Três pontos sobre…
… Héctor Scarone: lenda olímpica e campeão do mundo
(Imagem: UOL)
● Héctor Pedro Scarone Beretta nasceu em Montevidéu em 24/11/1898 e faleceu na mesma cidade em 04/04/1967. Tinha um irmão atacante, dez anos mais velho, também muito famoso na mesma época, chamado Carlos “Rasqueta” Scarone, que também jogava no Nacional e na seleção uruguaia.
Era conhecido como “El Mago”, pelas maravilhas que fazia em campo. Tinha também o apelido de “La Borelli” (uma artista do cinema italiano), por ser muito caprichoso e exigente fora de campo – era genial em campo e genioso fora dele. Também era chamado de “Gardel do Futebol”, pois jogava como se tivesse cantando em um show. Era um jogador completo, considerado o melhor jogador do mundo em seu tempo (décadas de 1920 e 1930) e por vezes considerado o melhor jogador da história do futebol uruguaio. Tinha uma excelente finalização, bom passe, exímio em lançamentos longos e cobranças de faltas. Batia escanteios dos dois lados, com qualquer das pernas (era ambidestro). Tinha agilidade e bom drible. Com apenas 1,70 m de altura, fazia muitos gols de cabeça. Era praticamente imparável em cobrança de pênaltis, sendo que cobrou 117 e errou apenas um. Criou a chamada “tabelinha” (um-dois, chamada no Uruguai de “pared”), com seu colega Pedro Petrone. Sua grande qualidade era reconhecida também por adversários. O italiano Giuseppe Meazza dizia que Scarone era o jogador mais fantástico que já viu. O goleiro espanhol Ricardo Zamora se referiu a ele como “o símbolo do futebol”. Por sua vez, a imprensa argentina dizia que era o rival mais temido pela sua seleção.
Jogou a maior parte de sua carreira no Nacional, se tornando uma lenda do clube. Estreou na equipe em 1916 e se despediu em 1939, jogando depois uma temporada no Montevideo Wanderers para encerrar de vez sua carreira. Antes disso, jogou por três temporadas no futebol europeu: em 1926, jogando pelo Barcelona; entre 1931 e 1932, pela Società Sportiva Ambrosiana (atual Internazionale de Milão – foi o primeiro estrangeiro da Inter e o segundo uruguaio a jogar na Europa, depois de Julio Bavasto, que passou pelo Milan em 1910) e entre 1932 e 1934, pelo Palermo, também da Itália. Seu compromisso com os Bolsos (apelido do Nacional) e com sua pátria, refletiu em suas atitudes enquanto jogava pelo Barcelona em 1926. Com o advento do profissionalismo na Espanha, Scarone decidiu abandonar o clube catalão porque, se assinasse um contrato profissional, complicaria sua situação na preparação junto a seleção para os Jogos Olímpicos de 1928 e também nunca voltaria a jogar no seu Nacional.
“Eu pensei em meu país, que logo viriam as Olimpíadas de 1928, na qual eu devia vestir a camisa celeste, pensei no Nacional também, no qual eu não voltaria a jogar, e não quis assinar. Poucos dias antes de embarcar, me fizeram a última proposta: 30 mil pesos em dinheiro por um contrato de cinco anos e também não aceitei. Eu voltei para jogar de novo pela Celeste e pelo meu Nacional.” — Héctor Scarone, sobre sua saída do Barcelona.
Decisões como essa ganharam para sempre o coração da torcida uruguaia, que ainda se lembra dele como um dos maiores expoentes da história do futebol local. Em sua homenagem, uma das tribunas populares do Estádio Parque Central leva o seu nome.
● Teve uma extensa trajetória profissional, com 24 anos jogando. No Nacional, possui o recorde de maior quantidade de anos jogando pelo clube (20 anos) e é o terceiro maior artilheiro do Campeonato Uruguaio, com 163 gols. Ainda é o segundo maior goleador da história do Club Nacional de Football, com 301 gols em 369 jogos, incluindo amistosos (atrás apenas de Atilio García, com 468 gols).
Pela seleção do Uruguai, com 19 anos e apenas na quarta partida com a camisa celeste, fez o gol do título da Copa América de 1917, na final contra a Argentina. Venceu a Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926. Ainda foi vice em 1919 e 1927. Conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 e a Copa do Mundo de 1930. Disputou 51 partidas oficiais e anotou 31 gols. Se contar amistosos não reconhecidos pela FIFA, fez 52 gols em 70 jogos. Era o maior artilheiro da história da seleção até 11/10/2011, quando foi superado por Diego Forlán (e posteriormente, por Luis Suárez e Edinson Cavani). Na Copa América de 1926, fez cinco gols na Bolívia, na vitória por 6 x 0 e se tornou o único jogador a anotar cinco gols pela seleção uruguaia. Foi eleito o melhor jogador da Copa América de 1917 e foi o artilheiro da Copa América de 1927, com três gols. É o quinto maior artilheiro da história da competição, com 13 gols em 21 jogos.
Héctor Scarone é um dos cinco campeões da Copa do Mundo que nasceram no século XIX, mas ele é o mais velho, nascido em 1898 (Domingo Tejera veio ao mundo em 1899, enquanto Lorenzo Fernández, Pedro Cea e Santos Urdinarán somente em 1900).
Depois de se retirar dos gramados, Scarone se tornou treinador. Foi o segundo técnico da história do Millonarios (Colômbia) desde sua fundação, entre 1946 e 1947, enquanto o clube ainda era amador. Dentre outros, treinou o próprio Nacional (1954), o Deportivo Quito (Equador) e o Real Madrid. Na temporada 1951/52, os merengues estavam a ponto de cair para a segunda divisão espanhola, mas Héctor a salvou. Posteriormente, o presidente Santiago Bernabéu lhe presenteou com um anel de ouro muito valioso, pela sua façanha de evitar a queda do Real Madrid.
(Imagem: Pinterest)
● Feitos e premiações de Héctor Scarone:
Pela Seleção do Uruguai:
– Campeão da Copa do Mundo de 1930.
– Medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928.
– Campeão da Copa América em 1917, 1923, 1924 e 1926.
– Vice-campeão da Copa América em 1919 e 1927.
– 3º lugar na Copa América em 1921, 1922 e 1929.
Pelo Nacional:
– Campeão do Campeonato Uruguaio em 1916, 1917, 1919,1920, 1922, 1923, 1924 e 1934.
– Copa Río de La Plata (Copa Dr. Ricardo C. Aldao) em 1916, 1919 e 1920.
– Campeão da Copa Competencia em 1919, 1921 e 1923.
– Campeão do Torneio Competencia em 1934.
– Campeão da Copa de Honor em 1916 e 1917.
– Campeão da Copa de Honor Cousenier em 1916 e 1917.
– Campeão do Torneio de Honor em 1935, 1938 e 1939.
– Campeão da Copa León Peyrou em 1920, 1921 e 1922.
– Campeão do Campeonato Ingeniero José Serrato em 1928.
Pelo Barcelona:
– Campeão da Copa do Rei em 1926.
– Campeão da Copa da Catalunha em 1926.
Distinções e premiações individuais:
– Melhor jogador da Copa América de 1917.
– Artilheiro da Copa América de 1927 (3 gols).
– Maior artilheiro histórico da seleção do Uruguai em partidas oficiais entre 1931 e 2011.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo de 1930.
– 40º lugar na lista dos melhores jogadores do século XX pela IFFHS.
– 21º lugar na lista dos melhores jogadores sul-americanos do século XX pela IFFHS.
– 4º lugar na lista dos melhores jogadores uruguaios do século XX pela IFFHS.
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