Três pontos sobre…
… 20/06/1998 – Bélgica 2 x 2 México
(Imagem: W Deportes)
● Historicamente, a seleção mexicana é participante contumaz das Copas do Mundo. Mas em certa época não foi bem assim. Em 1970 foi anfitrião, mas em 1974 deixou a vaga escapar para o Haiti. Foi ao Mundial de 1978, mas foi último colocado na classificação geral. Em 1982, ficou de fora caindo para Honduras e El Salvador. Em 1986, foi novamente o dono da casa. Em 1990, estava banido pela FIFA por dois anos por causa do “Escândalo dos Cachirules” (quando a seleção sub-20 jogou com vários jogadores com idade acima do permitido). Assim, de 1966 a 1994, a única vez que o México se classificou para uma Copa dentro de campo, havia sido em 1978. Mas a partir de 1994, os aztecas recuperaram o protagonismo em seu continente.
Nas eliminatórias de 1998, sofreram um pouco no Grupo 3 da terceira fase, após ficar em segundo lugar em uma chave com a líder Jamaica e apenas dois pontos à frente de Honduras. Mas no hexagonal final, conquistou a liderança com quatro vitórias e dois empates.
A defesa belga não tinha a consistência de outrora. Se antes podia contar com goleiros da estirpe de Jean-Marie Pfaff e Michel Preud’homme, Filip De Wilde não mantinha o mesmo nível – embora também não fosse ruim. A aposta era no ataque, com o maranhense naturalizado Luís Oliveira, o “Oliverrá”. Outro destaque era Luc Nilis, que havia sido grande parceiro de Ronaldo nos tempos de PSV. No banco, os irmãos Mbo e Émile Mpenza eram boas alternativas para o segundo tempo.
Na primeira rodada do Mundial, o México venceu a Coreia do Sul de virada por 3 x 1, com gols Ricardo Peláez e Luis Hernández (2).
(Imagem: Dusan Vranic / AP Photo)
● A seleção da Bélgica também é uma daquelas figurinhas carimbadas que costumam bater ponto nas Copas. Depois das ausências nas edições de 1974 e 1978, os Diables Rouges emendaram uma nova sequência a partir de 1982 – com destaque para 1986, no México, quando chegou às semifinais e terminou em quarto lugar. Em 1998 ainda haviam dois remanescentes da boa campanha de 1986: os meio-campistas Franky Van der Elst e Enzo Scifo.
No Grupo 7 das eliminatórias da UEFA, a Bélgica terminou em segundo lugar em seu grupo, apenas um ponto atrás da vizinha Holanda. Mas perdeu as duas partidas para os arquirrivais (0 x 3 em Bruxelas e 1 x 3 em Roterdã). E os belgas precisaram disputar o playoff dos segundos colocados em suas chaves. Após empate por 1 x 1 com a Irlanda em Dublin, venceu o jogo de volta por 2 x 1 no estádio Rei Balduíno. Ou seja: a Bélgica conseguiu sua vaga pela vantagem mínima e jogando o básico.
Campeão da Copa Ouro da CONCACAF em fevereiro, o técnico Manuel Lapuente tinha um forma curiosa de estimular seu elenco. Ele gostava de exibir filmes “que proporcionassem serenidade e gerassem confiança”. Em um desses filmes, os os jogadores tiveram de assistir ao voo de uma águia. Na convocação, ele deixou de fora os veteranos Benjamín Galindo e Carlos Hermosillo, que estavam em ótima fase jogando juntos pelo Cruz Azul.
Na partida de estreia da Copa, a Bélgica novamente enfrentou a Holanda. Dessa vez, o sistema defensivo montado pelo técnico Georges Leekens se sobressaiu e o jogo terminou sem gols.
A Bélgica jogou no sistema 4-4-2.
O México atuou no esquema 3-4-3.
● Se contra a rival Holanda a Bélgica não mostrou muita disposição para atacar, isso definitivamente mudou contra o México. O veterano Scifo voltava ao time titular, no lugar de Philippe Clement. Na defesa, Gordan Vidović ganhou a posição de Mike Verstraeten. Lesionado, o lateral direito Bertrand Crasson deu lugar a Éric Deflandre.
