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… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra


Gerd Müller marca o gol da virada alemã (Imagem: Daily Mail)

● Prejudicada por ter caído no grupo do Brasil, a Inglaterra ficou em segundo lugar na primeira fase. Por isso, nas quartas de final, teve que enfrentar logo de cara a Alemanha Ocidental. Era a reedição da decisão de quatro anos antes, mas dessa vez os ingleses não jogaram em casa. Muito pelo contrário. Para os mexicanos, a Inglaterra era inimiga.

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Os ingleses tinham medo do chamado “mal de Montezuma“, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Por isso, levaram quilos de comida e toda a água que consumiriam no país. Um jornalista local descobriu o fato e logo a manchete estava estampada: “Sua majestade nos chamou de porcos!” Esse fato revoltou a população local. Os mexicanos passaram a fazer barulho em frente os hotéis em que a delegação inglesa se hospedava, para atrapalhar o sono dos atletas. E em todas as partidas, a Inglaterra era vaiada do início ao fim.

Mesmo com todos esses “cuidados”, por ironia do destino, o lendário goleiro Gordon Banks teve uma diarreia e não disputou a partida contra os alemães. Em seu lugar jogou o irregular (para não falar ruim) Peter Bonetti, do Chelsea.

Mesmo sem Banks, a partida tinha onze remanescentes a decisão de 1966.


Alemanha jogava no 4-2-4, com Beckenbauer como volante à frente da defesa.


A Inglaterra atuava no seu 4-4-2 clássico, com duas linhas de quatro.

● Nos primeiros segundos, Franz Beckenbauer, o “Kaiser” (imperador), avançou e chutou de perna esquerda, da intermediária, mas a bola foi para fora.

Os campeões do mundo abriram o placar aos 31 minutos de partida. O lateral Keith Newton rolou da direita para a pequena área e o volante Alan Mullery se antecipou a um adversário, desviando para o gol.

O primeiro tempo terminou assim, para alegria dos poucos torcedores britânicos em León. Apesar do calor, a Inglaterra demonstrou melhor preparo físico.

Aos 4 minutos do segundo tempo, Alan Ball rouba a bola e inicia o contra-ataque. Geoff Hurst recebe e toca para Newton. De novo o lateral inglês cruza da direita, no segundo pau. Peters aparece à frente de um zagueiro e, na pequena área, escora para o gol. Sepp Maier nada pode fazer. Inglaterra, 2 a 0. Tudo caminhava para uma vitória categórica dos “Three Lions“.

Aos 23, Beckenbauer recebe de Overath, dribla Mullery fora da área e chuta no canto direito de Bonetti, diminuindo o marcador. Os ingleses reclamaram que havia um jogador caído (o “catimbeiro” Francis Lee) e os alemães não tiveram fair play. Mas o fato é que o gol valeu.

Logo em seguida, o técnico Alf Ramsey cometeu o mesmo erro de sempre: tirou o maestro Bobby Charlton e se fechou na defesa. Como consequência, Beckenbauer, livre da tarefa de marcá-lo, estava livre para reinar em campo.

A Alemanha continuou trabalhando e, a oito minutos do fim, Schnellinger ergue a bola para a área. O capitão Uwe Seeler, marcado e de costas para o gol, consegue desviar de cabeça, encobrindo Bonetti. Um lance lindo, de quem conhece bem o caminho do gol. Seeler, Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo são os únicos jogadores a marcarem em quatro Mundiais diferentes.

No tempo normal, mesmo placar da decisão de 1966.

A Inglaterra começa o tempo extra com jogadas agudas. Logo nos primeiros segundos, Colin Bell cruza e Hurst cabeceia para fora. Pouco depois, o próprio Hurst marcou um gol ilegal (como em 1966), mas dessa vez a arbitragem anulou. O moral do “English Team” estava baixo, enquanto o do “Nationalelf” estava lá em cima.

O momento decisivo veio pouco depois, aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Grabowski arranca pela direita e cruza para a segunda trave, Löhr escora de cabeça para a pequena área e Gerd Müller, sozinho, manda de voleio para o fundo das redes.


Bobby Charlton sempre bem marcado por Franz Beckenbauer (Imagem: Pinterest)

● O público delira. Os gritos demonstram sua antipatia pela Inglaterra. O campeão perde o trono. Virada e vingança da Alemanha. O fantasma de Wembley estava definitivamente enterrado e a história foi outra.

A então campeã, Inglaterra, se despedia da Copa precocemente, nas quartas de final, após uma primeira fase com vitórias por 1 a 0 sobre Romênia e Tchecoslováquia, além de derrota para o Brasil pelo mesmo placar.

Curiosamente, a Inglaterra foi a primeira seleção a utilizar três camisas diferentes em uma Copa do Mundo. Vestiu uma camisa vermelha contra a Alemanha, jogou de branco contra Brasil e Romênia e utilizou um uniforme azul claro contra a Tchecoslováquia. Como o uniforme dos tchecos era todo branco, a imagem na TV preto e branco ficou terrível, pois a tonalidade dos dois uniformes era semelhante.

A Alemanha Ocidental se classificou para as semifinais e jogaria contra a Itália, três dias depois.


Capitães, Bobby Moore e Uwe Seeler se cumprimentam antes da partida (Imagem: Pinterest) 

FICHA TÉCNICA:

 

ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 2 INGLATERRA

 

Data: 14/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: León

Público: 23.357

Cidade: León (México)

Árbitro: Ángel Norberto Coerezza (Argentina)

 

ALEMANHA OCIDENTAL (4-2-4):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Sepp Maier (G)

12 Peter Bonetti (G)

7  Berti Vogts

2  Keith Newton

11 Klaus Fichtel

5  Brian Labone

3  Karl-Heinz Schnellinger

6  Bobby Moore (C)

2  HorstDieter Höttges

3  Terry Cooper

4  Franz Beckenbauer

4  Alan Mullery

12 Wolfgang Overath

9  Bobby Charlton

14 Stan Libuda

8  Alan Ball

9  Uwe Seeler (C)

10 Geoff Hurst

13 Gerd Müller

7  Francis Lee

17 Hannes Löhr

11 Martin Peters

 

Técnico: Helmut Schön

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

21 Manfred Manglitz (G)

1 Gordon Banks (G)

22 Horst Wolter (G)

13 Alex Stepney (G)

5  Willi Schulz

14 Tommy Wright

6  Wolfgang Weber

17 Jack Charlton

15 Bernd Patzke

18 Norman Hunter

18 Klaus-Dieter Sieloff

16 Emlyn Hughes

16 Max Lorenz

15 Nobby Stiles

19 Peter Dietrich

19 Colin Bell

8  Helmut Haller

20 Peter Osgood

10 Sigfried Held

21 Allan Clarke

20 Jürgen Grabowski

22 Jeff Astle

 

GOLS:

31′ Alan Mullery (ING)

49′ Martin Peters (ING)

68′ Franz Beckenbauer (ALE)

82′ Uwe Seeler (ALE)

108′ Gerd Müller (ALE)

 

CARTÕES AMARELOS:

Gerd Müller (ALE)

Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

INTERVALO Horst-Dieter Höttges (ALE) ↓

Willi Schulz (ALE) ↑

 

55′ Stan Libuda (ALE) ↓

Jürgen Grabowski (ALE) ↑

 

70′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

81′ Martin Peters (ING) ↓

Norman Hunter (ING) ↑ 

Gols do jogo:

Melhores momentos da partida:

 

… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra

Três pontos sobre…
… 07/06/1970 – Brasil 1 x 0 Inglaterra


(Imagem: UOL Esporte)

● A Inglaterra era apontada como favorita por 15 dos 18 técnicos entrevistados pela revista Placar antes da Copa. O English Team chegou ao México com o favoritismo de quem havia vencido a última Copa, em 1966. Trazia a fama de um futebol duro, com uma defesa fechadíssima, muito difícil de ser batida. Tinha uma estratégia bem definida: abusava da inteligência e da técnica de Bobby Charlton; se não desse resultado ou se ele cansasse, apelava para o tradicional “chuveirinho”. Assim, com esse futebol competitivo, venceu a Romênia na estreia por 1 a 0.

