Arquivo da tag: Inglaterra

… 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 22/06/1986 – Argentina 2 x 1 Inglaterra


Maradona comemora gol sobre a Inglaterra (Imagem localizada no Google)

● Para entender a atmosfera que tomava conta do estádio Azteca era preciso voltar quatro anos antes, quando a Inglaterra derrotou ferozmente a Argentina na Guerra das Malvinas. Os dois países lutaram pela soberania nas Ilhas Malvinas (como é chamada pelos argentinos) ou Falklands (como é conhecida pelos britânicos). Poucos tinham esquecido desse confronto, principalmente os portenhos mais nacionalistas, que estavam ávidos pela vitória no futebol para “vingar” a derrota no conflito militar. Foi com esse espírito de vingança que a Argentina entrou em campo, liderada por Diego Armando Maradona.

Além do motivo político, teve também o futebolístico. A Argentina ainda tinha mágoas por ter sido prejudicada pela arbitragem em um confronto com os ingleses na Copa de 1966, quando o capitão Antonio Rattín acabou expulso por não entender o que a arbitragem falava (falaremos dessa partida dia 23/07).

Veja mais:
… Igreja Maradoniana: o culto onde Maradona é deus
… Maradona: Um mago do futebol
… 23/07/1966 – Inglaterra 1 x 0 Argentina
… 29/06/1986 – Argentina 3 x 2 Alemanha Ocidental

Na primeira fase, a seleção albiceleste foi líder do grupo A, vencendo a Coreia do Sul (3 x 1), empatando com a Itália (1 x 1) e vencendo a Bulgária (2 x 0). Nas oitavas de final, venceu o rival Uruguai por 1 a 0.

Já os ingleses terminaram o grupo F em segundo lugar, perdendo na estreia para Portugal por 2 a 1, empatando sem gols com o Marrocos e vencendo a Polônia por 3 a 0. Nas oitavas, nova vitória por 3 a 0, mas agora diante do Paraguai.

Na Copa em que a Dinamarca apresentou o 3-5-2 ao mundo como novidade tática, outras equipes utilizaram o mesmo sistema de forma mais discreta. Na Argentina, Bilardo começou o Mundial com o ofensivo e talentoso lateral direito Clausen, do Independiente. Mas já na segunda partida o trocou por Cuciuffo, um zagueiro improvisado como terceiro homem de defesa, a fim de liberar o outro lateral, Olarticoechea, pela esquerda. Não era um 3-5-2 tão ortodoxo, mas a verdade é que o lado direito marcava para o esquerdo atacar. Enquanto isso, o meio campista Giusti cobria o lado direito, enquanto Batista e Enrique cobriam o meio campo, fazendo o balanço defensivo e a transição para o ataque. Os mais talentosos, Maradona e Burruchaga, tinham liberdade total em campo. E a inteligência de Valdano era decisiva no ataque, liberando espaço para quem viesse de trás.


A Inglaterra era escalada no tradicional 4-4-2, com todo o time trabalhando para criar oportunidades para o matador Gary Lineker.

● Foi um primeiro tempo feio e com poucas chances de gol. Na melhor delas, Glenn Hoddle fez um longo lançamento, Pumpido saiu do gol todo desajeitado e Beardsley o driblou e o encobriu, batendo sem ângulo para fora.

Depois, Maradona cobrou falta perigosa, que passou a centímetros da trave esquerda de Peter Shilton. Maradona estava mais “endiabrado” do que nunca, fazendo fila na defesa inglesa, que só o conseguia parar com faltas violentas.

O camisa 10 era sempre destaque. Ainda no primeiro tempo, ao ir cobrar um escanteio, reclamou da falta de espaço e arrancou o mastro com a bandeirinha. O auxiliar costarriquenho Berny Ulloa Morera lhe deu uma grande bronca e o obrigou a colocar o mastro no lugar, mas a flâmula ainda estava caída. Após nova reprimenda, o argentino a colocou de qualquer jeito. Apenas na terceira bronca, Dieguito ajeitou a bandeirinha do jeito que estava antes. Lance hilário.

No segundo tempo, o astro queria colocar fogo no jogo. Logo aos cinco minutos da etapa complementar, Maradona arrancou em direção à área, passou por dois marcadores e tocou para Burruchaga. Fenwick interceptou o passe com um chute para cima, em direção a Peter Shilton. Maradona percebeu, correu e subiu junto com o goleiro. O baixinho não alcançaria, mas com um leve soco na bola, conseguiu encobrir o rival e desviar a bola para as redes. Os ingleses reclamaram bastante do toque de mão. Diego saiu comemorando com discretas olhadinhas de lado para o juiz. O árbitro tunisiano Ali Bin Nasser não viu a infração e validou o gol após consultar o bandeirinha búlgaro Bogdan Dotchev.


La mano de Díos (Imagem localizada no Google)

Aproveitando o nervosismo dos adversários, Maradona ampliou o marcador. Ele recebeu ainda em seu campo e manteve a bola grudada em seu pé esquerdo. Com um giro, tirou Reid e Beardsley da jogada. O argentino arrancou em velocidade, passou por Butcher e Fenwick, driblou o goleiro Shilton e tocou para as redes antes de ser derrubado por Fenwick. Diego demorou 10,9 segundos para percorrer os sessenta metros que o separava da baliza. Foi um lance antológico, considerado por muitos o mais belo gol da história das Copas, demonstrando toda a técnica e a genialidade do capitão albiceleste.

Só então a Inglaterra passou a atacar com mais afinco, mas não conseguia criar chances claras para finalizar. Apenas aos 30 minutos o técnico Bobby Robson colocou o atacante John Barnes em campo. Foram os únicos 15 minutos do jamaicano naturalizado no Mundial, mas ele infernizou a defesa argentina e criou duas oportunidades de gol.

