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… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina

Três pontos sobre…
… 02/07/1982 – Brasil 3 x 1 Argentina


(Imagem: UOL)

● Pela terceira Copa do Mundo seguida, Brasil e Argentina se enfrentavam na segunda fase. Nas duas vezes anteriores eram quadrangulares, mas dessa vez eram três times e só o vencedor da chave passava às semifinais. Os pesos-pesados Brasil, Argentina e Itália estavam no mesmo grupo. Esse foi o verdadeiro conceito de um “grupo da morte”.

O técnico Telê Santana contava com um excelente time, com destaque para o quarteto de meio campo: Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. No comando da Seleção, Telê havia perdido apenas duas partidas: uma em seu segundo jogo (15/06/1980), no amistoso contra a URSS no Maracanã (1 x 2), e outra na final no Mundialito (em 10/01/1980), contra o Uruguai (1 x 2).

O time chegou em plena forma à Espanha e obteve 100% de aproveitamento na primeira fase. Primeiro venceu de virada o bom time da União Soviética por 2 x 1. Depois, goleou Escócia (4 x 1) e Nova Zelândia (4 x 0). Discutivelmente, era o melhor time do mundo e encantava pelo jogo leve e vistoso. Mas o primeiro desafio “de verdade” seria o clássico sul-americano.

A Argentina chegou como campeã do mundo, mas estreou perdendo para a Bélgica por 1 x 0. Depois, venceu a Hungria por 4 x 1 e El Salvador por 2 x 0. Na primeira partida da fase final, perdeu para a Itália por 2 x 1. Agora, precisava vencer o Brasil para ainda ter alguma chance de classificação.

O treinador portenho César Luis Menotti montou um time com jogadores talentosos, mas não conseguiu repetir 1978. O time titular era praticamente o mesmo, com um “pequeno acréscimo”: o jovem Diego Armando Maradona.

Por ter obtido uma melhor colocação na primeira fase, a Seleção Brasileira pôde ter mais tempo para se preparar. Foram nove dias entre a vitória sobre a Nova Zelândia e o jogo contra os hermanos. Folgou na primeira rodada do triangular e assistiu de camarote à vitória por 2 x 1 dos italianos sobre os argentinos – que ainda perderam o volante Américo Gallego para a partida decisiva, expulso por chutar Marco Tardelli sem bola.


O Brasil atuava no 4-4-2, um sistema montado para acomodar os quatro destaques no meio campo. Os laterais eram bastante ofensivos e até o zagueiro Luizinho gostava de se aventurar no ataque. Faltava alguém na ponta direita, tanto para atacar, quanto para defender.


A Argentina atuava no 4-3-3, com Kempes chegando sempre ao ataque e Maradona recuando para armar o jogo, aparecendo em todos os lados.

● Esse era o duelo esperado pelo mundo todo: a equipe que estava apresentando o melhor e mais técnico futebol, contra os atuais campeões do mundo. E só a vitória valia para o albicelestes.

Por isso, a Argentina começou com tudo. Logo aos dois minutos, Mario Kempes fez boa jogada pela esquerda e cruzou para a área. Juan Barbas cabeceou forte, mas Waldir Peres segurou firme.

Mas o jogo mudou aos 11 minutos de partida. Após um contra-ataque rápido, Daniel Passarella fez falta em Serginho Chulapa na intermediária. Na cobrança, Éder soltou um de seus canhões e a bola fez uma curva impressionante. A bola merecia entrar direto, mas Ubaldo Fillol desviou de leve e ela explodiu na trave e quicou em cima da linha, sobrando limpa para Zico chegar antes de Serginho e só tocá-la para o gol vazio. Foi o quarto gol de Zico na Copa.

Mas o jogo continuou da mesma forma: a Argentina atacando o lado direito brasileiro (que não tinha um ponta para recompor e auxiliar a marcação, como Éder fazia pelo lado esquerdo) e o Brasil apostando nos contragolpes.

Falcão fez uma partida impecável, tanto defensiva quanto ofensivamente. Aos 33′, ele recebeu um belo passe de Leandro e chutou por cima, dando um susto em Fillol.

