… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria

Três pontos sobre…
… 14/06/1978 – Holanda 5 x 1 Áustria


Rob Rensenbrink foi o líder da Holanda em campo (Imagem: Pinterest)

● Em 1978, não havia mais a “Laranja Mecânica”, o “Carrossel Holandês” e o “Futebol Total”, o time treinado por Rinus Michels e capitaneado por Johan Cruijff.

Michels saiu logo depois da Copa de 1974. George Knobel foi o técnico até a Eurocopa de 1976. Jan Zwartkruis treinou a seleção holandesa nas eliminatórias até 1977 e depois se tornaria auxiliar. Para a Copa de 1978, a Oranje apostou no “pulso firme” do austríaco Ernst Happel. Ele havia disputado os Mundiais de 1954 e 1958 como zagueiro pela seleção de seu país. Como técnico, havia sido campeão da Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League) na temporada 1969/70 – venceria ainda o torneio pelo Hamburgo em 1982/83, sendo um dos únicos treinadores a conquistarem a competição por dois clubes diferentes, ao lado de José Mourinho e Ottmar Hitzfeld.

Mas as mudanças não eram só na beira do gramado. Johan Cruijff não estava mais lá. Ele havia deixado a seleção um ano antes. E são várias as versões pela sua ausência. A primeira era a sua afirmação de que o Mundial de 1974 seria o primeiro e o último que disputaria. Outra corrente diz que foi uma promessa à sua esposa Danny, após o jornal alemão Bild publicar uma reportagem antes da decisão contra a Alemanha Ocidental, na qual vários atletas fizeram uma festa regada a bebidas e prostitutas na beira da piscina do Waldhotel Krautkrämer, na cidade de Hiltrup, concentração holandesa. Outra justificativa para a ausência do gênio é que ele não teria aceitado viajar à Argentina como protesto pelo regime militar ditatorial que comandava o país sede desde 1976. Outra vertente diz que ele esperava receber uma premiação maior do que a federação pagaria. Mas apenas em 2012 ele revelou a razão verdadeira: um sequestro-relâmpago sofrido pela família em setembro de 1977, na própria residência de Barcelona, na qual ele repensou e preferiu manter a sua segurança com Danny e os filhos Jordi, Chantal e Susila.

Mas o time não era só Cruijff e a base ainda era a mesma. Todos os titulares haviam estado no Mundial anterior, com destaque para o novo capitão Ruud Krol, Wim Jansen, Arie Haan, Johan Neeskens, Johnny Rep e Rob Rensenbrink, que seria a maior estrela do time na ausência de Cruijff.

Mas começaram a surgir os problemas. A cerca de duas semanas antes do Mundial, Willem van Hanegem fez um ultimato a Happel: ou lhe garantia seu lugar no onze inicial, ou deixaria o grupo. O treinador não garantiu a titularidade e o meia deixou a delegação holandesa. Hugo Hovenkamp poderia ser o dono da posição, mas se lesionou nos treinos e nem chegou a entrar em campo. Com isso, Arie Haan (que havia sido zagueiro em 1974) foi escalado como volante.

Na estreia, os holandeses venceram o Irã por 3 x 0 de forma ridícula, sem a menor vontade e esforço. Na segunda partida, o empate sem gols com o bom time do Peru foi pior ainda. Mas se superou contra a Escócia: estava perdendo por 3 x 1 a 20 minutos do fim, com enorme pressão dos britânicos que, se marcassem mais um gol, se classificariam e eliminariam os Laranjas da competição. Mas Johnny Rep diminuiu e a derrota por 3 x 2 classificou a Holanda em segundo lugar do Grupo 4, atrás do Peru.

A Áustria voltava a disputar uma Copa do Mundo depois de vinte anos ausente (quando Ernst Happel ainda jogava). Na primeira fase, tinha sido a líder do Grupo 3, deixando o Brasil em segundo lugar pelo número de gols marcados. No primeiro jogo, venceu a Espanha por 2 x 1. Depois, venceu a Suécia por 1 x 0. Já classificada, perdeu para a Seleção Brasileira por 1 x 0. Os maiores destaques individuais eram o goleiro Friedrich Koncilia, o meia Herbert Prohaska (que seria campeão italiano ao lado de Falcão na Roma) e Hans Krankl (que seria artilheiro do Barcelona logo depois).


A Holanda atuou no 4-3-3, com Ruud Krol como líbero, tendo liberdade para avançar e iniciar as jogadas.


O técnico Helmut Senekowitsch escalou a Áustria no sistema 4-4-2.

● O regulamento da Copa de 1978 era o mesmo do Mundial anterior: os oito classificados da primeira fase foram divididos em duas chaves de quatro equipes, com o vencedor de cada chave disputando a final. Após um desempenho pouco convincente na primeira fase, a Holanda tinha obrigação de jogar melhor no quadrangular semifinal se quisesse se classificar para a decisão.

O técnico Ernst Happel deu liberdade para seu auxiliar Jan Zwartkruis fazer mudanças no time e comandar a preleção. Zwartkruis tinha mais liberdade com os atletas e fez duas mudanças importantes no time. Por lesão, saíram Johan Neeskens, Wim Suurbier e Wim Rijsbergen. Entraram os laterais Jan Poortvliet e Piet Wildschut e o zagueiro Ernie Brandts. Wim Jansen foi posicionado no meio, e Arie Haan ganhou liberdade total para avançar, criar e se aproximar do ataque. A outra mudança foi uma arriscada troca de goleiros. Ele tirou o veterano Jan Jongbloed, que era melhor na saída de jogo com os pés, e escalou Piet Schrijvers, que era melhor embaixo das traves.

Logo no começo da partida, Arie Haan bateu falta no cantinho, mas Koncilia pulou bem e espalmou para escanteio.