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… 14/06/1970 – Alemanha Ocidental 3 x 2 Inglaterra

Para tornar a missão ainda mais difícil para o Brasil, o meia Gérson se lesionou contra a Tchecoslováquia e desfalcou o Brasil. Rivellino foi recuado para o meio e Paulo Cézar Caju entrou na ponta.


Na ausência de Gérson, o Brasil atuou no 4-2-4, com Paulo Cézar voltando um pouco mais para fechar o lado esquerdo.


A Inglaterra jogava em um pioneiro 4-4-2, que lhe valeu o título no Mundial de 1966.

● No primeiro tempo houve muito equilíbrio e poucas chances de gol. Os brasileiros, muito cuidadosos na defesa, permitiram que os ingleses tivessem domínio territorial. Eles marcavam, corriam, criavam, mas… não chutavam a gol.

Já os brasileiros tocavam a bola de pé em pé, sem se desgastar, enquanto os ingleses corriam atrás dela e perdiam o fôlego, o que lhes seria fatal no segundo tempo.

Aos 11 minutos de jogo, ocorreu aquela que é considerada a maior defesa de todas as Copas, uma obra prima completa. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, impulsionando-a com ainda mais força, de cima para baixo, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Gordon Banks. Ele saltou no canto direito e deu um tapa por baixo da bola, colocando-a sobre o travessão. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto.

Aos 15, o ponta direita Francis Lee fez uma falta violenta e desleal em Everaldo.

Pouco depois, o próprio Lee quase marcou de cabeça, mas Félix defendeu bem. Na sequência, o inglês chutou a cabeça do goleiro brasileiro, tentando fazer o gol em uma bola perdida.

Diz a lenda que Carlos Alberto chamou Pelé e disse: “Pega esse cara!” Pelé, precavido, respondeu: “Não dá, eu sou muito visado e o juiz vai me expulsar”. Carlos Alberto resolveu ele mesmo o problema: na primeira bola que Lee pegou, o Capita deixou sua posição, foi até a intermediária e deu um tranco pesado no inglês, que a partir daí sumiu em campo.

(Imagem: FIFA)

● No intervalo, os brasileiros demoraram para voltar, deixando os ingleses “torrando” por cinco minutos em um calor de quase 40º C de Guadalajara.

Na segunda etapa, o talento individual brasileiro fez a diferença, principalmente dos homens de meio de campo, que passaram a apoiar mais o ataque. E aos 15 minutos do segundo tempo, prevaleceu o talento sobre o atleta.

Tostão recebe de Carlos Alberto, tenta o chute e acerta um zagueiro. Ele fica com a sobra, tabela com Paulo Cézar, entra na área, dribla um adversário, é combatido por mais dois, mas gira em torno de si mesmo, livra-se dos três (com direito a bola entre as pernas do capitão Bobby Moore) e, de costas para o gol, dá de curva, de pé direito, para Pelé. Sem olhar para o lado e com um leve e magistral toque, o Rei tira outros dois adversários e deixa Jairzinho cara a cara com Banks. Jair chuta com violência, balança as redes e sacode milhões de brasileiros, definindo a dramática vitória de sua equipe.

Após o gol, faltou uma cabeça pensante e genial como a de Gérson para cadenciar mais o jogo, segurando um pouco a correria dos ingleses. Mas em âmbito geral, Paulo Cézar esteve muito bem em campo e fez um dos melhores (senão o melhor) jogo de sua vida.

Na sequência, o técnico Alf Ramsey abdicou de vez da categoria individual, substituindo Lee e Bobby Charlton (já extenuado, mas o melhor em campo no primeiro tempo). Com a entrada de dois atacantes, os ingleses abdicaram do jogo inteligente e passaram e centrar bolas na área. Mas a defesa brasileira se manteve segura.

Os minutos finais são de apreensão. Aos 38, Félix falha numa saída, mas Bell chuta para fora.

Aos 40, Clodoaldo vira o jogo para a esquerda, mas Banks defende o chute de Roberto.

Aos 42, Félix sai bem do gol, mas não alivia o perigo. Astle não consegue cabecear e Brito afasta de vez. Foi o melhor jogo de Félix na Copa. Brito é outro que merece elogios pela segurança nessa partida.

Veja o gol da partida desde sua origem:

● Esse confronto bem que poderia ser a grande final da Copa, mas os “deuses do futebol” quiseram que protagonizassem esse duelo na segunda rodada da fase de grupos.

Diante de 66.843 expectadores, o clássico entre os dois últimos campeões foi a partida mais tensa, equilibrada e sofria dentre todas disputadas pela Seleção Brasileira em 1970. Foi o único jogo em que o Brasil fez apenas um gol e foi também o único gol que a Inglaterra sofreu na primeira fase (venceu Romênia e Tchecoslováquia, ambas por 1 x 0).

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 1 x 0 INGLATERRA

 

Data: 07/06/1970

Horário: 12h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 66.843

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Abraham Klein (Israel)

 

BRASIL (4-3-3):

INGLATERRA (4-4-2):

1  Félix (G)

1  Gordon Banks (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

14 Tommy Wright

2  Brito

5  Brian Labone

3  Wilson Piazza

6  Bobby Moore (C)

16 Everaldo

3  Terry Cooper

5  Clodoaldo

4  Alan Mullery

11 Rivellino

9  Bobby Charlton

7  Jairzinho

8  Alan Ball

9  Tostão

10 Geoff Hurst

10 Pelé

7  Francis Lee

18 Paulo Cézar Caju

11 Martin Peters

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Alf Ramsey

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

12 Peter Bonetti (G)

22 Leão (G)

13 Alex Stepney (G)

21 Zé Maria

2  Keith Newton

15 Fontana

17 Jack Charlton

14 Baldocchi

18 Norman Hunter

17 Joel Camargo

16 Emlyn Hughes

6  Marco Antônio

15 Nobby Stiles

8  Gérson

19 Colin Bell

13 Roberto

20 Peter Osgood

20 Dadá Maravilha

21 Allan Clarke

19 Edu

22 Jeff Astle

 

GOL: 59′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÃO AMARELO: Francis Lee (ING)

 

SUBSTITUIÇÕES:

63′ Bobby Charlton (ING) ↓

Colin Bell (ING) ↑

 

63′ Francis Lee (ING) ↓

Jeff Astle (ING) ↑

 

68′ Tostão (BRA) ↓

Roberto (BRA) ↑

… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia

Três pontos sobre…
… 03/06/1970 – Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia


(Imagem: Multi Ciência)

● Como quase sempre, o Brasil chegou ao México sob grande desconfiança geral, trocando de treinador a três meses da competição – saiu o jornalista João Saldanha e entrou o inexperiente Zagallo. Com isso, várias “feras” ficaram de fora da convocação, como, por exemplo, Djalma Dias, Zé Carlos e Dirceu Lopes. O ponta-direita Rogério, do Botafogo, titular absoluto de Zagallo, teve que ser cortado por lesão (mas continuou na delegação com o cargo de “olheiro”, observando e analisando jogos dos adversários).

O comando da CBD entendeu que parte do fracasso de 1966 foi por falta de uma preparação física adequada. Por isso, dessa vez, os atletas sofreram bastante nas mãos do preparador físico Admildo Chirol e de seus auxiliares, Cláudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, que colocaram em prática um plano elaborado em conjunto com a Escola de Educação Física do Exército. Foi feito também um cuidadoso programa de treinamento para enfrentar a altitude mexicana. A equipe se concentrou inicialmente em Guanajuato (2.050 metros acima do nível do mar). O Brasil foi o primeiro time a chegar ao México, quase um mês antes do início do torneio. “Fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”, dizia Zagallo. Com toda essa preparação, era visível o crescimento do Brasil no segundo tempo de cada jogo.

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A expressão “grupo de morte” surgiu nessa Copa, para se referir ao grupo formado por Brasil (bicampeão em 1958 e 1962), Inglaterra (campeã em 1966), Tchecoslováquia (vice em 1962) e Romênia (com uma seleção muito técnica).

A Copa de 70 foi a primeira com transmissão ao vivo pela televisão, ainda em preto e branco. Nesse jogo (estreia brasileira no Mundial), às 19h00 do dia 3 de junho de 1970, foi registrado o recorde de audiência de um evento esportivo no Brasil. Todos os canais transmitiam a mesma imagem do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia. Seria o equivalente hoje a 100 pontos no Ibope.

Duas revoluções nesse Mundial: além da estreia dos cartões amarelos e vermelhos, foi também a primeira Copa em que foram permitidas até duas substituições durante a partida.

 O Brasil jogava em um 4-3-3, com Rivellino apoiando mais a esquerda e fechando pelo meio. No ataque, Tostão era o “falso 9” (criando tendências para o futuro), se revezando com Pelé – hora como atacante, hora como ponta-de-lança. O jogador mais avançado era Jairzinho, um ponta-direita que fechava pelo centro, abrindo espaços para os avanços constantes de Carlos Alberto.

Tchecoslováquia jogava entre o 4-3-3 e o 4-2-4.

● Foi um jogo bonito, sem violência, com demonstração de habilidade dos dois lados, dribles, chances criadas (o time tcheco perdeu várias oportunidades) e gols.

Pelé era tido como um mito “velho e acabado” pelos mexicanos. E deu razão a eles quando perdeu um gol feito no começo do jogo: em cruzamento de Rivellino, o Rei chutou para fora, sozinho e sem goleiro. A situação ficaria pior logo depois. Aos 11 minutos de jogo, Brito bateu um impedimento para Clodoaldo, que estava de costas e perdeu a bola. Ladislav Petráš dominou, avançou em velocidade entre Carlos Alberto e Brito, tocando na saída do goleiro Félix. Petráš ajoelhou-se e fez o sinal-da-cruz para agradecer o gol aos céus. Foi um ato político contra o governo comunista (e ateu) de seu país, mas foi também um dos gestos mais lindos da Copa – que depois seria copiado por Jairzinho.

O empate chegou aos 24 minutos. Pelé foi derrubado por Migas na meia-lua. A barreira foi formada por sete tchecos e Jairzinho. Rivelino chutou no rumo de Jairzinho, que saiu da frente e a bola passou no espaço vazio, justo onde ele estaria. Com esse gol, Rivellino ganhou o apelido de “Patada Atômica” da imprensa mexicana.

Aos 15 minutos do segundo tempo, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, faz um lançamento de 40 metros para Pelé, que amacia a bola no peito, escolhe o canto e chuta para o fundo do gol. A Tchecoslováquia partiu com tudo para cima e ofereceu todo o espaço para o Brasil contra-atacar.

Três minutos depois, de novo Gérson de 40 metros, lança Jairzinho, o “Furacão da Copa”, que, sozinho, dá um chapéu no goleiro Viktor, deixa a bola bater no peito e estufa as redes. Foi o gol mais bonito dessa Copa.

Aos 25, Gérson teve uma forte distensão e teve que ser substituído por Paulo Cézar Caju. Sem saber se adiantava o time ou se protegia de tomar mais gols, os tchecos ficaram perdidos em campo.

No fim da partida, aos 38 minutos, configurou-se a goleada. Jairzinho domina na intermediária, dribla Hagara e Horváth, de novo Hagara e chuta cruzado, no canto.

 Jair encobre Viktor, no terceiro gol brasileiro (Imagem: El Universal)

● Apesar do placar elástico, o lance mais marcante da partida foi um “quase gol”. Aos 42 minutos da etapa inicial, percebendo o goleiro adversário adiantado, Pelé arriscou um chute de seu próprio campo, a bola encobriu o goleiro e acabou raspando o travessão, naquele que foi um lance surpreendente, demonstrando toda a genialidade do Rei. Além do mais, não foi contra qualquer goleiro. Ivo Viktor foi o 3º colocado na premiação da Bola de Ouro da Revista France Football em 1976 (a terceira melhor posição de um goleiro no prêmio – Lev Yashin foi o 1º em 1963 e Buffon o 2º em 2006). A transmissão da TV mostrou o desespero de Viktor tentando voltar, enquanto a bola passava a 40 centímetros da trave, em um lance até então inédito em Copas.

A Seleção Brasileira fazia sua estreia de forma arrasadora, dando mostras iniciais da altíssima qualidade de seu futebol naquela Copa.

Mesmo com uma equipe forte, a Tchecoslováquia caiu na fase de grupos, perdendo também os outros dois jogos (2 a 1 para a Romênia e 1 a 0 para a Inglaterra).

 Trio de ataque comemora um dos gols (Imagem: Alchetron)

FICHA TÉCNICA:

 

BRASIL 4 x 1 TCHECOSLOVÁQUIA

 

Data: 03/06/1970

Horário: 16h00 locais

Estádio: Jalisco

Público: 52.897

Cidade: Guadalajara (México)

Árbitro: Ramón Barreto (Uruguai)

 

BRASIL (4-3-3):

TCHECOSLOVÁQUIA (4-2-4):

1  Félix (G)

1  Ivo Viktor (G)

4  Carlos Alberto Torres (C)

2  Karol Dobiaš

2  Brito

3  Václav Migas

3  Wilson Piazza

5  Alexander Horváth (C)

16 Everaldo

4  Vladimír Hagara

5  Clodoaldo

16 Ivan Hrdlička

8  Gérson

9  Ladislav Kuna

7  Jairzinho

18 František Veselý

9  Tostão

8  Ladislav Petráš

10 Pelé

10 Jozef Adamec

11 Rivellino

11 Karol Jokl

 

Técnico: Zagallo

Técnico: Jozef Marko

 

SUPLENTES:

 

 

12 Ado (G)

13 Anton Flešár (G)

22 Leão (G)

22 Alexander Vencel (G)

21 Zé Maria

12 Ján Pivarník

15 Fontana

14 Vladimír Hrivnák

14 Baldocchi

15 Ján Zlocha

17 Joel Camargo

7  Bohumil Veselý

6  Marco Antônio

17 Jaroslav Pollák

18 Paulo Cézar Caju

6  Andrej Kvašňák

13 Roberto

19 Josef Jurkanin

20 Dadá Maravilha

20 Milan Albrecht

19 Edu

21 Ján Čapkovič

 

GOLS:

11′ Ladislav Petráš (TCH)

24′ Rivellino (BRA)

59′ Pelé (BRA)

61′ Jairzinho (BRA)

83′ Jairzinho (BRA)

 

CARTÕES AMARELOS:

Tostão (BRA)

Gérson (BRA)

Alexander Horváth (TCH)

 

SUBSTITUIÇÕES:

46′ Ivan Hrdlička (TCH) ↓

Andrej Kvašňák (TCH) ↑

 

62′ Gérson (BRA) ↓

Paulo Cézar Caju (BRA) ↑

 

75′ František Veselý (TCH) ↓

Bohumil Veselý (TCH) ↑

Melhores momentos da partida:

… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão

Três pontos sobre…
… Dadá Maravilha: goleador, filósofo e campeão


(Imagem: R7)

● Quem vê Dadá Maravilha sempre sorrindo não imagina quão sofrida foi sua infância. Dario José dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, em 04/03/1946. Aos cinco anos de idade, viu sua mãe, Dona Metropolitana, que sofria alucinações, jogar querosene em todo o próprio corpo, tocar fogo e sair pelas ruas em chamas. O menino Dario, em desespero, foi abraçar a mãe, que, em um último ato, o afastou e o jogou em uma vala a céu aberto. Foi de lá, de dentro do esgoto, que o garoto viu sua mãe ser completamente carbonizada.

Sem condições de cuidar dos filhos, seu pai separou toda a família, internando os três filhos na antiga Febem (que servia também como um orfanato). A partir daí, convivendo com crianças a adolescentes que viviam no mundo do crime, Dario se tornou um garoto rebelde e passou a fugir constantemente para praticar assaltos com sua inseparável faca, “espetando” quem ousasse lhe desafiar. Certa vez tentou cortar os próprios pulsos, mas foi socorrido a tempo. Por tudo que tinha vivido, não acreditava em Deus.

Depois de um assalto, ele e um comparsa estavam fugindo da polícia, quando um tiro acertou seu colega, que já caiu sem vida. A partir daí, Dario teve certeza de que não queria isso para ele. A esperança era a bola, mas ele não era bom nisso também. Porém, a experiência em correr da polícia e em pular muros, o preparou para ser um atacante veloz e de impulsão única.

Começou tarde no futebol, aos 19 anos, no Campo Grande, do Rio. Aos 22 anos, chamou a atenção do Clube Atlético Mineiro, onde já chegou sendo campeão, marcando época e escrevendo a história que todos amantes de futebol conhecem. Ele foi um itinerante, um cigano do futebol, atuando por 17 clubes em 20 anos de carreira: Campo Grande-RJ (1966-1968), Atlético Mineiro (1968-72, 1974, 1978-1979 e 1983), Flamengo (1973-1974), Sport (1974-1975), Internacional (1976-1977), Ponte Preta (1977-1978), Paysandu (1979), Náutico (1980), Santa Cruz (1981), Bahia (1981), Goiás (1981), Coritiba (1982), Bahia (1983), Nacional-AM (1984), XV de Piracicaba (1984-1985), Douradense-MS (1985) e Comercial de Registro-SP (1986).

Em suas contas, o Rei Dadá tem 926 gols, mas nas súmulas foram “apenas” 539 gols, número que já é formidável.

Pela Seleção Brasileira, disputou 11 partidas, anotando dois gols.

Pelo seu carisma a pela forma única de contar histórias, passou a trabalhar na imprensa, inicialmente na Bancada Democrática, do Alterosa Esportes. Pelo enorme sucesso, passou pela Rede Globo, pelo SporTV e pela Rede Minas, voltando ao Alterosa Esporte.

● Dadá “Peito de Aço” é um daqueles personagens que poderíamos ficar falando por horas e horas, mas vamos resumir no que já dissemos e nas próprias frases dele, do Rei Dadá:

“Não me venham com a problemática que eu tenho a solucionática.”

“Somente três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha.”

“Não existe gol feio; feio é não fazer gol.”

“Com Dadá em campo, não tem placar em branco.”

“Um rei tem que ser sempre recebido por bandas de música.”

“Pelé, Garrincha e Dadá tinham que ser curriculum escolar.”

“Nunca aprendi a jogar futebol pois perdi muito tempo fazendo gols.”

“São duas coisas que eu não aprendi: Jogar futebol e perder gol!”

“Isso é mamão com açúcar.”

“Só existem três poderes no universo: Deus no Céu, o Papa no Vaticano e Dadá na grande área.”

“Melhor do que Dadá, só Jesus Cristo!”

“A área é o habitat natural do goleador, nela ele está protegido pela constituição, se for derrubado é pênalti.”

“Num time de futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante.”

“Pra fazer gol de cabeça era queixo no peito ou queixo no ombro.”

“Fiz mais de 500 gols, só correndo e pulando.”

“Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira.”

“Bola, flor e mulher, só com carinho.”

“Faço tudo com amor, inclusive o amor.”

“Futebol não pode ficar acima da educação, não!”

“Chuto tão mal que no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol.”

“Se minha estrela não brilhar, vou lá e passo lustrador nela.”

“Deixando a modéstia de lado, falando de futebol, eu falo o que eu sei, sou um expert, com doutorado nessa matéria. No futebol, eu sou o máximo, conheço tudo e sou atleticano.”

“Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povo.”

“O divino mestre é o fã mais poderoso de Dadá. Ele sempre esteve ao meu lado.”

“Futebol é um universo maravilhoso, que faz as pessoas se aproximarem, que faz multiplicar os amigos, que ensina a gente a amar e a respeitar o próximo.”

“Eu sofri muito, minha tristeza exorbitou, meu sofrimento passou dos limites para um ser humano. Mas eu tive um auge violento, tive o mundo aos meus pés, bati recordes, fui falado em todos campos. Hoje vivo na imaginação do povo. Sou personagem do planeta bola.”

“Praga de urubu magro, não pega em cavalo gordo.”

“Me empolgo pelas palavras, me realizo nos atos.”

“A lei do menor esforço é usar a inteligência.”

“Quando vou para o trabalho só penso em vitória.”

“O gol é o orgasmo do futebol.”

“Dadá não é eterno. Sua história será eterna.”


(Imagem localizada no Google)

Feitos e premiações de Dario:

Pela Seleção Brasileira:
– Campeão da Copa do Mundo de 1970.
– Campeão da Taça Independência de 1972.

Pelo Atlético Mineiro:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1971.
– Campeão do Campeonato Mineiro Módulo 1 em 1970 e 1978.
– Campeão da Taça Minas Gerais em 1979.
– Tricampeão da Taça Belo Horizonte em 1970, 1971 e 1972.
– Campeão da Taça Inconfidência (MG) em 1970.
– Campeão da Taça Independência (MG) em 1970.
– Campeão da Taça Cidade de Goiânia (MG x GO) em 1970.
– Campeão da Taça do Trabalho (MG x RJ) em 1972.
– Campeão da Taça Gil César Moreira de Abreu (MG) em 1970.
– Campeão do Torneio de León (México) em 1972.
– Campeão do Torneio dos Grandes de Minas Gerais (Federação Mineira de Futebol) em 1974.

Pelo Internacional:
– Campeão do Campeonato Brasileiro em 1976.
– Campeão do Campeonato Gaúcho em 1976.

Pelo Flamengo:
– Campeão do Campeonato Carioca em 1974.
– Campeão da Taça Guanabara em 1973.
– Campeão da Taça Pedro Magalhães Corrêa em 1974.

Pelo Bahia:
– Bicampeão do Campeonato Baiano em 1981 e 1982.

Pelo Goiás:
– Campeão do Campeonato Goiano em 1983.

Pelo Sport:
– Campeão do Campeonato Pernambucano em 1975.

Pelo Náutico:
– Campeão do Torneio Início de Pernambuco em 1980.

Pelo Nacional-AM:
– Campeão do Campeonato Amazonense em 1984.

Pelo Campo Grande:
– Campeão do Torneio José Trócoli (Campo Grande) em 1967.

Como técnico, pelo Ypiranga Clube-AP:
– Campeão do Campeonato Amapaense em 1994.

Distinções e premiações individuais:
– Artilheiro do Campeonato Brasileiro em 1971 (15 gols), 1972 (17 gols), 1976 (16 gols)
– Artilheiro do Campeonato Mineiro em 1969 (29 gols), 1970 (16 gols), 1972 (22 gols) e 1974 (24 gols).
– Artilheiro do Campeonato Carioca em 1973 (15 gols).
– Artilheiro do Campeonato Pernambucano em 1975 (32 gols) e 1976 (30 gols).
– Artilheiro do Campeonato Amazonense em 1984 (14 gols).
– Anotou 10 gols no mesmo jogo, no Campeonato Pernambucano de 1976, na vitória do seu Sport sobre o Santo Amaro por 14 a 0, em 06/04/1976.

… Tospericargerja: uma homenagem sem igual

Três pontos sobre…
… Tospericargerja: uma homenagem sem igual

● Ao ouvir seu nome, muitos pensam que se trata de um estrangeiro. Indiano, talvez. Ou de algum dialeto local da África, Ásia ou até indígena.

“— Qual seu nome?”

“— Meu nome é Tospericargerja.”

“— Não entendi… pode repetir e soletrar?”

“— TOS-PE-RI-CAR-GER-JA.

Na verdade, é uma das homenagens mais originais já feitas. Uma das coisas mais estranhas e absurdas que alguém pode fazer, mas uma baita sacanagem com a pobre criança. Imaginem na escola?! Ou quando ia se apresentar às garotas?! Ou procurando emprego?! Será que o professor acertava logo de cara na hora da chamada?

● Esse nome existe! É o resultado da criatividade de um pai doente por futebol e apaixonado pela Seleção Brasileira. Quando a criança nasceu em 19/07/1971, exato um ano após a conquista do tricampeonato mundial, no México, seu pai resolveu homenagear os destaques daquele esquadrão. Vendo e revendo alguns lances, o pai ficou fascinado cum uma sequência de passes: “Bola com Tostão, que passa para Pelé, que enfia para Rivelino, que abre para Carlos Alberto, que enfia para Gérson, que dá um passe esplêndido para Jairzinho e…gooooool!” Nasceu o Tospericargerja:

TOS, de Tostão;
PE, de Pelé;
RI, de Rivellino;
CAR, de Carlos Alberto;
GER, de Gérson; e
JA, de Jairzinho.

O pai do menino queria até que o nome fosse registrado na antiga CBD, Confederação Brasileira de Desportos, a atual CBF. Ele enviou uma carta comunicando a homenagem, mas o presidente da Confederação na época, Silvio Pacheco, não deu moral e inclusive aconselhou o pai a escolher apenas um dos nomes para batizar o filho. Se fossem sêxtuplos, tudo bem; seria um nome pra cada. Mas como era um só, foi tudo junto e misturado mesmo. Algumas fontes citam que ele nasceu em Belém-PA, enquanto outras afirmam que foi em Tefé-AM. Mas o certo é que o titular do Oficio do Registro Civil não impugnou o registro e a certidão de nascimento saiu assim mesmo. Tospericargerja da Silva Torres é filho de Odilia da Silva Torres e Oder Nunes Torres, já falecido. Incrível é que o Sr. Oder tinha o sobrenome de dois desses seus ídolos: Nunes, de Gérson e Torres, de Carlos Alberto. O filho herdou apenas o Torres.

Atualmente, Tospericargerja é técnico de laboratório em Manaus e nem os colegas de trabalho conseguem acertar seu nome. Eles o chamam simplesmente de ““, enquanto seus amigos mais íntimos o chamam de “Peri“.


(Imagens localizadas no Google)

● E a paixão do brasileiro pelo futebol não para por aí. Tão corajoso quanto o Sr. Oder, mas menos criativo, o Sr. Petrúcio Santos também resolveu homenagear os seus ídolos, principalmente craques franceses, ao dar o nome a seu filho. Tudo começou quando ele foi visitar duas filhas que moram na França e se encantou com a gentileza do povo francês. Morador da periferia de Maceió-AL, o menino hoje tem nove anos e ainda tenta não esquecer seu nome completo: Zinedine Yazid Zidane Thierry Henry Barthez Eric Felipe Silva Santos.

Zinedine Yazid Zidane, é o nome completo do atual técnico do Real Madrid;

Thierry Henry, em homenagem ao craque francês;

Barthez, devido ao histórico goleiro Fabien Barthez;

Eric, por causa do craque Eric Cantona;

Felipe, em homenagem ao técnico Luiz Felipe Scolari;

Silva Santos, sobrenomes que herdou da família.

Chamado pela família apenas de Zidane, o menino diz que preferia ter um nome mais “normal”.

… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão

Três pontos sobre…
… Gerd Müller: o maior bombardeiro alemão


(Imagem: Pinterest)

● Gerhard “Gerd” Müller nasceu em 03/11/1945 em Nördlingen, na região da Baviera, Alemanha. Era o caçula de cinco filhos de Johann Heinrich Müller e sua esposa Christina Karoline Müller. Seu sonho de infância era ser tecelão, mas começou jogando futebol no time de sua cidade natal, o nanico Nördlingen 1861. Em sua primeira temporada no time principal, aos 17 anos, já mostrou seu faro de gols, marcando 51 gols em 32 jogos oficiais, conquistando o título da 7ª divisão alemã. No total, o time marcou 204 gols, sendo 180 de Müller. Sua simplória explicação para o sucesso era a salada de batatas que sua mãe fazia para lhe dar energias. Com esses números, chamou a atenção dos dois clubes de Munique, mas o representante do Bayern chegou meia horas antes do dirigente do 1860 para assinar com o garoto goleador. Assim foi para uma equipe um pouco maior que o Nördlingen 1861, mas ainda era bem pequena, disputando a 2ª divisão: o Bayern de Munique. Também conseguiu o acesso logo no primeiro ano, marcando 43 gols em 37 jogos e levou o Bayern a disputar a Bundesliga pela primeira vez.

Quando o técnico Zlatko Čajkovski viu o garoto com tronco forte e pernas curtinhas, questionou: “O que vocês querem que eu faça com um halterofilista?” Čajkovski não era muito fã de Müller e só o escalou por pressão do presidente, na 10ª partida. E ele estreou marcando logo duas vezes. Na época, o grande da cidade era o Munique 1860, vice-campeão da Recopa Europeia naquele ano e campeão da Copa da Alemanha do ano anterior (2º título). Já o Bayern tinha vencido apenas o campeonato alemão ainda em 1932 e a Copa da Alemanha de 1959, além de estar voltando da 2ª divisão. Na segunda temporada no Bayern, enfim na Bundesliga, passou a conviver com dois jovens formados na base do clube bávaro: o goleiro Sepp Maier e o volante Franz Beckenbauer. A primeira temporada na elite não foi das mais prolíficas para Müller, anotando apenas 15 vezes em 39 partidas. O Bayern ficou em 3º no campeonato e o rival Munique 1860 conquistou o título, igualando-se ao Bayern em número de ligas. Em compensação, o Bayern se igualou ao 1860 em copas, vencendo a Copa da Alemanha. A única diferença é a expressão Internacional um pouco maior dos azuis, que os vermelhos não tinham.

“Tudo que o Bayern se tornou se deve ao Gerd Müller e aos seus gols. Se não fosse por ele, ainda estaríamos em uma velha barraca de madeira.” — Franz Beckenbauer

Essa sua estreia modesta na elite não foi muito bem vista pelo técnico da seleção alemã, Helmut Schön, que não o convocou para a Copa do Mundo de 1966 (mas levou os outros garotos Beckenbauer e Maier). Schön justificava: “Müller é gordo, não é bom um jogador de futebol e faz gols por sorte”. Realmente era baixo (1,74 m), atarracado, pernas curtas e grossas. Seu apelido de infância era “Der Dick” (“o gordinho”) e o técnico Čajkovski ainda o humilhava, chamando-o de “Kleines, Dickes Müller” (“pequeno e gordo Müller”). Após a Copa de 1966, Schön mudou de ideia e o convocou. Müller deixou o primeiro apelido para trás, ganhando outro “Der Bomber” (“O Bombardeiro”), marcando 48 gols em 49 partidas oficiais. Foi artilheiro da Bundesliga pela primeira vez, marcando 28 gols. O clube seria campeão novamente da Copa da Alemanha e conquistou o que o rival Munique 1860 perdeu três anos antes: a Recopa Europeia, primeiro título internacional do clube. O título do campeonato alemão veio apenas em 1969, quebrando o jejum de 37 anos, com 30 gols de Müller. O Bayern conquistou a dobradinha, com a Copa da Alemanha, e começava a crescer no cenário nacional. Na temporada 1969/70, o título ficou com o Borussia Mönchengladbach, mas Gerd Müller marcou incríveis 38 gols, conquistou a Chuteira de Ouro da Europa, sendo eleito o melhor jogador do ano com o prêmio Bola de Ouro da revista France Football.

No ano solar de 1972, viveu seu melhor período, com 85 gols, somando clube e seleção. O recorde durou 40 anos, até 2012, quando Lionel Messi marcou inacreditáveis 91 gols. Mas enquanto Messi fez 1,33 gols por jogo, Müller teve como média 1,41. No mesmo ano de 1972, o artilheiro chegou a assinar com o Barcelona, mas voltou atrás com medo de ficar fora dos planos da seleção para a Copa seguinte. Com a intervenção até do governo alemão, Müller permaneceu no Bayern. O clube voltaria a vencer a Bundesliga, sendo tricampeão em 1972/73/74, todos com Müller como artilheiro do torneio. Logo em 1973, ele quebrou seu próprio recorde e marcou 40 gols, conquistando pela segunda vez a Chuteira de Ouro. O tricampeonato alemão foi sucedido com o tricampeonato da UEFA Champions League, em 1974/75/76. Foi a primeira vez que um time alemão conquistou o título, quando venceu o Atlético de Madrid na partida desempate da final de 1974. Mesmo sendo campeão continental, o Bayern abriu mão de disputar o torneio Intercontinental em 1974 e 1975, pelo receio do jogo violento do Independiente, campeão da Libertadores. Em 1976, decidiram jogar contra o Cruzeiro. Müller marcou nos 2 x 0 frente aos mineiros, na Alemanha, e o Bayern segurou o empate sem gols no Mineirão, conquistando o título mundial.

“Começávamos cada jogo muito confiantes, sabendo que Gerd Müller marcaria o gol decisivo. Precisando de dois ou três gols, OK, ele consegue fazer isso também. Com Gerd Müller no seu time, você não precisa de sistema tático. Tínhamos a nossa estrutura. Mas podíamos jogar com o nosso sistema perfeitamente, mas sem ele não ajudaria. Para ter sucesso, precisávamos do Gerd Müller. E nós o tínhamos.” — Paul Breitner

Após esse título, as estrelas do Bayern começaram a entrar em declínio, inclusive com o clube figurando na zona de rebaixamento na Bundesliga. Mas Müller ainda se mantinha em alto nível, fazendo 30 gols em 43 jogos em 1975, 35 gols em 35 partidas em 1976, 48 gols em 37 jogos em 1977 e marcando 37 tentos em 48 partidas em 1978. Nesse último ano, voltou a ser artilheiro da liga, com 24 gols. Já em 1979, com 34 anos, jogou apenas 21 vezes e marcou 13 gols, entrando em atrito com o técnico Pál Csernai, o que forçou sua saída do clube. Foi jogar no futebol dos Estados Unidos, onde já estava seu amigo Franz Beckenbauer, além de Pelé, George Best, Teófilo Cubillas, Johan Cruijff, Johan Neeskens, Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto Torres, Gordon Banks, Bobby Moore, dentre outros astros. Foi contratado pelo Fort Lauderdale Strikers para jogar ao lado de Best, Cubillas e, posteriormente, de Elías Figueroa. Em três anos, disputou 71 partidas e marcando 38 gols pelos Strikers. Chegou na final da NASL em 1980, mas não conquistou títulos pelo clube. Voltaria para jogar pelo eterno rival Munique 1860 em 1980, mas a negociação não foi concluída por falta de garantias exigidas pela NASL. Disputou a temporada 1981/82 pelo Smiths Brothers Lounge, com 33 gols em 42 partidas.

Deixou o futebol aos 37 anos, em 1982 e montou um bar na Flórida, mas costumava beber todo o estoque. Sofreu com o alcoolismo, perdeu a esposa e todo dinheiro que conseguiu. Em 1991, em um teste Gamma GT, enquanto um fígado saudável tem resultados entre 10 e 70, o fígado de Gerd Müller tinha 2400 unidades. Foi internado em uma clínica de reabilitação, com as despesas pagas pelo amigo Franz Beckenbauer. Ao se recuperar, Müller passou a treinar as divisões de base do Bayern e não bebe mais. No dia 06/10/2015, o presidente do Bayern de Munique, o ex-craque Karl-Heinz Rummenigge, anunciou que Gerd Müller sofre do Mal de Alzheimer. Nos últimos anos, Gerd era assistente técnico do time B do Bayern, ajudando a formar, dentre outros, craques como Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger e Thomas Müller. Em 2014 ele interrompeu suas atividades, devido aos primeiros sinais da doença.

“Gerd Müller é um dos gigantes do futebol. Sem os gols dele, o Bayern e o futebol alemão não poderiam estar onde estão hoje. Apesar de todo o sucesso, ele sempre foi um cara modesto, o que sempre me impressionou. Foi um ótimo jogador e amigo. Trouxe experiência como treinador e ajudou a criar campeões mundiais.” — Karl-Heinz Rummenigge

● Estreou na seleção alemã em 1966 no primeiro jogo do país após a perda da final da Copa do Mundo daquele ano. Em 1972, a Alemanha Ocidental disputou a Eurocopa pela primeira vez e Müller marcou 4 gols, sendo 2 nas semifinais contra a Bélgica e 2 na final, nos 3 x 0 contra a União Soviética, levando os alemães ao título do torneio. Na Copa do Mundo de 1970, ele marcou 7 gols em 3 jogos da primeira fase. Nas quartas de final, a Inglaterra começou vencendo por 2 a 0, mas os alemães empataram no fim do jogo. Na prorrogação, em uma indecisão do goleiro Peter Bonetti, Gerd Müller marcou e classificou sua equipe. Nas semifinais, a Itália vencia até os 44 minutos do segundo tempo, mas Jürgen Grabowski empatou. Na prorrogação, mesmo com 2 gols de Müller, a Itália venceu por 4 x 3. Mas com esses gols, Gerd Müller foi o artilheiro da Copa, com 10 gols.

Em 1974, a Alemanha Ocidental era favorita para a Copa do Mundo, pois jogava em casa, havia conquistado a Euro dois anos antes e tinha como base o Bayern, que tinha acabado de conquistar a primeira UEFA Champions League para um clube alemão e era tricampeão da Bundesliga. A equipe era forte e coesa, mas Müller fez apenas um gol na primeira fase. No quadrangular semifinal, marcou um na Iugoslávia e fez o único contra a Polônia, o gol que efetivamente levou a Alemanha Ocidental para a decisão. Antes mesmo da final da Copa de 1974, aos 28 anos, Müller tinha convicção que iria se aposentar da seleção após a Copa. Algumas fontes afirmam que sua decisão foi motivada pelo fato da Federação Alemã proibir a presença de sua esposa na concentração e até pela baixa premiação financeira para o título mundial. O técnico Helmut Schön convenceu Gerd a deixar para anunciar seu afastamento após a final. Na partida decisiva, contra a Holanda (“Laranja Mecânica”, “Carrossel Holandês) de Johan Cruijff, aos 43 minutos do primeiro tempo, Gerd Müller marcou o gol da virada e do título, seu último tento em sua última aparição pela seleção. Assim, a Alemanha conquistou sua segunda Copa do Mundo.

“Foi com certeza o gol mais importante de todos os que marquei. Rainer Bonhof lançou a bola para a área, eu corri acompanhado por dois holandeses e olhei para trás. A bola bateu no meu pé esquerdo, eu me virei um pouco e de repente ela entrou.” — Gerd Müller, em depoimento ao site da FIFA

Durante 32 anos foi o maior artilheiro da história das Copas com 14 gols (10 em 1970 + 4 em 1974), até ser superado pelo 15º gol de Ronaldo Fenômeno em 2006 e pelo 16º gol de seu compatriota Miroslav Klose, marcado em 2014 (no malogrado 7 a 1). Também é o 3º que mais marcou em uma única Copa, atrás do francês Just Fontaine (13 gols em 1958) e do húngaro Sandor Kocsis (11 gols em 1954).

Seu diferencial era a sua explosão e velocidade de movimentos em pequenos espaços e seu chute potente e preciso. Era chamado de “cowboy” pela imprensa alemã, por “ser rápido no gatilho e absolutamente certeiro”. Humildemente, respondia que “só tentava chutar a bola rente ao chão, pois a bola rasteira é mais difícil do que a bola alta para o goleiro defender”. Suas bruscas mudanças de direção em curtos espaços enganavam os marcadores. Em seus anos de glória, soube como ninguém utilizar seu baixo centro de gravidade de forma fantástica.

Com essas qualidades, tornou-se o maior artilheiro da seleção alemã (até então Alemanha Ocidental), com absurdos 68 gols em 62 jogos (só foi superado por Miroslav Klose, com o gol nº 69 no jogo 132), uma média quase insuperável de 1,1 gols por jogo. Só em jogos decisivos, fez doze jogos (quatro finais de UEFA Champions League – uma como partida desempate – e oito jogos de fases finais de Copas do Mundo e Eurocopas) e marcou treze gols.


(Imagem: IFFHS)

Feitos e premiações de Gerd Müller:

Pela seleção da Alemanha Ocidental:
– Campeão da Copa do Mundo 1974.
– Campeão da Eurocopa 1972.

Pelo Bayern de Munique:
– Campeão da Bundesliga (Campeonato Alemão) em 1968/69, 1971/72, 1972/73 e 1973/74.
– Campeão da DFB-Pokal (Copa da Alemanha) em 1965/66, 1966/67, 1968/69 e 1970/71.
– Campeão da Recopa Europeia em 1966/67.
– Tricampeão da UEFA Champions League (antiga Copa dos Campeões da Europa): 1973/74, 1974/75 e 1975/76.
– Campeão da Copa Intercontinental em 1976.
– Campeão da Regionalliga Süd (2ª divisão alemã) em 1964/65.

Pelo Nördlingen 1861:
– Campeão da Bezirksliga Schwaben-Nord (7ª divisão alemã) em 1963/64.

Distinções e premiações individuais:
– Bola de Ouro da revista France Football como melhor jogador do ano de 1970 (foi também o 2º mais votado em 1972 e o 3º em 1969 e em 1973).
– Eleito o melhor jogador dos 40 anos da Bundesliga (1963-2003)
– Artilheiro da Copa do Mundo em 1970 (10 gols).
– Artilheiro da Eurocopa de 1972.
– Chuteira de Ouro da Europa em 1970 (38 gols) e 1972 (40 gols).
– Maior artilheiro da história da Bundesliga: 365 gols em 427 partidas.
– Artilheiro da Bundesliga em 1967 (28 gols), 1969 (30 gols), 1970 (38 gols), 1972 (40 gols), 1973 (36 gols), 1974 (30 gols) e 1978 (24 gols).
– Artilheiro da Copa da Alemanha em 1967 (9 gols), 1969 (7 gols) e 1971 (11 gols).
– Artilheiro da UEFA Champions League em 1973 (12 gols), 1974 (9 gols), 1975 (5 gols) e 1977 (8 gols).
– Eleito para a seleção da Copa do Mundo de 1970.
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1972.
– Eleito melhor jogador alemão do ano em 1967 e 1969.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 13º melhor jogador do mundo do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Eleito o 9º melhor jogador europeu do Século XX pela IFFHS em 1999.
– Premiado com a “Ordem de Mérito da FIFA” em 1998.
– Premiado com a “Ordem de Mérito República Federal da Alemanha” em 1977.
– Desde 2007 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Ouro no prêmio “Bravo Otto” (prêmio alemão para quem se destaca em uma determinada área) em 1973 e 1974; prata no mesmo prêmio em 1975 e bronze em 1972 e 1976.
– Premiado com o “Sport Bild Award 2013” (de um jornal esportivo alemão), pela trajetória de vida.
– Silbernes Lorbeerblatt (premiação esportiva da Alemanha) em 1967.
– Premiado com o gol do mês na Bundesliga em 03/1972, 06/1972, 11/1972, 09/1976 e em 10/1976.
– Premiado com o gol do ano na Bundesliga em 1972 e 1976.
– Eleito para a seleção da temporada alemã (prêmio semestral) no verão de 1970, no inverno de 1970/1971, no verão de 1971, no inverno de 1971/1972, no verão de 1972, no inverno 1972/1973, no verão de 1974, no verão de 1976 e no inverno de 1976/1977.
– Em julho de 2008, o estádio do Nördlingen 1861, antigo Rieser Sportpark, passou a ser ter o nome de Gerd-Müller-Stadion, em sua homenagem.
– Embaixador da cidade de Munique na Copa do Mundo de 2006.
– Em sua homenagem, o atacante brasileiro Luís Antônio Corrêa da Costa, ganhou o apelido de “Müller” (inclusive com “trema”). O Müller brasileiro também seria campeão da Copa do Mundo, em 1994 e bicampeão mundial pelo São Paulo (1992/93).

Definitivamente, a única coisa gorda de Gerd são seus números e estatísticas. Infelizmente, pode chegar o dia em que ele se esqueça das alegrias que deu a seu povo, mas com certeza o futebol nunca se esquecerá do que Gerd Müller fez por ele.


(Imagem: Esporte Interativo)

… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé

Três pontos sobre…
… Gordon Banks: o goleiro que parou Pelé


(Imagem localizada no Google)

● Jogavam na segunda rodada da primeira fase da Copa do Mundo de 1970 os dois últimos campeões mundiais. Era o tira-teima. O Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0, mas o goleiro Gordon Banks fez de tudo pra dificultar. Aos 10 minutos do primeiro tempo houve A jogada. O único jogador em campo capaz de um corte em altíssima velocidade pela direita e fazer o cruzamento antes da bola sair era o Furacão Jairzinho. A única pessoa do mundo que poderia cabecear a bola daquele jeito, praticamente parando no ar e impulsionando-a com ainda mais força, era Pelé. Direcionou o tiro certeiro no chão. Na certa seria gol! Mas não!!! O único goleiro do universo que poderia parar Pelé naquele momento era Banks. Foi um lance maravilhoso, em todo o contexto. Em uma entrevista, Banks disse que as pessoas se esquecem que ele venceu uma Copa do Mundo; todos só querem falar sobre como parou Pelé.