Aos 41′, Júnior lançou para Falcão, que tabelou com Sócrates pelo alto e bateu de esquerda, sem deixar a bola cair. Novamente a bola foi por cima do gol argentino.

Maradona cobrou escanteio, Passarella subiu entre Sócrates e Oscar e cabeceou bem, mas Waldir espalmou para cima.

No segundo tempo, a Argentina voltou com Ramón Díaz no lugar de Mario Kempes. Com isso, Maradona passou a jogar mais recuado, articulando o jogo e livre para se movimentar.

Aos 2′, o bom volante Osvaldo Ardiles foi o protagonista da primeira das muitas pancadas distribuídas pelos argentinos. Ele deu um pisão no tornozelo de Sócrates, que precisou ser atendido por mais de cinco minutos fora dos gramados.

Poucos minutos depois, Maradona fez uma linda jogada individual e deixou Júnior no chão. O lateral brasileiro levantou e deu um imprudente carrinho por trás, atingindo o tornozelo do Pibe dentro da área, mas o árbitro mandou o jogo seguir de forma equivocada – foi pênalti.

Aos 10′, Cerezo arriscou de fora da área e Fillol defendeu bem. Em uma cobrança de falta ensaiada cinco minutos depois, Éder rolou para Cerezo chutar novamente de longe e assustar o arqueiro argentino.

Pelo futebol apresentado, o segundo gol brasileiro demorou muito, mas o intervalo entre um gol e outro foi de futebol extraordinário, mágico, que encantava os 44 mil expectadores no estádio Sarrià, em Barcelona. O foco estava em Maradona, mas a estrela foi Zico.

Aos 21′, Sócrates abriu com Éder na esquerda e o ponta deixou com Zico no meio. O Galinho de Quintino viu Falcão aparecendo no espaço vazio na ponta direita e lançou no ponto futuro, nas costas do lateral esquerdo Alberto Tarantini. Falcão dominou, levantou a cabeça e cruzou na segunda trave para Serginho cabecear de cima para baixo, sem chances para Fillol. Foi uma linda e envolvente troca de passes do escrete canarinho, que resultou no segundo gol de Chulapa no Mundial. Brasil 2 a 0.

Cada gol era comemorado com muita extravagância. Fazia parte do espetáculo que só o brasileiro era capaz de proporcionar, dentro e fora de campo.


(Imagem: Veja)

A Argentina não conseguia construir jogadas de perigo. Sempre parava na entrada da área brasileira e tinha dificuldades de recuperar a posse de bola. O placar poderia estar ainda maior se o Brasil não perdesse tantos gols.

A linha de impedimento muito mal feita pelos argentinos rendeu também o terceiro gol brasileiro, aos 30′. Sócrates deixou de calcanhar para Falcão. O Rei de Roma tabelou com Éder. Júnior recebeu e deixou com Zico no meio. Com muita visão de jogo, o camisa 10 percebeu a infiltração do lateral flamenguista e fez o passe perfeito em profundidade na diagonal, nas costas da defesa. Júnior recebeu livre e tocou de esquerda entre as pernas de Fillol. Brasil 3 a 0.

“A diagonal é fundamental, porque é a possibilidade de a bola chegar e o cara não entrar em impedimento.” ― Zico

Na base do desespero, até Passarella se lançou à frente. Aos 32 min, Maradona deixou o capitão em condição de finalizar, próximo ao bico da grande área. Ele chutou bem, mas Waldir desviou para escanteio em uma ótima defesa.

Pouco depois, o mesmo Passarella perdeu a compostura e deu uma entrada criminosa em Zico. O meia brasileiro precisou sair para a entrada de Batista. Telê tinha acabado de colocar Edevaldo no lugar de Leandro, que havia sentido uma lesão ainda durante o treinamento.

Aos 40′, Batista deu uma entrada dura em Juan Barba, Maradona revidou com um coice no estômago do brasileiro e foi prontamente expulso pelo juiz mexicano Mario Rubio Vázquez. Na reclamação, Falcão recebeu o primeiro cartão amarelo da Seleção Brasileira em todo o Mundial.