Aos sete minutos de bola rolando, Haan cobrou uma falta para a área e o zagueiro Brandts apareceu sozinho para cabecear da linha da pequena área no ângulo direito.

Aos 35′, Gerhard Breitenberger fez falta em Wim Jansen dentro da área. Rensenbrink cobrou o pênalti com precisão no ângulo esquerdo, sem chances para o arqueiro austríaco, que ainda acertou o canto mas não conseguiu pegar.

Dois minutos depois, Rensenbrink avançou pela esquerda e viu Rep entrando sozinho pelo meio. Na entrada da grande área, o camisa 16 dominou e tocou por cima do goleiro Koncilia, que havia saído no lance.

O show continuou no segundo tempo. Logo aos oito minutos, Schrijvers conbrou o tiro de meta. Rensenbrink dominou já cortando para a direita e driblando o marcador. Koncilia saiu para tentar fechar o ângulo e Rensenbrink tocou para o meio da pequena área. Rep apareceu livre e completou para o gol vazio.

A Áustria havia criado algumas chances antes, mas só fez o gol de honra a dez minutos do final. Kreuz cruzou da direita e Poortvliet cortou. Krieger pegou o rebote e ergueu a bola na área. A defesa holandesa falhou e Erich Obermayer apareceu para tocar por cima de Schrijvers, com muita classe e precisão. Um belo gol por cobertura do zagueiro, que apareceu como atacante na área laranja.

Pouco depois, em cobrança de falta ensaiada, Bruno Pezzey encheu o pé e Schrijvers buscou a bola no ângulo, fazendo uma ótima defesa.

O placar foi fechado aos 38. Rob Rensenbrink (o melhor em campo) avançou pela esquerda, driblou Obermayer por duas vezes e tocou para o meio. Willy van de Kerkhof finalizou de primeira, da marca do pênalti, no contrapé de Koncilia.


Johnny Rep foi infernal e deu muito trabalho para a marcação austríaca (Imagem: Pinterest)

● Johnny Rep e Rob Rensenbrink tiveram uma tarde inspirada no Estádio Olímpico Chateau Carreras, em Córdoba.

Parecia que a Holanda tinha economizado o futebol na primeira fase apenas para dar espetáculo nessa partida. Mas, a bem da verdade, foi a única em que a Holanda sobrou em campo e relembrou o já distante “Carrossel Holandês”.

Na sequência do Grupo A da segunda fase, a Áustria perdeu para a Itália por 1 x 0. Já eliminada, colocou água no chope da vizinha e arqui-inimiga Alemanha Ocidental, vencendo por 3 x 2 e acabando com qualquer esperança de classificação para a final que os então campeões do mundo ainda tinham.

Na reedição da final anterior, Holanda e Alemanha Ocidental empataram por 2 x 2 em um bom jogo. Na última rodada, os holandeses venceram os italianos por 2 x 1 e se garantiram na decisão. Mesmo dominando o jogo por parte do tempo, a Oranje foi batida novamente pelos donos da casa. Dessa vez, a Argentina venceu por 3 x 1 na prorrogação e se coroou campeã mundial pela primeira vez, deixando a Holanda com um amargo bi-vice.


O centroavante Hans Krankl foi muito bem marcado e pouco fez durante os noventa minutos (Imagem: Twitter @thecentretunnel)

FICHA TÉCNICA:

 

HOLANDA 5 x 1 ÁUSTRIA

 

Data: 14/06/1978

Horário: 13h45 locais

Estádio: Estadio
Olímpico Chateau Carreras (atual Estadio Mario Alberto Kempes)

Público: 25.050

Cidade: Córdoba (Argentina)

Árbitro: John Gordon (Escócia)

 

HOLANDA (1-3-3-3):

ÁUSTRIA (4-4-2):

1  Piet Schrijvers (G)

1  Friedrich Koncilia (G)

7  Piet Wildschut

2  Robert Sara (C)

22 Ernie Brandts

5  Bruno Pezzey

2  Jan Poortvliet

3  Erich Obermayer

5  Ruud Krol (C)

4  Gerhard Breitenberger

9  Arie Haan

7  Josef Hickersberger

6  Wim Jansen

12 Eduard Krieger

11 Willy van de Kerkhof

8  Herbert Prohaska

10 René van de Kerkhof

11 Kurt Jara

16 Johnny Rep

9  Hans Krankl

12 Rob Rensenbrink

10 Wilhelm Kreuz

 

Técnico: Ernst Happel

Técnico: Helmut Senekowitsch

 

SUPLENTES:

 

 

19 Pim Doesburg (G)

21 Erwin Fuchsbichler (G)

8  Jan Jongbloed (G)

22 Hubert Baumgartner (G)

17 Wim Rijsbergen

15 Heribert Weber

4  Adrie van Kraaij

16 Peter Persidis

20 Wim Suurbier

14 Heinrich Strasser

15 Hugo Hovenkamp

20 Ernst Baumeister

3  Dick Schoenaker

6  Roland Hattenberger

13 Johan Neeskens

13 Günther Happich

14 Johan Boskamp

17 Franz Oberacher

18 Dick Nanninga

19 Hans Pirkner

21 Harry Lubse

18 Walter Schachner

 

GOLS:

6′ Ernie Brandts (HOL)

35′ Rob Rensenbrink (HOL) (pen)

36′ Johnny Rep (HOL)

53′ Johnny Rep (HOL)

80′ Erich Obermayer (AUT)

82′ Willy van de Kerkhof (HOL)

 

SUBSTITUIÇÕES:

60′ René van de Kerkhof (HOL) ↓

Dick Schoenaker (HOL) ↑

 

66′ Ernie Brandts (HOL) ↓

Adrie van Kraay (HOL) ↑

Melhores momentos da partida:

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