O técnico Manuel Lapuente mudou o sistema tático. O tradicional 4-4-2 deu lugar ao ofensivo e dinâmico 3-4-3. Saíram os meias Raúl Lara e Braulio Luna e entraram o zagueiro Joel Sánchez e o atacante Francisco Palencia.
Com a inteligência e experiência de Scifo no meio de campo, a Bélgica começou melhor.
Aos 17′, Danny Boffin precisou sair para a entrada de Gert Verheyen.
Aos 28′, Pavel Pardo foi expulso por jogada violenta.
O placar foi aberto apenas aos 42′. Oliveira cobrou escanteio da esquerda. A bola passou por todo mundo e chegou à segunda trave. Sem marcação, Marc Wilmots deixou a bola bater em sua barriga e ir para o gol. Ela ainda passou entre as pernas do goleiro Jorge Campos.
O próprio Wilmots ampliou a vantagem belga aos três minutos do segundo tempo. Ele avançou em velocidade, cortou a marcação de Davino, entrou na grande área, ganhou de Suárez na dividida e, mesmo caindo, teve tranquilidade para finalizar no canto esquerdo do goleiro. Um belo gol.
(Imagem: Pinterest)
Parecia que seria uma vitória tranquila os belgas, mas o México já tinha reagido diante da Coreia do Sul. E isso aconteceu novamente.
Com um homem a mais e dois gols de frente no placar, a Bélgica tinha o jogo na mão até os 10′ – momento em que Verheyen cometeu pênalti em Ramón Ramírez e foi expulso.
O capitão García Aspe diminuiu o placar cobrando a penalidade. Sem tomar distância, ele bateu firme de perna esquerda. A bola foi no canto esquerdo do goleiro Filip De Wilde, que até acertou o canto, mas não conseguiu pegar. A bola foi na “bochecha” da rede.
O gol deu fôlego para os aztecas, que empataram sete minutos depois. Ramón Ramírez recebeu lançamento pela esquerda, dominou e cruzou na segunda trave. Cuauhtémoc Blanco se esticou todo, de forma acrobática, e tocou com o pé esquerdo para mandar para a rede.
A Bélgica sentiu o gol de empate e pouco fez no restante da partida.
O México, esgotado por ter corrido tanto em busca do empate, também não tinha forças para algo a mais.
(Imagem: fmfstateofmind.com)
● No fim, pode se considerar que o México ganhou um ponto e que a Bélgica perdeu dois. Mas, mesmo com sabor amargo, o empate não foi um resultado totalmente ruim para os Diables Rouges. Bastava que eles vencessem a frágil Coreia do Sul por um bom placar na última rodada.
Por sua vez, pensando em classificação, o México precisava de um empate diante da Holanda ou então torcer para que a a Bélgica não vencesse a Coreia do Sul. E aconteceu tudo isso junto.
Na última rodada, a Bélgica saiu na frente, mas cedeu o empate aos sul-coreanos. Enquanto os mexicanos foram buscar o empate diante dos holandeses após estar perdendo por 2 x 0 novamente.
Embora tenha terminado a Copa invicta, a Bélgica caiu na primeira fase, com três empates em três partidas, com três gols marcados e três sofridos.
O México seguiu sua sina de cair nas oitavas de final (até 2018 são sete quedas consecutivas nessa fase). Dessa vez, perdeu de virada para a Alemanha por 2 x 1. Luis Hernández abriu o placar, marcando seu quarto gol na Copa. Mas a dupla alemã funcionou e fez dois gols, com Jürgen Klinsmann e Oliver Bierhoff – cada um marcando uma vez. Desde então, a o bordão clássico segue cada vez mais vivo: “O México jogou como nunca e perdeu como sempre”.
(Imagem: Acervo das Camisas)
Dentre vários uniformes lindos e inesquecíveis da Copa de 1998, com um festival de cores e excesso de detalhes, provavelmente o mais marcante seja o do México. Em um design deveras ousado, os mexicanos foram em busca de suas raízes e estamparam a imagem da “Pedra do Sol Asteca” em marca d’água nas suas duas camisas. O uniforme principal tinha camisa verde, calções brancos e meias vermelhas, justificando o apelido de El Tricolor. O fardamento reserva era todo branco. Cada qual mais lindo que o outro.