“Na verdade, o Maradona me disse depois que a intenção dele era dar aquela pancada em mim. Só depois ele deu percebeu que era o Batista.” ― Falcão

Maradona extravasou toda sua frustração em uma falta maldosa. Certamente ele queria ter feito mais em sua primeira Copa do Mundo, mas sofreu nas mãos de zagueiros maldosos (especialmente do italiano Claudio Gentile) e de árbitros condescendentes.

Menotti buscava no cigarro o consolo habitual e os albicelestes só marcaram o gol de honra no último minuto de jogo por causa de um erro na saída de bola brasileira. Tatantini roubou a bola de Batista e tocou para Ramón Díaz na entrada da área. O argentino viu o Waldir Peres adiantado e chutou de esquerda com efeito, acertando no ângulo direito do goleiro brasileiro.

Essa foi a apresentação mais espetacular da Seleção de 1982. Com esse resultado, a Argentina estava eliminada e o Brasil jogaria por um empate com a Itália para ir às semifinais da Copa de 1982.


(Imagem: Veja)

“As oportunidades apareceram, o jogo fluiu e a gente fez jogadas realmente muito boas, gols maravilhosos. A Argentina precisava ganhar. Veio, se abriu, apareceram os espaços. No primeiro gol, eu meti a bola pro Serginho no meio de dois argentinos, e o Passarella, último homem, fez a falta que o Éder bateu e eu fiz o gol. O segundo gol, quando eu dominei a bola, o Falcão passou pelo lado, eu meti a bola pra ele e ele deu pro Serginho fazer o gol. E o terceiro gol, a mesma coisa. Já tinham acontecido jogadas que a gente entrava na cara do gol toda hora. Aquele time da Argentina fazia muita linha [de impedimento], e aí ficava muito fácil.” ― Zico

Com apenas 21 anos, Maradona já tinha a marra que lhe acompanharia até os dias de hoje. Ele passou a cobrar US$ 5 mil para cada entrevista concedida a partir da segunda fase. E já atacava seus críticos: “Pelé precisa estar no time e enfrentar a marcação constante de quatro defensores para depois opinar”. E continuou alfinetando o Rei do Futebol na chegada a Buenos Aires, após a eliminação da Argentina: “Pelé é um tagarela que tem de falar de mim ou de Rummenigge para sair nas revistas”.

Na comemoração do terceiro gol brasileiro, o Maestro Júnior sambou ao som imaginário da música que ele mesmo gravou poucos meses antes do Mundial: “Povo feliz”, conhecida pelo refrão: “voa canarinho, voa”. Composta por Memeco e Nonô do Jacarezinho, a música foi a trilha sonora dos bailes brasileiros em gramados espanhóis. O compacto alcançou o certificado de disco de platina, com 726 mil cópias vendidas.

Na partida seguinte, o Brasil perdeu por 3 x 2 para a Squadra Azzurra e deu adeus à competição. Mas mesmo assim, a Seleção de 1982 entrou para a história como uma das melhores e mais vistosas equipes de todos os tempos.


(Imagem: Pinterest)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 3 x 1 ARGENTINA

 

Data: 02/07/1982

Horário: 17h15 locais

Estádio: Sarrià

Público: 44.000

Cidade: Barcelona (Espanha)

Árbitro: Mario Rubio Vázquez (México)

 

BRASIL (4-3-3):

ARGENTINA (4-3-3):

1  Waldir Peres (G)

7  Ubaldo Fillol (G)

2  Leandro

14 Jorge Olguín

3  Oscar

8  Luis Galván

4  Luizinho

15 Daniel Passarella (C)

6  Júnior

18 Alberto Tarantini

5  Toninho Cerezo

1  Osvaldo Ardiles

15 Falcão

3  Juan Barbas

10 Zico

10 Diego Armando Maradona

8  Sócrates (C)

4  Daniel Bertoni

9  Serginho Chulapa

5  Gabriel Calderón

11 Éder

11 Mario Kempes

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: César Luis Menotti

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Sérgio (G)

