Três pontos sobre…
… Berti Vogts: o homem-carrapato
(Imagem: World Football)
● Final da Copa do Mundo de 1974, em Berlim. A anfitriã Alemanha Ocidental enfrentava a Holanda, que estava surpreendendo e encantando o mundo com o seu jogo dinâmico. Assim que foi dada a saída de jogo, o “Carrossel Holandês” começou a girar e tocou na bola ininterruptamente 36 vezes, com 17 troca de passes entre os jogadores. Todos estavam acima da linha do meio do campo, onde Johan Cruijff recebeu a bola. O maestro arrancou, passou pelo seu marcador e por outros três jogadores até sofrer o pênalti, bem convertido por Johan Neeskens. A Alemanha Ocidental nem tinha tocado na bola e já perdia a final em casa por 1 a 0, com um minuto e 20 segundos de jogo. Foi o início mais extraordinário de uma final de Copa. Os alemães estavam em choque, tanto a torcida quanto os jogadores. Aos 4 minutos de jogo, Cruijff arranca novamente e é derrubado pelo seu marcador, que leva o cartão amarelo e tem que jogar o resto da final pendurado.
Só que esse não era qualquer marcador. Berti Vogts, o “Tigre Loiro”, tinha um papel fundamental. O técnico Helmut Schön desprezou a marcação por zona e escalou o lateral direito, nº 2, Vogts, como um cão de guarda permanente em cima de Cruijff. Ele desempenhou esse papel muito bem, isolando o holandês da zona de perigo.
No fim do primeiro tempo, em um rápido contra-ataque, Bernd Hölzenbein lança Vogts sozinho na cara do gol, mas o excêntrico goleiro Jan Jongbloed salvou de forma brilhante. A Alemanha empataria com Paul Breitner cobrando pênalti e viraria com Gerd Müller. Mas Vogts foi o melhor em campo e quase também fez o gol do título. O foco da batalha seguia entre ele e o camisa 14 laranja. Ele já tinha marcado Crujff outras vezes e o gênio holandês foi ficando muito irritado com a marcação individual do “Buldogue Alemão”, reclamando muito com a arbitragem, a tal ponto de ter levado o cartão amarelo no intervalo e quase sendo expulso depois por divididas desleais. Dizem as más línguas, que Vogts seguiu Cruijff para o vestiário adversário, como gêmeos siameses.
● Mas ele não era só isso. Hans-Hubert Vogts nasceu em Büttgen, na Alemanha, em 30/12/1946. O baixinho (1,68 m) fez história nos tempos áureos do Borussia Mönchengladbach, onde atuou por toda a carreira, de 1965 a 1979, em 419 partidas (é quem mais jogou com a camisa dos “Potros”, apelido do Gladbach), anotando 32 gols. Era um incansável lateral direito, que sabia apoiar o ataque com qualidade, mas seu forte mesmo era a marcação. Talvez tenha sido o maior marcador que o futebol já tenha visto. Era um dos destaques do Gladbach quando o time conquistou a Bundesliga por cinco vezes e a Copa da UEFA por duas vezes. Chegou à final da UEFA Champions League de 1977, mas sua equipe foi incapaz de vencer o Liverpool.
Jogou 96 partidas e marcou um gol pela Alemanha Ocidental. Era um dos favoritos da torcida pela dedicação, sempre lutando pela bola como se fosse seus últimos instantes de vida. Como falamos no início do texto, “colocou Cruijff no bolso” na final da Copa de 74, quando foi campeão. Também conquistou a Euro 72. Após Franz Beckenbauer se retirar da seleção, Vogts se tornou o capitão por 20 jogos, inclusive na Copa de 78.
Após encerrar a carreira, se tornou técnico da seleção sub-21 da Alemanha Ocidental, onde ficou até 1990. A partir de 1986, se tornou auxiliar técnico de Franz Beckenbauer na seleção principal. A partir de 1990, ele assumiu como treinador, levando seu país a ser vice-campeão da Eurocopa de 1992 e campeão da Euro 96. Não teve sucesso nas Copas do Mundo de 1994 e 1998, quando caiu nas quartas de final em ambas. Deixou a seleção em setembro de 1998.
Passou pelo Bayer Leverkusen entre novembro de 2000 e maio de 2001, mas foi demitido. Em agosto de 2001 assinou como técnico do Kuwait, onde ficou apenas seis meses e saiu para assumir a seleção da Escócia, durando até 2006. Treinou a seleção da Nigéria entre 2007 e 2008 e a seleção do Azerbaijão entre 2008 e 2014, também sem nenhum sucesso. Foi auxiliar técnico de Jürgen Klinsmann na seleção dos Estados Unidos de março de 2015 até novembro de 2016.
● Feitos e premiações de Berti Vogts:
Como jogador, pela Seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo de 1974.
– Campeão da Eurocopa de 1972.
– Vice-campeão da Eurocopa de 1976.
– 3º lugar na Copa do Mundo de 1970.
Como jogador, pelo Borussia Mönchengladbach:
– Campeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1969/70, 1970/71, 1974/75, 1975/76 e 1976/77.
– Campeão da Copa da UEFA em 1974/75 e 1978/79.
– Campeão da Copa da Alemanha em 1972/73.
Como auxiliar técnico, pela Seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo de 1990.
Como técnico, pela Seleção da Alemanha:
– Campeão da Eurocopa de 1996.
– Vice-campeão da Eurocopa de 1992.
Distinções e premiações individuais:
– Eleito o jogador alemão do ano em 1971 e 1979.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1974 e 1978.
– Eleito para a Seleção do Campeonato Alemão por 11 vezes entre 1968 e 1978.
– Eleito melhor técnico do mundo pela revista World Soccer em 1996.
– Eleito o homem do ano no futebol alemão em 1995.
– Premiado com o “Bundesverdienstkreuz 1. Klasse” (algo como “Ordem do Mérito de 1ª Classe”, em tradução livre) em 1996, máxima homenagem concedida pelo governo alemão.
– Premiado com o “Silbernes Lorbeerblatt” (algo como “Prêmio da Folha Prateada”, em tradução livre) em 1994, máximo prêmio esportivo conferido pelo governo alemão.