Naquela época, eu era um menino de doze anos e aquela seleção mexicana ficou em minha memória por vários motivos. Tanto pelo uniforme, quanto por jogar um futebol ofensivo no sistema 3-4-3, mas também pelos seus jogadores. Jorge Campos era um goleiro baixinho e espalhafatoso; Claudio Suárez era um zagueiro seguro que parecia um índio; Alberto García Aspe desfilava em campo com sua perna esquerda; Francisco Palencia era um atacante clássico que tinha um cabelo enorme com rabo de cavalo; Cuauhtémoc Blanco era muito habilidoso e inventou um drible chamado “cuauhtemiña” ou “canguru”, que ele segurava a bola com as duas pernas e pulava com ela sobre a marcação; e Luis Hernández, um centroavante clássico, de muito bom posicionamento e finalização, além do cabelo loiro sobre os ombros, muito característico e carismático. Era impossível não gostar desse time.
(Imagem: kitsclassicoswe10.blogspot.com)
● FICHA TÉCNICA: |
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BÉLGICA 2 x 2 MÉXICO |
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Data: 20/06/1998 Horário: 17h30 locais Estádio: Parc Lescure Público: 31.800 Cidade: Bordeaux (França) Árbitro: Hugh Dallas (Escócia) |
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BÉLGICA (4-4-2): |
MÉXICO (3-4-3): |
1 Filip De Wilde (G) |
1 Jorge Campos (G) |
22 Éric Deflandre |
2 Claudio Suárez |
3 Lorenzo Staelens |
3 Joel Sánchez |
4 Gordan Vidović |
5 Duilio Davino |
5 Vital Borkelmans |
13 Pável Pardo |
6 Franky Van der Elst (C) |
20 Jaime Ordiales |
14 Enzo Scifo |
8 Alberto García Aspe (C) |
21 Danny Boffin |
7 Ramón Ramírez |
7 Marc Wilmots |
17 Francisco Palencia |
8 Luís Oliveira |
11 Cuauhtémoc Blanco |
10 Luc Nilis |
15 Luis Hernández |
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Técnico: Georges Leekens |
Técnico: Manuel Lapuente |
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12 Philippe Vande Walle (G) |
12 Oswaldo Sánchez (G) |
13 Dany Verlinden (G) |
22 Óscar Pérez (G) |
2 Bertrand Crasson |
18 Salvador Carmona |
19 Eric Van Meir |
16 Isaac Terrazas |
15 Philippe Clement |
4 Germán Villa |
16 Glen De Boeck |
6 Marcelino Bernal |
17 Mike Verstraeten |
14 Raúl Lara |
11 Nico Van Kerckhoven |
19 Braulio Luna |
18 Gert Verheyen |
21 Jesús Arellano |
20 Émile Mpenza |
10 Luis García |
9 Mbo Mpenza |
9 Ricardo Peláez |
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GOLS: |
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42′ Marc Wilmots (BEL) |
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47′ Marc Wilmots (BEL) |
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55′ Alberto García Aspe (MEX) (pen) |
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62′ Cuauhtémoc Blanco (MEX) |
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CARTÕES AMARELOS: |
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39′ Ramón Ramírez (MEX) |
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47′ Cuauhtémoc Blanco (MEX) |
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68′ Gordan Vidović (MEX) |
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CARTÕES VERMELHOS: |
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28′ Pável Pardo (MEX) |
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54′ Gert Verheyen (BEL) |
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SUBSTITUIÇÕES: |
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17′ Danny Boffin (BEL) ↓ |
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Gert Verheyen (BEL) ↑ |
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INTERVALO Francisco Palencia (MEX) ↓ |
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Jesús Arellano (MEX) ↑ |
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57′ Jaime Ordiales (MEX) ↓ |
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Germán Villa (MEX) ↑ |
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67′ Alberto García Aspe (MEX) ↓ |
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Raúl Lara (MEX) ↑ |
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67′ Franky Van der Elst (BEL) ↓ |
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Glen De Boeck (BEL) ↑ |
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77′ Luc Nilis (BEL) ↓ |
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Émile Mpenza (BEL) ↑ |
Gols da partida: