (G) |
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13 Mikael Nilsson |
14 Gheorghe Mihali |
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14 Pontus Kåmark |
8 Iulian Chiriță |
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15 Teddy Lučić |
18 Constantin Gâlcă |
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20 Magnus Erlingmark |
19 Corneliu Papură |
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17 Stefan Rehn |
20 Ovidiu Stîngă |
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9 Jonas Thern |
15 Basarab Panduru |
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16 Anders Limpar |
16 Ion Vlădoiu |
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21 Jesper Blomqvist |
21 Marian Ivan |
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7 Henrik Larsson |
17 Viorel Moldovan |
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GOLS: |
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78′ Tomas Brolin (SUE) |
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88′ Florin Răducioiu (ROM) |
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101′ Florin Răducioiu (ROM) |
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115′ Kennet Andersson (SUE) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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7′ Klas Ingesson (SUE) |
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21′ Gheorghe Popescu (ROM) |
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34′ Tibor Selymes (ROM) |
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43′ Stefan Schwarz (SUE) |
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108′ Basarab Panduru (ROM) |
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CARTÃO VERMELHO: 101′ Stefan Schwarz (SUE) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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84′ Dorinel Munteanu (ROM) ↓ |
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Basarab Panduru (ROM) ↑ |
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84′ Joachim Björklund (SUE) ↓ |
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Pontus Kåmark (SUE) ↑ |
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INTERVALO DA PRORROGAÇÃO Martin Dahlin (SUE) ↓ |
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Henrik Larsson (SUE) ↑ |
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DECISÃO POR PÊNALTIS: |
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SUÉCIA 5 |
ROMÊNIA 4 |
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Håkan Mild (perdeu, por cima do travessão) |
Florin Răducioiu (gol, no canto esquerdo) |
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Kennet Andersson (gol, no ângulo esquerdo) |
Gheorghe Hagi (gol, à esquerda deslocando o goleiro) |
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Tomas Brolin (gol, fraco no canto direito) |
Ioan Lupescu (gol, à direita à meia altura) |
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Klas Ingesson (gol, no meio do gol) |
Dan Petrescu (perdeu, à esquerda defendido por Ravelli) |
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Roland Nilsson (gol, alto no meio do gol) |
Ilie Dumitrescu (gol, no meio do gol) |
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Henrik Larsson (gol, no canto esquerdo) |
Miodrag Belodedici (perdeu, à esquerda defendido por Ravelli) |
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Gheorghe Hagi, o maestro da melhor Romênia de todos os tempos. (Imagem: Pinterest)
Gols da partida:
O pênalti da classificação, cobrado por Belodedici e defendido por Ravelli:
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