Na primeira, ele recebeu no bico da área passou por dois marcadores, foi até a linha de fundo e cruzou da esquerda, encontrando Gary Lineker livre dentro da pequena área. O centroavante só escorou para as redes, anotando seu sexto gol e se sagrando artilheiro da competição.

Nos últimos lances da partida, a mesma jogada se repetiu: Barnes vai até a linha de fundo e cruza para Lineker, mas dessa vez o camisa 10 não alcançou a bola, perdendo a última chance de empatar e forçar a prorrogação.

No último lance de perigo, Maradona faz outra jogada genial e lança Tapia, que dribla um zagueiro e chuta na trave direita do goleiro Shilton.

Fim de jogo. Inglaterra eliminada, Argentina classificada. Era a única seleção sul-americana que permanecia viva na Copa.


Diego tenta passar pela marcação de Terry Butcher (Imagem localizada no Google)

● Maradona vingou seu país, fazendo justiça com as próprias mãos, literalmente.

Nos dias que se seguiram, Maradona era constantemente questionado sobre a forma que marcou o primeiro gol. E ele “mitou” com a seguinte frase: “O gol foi marcado com a minha cabeça e com a mão de Deus”. Para os fanáticos, era questão de lógica: se Diego diz que fez o gol com “la mano de Díos“, e a imagem mostra ele fazendo o gol com a mão, então… Maradona é deus”. Doze anos depois, seus fiéis fundaram a Igreja Maradoniana.

Na sequência da Copa, Maradona continuou liderando sua seleção, fazendo os dois gols na vitória sobre a Bélgica (2 x 0) nas semifinais. Na decisão, ele não marcou, mas criou tudo que se passou na emocionante vitória sobre a Alemanha Ocidental por 3 a 2. Assim, a Argentina se sagrou bicampeã da Copa do Mundo.

Muitos dizem que Maradona “ganhou a Copa de 1986 sozinho”. O time argentino não era realmente muito bom, mas estava longe de ser uma baba. Mas independente disso, a atuação de Diego no Mundial o elevou a “status de deus“. Independente de seus futuros problemas pessoais como, por exemplo, o vício em drogas, Maradona é uma lenda viva do futebol e um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Para o bem e para o mal, um gênio.


Cumprimentos iniciais entre os capitães Maradona e Peter Shilton (Imagem: Globo Esporte)

FICHA TÉCNICA:

 

ARGENTINA 2 x 1 INGLATERRA

 

Data: 22/06/1986

Horário: 12h00 locais

Estádio: Azteca

Público: 114.580

Cidade: Cidade do México (México)

Árbitro: Ali Bin Nasser (Tunísia)

 

ARGENTINA (4-4-2):

INGLATERRA (4-4-2):

18 Nery Pumpido (G)

1  Peter Shilton (G)(C)

9  José Luis Cuciuffo

2  Gary Michael Stevens

19 Oscar Ruggeri

6  Terry Butcher

5  José Luis Brown

14 Terry Fenwick

16 Julio Olarticoechea

3  Kenny Sansom

2  Sergio Batista

16 Peter Reid

14 Ricardo Giusti

4  Glenn Hoddle

12 Héctor Enrique

17 Trevor Steven

7  Jorge Burruchaga

18 Steve Hodge

10 Diego Armando Maradona (C)

20 Peter Beardsley

11 Jorge Valdano

10 Gary Lineker

 

Técnico: Carlos Bilardo

Técnico: Bobby Robson

 

SUPLENTES:

 

 

15 Luis Islas (G)

13 Chris Woods (G)

22 Héctor Zelada (G)

22 Gary Bailey (G)

6  Daniel Passarella

12 Viv Anderson

8  Néstor Clausen

5  Alvin Martin

13 Oscar Garré

15 Gary Andrew Stevens

20 Carlos Daniel Tapia

7  Bryan Robson

21 Marcelo Trobbiani

8  Ray Wilkins

3  Ricardo Bochini

21 Kerry Dixon

4  Claudio Borghi

11 Chris Waddle

17 Pedro Pasculli

19 John Barnes

1  Sergio Omar Almirón

9  Mark Hateley

 

GOLS:

51′ Diego Armando Maradona (ARG)

55′ Diego Armando Maradona (ARG)

81′ Gary Lineker (ING)

 

CARTÕES AMARELOS:

9′ Terry Fenwick (ING)

60′ Sergio Batista (ARG)

 

SUBSTITUIÇÕES:

69′ Peter Reid (ING) ↓

Chris Waddle (ING) ↑

 

74′ Trevor Steven (ING) ↓

John Barnes (ING) ↑

 

75′ Jorge Burruchaga (ARG) ↓

Carlos Daniel Tapia (ARG) ↑

 Melhores momentos da partida:

Jogo completo:

… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra


Gerd Müller marca o gol da virada alemã (Imagem: Daily Mail)

● Prejudicada por ter caído no grupo do Brasil, a Inglaterra ficou em segundo lugar na primeira fase. Por isso, nas quartas de final, teve que enfrentar logo de cara a Alemanha Ocidental. Era a reedição da decisão de quatro anos antes, mas dessa vez os ingleses não jogaram em casa. Muito pelo contrário. Para os mexicanos, a Inglaterra era inimiga.

Veja mais:
… 30/07/1966 – Inglaterra 4 x 2 Alemanha Ocidental
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra
… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães
… Berti Vogts: o homem-carrapato

Os ingleses tinham medo do chamado “mal de Montezuma“, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Por isso, levaram quilos de comida e toda a água que consumiriam no país. Um jornalista local descobriu o fato e logo a manchete estava estampada: “Sua majestade nos chamou de porcos!” Esse fato revoltou a população local. Os mexicanos passaram a fazer barulho em frente os hotéis em que a delegação inglesa se hospedava, para atrapalhar o sono dos atletas. E em todas as partidas, a Inglaterra era vaiada do início ao fim.

Mesmo com todos esses “cuidados”, por ironia do destino, o lendário goleiro Gordon Banks teve uma diarreia e não disputou a partida contra os alemães. Em seu lugar jogou o irregular (para não falar ruim) Peter Bonetti, do Chelsea.

Mesmo sem Banks, a partida tinha onze remanescentes a decisão de 1966.


Alemanha jogava no 4-2-4, com Beckenbauer como volante à frente da defesa.


A Inglaterra atuava no seu 4-4-2 clássico, com duas linhas de quatro.

● Nos primeiros segundos, Franz Beckenbauer, o “Kaiser” (imperador), avançou e chutou de perna esquerda, da intermediária, mas a bola foi para fora.

Os campeões do mundo abriram o placar aos 31 minutos de partida. O lateral Keith Newton rolou da direita para a pequena área e o volante Alan Mullery se antecipou a um adversário, desviando para o gol.

O primeiro tempo terminou assim, para alegria dos poucos torcedores britânicos em León. Apesar do calor, a Inglaterra demonstrou melhor preparo físico.

Aos 4 minutos do segundo tempo, Alan Ball rouba a bola e inicia o contra-ataque. Geoff Hurst recebe e toca para Newton. De novo o lateral inglês cruza da direita, no segundo pau. Peters aparece à frente de um zagueiro e, na pequena área, escora para o gol. Sepp Maier nada pode fazer. Inglaterra, 2 a 0. Tudo caminhava para uma vitória categórica dos “Three Lions“.

Aos 23, Beckenbauer recebe de Overath, dribla Mullery fora da área e chuta no canto direito de Bonetti, diminuindo o marcador. Os ingleses reclamaram que havia um jogador caído (o “catimbeiro” Francis Lee) e os alemães não tiveram fair play. Mas o fato é que o gol valeu.

Logo em seguida, o técnico Alf Ramsey cometeu o mesmo erro de sempre: tirou o maestro Bobby Charlton e se fechou na defesa. Como consequência, Beckenbauer, livre da tarefa de marcá-lo, estava livre para reinar em campo.

A Alemanha continuou trabalhando e, a oito minutos do fim, Schnellinger ergue a bola para a área. O capitão Uwe Seeler, marcado e de costas para o gol, consegue desviar de cabeça, encobrindo Bonetti. Um lance lindo, de quem conhece bem o caminho do gol. Seeler, Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo são os únicos jogadores a marcarem em quatro Mundiais diferentes.

No tempo normal, mesmo placar da decisão de 1966.

A Inglaterra começa o tempo extra com jogadas agudas. Logo nos primeiros segundos, Colin Bell cruza e Hurst cabeceia para fora. Pouco depois, o próprio Hurst marcou um gol ilegal (como em 1966), mas dessa vez a arbitragem anulou. O moral do “English Team” estava baixo, enquanto o do “Nationalelf” estava lá em cima.

O momento decisivo veio pouco depois, aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Grabowski arranca pela direita e cruza para a segunda trave, Löhr escora de cabeça para a pequena área e Gerd Müller, sozinho, manda de voleio para o fundo das redes.


Bobby Charlton sempre bem marcado por Franz Beckenbauer (Imagem: Pinterest)

● O público delira. Os gritos demonstram sua antipatia pela Inglaterra. O campeão perde o trono. Virada e vingança da Alemanha. O fantasma de Wembley estava definitivamente enterrado e a história foi outra.

A então campeã, Inglaterra, se despedia da Copa precocemente, nas quartas de final, após uma primeira fase com vitórias por 1 a 0 sobre Romênia e Tchecoslováquia, além de derrota para o Brasil pelo mesmo placar.

Curiosamente, a Inglaterra foi a primeira seleção a utilizar três camisas diferentes em uma Copa do Mundo. Vestiu uma camisa vermelha contra a Alemanha, jogou de branco contra Brasil e Romênia e utilizou um uniforme azul claro contra a Tchecoslováquia. Como o uniforme dos tchecos era todo branco, a imagem na TV preto e branco ficou terrível, pois a tonalidade dos dois uniformes era semelhante.

A Alemanha Ocidental se classificou para as semifinais e jogaria contra a Itália, três dias depois.


Capitães, Bobby Moore e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest) 

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 2 INGLATERRA

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: León

Público: 23.357

Cidade: León (México)

Árbitro: Ángel Norberto Coerezza (Argentina)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Sepp Maier (G)

12 Peter Bonetti (G)

7  Berti Vogts

2  Keith Newton

11 Klaus Fichtel

5  Brian Labone

3  Karl-Heinz Schnellinger

6  Bobby Moore (C)

2  HorstDieter Höttges

3  Terry Cooper

4  Franz Beckenbauer

4  Alan Mullery

12 Wolfgang Overath

9  Bobby Charlton

14 Stan Libuda

8  Alan Ball

9  Uwe Seeler (C)

10 Geoff Hurst

13 Gerd Müller

7  Francis Lee

17 Hannes Löhr

11 Martin Peters

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

21 Manfred Manglitz (G)

1 Gordon Banks (G)

22 Horst Wolter (G)

13 Alex Stepney (G)

5  Willi Schulz

14 Tommy Wright

6  Wolfgang Weber

17 Jack Charlton

15 Bernd Patzke

18 Norman Hunter

18 Klaus-Dieter Sieloff

16 Emlyn Hughes

16 Max Lorenz

15 Nobby Stiles

19 Peter Dietrich

19 Colin Bell

8  Helmut Haller

20 Peter Osgood

10 Sigfried Held

21 Allan Clarke

20 Jürgen Grabowski

22 Jeff Astle

 

GOLS:

31′ Alan Mullery (ING)

49′ Martin Peters (ING)

68′ Franz Beckenbauer (ALE)

82′ Uwe Seeler (ALE)

108′ Gerd Müller (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

Gerd Müller (ALE)

Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Horst-Dieter Höttges (ALE) ↓

Willi Schulz (ALE) ↑

 

55′ Stan Libuda (ALE) ↓

Jürgen Grabowski (ALE) ↑

 

70′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

81′ Martin Peters (ING) ↓

Norman Hunter (ING) ↑ 

Gols do jogo:

Melhores momentos da partida:

 

… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra


(Imagem: UOL Esporte)

● A Inglaterra era apontada como favorita por 15 dos 18 técnicos entrevistados pela revista Placar antes da Copa. O English Team chegou ao México com o favoritismo de quem havia vencido a última Copa, em 1966. Trazia a fama de um futebol duro, com uma defesa fechadíssima, muito difícil de ser batida. Tinha uma estratégia bem definida: abusava da inteligência e da técnica de Bobby Charlton; se não desse resultado ou se ele cansasse, apelava para o tradicional “chuveirinho”. Assim, com esse futebol competitivo, venceu a Romênia na estreia por 1 a 0.

Leia mais:
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
… 10/06/1970 – Brasil 3 x 2 Romênia
… 14/06/1970 – Brasil 4 x 2 Peru
… 17/06/1970 – Brasil 3 x 1 Uruguai
… 21/06/1970 – Brasil 4 x 1 Itália
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Para tornar a missão ainda mais difícil para o Brasil, o meia Gérson se lesionou contra a Tchecoslováquia e desfalcou o Brasil. Rivellino foi recuado para o meio e Paulo Cézar Caju entrou na ponta.


Na ausência de Gérson, o Brasil atuou no 4-2-4, com Paulo Cézar voltando um pouco mais para fechar o lado esquerdo.


A Inglaterra jogava em um pioneiro 4-4-2, que lhe valeu o título no Mundial de 1966.

● No primeiro tempo houve muito equilíbrio e poucas chances de gol. Os brasileiros, muito cuidadosos na defesa, permitiram que os ingleses tivessem domínio territorial. Eles marcavam, corriam, criavam, mas… não chutavam a gol.

Já os brasileiros tocavam a bola de pé em pé, sem se desgastar, enquanto os ingleses corriam atrás dela e perdiam o fôlego, o que lhes seria fatal no segundo tempo.

Aos 11 minutos de jogo, ocorreu aquela que é considerada a maior defesa de todas as Copas, uma obra prima completa. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, impulsionando-a com ainda mais força, de cima para baixo, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Gordon Banks. Ele saltou no canto direito e deu um tapa por baixo da bola, colocando-a sobre o travessão. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto.

Aos 15, o ponta direita Francis Lee fez uma falta violenta e desleal em Everaldo.

Pouco depois, o próprio Lee quase marcou de cabeça, mas Félix defendeu bem. Na sequência, o inglês chutou a cabeça do goleiro brasileiro, tentando fazer o gol em uma bola perdida.

Diz a lenda que Carlos Alberto chamou Pelé e disse: “Pega esse cara!” Pelé, precavido, respondeu: “Não dá, eu sou muito visado e o juiz vai me expulsar”. Carlos Alberto resolveu ele mesmo o problema: na primeira bola que Lee pegou, o Capita deixou sua posição, foi até a intermediária e deu um tranco pesado no inglês, que a partir daí sumiu em campo.

(Imagem: FIFA)

● No intervalo, os brasileiros demoraram para voltar, deixando os ingleses “torrando” por cinco minutos em um calor de quase 40º C de Guadalajara.

Na segunda etapa, o talento individual brasileiro fez a diferença, principalmente dos homens de meio de campo, que passaram a apoiar mais o ataque. E aos 15 minutos do segundo tempo, prevaleceu o talento sobre o atleta.

Tostão recebe de Carlos Alberto, tenta o chute e acerta um zagueiro. Ele fica com a sobra, tabela com Paulo Cézar, entra na área, dribla um adversário, é combatido por mais dois, mas gira em torno de si mesmo, livra-se dos três (com direito a bola entre as pernas do capitão Bobby Moore) e, de costas para o gol, dá de curva, de pé direito, para Pelé. Sem olhar para o lado e com um leve e magistral toque, o Rei tira outros dois adversários e deixa Jairzinho cara a cara com Banks. Jair chuta com violência, balança as redes e sacode milhões de brasileiros, definindo a dramática vitória de sua equipe.

Após o gol, faltou uma cabeça pensante e genial como a de Gérson para cadenciar mais o jogo, segurando um pouco a correria dos ingleses. Mas em âmbito geral, Paulo Cézar esteve muito bem em campo e fez um dos melhores (senão o melhor) jogo de sua vida.

Na sequência, o técnico Alf Ramsey abdicou de vez da categoria individual, substituindo Lee e Bobby Charlton (já extenuado, mas o melhor em campo no primeiro tempo). Com a entrada de dois atacantes, os ingleses abdicaram do jogo inteligente e passaram e centrar bolas na área. Mas a defesa brasileira se manteve segura.

Os minutos finais são de apreensão. Aos 38, Félix falha numa saída, mas Bell chuta para fora.

Aos 40, Clodoaldo vira o jogo para a esquerda, mas Banks defende o chute de Roberto.

Aos 42, Félix sai bem do gol, mas não alivia o perigo. Astle não consegue cabecear e Brito afasta de vez. Foi o melhor jogo de Félix na Copa. Brito é outro que merece elogios pela segurança nessa partida.

Veja o gol da partida desde sua origem:

● Esse confronto bem que poderia ser a grande final da Copa, mas os “deuses do futebol” quiseram que protagonizassem esse duelo na segunda rodada da fase de grupos.

Diante de 66.843 expectadores, o clássico entre os dois últimos campeões foi a partida mais tensa, equilibrada e sofria dentre todas disputadas pela Seleção Brasileira em 1970. Foi o único jogo em que o Brasil fez apenas um gol e foi também o único gol que a Inglaterra sofreu na primeira fase (venceu Romênia e Tchecoslováquia, ambas por 1 x 0).

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 INGLATERRA

 

Data: 07/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 66.843

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Félix (G)

1  Gordon Banks (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

14 Tommy Wright

2  Brito

5  Brian Labone

3  Wilson Piazza

6  Bobby Moore (C)

16 Everaldo

3  Terry Cooper

5  Clodoaldo

4  Alan Mullery

11 Rivellino

9  Bobby Charlton

7  Jairzinho

8  Alan Ball

9  Tostão

10 Geoff Hurst

10 Pelé

7  Francis Lee

18 Paulo Cézar Caju

11 Martin Peters

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Peter Bonetti (G)

22 Leão (G)

13 Alex Stepney (G)

21 Zé Maria

2  Keith Newton

15 Fontana

17 Jack Charlton

14 Baldocchi

18 Norman Hunter

17 Joel Camargo

16 Emlyn Hughes

6  Marco Antônio

15 Nobby Stiles

8  Gérson

19 Colin Bell

13 Roberto

20 Peter Osgood

20 Dadá Maravilha

21 Allan Clarke

19 Edu

22 Jeff Astle

 

GOL: 59′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

63′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

63′ Francis Lee (ING) ↓

Jeff Astle (ING) ↑

 

68′ Tostão (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑

… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé

Três pontos sobre…
… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé


(Imagem localizada no Google)

● Jogavam na segunda rodada da primeira fase da Copa do Mundo de 1970 os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, praticamente parando no ar e impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

“Quando o Jairzinho cruzou, eu estava voltando em direção ao meio do gol. Ao ver a trajetória da bola, tive certeza que ninguém alcançaria. Foi aí que vi Pelé, saltando de uma maneira impressionante para alcançar a bola.” — Gordon Banks.

“Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trava e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, tive de pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Achei que tinha sido gol, que tinha entrado no ângulo. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem.” — Gordon Banks .

“Banks foi o melhor goleiro da Copa de 1970 e talvez o melhor entre todos os jogadores de defesa.” — Pelé.

(Imagem: Lance!)

● Foram poucos os goleiros na história a se tornarem lendas, a ponto de serem chamados de craques, mas Banks certamente é um deles. Alto (1,88 m) e atlético, nasceu em Sheffield, no dia 30/12/1937. Começou sua carreira já tardiamente, com 19 anos, mas impressionando, sendo um dos destaques do Chesterfield, que perdeu na final da FA Youth Cup de 1956 para os “Busby Babes” do Man. Utd. Já em 1959, foi para o Leicester por £7.000. Nos “Foxes”, esperou com calma a sua chance e a agarrou quando apareceu. Em oito anos, foram 356 partidas. Em 1967, estava prestes a perder a titularidade no Leicester para o jovem Peter Shilton (outra lenda) e preferiu se transferir ao Stoke City. No Stoke, venceu apenas a Copa da Liga de 1972. Passou também por outros clubes, em empréstimos relâmpagos, mas sem maiores destaques: Cleveland Stokers (EUA, em 1967), Hellenic (África do Sul, em 1971) e St Patrick’s Athletic (Irlanda, em 1977).

Disputou seu primeiro jogo pela seleção inglesa em 1963, contra a Escócia. Foi o goleiro titular da Inglaterra campeã em casa na Copa do Mundo de 1966, com um time contestado, mas muito bom. No torneio, só foi sofrer o primeiro gol na quinta partida, na semifinal contra Portugal, em um pênalti convertido pelo craque Eusébio (442 minutos sem ser vazado). Na final, na vitória por 4 x 2 na prorrogação, não teve culpa em nenhum dos gols da Alemanha Ocidental. Na Copa seguinte, em 1970, mesmo contestado e em má fase, foi o titular de sua seleção, inclusive fazendo a “defesa do século” na cabeçada de Pelé. Mas estranhamente foi acometido pelo “Mal de Montezuma”, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Mesmo com os ingleses levando quilos de comidas e até água para consumo no México, o goleiro não conseguiu entrar em campo nas quartas de final contra a rival Alemanha Ocidental, por causa de uma diarreia. Sem ele, os ingleses perderam por 3 a 2 de virada e foram eliminados. Pelo English Team, entre 1963 e 1972, foram 73 partidas disputadas, com apenas nove derrotas e sofrendo apenas 57 gols (em 35 jogos não foi vazado). Virou algo comum na Inglaterra o apelido “Banks of England quando alguém se referia ao goleiro. A segurança do camisa 1 era comparada aos bancos do país.

Mas em outubro de 1972, Banks dirigia seu Ford Granada e tentou fazer uma curva acentuada, quando bateu de frente com um Austin A60. Acordou no hospital com mais de 200 pontos no rosto e sem a visão do olho direito, que não resistiu à gravidade do choque. Sem a visão de um olho, seus movimentos e reflexos se foram, assim como sua posição na seleção e em seu clube. Não houve outro jeito a não ser anunciar a aposentadoria em 1973, aos 35 anos.

Tempos depois, em 1977, aceitou o desafio de jogar nos Estados Unidos, no Fort Lauderdale Strikers, mas suas dificuldades na visão foram aumentando. Mesmo com um olho só, foi o melhor goleiro do campeonato. Decidiu pendurar as chuteiras e as luvas em 1978, sem ter defendido nenhuma grande equipe do futebol inglês e com raros títulos no currículo. Ironicamente, Peter Shilton sucedeu Gordon Banks no gol do Leicester City (1967), do Stoke City (1974) e da seleção inglesa (1972), mas não nos corações dos amantes do futebol.

Feitos e premiações de Gordon Banks:

Pela seleção da Inglaterra:
– Campeão da Copa do Mundo de 1966.
– 3º lugar na Eurocopa de 1968.
– Campeão do Campeonato Britânico de Seleções (British Home Championship) em 1964 (título dividido com Escócia e Irlanda do Norte), 1965, 1966, 1968, 1969, 1970 (título dividido com Escócia e País de Gales), 1971 e 1972.

Pelo Chesterfield:
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra de Juniores (FA Youth Cup) em 1955/56.

Pelo Leicester City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1963/64.
– Vice-campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1964/65.
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra (FA Cup) em 1960/61 e 1962/63.

Pelo Stoke City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1971/72.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o goleiro do ano pela FIFA em 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1966.
– Eleito o esportista do ano pelo jornal Daily Express em 1971 e 1972.
– Eleito o jogador do ano na Inglaterra pelos jornalistas em 1972.
– Eleito para o All-Star Team da NASL em 1977.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Eleito o 21º maior jogador do século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 2º maior goleiro do século XX pela IFFHS.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 14º maior jogador da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– Eleito para a seleção do século (1907-1976) pelos jogadores ingleses em 2007.
– Eleito para a lista dos 100 + do futebol inglês (Football League 100 Legends) em 1973.
– Membro do Hall da Fama do futebol inglês desde 2002.
– Membro da Ordem do Império Britânico (OBE – Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico) desde 1970.

(Imagem: PA Images / Getty Images)

Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006. p. 160.

Esse também foi o título de sua primeira autobiografia, publicada em 1980.

… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”

Três pontos sobre…
… Mané Garrincha: “Anjo de Pernas Tortas”


(Imagem: paixaocanarinha.com.br)

● Em 1958, em testes antes da Copa, foi diagnosticado como “retardado” por João Carvalhaes, psicólogo da delegação brasileira. Por ser considerado irresponsável, não foi escalado como titular nos dois primeiros jogos do Brasil, mas, após dois jogos fracos da equipe, se tornou titular. No terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola deu a ordem para atacarem diretamente na saída de bola, pelo lado direito, com Garrincha. Ele recebeu a bola na direita, driblou três adversários e chutou cruzado na trave. Ainda com menos de um minuto, deu uma assistência para Pelé também acertar a trave. Aos 2 minutos, Didi deu uma linda assistência para o gol de Vavá, que abriu o Placar. O jogo terminou com 2 a 0. Segundo o jornalista francês Gabriel Hanot (idealizador da Liga dos Campeões da Europa), aqueles foram “os três melhores minutos da história do futebol”. Foi campeão do mundo com a camisa 11, pois a 7 foi vestida por Zagallo. (O Brasil não enviou a numeração oficial e a FIFA “jogou” os números de forma aleatória.)

● Quando Pelé se contundiu logo no segundo jogo da Copa de 1962, Garrincha “fez papel de Pelé” e conduziu o Brasil ao título. Ele deu show nas quartas de final, no 3 a 1 contra a Inglaterra, com um gol de cabeça e outro em chute central da entrada da área. Em determinado momento, um cachorro invadiu o gramado e “driblou” vários jogadores, inclusive Garrincha, mas foi capturado pelo atacante Jimmy Greaves (apesar de ter ensopado a camisa do inglês de xixi). Após o jogo, o cão foi sorteado por um oficial chileno entre os jogadores brasileiros e Garrincha ganhou e lhe deu o nome de “Bi”. Nas semifinais diante dos anfitriões chilenos, Mané fez mais dois gols: um de perna esquerda e um de cabeça. Aos 38 minutos do segundo tempo, reagiu a uma cusparada e a um tapa na cara e revidou com um chute na bunda do chileno Eládio Rojas e foi expulso. Mas o julgamento foi marcado apenas para depois do último jogo da Copa. Foi a única expulsão em sua carreira. Na final contra a Tchecoslováquia, mesmo ardendo em febre, Garrincha liderou sua equipe e conquistou o segundo título mundial consecutivo. Na Copa de 1966, já atuava no Corinthians e estava completamente fora de forma, sem ritmo de jogo e se recuperando de uma lesão no joelho. Marcou um gol de falta no 2 a 0 contra a Bulgária, na estreia. No jogo seguinte, sem Pelé (lesionado), perdeu sua única partida com a camisa canarinho, para a Hungria, por 3 a 1. Não jogou contra Portugal no terceiro jogo e o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos.

● – Foi homenageado pela Mangueira no desfile das escolas de samba no Carnaval de 1980. Ele participou do desfile, mas estava completamente dopado por um remédio, pois tinha acabado de sair de uma internação por causa do alcoolismo.

– Diz a lenda que em um clássico entre Botafogo x Fluminense, o zagueiro Pinheiro se chocou com o ponta Quarentinha, se lesionando. A bole sobrou para Garrincha fazer o gol, livre, diante do goleiro, mas ele jogou a bola pela lateral para que seu adversário fosse atendido. Essa é uma das primeiras ocasiões conhecidas de “fair play“.

– Garrincha criou o “olé” no futebol. Em história contada no livro “Histórias do Futebol”, João Saldanha diz que foi no México, em 1957, no Estádio Universitário, em um amistoso contra o River Plate (ARG), quando Mané fez gato e sapato do lateral esquerdo adversário, Vairo. Segundo Saldanha, “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!’ Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé’”.

– Garrincha costumava chamar todos seus marcadores de “João”. Isso porque certa vez um repórter perguntou quem era o lateral que iria lhe marcar. Ele não sabia e respondeu: “Escreve aí que é um tal de João”. Ficou a lenda. Provavelmente mais uma das histórias inventadas pelo jornalista Sandro Moreyra, muito amigo de Garrincha.

– Na Copa de 1958, na Suécia, Garrincha foi a uma loja com o dentista Mário Trigo e se apaixonou pelo rádio Telefunken. O craque estava maravilhado com o radinho de pilha, quando o massagista Mário Américo disse: “Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.” Ciente de que tinha feito um bom negócio se desfazendo do rádio, Mané foi reclamar com o Dr. Mário Trigo. O dentista desfez a confusão e pegou mais 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho (chefe da delegação) e comprar outro aparelho para o inocente Mané. Há várias versões dessa história, mas essa foi a confirmada pelo Dr. Mário Trigo.

– Certa vez o Botafogo foi fazer uma excursão em Madri e Garrincha sumiu logo na primeira noite. O técnico Zezé Moreira, conhecendo seu jogador, partiu em busca dele nas “casas de tolerância”. Chamou um táxi e começou a percorrer as barulhentas ruas da capital espanhola, cheias de mulheres de oferecendo. Quando avistou Garrincha, mandou o taxista parar. Já ia descendo do carro quando Mané, que também o viu, gritou, fazendo a maior festa: “Aí, hein, seu Zezé! O senhor também aqui na zona?” Zezé não soube o que fazer e partiu no mesmo táxi que o trouxe.

P.S.: Essas e outras histórias viraram folclore. Na verdade, nunca se soube o que era fato sobre o Mané e o que era exagero ou pura “criatividade” de seu amigo jornalista Sandro Moreyra.

… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão

Três pontos sobre…
… Carlos Alberto Torres: o eterno Capitão


(Imagem localizada no Google)

“Não adianta o senhor me bater. Eu quero ser jogador de futebol.” – disse para o pai após apanhar por só querer saber de jogar bola

● Aos 18 anos já era titular do Fluminense, mas adiou a assinatura de seu primeiro contrato para poder jogar como amador e ganhar a medalha de ouro no Pan-Americano de 1963, em São Paulo. Se tornou profissional em 1964 no Fluminense e foi campeão carioca com apenas 19 anos. No ano seguinte, foi completar a constelação do Santos e, aos 22 anos de idade, o garoto se tornou capitão do time que tinha Pelé e os bicampeões mundiais de 1962/63. Nessa primeira passagem pelo alvinegro praiano, venceu o Campeonato Paulista em 1965, 1967, 1968 e 1969; o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (dividido com outros três clubes); o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968 (o Brasileirão da época), a Recopa Sul-Americana de 1968 e a Recopa Mundial de 1968. Em 1971 teve uma rápida passagem pelo seu clube de coração, o Botafogo (3 meses e 22 jogos) e no mesmo ano voltou ao Santos, para ser novamente campeão paulista em 1973 (título dividido com a Portuguesa, por erro na contagem de pênaltis pelo árbitro Armando Marques na decisão). Em 1974 voltou ao Fluminense para ajudar a “Máquina Tricolor” a conquistar bicampeonato carioca de 1975/76. Após passagem relâmpago pelo Flamengo, foi para o New York Cosmos, jogar com Pelé e Franz Beckenbauer. Jogou por um ano no California Surf e voltou ao Cosmos, onde encerrou a carreira em 1982. Pelo Cosmos, venceu a liga NASL em 1977, 1978, 1980 e 1982 e o Trans-Atlantic Cup Championships em 1980.

● Estreou pela Seleção Brasileira principal em um amistoso no dia 30/05/1964, quando o Brasil venceu a Inglaterra no Maracanã por 5 a 1. A maior decepção de sua carreira foi a não convocação para a Copa de 1966, quando o universo ficou surpreso pela sua ausência na lista de jogadores. Na época, o técnico Vicente Feola fez uma completa bagunça, convocando 45 jogadores para treinamentos antes do torneio, dentre eles Carlos Alberto, mas também alguns campeões de 1958 e 1962 que não estavam em boa forma física e técnica. Mas era impossível que ele não fosse para a Copa de 1970. Não era só unanimidade no país, mas no mundo do futebol. Passou incólume pelas eliminatórias e chegou na Copa liderando um esquadrão de gênios. Após 1966, passou a ser titular da seleção e se tornou capitão em 1968 e só deixou de ser por um brevíssimo período de dois jogos no início do ano de 1970, em que o então técnico João Saldanha preferiu dar a braçadeira a Wilson Piazza. Mas logo voltou a capitanear a amarelinha.

Já na Copa, na segunda rodada da fase de grupos, enfrentavam-se os dois últimos campeões mundiais: Brasil x Inglaterra. No jogo, os ingleses estavam apelando para a violência para tentar intimidar os brasileiros. Após diversas pancadas de toda a equipe e duas entradas criminosas do atacante Francis Lee, sendo uma em Everaldo e outra em uma dividida com o goleiro Félix, Carlos Alberto mostrou a Lee que brasileiro também sabe dar pancada e os ingleses murcharam a partir desse momento e o futebol espetáculo pôde demonstrar toda sua classe, vencendo por 1 a 0.

Era dia 21/06/1970, com 107 mil pagantes no hoje mítico Estádio Azteca, na Cidade do México. A final da Copa entre Brasil e Itália era chamada de “O Jogo do Século”. Naquela partida, a ordem do técnico Zagallo foi para Jairzinho circular bastante em campo, afastando o lateral esquerdo italiano Giacinto Facchetti de sua posição, abrindo espaços para as subidas de Carlos Alberto. Aos 41 minutos do segundo tempo, Tostão rouba a bola, toca para Gérson, que passa para Clodoaldo, que se redime de falha no gol italiano e dribla quatro marcadores, tocando para a esquerda em Rivelino, que lança mais na ponta para Jairzinho. o Furacão passa por um italiano e enxerga Pelé solto na entrada da área. o Rei recebe, para e vê a aproximação de Carlos Alberto pelo corredor direito justamente aberto por Jair. Pelé olha para a esquerda e rola mansamente na direita, onde o Capita enche o pé, encerrando uma obra prima e decretando o placar final: Brasil 4 x 1 Itália. Com o terceiro título mundial, o Brasil se tornou dono definitivo da Taça Jules Rimet e coube ao Capitão Carlos Alberto levantá-la pela última vez. Era o capitão mais jovem da história das Copas. Para a Copa de 1974, não conseguiu se recuperar de uma lesão no joelho a tempo de ser convocado. No total, fez 53 jogos oficiais pela seleção (42 vitórias, 4 empates e 7 derrotas), marcando 8 gols.

● Carlos Alberto foi o maior lateral direito que o mundo já viu. Também jogou em alguns momentos como zagueiro. Era habilidoso, clássico e possuía uma força física invejável, além de uma personalidade forte e grande espírito de liderança. Ficou eternizado como “Capitão do Tri” (ou Capita, abreviação carinhosa dos colegas), ao levantar a Taça Jules Rimet. Jogou uma única Copa e ficou marcado como o maior capitão da história do futebol. Faz parte do Hall da Fama do “Soccer” americano desde 2003. Em março de 2004, foi nomeado por Pelé um dos 125 melhores jogadores vivos do mundo. Foi um dos escolhidos para a seleção dos melhores jogadores da Copa do Mundo de 1970. Em enquete com cronistas esportivos de todo o mundo, foi escolhido para a seleção sul-americana de todos os tempos e para a seleção mundial do século XX. Ao encerrar a carreira, tornou-se vereador no Rio de Janeiro entre 1989 e 1993, pelo PDT. Depois, se tornou técnico de raros sucessos, sendo campeão brasileiro com o Flamengo em 1983, campeão carioca pelo Fluminense em 1984 e campeão da Copa Conmebol pelo seu Botafogo em 1993 (único título internacional do clube). Ultimamente era comentarista do canal SporTV, sendo presença constante principalmente no programa “Troca de Passes” (inclusive no último domingo, dois dias antes de morrer). Ontem, 25/10/2016, no Rio de Janeiro, Carlos Alberto fazia palavras cruzadas quando sofreu um infarto fulminante e não resistiu, falecendo exatamente um mês depois de seu irmão gêmeo, Carlos Roberto.

Aos 72 anos, o Capita foi convocado para jogar na seleção do céu.

… Rei Pelé: famoso também pelos gols não feitos

Três pontos sobre…
… Rei Pelé: famoso também pelos gols não feitos

● Comumente os jogadores de futebol são conhecidos e reconhecidos na história pelos dribles, passes, defesas, mas principalmente pelos gols que fazem. Mas o Rei Pelé também se tornou imortal pelos gols que não fez na Copa do Mundo de 1970, no México. Aos 29 anos, provou que estava em seu auge físico, técnico e emocional. Logo na estreia, contra a Tchecoslováquia, que o Brasil venceu por 4 x 1, aos 41 minutos do primeiro tempo, quando o jogo ainda estava empatado por 1 x 1, Pelé observou que o goleiro Ivo Viktor não estava muito bem posicionado no gol e chutou de trás da linha do meio-campo. A bola incrivelmente e infelizmente passou raspando a trave esquerda. Segundo o jornal inglês Daily Mirror, “havia 70 mil pessoas no estádio, mas só Pelé viu Viktor adiantado”.

● O segundo lance é considerado a maior defesa de todos os tempos, mas todo o lance é genial. Jogaram na segunda rodada da primeira fase os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

Nas semifinais diante do rival Uruguai, vencido por 3 x 1, aconteceram dois “quase-gols” incríveis. E quem sofreu foi o grande goleiro Ladislao Mazurkiewicz (que depois viria a jogar no Clube Atlético Mineiro, entre 1972 e 1974). Em uma reposição de bola mal feita por “Marzuka”, Pelé chutou de primeira da intermediária, obrigando-o a fazer grande defesa, quase no contrapé. Depois viria a cereja do bolo. Em um magistral lançamento de Tostão pela esquerda, Mazurkiewicz saiu para interceptação e, sem tocar na bola, Pelé lhe deu um fantástico drible de corpo, enganando-o apenas na corrida em direção ao gol. Só com a força do passe de Tostão, Pelé deixou a bola passar pelo lado esquerdo do goleiro, enquanto correu pelo direito, chutando cruzado rapidamente e quase sem ângulo no contrapé do zagueiro Atilio Ancheta (ídolo do Grêmio entre 1971 e 1979). Infelizmente a bola passou rente a trave uruguaia e foi para fora. Certamente é o drible mais lindo da história do futebol.

P.S.: Hoje o Rei completa 76 anos. Parabéns!