2  Héctor Baley (G)

22 Carlos (G)

16 Nery Pumpido (G)

13 Edevaldo

19 Enzo Trossero

14 Juninho Fonseca

22 José Van Tuyne

16 Edinho

13 Julio Olarticoechea

17 Pedrinho Vicençote

9  Américo Gallego

18 Batista

12 Patricio Hernández

7  Paulo Isidoro

21 José Daniel Valencia

19 Renato Pé Murcho

17 Santiago Santamaría

20 Roberto Dinamite

6  Ramón Díaz

21 Dirceu

20 Jorge Valdano

 

GOLS:

11′ Zico (BRA)

66′ Serginho Chulapa (BRA)

75′ Júnior (BRA)

89′ Ramón Díaz (ARG)

 

CARTÕES AMARELOS:

33′ Daniel Passarella (ARG)

77′ Waldir Peres (BRA)

85′ Falcão (BRA)

 

CARTÃO VERMELHO: 85′ Diego Armando Maradona (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Mario Kempes (ARG) ↓

Ramón Díaz (ARG) ↑

 

64′ Daniel Bertoni (ARG) ↓

Santiago Santamaría (ARG) ↑

 

82′ Leandro (BRA) ↓

Edevaldo (BRA) ↑

 

83′ Zico (BRA) ↓

Batista (BRA) ↑

Veja aqui os belos gols da partida:

Música “Voa canarinho, voa”, com imagens da Seleção Brasileira na Copa de 1982:

… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França

Três pontos sobre…
… 21/06/1986 – Brasil 1 x 1 França


(Imagem: Trivela)

● Das quatro partidas das quartas de final, essa era a mais aguardada. Havia Argentina vs. Inglaterra, envolvidas recentemente em uma guerra. Mas, em âmbito esportivo, Brasil e França tinham uma qualidade técnica conjunta muito maior. Para muitos, era o encontro entre os dois melhores times da Copa de 1982. Mas agora, estavam envelhecidos quatro anos e com os elencos parcialmente renovados.

O futebol francês vivia o melhor momento até então, causando uma euforia sem precedentes. Tinha um estilo de jogo moderno para a época e havia amadurecido com as derrotas de 1978 e 1982. Michel Platini, Dominique Rocheteau e Maxime Bossis eram os remanescentes das duas Copas anteriores.

O técnico era Henri Michel, titular do meio campo francês em 1978. Ele foi o comandante do time que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1984 – curiosamente, sobre o Brasil na final. Fiel seguidor de seu antecessor Michel Hidalgo, ele pouco modificou o sistema tático usado nas Copas anteriores.

Tinha um time muito forte, semifinalista da Copa de 1982 e campeã da Eurocopa de 1984. O maestro Michel Platini vivia o auge da forma. Craque de bola, ele era ao mesmo tempo um armador e um finalizador. Era o arco e a flecha. Foi eleito o Bola de Ouro nos três anos anteriores (1983, 1984 e 1985) pela revista France Football, como melhor jogador da Europa.

Na estreia, a França venceu o Canadá por 1 x 0. Depois, empatou com a União Soviética por 1 x 1 e bateu a Hungria por 3 x 0. Se classificou em 2º lugar no Grupo C, atrás da URSS no saldo de gols (+4, contra +8 dos soviéticos). Nas oitavas de final, venceu a Itália, então campeã do mundo, derrubando uma invencibilidade de sessenta anos dos italianos diante dos franceses.

O Brasil tinha um bom time. Mas o futebol que encantou o mundo em 1982, apareceu apenas em lampejos quatro anos depois. Era o fim de uma geração talentosa, mas já próxima de seu fim. Sócrates começava seu declínio, enquanto Zico estava há um ano sem jogar e Falcão era reserva e já estava nos últimos dias de sua carreira. Na primeira fase, venceu Espanha e Argélia no sufoco, ambas por 1 x 0. Depois, houve uma ingênua impressão de evolução quando venceu a Irlanda do Norte por 3 a 0. Mas mesmo terminando na liderança de seu grupo, com 100% de aproveitamento e sem sofrer gols, a Seleção não empolgou em momento algum. Nas oitavas de final, um alento: goleada sobre a boa seleção polonesa por 4 a 0.


O Brasil atuou no 4-4-2. Júnior e Sócrates eram dois dínamos no meio campo. Os volantes e os laterais também apoiavam com frequência.


A França também jogava no 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Fernández, Tigana, Giresse e Platini.

● O Brasil já começou perdendo no sorteio para escolher campo ou bola e começou atacando para a esquerda das cabines de televisão – ao contrário das quatro partidas anteriores no estádio Jalisco, em Guadalajara, quando começava atacando para a direita. Mas a superstição não entrava em campo.

O primeiro tempo foi de altíssimo nível. A França atacou primeiro. Luis Fernández cruzou e a zaga brasileira rebateu. Platini recolheu, tabelou com Alain Giresse e chutou. A bola foi desviada e sobrou para Manuel Amoros encher o pé de esquerda. Passou bem perto da meta de Carlos.

O Brasil logo reagiu. Müller tocou para Careca no meio e ele deixou Sócrates em condição de finalizar. Cara a cara com o goleiro Bats, o Doutor chutou forte de esquerda, mas o arqueiro francês fechou bem o ângulo. Sócrates apanhou o rebote e lançou Branco na área, mas Jöel Bats dividiu e segurou firme.

Aos 17′, o goleiro Bats chutou a bola para a frente, Josimar recuperou a bola e deixou com Sócrates, que tocou para Elzo. O volante abriu na direita com Josimar. Vários jogadores participam da jogada, com dez trocas de passes precisas, abrindo espaço na defesa francesa, até culminar em uma envolvente tabela entre Müller e Júnior, que passou na medida para Careca sozinho na meia-lua. Ele bateu de primeira e colocou a bola no ângulo esquerdo de Bats.

Era o quinto gol de Careca no Mundial. Ele chegava com tudo para brigar pela artilharia com o inglês Gary Lineker.


(Imagem: Hipólito Pereira / O Globo)

O placar fazia justiça ao futebol apresentado pelo Brasil, que continuou no ataque. Houve um certo domínio e a impressão que venceria com facilidade. Aos 32 minutos, Sócrates lançou para Careca na ponta esquerda. Ele passou por Bossis e, da linha de fundo, cruzou para Müller. O chute do atacante sãopaulino explodiu na trave de Bats. Müller tinha vinte anos e havia sido a revelação do Campeonato Paulista de 1985. Tomou a vaga de Casagrande no time titular a partir da terceira partida, a vitória sobre a Irlanda do Norte por 3 x 0.

A França escapou do nocaute e acabou levando o Brasil para as cordas. Aos poucos, Les Bleus começaram a se arriscar mais no ataque. Não era uma equipe de intensidade física, mas trocava passes com muita inteligência.

Aos 40′, Manuel Amoros avançou e tocou para o meio. Alain Giresse abriu na ponta direita com Dominique Rocheteau, que cruzou rasteiro para a área. A bola desviou em Edinho e passou entre Carlos e Yannick Stopyra, sobrando mansinha para Platini, que só teve o trabalho de completar para o gol vazio, antes da chegada de Josimar. Platini completava 31 anos naquele dia. Foi o primeiro e seria o único gol sofrido por Carlos na Copa.

O equilíbrio e o nível técnico do jogo aumentaram ainda mais no segundo tempo, quando as duas equipes tiveram boas oportunidades para desempatar.

Aos 19′, Tigana tabelou com Rocheteau, invadiu a área e tentou encobrir Carlos, mas o goleiro brasileiro impediu o gol.

Na sequência desse lance houve o contragolpe brasileiro. E Sócrates avançou e entregou para Júnior, que encheu o pé da entrada da área, mas Bats fez a defesa espalmando para frente do jeito que deu.

O calor e a agilidade do jogo começam a cansar os franceses.

Aos 25′, Josimar fez um cruzamento perfeito e Careca cabeceou forte no travessão. Pela segunda fez, a França era salva pela trave.

Com o jogo cada vez mais acelerado, Telê Santana decide usar a carta que tinha na manga e coloca Zico em campo aos 26′. Depois de um ano se recuperando de uma lesão no joelho, o craque do Flamengo voltou a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Dois minutos depois de entrar, ele fez um lançamento preciso e precioso para Branco invadir a grande área e ser derrubado por Bats.

Pênalti para o Brasil. Zico não esperava bater. O cobrador oficial era Sócrates, que, na euforia, deixou a incumbência para o Galinho, que ainda estava frio e totalmente sem ritmo de jogo. Aos 33 anos, Zico sabia que aquela seria a sua última chance de conquistar uma Copa e ele não queria desperdiçá-la. E pegou a bola sem tanta confiança. Mas, ao contrário de dezenas de pênaltis que converteu em sua bela carreira, dessa vez ele bateu mal, à meia altura e entre o meio do gol e a trave esquerda: o local mais propício para defesa do goleiro e foi o que aconteceu. Bats saltou e defendeu. Um erro incomum na carreira do Galinho. Certamente foi o pênalti mais dolorido que Zico perdeu na vida. Platini consolou o colega da camisa 10 brasileira.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Mas Zico ainda teve outra oportunidade de ouro para matar o jogo aos 43′. Josimar fez mais um cruzamento perfeito da direita e Zico, livre, cabeceou nas mãos de Bats.

O goleiro Bats vivia seu dia de glória. Quatro anos antes, ele lutou e venceu um câncer nos testículos. A poesia foi o refúgio no qual ele encontrou forças para suportar e tratar a doença.

No último minuto, mais uma chance para o Brasil, mas o chute de Josimar passou por cima.

A decisão foi mesmo para a prorrogação. Seriam necessários mais trinta minutos debaixo de um sol escaldante.


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

● E o jogo recomeçou com a França no ataque. Aos 7, Rocheteau arrancou em disparada desde o círculo central, passou por três brasileiros e foi travado por Júlio César. Stopyra pegou a sobra, mas também chutou em cima da defesa. Uma bela jogada de Rocheteau, em sua terceira Copa do Mundo.

O ritmo foi ficando mais lento, favorecendo a troca de passes dos Bleus. Platini passou a aparecer mais no jogo e de seus pés saíam as melhores jogadas francesas.

Aos 11′ do segundo tempo da prorrogação, ele fez um lançamento genial para Bruno Bellone arrancar sozinho e em posição legal. Mas, no desespero, Carlos saiu da área e segurou o atacante francês, que ainda tentou seguir na bola, mas se desequilibrou. Júlio César apareceu e afastou o perigo. O juiz deveria ter expulsado Carlos, mas sequer marcou a falta (que ocorreu fora da área), indicando que havia concedido uma duvidosa lei da vantagem – que acabou não ocorrendo, claro.

Um minuto depois, Careca cruzou rasteiro da ponta direita e a bola passou por Sócrates, dentro da pequena área e com o gol vazio à sua frente. O Doutor perdeu um gol feito. Foi a última oportunidade de um jogo repleto delas.

Mas o destino de Brasil e França seria decido nos tiros livres da marca do pênalti.


(Image: Hipólito Pereira / O Globo)

● O Brasil ganhou o sorteio e começou batendo. Completamente esgotado, Sócrates bateu de forma quase displicente, tomando pouca distância e ensaiando uma paradinha. Mas Bats não se moveu e Sócrates cobrou mal, à meia altura no canto direito, facilitando o trabalho do goleiro francês.

Os cobradores seguintes foram impecáveis. Stopyra bateu alto, no meio do gol e converteu para a França. Alemão bateu no canto esquerdo e fez para o Brasil. Amoros também chutou no canto esquerdo e anotou para a França. Zico se redimiu e marcou o seu: contrariando seu estilo clássico, chutou com raiva, forte, quase no meio do gol – 2 a 2 no placar.

Bruno Bellone contou com a sorte. Sua cobrança bateu no pé da trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos foi para o gol. Se Carlos tivesse ficado parado, a França teria desperdiçado a cobrança. Mas o goleiro brasileiro acertou o canto. E a bola, ao voltar da trave, bateu em seu ombro e tomou o rumo do gol.

Os brasileiros discutiram a validade do gol, achando que não valia. Mas foi válido. A FIFA explicaria depois: o cobrador tem direito a um único toque na bola e a cobrança termina quando a bola entra ou não no gol, sendo ou não tocada pelo goleiro – a trave era neutra.

Branco encheu o pé esquerdo e estufou as redes, batendo do meio para direita de Bats.

Platini beijou a bola. Em sua carreira, ele já havia convertido muitos penais em situações decisivas. Mas dessa vez ele errou, mandando a bola por cima. Tudo igual de novo.

O ótimo zagueiro Júlio César (eleito para a Seleção do Mundial, junto com o lateral Josimar) tinha a chance de colocar o Brasil à frente. Ele disparou um canhão, com toda força contida em seu pé direito, mas a bola explodiu na trave.

Luis Fernandéz teve a maior responsabilidade de sua carreira. E ele converteu com enorme categoria, no cantinho direito de Carlos, decretando a eliminação brasileira.

O Brasil, que sofreu apenas um gol em cinco partidas, terminava a Copa invicto e eliminado. Pela segunda vez consecutiva, a França estava nas semifinais.


(Imagem: Trivela)

● Certamente essa foi a melhor partida da Copa de 1986, cumprindo as expectativas. As duas equipes mostraram um futebol refinado, técnico e leal – tanto, que o árbitro não precisou apresentar nenhum cartão nos 120 minutos de bola rolando. “Os dois mereciam ganhar”, afirmou o jornal ABC de Madri.

Assim como em 1978, a Seleção foi eliminada mesmo terminando a competição invicta. No cômputo geral, ficou na 5ª posição.

Carlos ficou com fama de azarado pelo pênalti, mas foi o goleiro menos vazado da competição.

Essa foi a única partida que a Seleção não venceu em Copas disputadas no México. Somando 1970 e 1986, foram 11 jogos, com 10 vitórias e um empate com sabor de derrota.

“Escolhi o Júlio César porque era o melhor nos treinos. E Careca bate mal.” ― Telê Santana, explicando a opção pelo zagueiro nas cobranças de pênaltis.

“Em 1982, eu acertei, mas a França perdeu. Hoje, eu errei, mas nos classificamos. Prefiro assim.” ― Michel Platini.

“Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” ― Michel Platini

Após passar pelo Brasil nas quartas de final, a França perdeu para a Alemanha Ocidental por 2 x 0 nas semifinais. Na decisão do 3º lugar, venceu a Bélgica por 4 x 2.


(Imagem: Pedro Martinelli / Veja)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 1 FRANÇA

 

Data: 21/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 65.000

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ioan Igna (Romênia)

 

BRASIL (4-4-2):

FRANÇA (4-4-2):

1  Carlos (G)

1  Joël Bats (G)

13 Josimar

2  Manuel Amoros

14 Júlio César

4  Patrick Battiston

4  Edinho (C)

6  Maxime Bossis

17 Branco

8  Thierry Tusseau

19 Elzo

9  Luis Fernández

15 Alemão

14 Jean Tigana

6  Júnior

12 Alain Giresse

18  Sócrates

10 Michel Platini (C)

7  Müller

18 Dominique Rocheteau

9  Careca

19 Yannick Stopyra

 

Técnico: Telê Santana

Técnico: Henri Michel

 

SUPLENTES:

 

 

12 Paulo Vítor (G)

22 Albert Rust (G)

22 Leão (G)

21 Philippe Bergeroo (G)

2  Édson Boaro

5  Michel Bibard

3  Oscar

7  Yvon Le Roux

16 Mauro Galvão

3  William Ayache

5  Falcão

15 Philippe Vercruysse

20 Silas

13 Bernard Genghini

21 Valdo

11 Jean-Marc Ferreri

10 Zico

16 Bruno Bellone

11 Edivaldo

20 Daniel Xuereb

8  Casagrande

17 Jean-Pierre Papin

 

GOLS:

17′ Careca (BRA)

40′ Michel Platini (FRA)

 

SUBSTITUIÇÕES:

71′ Müller (BRA) ↓

Zico (BRA) ↑

 

84′ Alain Giresse (FRA) ↓

Jean-Marc Ferreri (FRA) ↑

 

INÍCIO DA PRORROGAÇÃO Júnior (BRA) ↓

Silas (BRA) ↑

 

99′ Dominique Rocheteau (FRA) ↓

Bruno Bellone (FRA) ↑

 

DECISÃO POR PÊNALTIS:

BRASIL 3

FRANÇA 4

Sócrates (perdeu, à direita, defendido por Joël Bats)

Yannick Stopyra (gol, no alto, no meio do gol)

Alemão (gol, no canto esquerdo)

Manuel Amoros (gol, no canto esquerdo)

Zico (gol, forte, no meio do gol)

Bruno Bellone (gol, na trave esquerda, voltou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol)

Branco (gol, forte, no meio do gol, um pouco à direita de Bats)

Michel Platini (perdeu, por cima do ângulo esquerdo)

Júlio César (perdeu, na trave direita)

Luis Fernández (gol, no canto direito)


(Imagem: Sérgio Sade / Veja)

Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… “Futebol Contra a Fome” 2016, em Uberlândia

Três pontos sobre…
… “Futebol Contra a Fome” 2016, em Uberlândia

● Acho muito divertidos esses “jogos das estrelas” em que se misturam artistas da bola, do palco e até anônimos, com o intuito de se divertirem no fim do ano, divertir o público, mas, principalmente, pelo foco social. Nesta segunda-feira, 26/12/2016, no Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia, foram 32 mil torcedores, arrecadando 70 toneladas de alimentos não perecíveis, que serão doadas a 80 instituições beneficentes da região.

● Em uma festa linda do futebol, realizei sonhos. Mesmo sendo brincadeira, todos jogando sem qualquer responsabilidade, apenas por prazer, vi em campo ídolos mundiais: Roberto Carlos, Neymar Jr., Denílson, Nenê, Junior Baiano, Edílson, Amaral, Edmílson, Elano, Emerson Sheik, Ascelino Popó, Gabriel Medina, dentre outros. O placar mesmo deu a entender que tudo era zoeira: 14 x 13. Amaral, ex-volante (e cheio de histórias pra contar), defendia sozinho no time branco. Mesmo com o time branco (de Alexandre Pires) sendo mais forte, com Neymar e Denílson, no início do segundo tempo o time vermelho (de Fernando Pires), com Nenê, chegou a estar vencendo por 10 a 5. Mas Neymar Jr. e Emerson Sheik não gostam de perder nem em peladas e viraram o jogo. No fim, uma festa total.

● Mas o momento mais inesquecível foi a entrada em campo de Zico, mesmo sem jogar. A galera gritando “Zico! Zico! Zico!” me fez imaginar dentro da torcida do Flamengo, 35 anos atrás, quando ele liderava o rubro-negro ao título mundial. Mesmo de longe, com uma visão até ruim, é um sonho, uma honra inenarrável estar a poucos metros de Zico. Mesmo com quase 64 anos e mesmo que ele não jogue mais em alto nível há quase trinta anos, é um ídolo mundial, não só do futebol. É uma celebridade única, querido e amado até pelos vascaínos, botafoguenses e tricolores, a quem ele tanto castigava. Era e é impossível odiar Zico. Ele que fazia o brasileiro sonhar, agradecer a Deus por ser brasileiro. Em 90 minutos, Zico fazia o povo esquecer das misérias, do desemprego, da ditadura militar e sua repressão, dos planos econômicos falhos… Ídolo único, fantástico, o melhor jogador brasileiro desde Pelé. Como dizia o sábio Armando Nogueira: “Se Zico não venceu a Copa, azar da Copa.” Ele não precisou jogar com muitas camisas para ser ídolo de todas.