“Quando o Jairzinho cruzou, eu estava voltando em direção ao meio do gol. Ao ver a trajetória da bola, tive certeza que ninguém alcançaria. Foi aí que vi Pelé, saltando de uma maneira impressionante para alcançar a bola.” — Gordon Banks.

“Foi a defesa mais importante da minha vida. Eu estava na primeira trava e tive de pular o mais rápido possível. Ao mesmo tempo, tive de pensar a que altura a bola subiria depois de tocar no chão. Quando estiquei a mão e toquei na bola, não sabia onde ela ia parar. Achei que tinha sido gol, que tinha entrado no ângulo. Eu ouvi o Pelé gritar gol. Quando ele cabeceou a bola, acho que pensou que tinha sido gol, porque cabeceou muito bem.” — Gordon Banks .

“Banks foi o melhor goleiro da Copa de 1970 e talvez o melhor entre todos os jogadores de defesa.” — Pelé.

(Imagem: Lance!)

● Foram poucos os goleiros na história a se tornarem lendas, a ponto de serem chamados de craques, mas Banks certamente é um deles. Alto (1,88 m) e atlético, nasceu em Sheffield, no dia 30/12/1937. Começou sua carreira já tardiamente, com 19 anos, mas impressionando, sendo um dos destaques do Chesterfield, que perdeu na final da FA Youth Cup de 1956 para os “Busby Babes” do Man. Utd. Já em 1959, foi para o Leicester por £7.000. Nos “Foxes”, esperou com calma a sua chance e a agarrou quando apareceu. Em oito anos, foram 356 partidas. Em 1967, estava prestes a perder a titularidade no Leicester para o jovem Peter Shilton (outra lenda) e preferiu se transferir ao Stoke City. No Stoke, venceu apenas a Copa da Liga de 1972. Passou também por outros clubes, em empréstimos relâmpagos, mas sem maiores destaques: Cleveland Stokers (EUA, em 1967), Hellenic (África do Sul, em 1971) e St Patrick’s Athletic (Irlanda, em 1977).

Disputou seu primeiro jogo pela seleção inglesa em 1963, contra a Escócia. Foi o goleiro titular da Inglaterra campeã em casa na Copa do Mundo de 1966, com um time contestado, mas muito bom. No torneio, só foi sofrer o primeiro gol na quinta partida, na semifinal contra Portugal, em um pênalti convertido pelo craque Eusébio (442 minutos sem ser vazado). Na final, na vitória por 4 x 2 na prorrogação, não teve culpa em nenhum dos gols da Alemanha Ocidental. Na Copa seguinte, em 1970, mesmo contestado e em má fase, foi o titular de sua seleção, inclusive fazendo a “defesa do século” na cabeçada de Pelé. Mas estranhamente foi acometido pelo “Mal de Montezuma”, uma intoxicação alimentar que ataca alguns estrangeiros no México. Mesmo com os ingleses levando quilos de comidas e até água para consumo no México, o goleiro não conseguiu entrar em campo nas quartas de final contra a rival Alemanha Ocidental, por causa de uma diarreia. Sem ele, os ingleses perderam por 3 a 2 de virada e foram eliminados. Pelo English Team, entre 1963 e 1972, foram 73 partidas disputadas, com apenas nove derrotas e sofrendo apenas 57 gols (em 35 jogos não foi vazado). Virou algo comum na Inglaterra o apelido “Banks of England quando alguém se referia ao goleiro. A segurança do camisa 1 era comparada aos bancos do país.

Mas em outubro de 1972, Banks dirigia seu Ford Granada e tentou fazer uma curva acentuada, quando bateu de frente com um Austin A60. Acordou no hospital com mais de 200 pontos no rosto e sem a visão do olho direito, que não resistiu à gravidade do choque. Sem a visão de um olho, seus movimentos e reflexos se foram, assim como sua posição na seleção e em seu clube. Não houve outro jeito a não ser anunciar a aposentadoria em 1973, aos 35 anos.

Tempos depois, em 1977, aceitou o desafio de jogar nos Estados Unidos, no Fort Lauderdale Strikers, mas suas dificuldades na visão foram aumentando. Mesmo com um olho só, foi o melhor goleiro do campeonato. Decidiu pendurar as chuteiras e as luvas em 1978, sem ter defendido nenhuma grande equipe do futebol inglês e com raros títulos no currículo. Ironicamente, Peter Shilton sucedeu Gordon Banks no gol do Leicester City (1967), do Stoke City (1974) e da seleção inglesa (1972), mas não nos corações dos amantes do futebol.

Feitos e premiações de Gordon Banks:

Pela seleção da Inglaterra:
– Campeão da Copa do Mundo de 1966.
– 3º lugar na Eurocopa de 1968.
– Campeão do Campeonato Britânico de Seleções (British Home Championship) em 1964 (título dividido com Escócia e Irlanda do Norte), 1965, 1966, 1968, 1969, 1970 (título dividido com Escócia e País de Gales), 1971 e 1972.

Pelo Chesterfield:
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra de Juniores (FA Youth Cup) em 1955/56.

Pelo Leicester City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1963/64.
– Vice-campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1964/65.
– Vice-campeão da Copa da Inglaterra (FA Cup) em 1960/61 e 1962/63.

Pelo Stoke City:
– Campeão da Copa da Liga Inglesa (EFL Cup) em 1971/72.

Distinções e premiações individuais:
– Eleito o goleiro do ano pela FIFA em 1966, 1967, 1968, 1969, 1970 e 1971.
– Eleito para a Seleção da Copa do Mundo em 1966.
– Eleito o esportista do ano pelo jornal Daily Express em 1971 e 1972.
– Eleito o jogador do ano na Inglaterra pelos jornalistas em 1972.
– Eleito para o All-Star Team da NASL em 1977.
– Eleito um dos 1000 maiores esportistas do século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Eleito o 21º maior jogador do século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 2º maior goleiro do século XX pela IFFHS.
– Nomeado para a lista “FIFA 100” (feita por Pelé, onde constam os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).
– Eleito o 14º maior jogador da história das Copas do Mundo pela revista Placar em 2006.
– Eleito para a seleção do século (1907-1976) pelos jogadores ingleses em 2007.
– Eleito para a lista dos 100 + do futebol inglês (Football League 100 Legends) em 1973.
– Membro do Hall da Fama do futebol inglês desde 2002.
– Membro da Ordem do Império Britânico (OBE – Oficial da Mais Excelente Ordem do Império Britânico) desde 1970.

(Imagem: PA Images / Getty Images)

Trecho extraído da obra:
GUILHERME, Paulo. Goleiros: Heróis e anti-heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2006. p. 160.

Esse também foi o título de sua primeira autobiografia, publicada em 1980.

… Petráš e Panenka

Três pontos sobre…
… Petráš e Panenka


(Imagem: Alchetron)

● Quando Ladislav Petráš fez o sinal da cruz, o mundo ficou chocado. Como poderia um comunista repetir esse gesto cristão? Comunistas comem criancinhas! Foi o que pensaram os telespectadores em sua pueril ignorância. Esse fato ocorreu quando ele marcou o primeiro gol de sua seleção na Copa. O Brasil viraria e golearia a Tchecoslováquia por 4 x 1, com Jairzinho passando a imitar Petráš, e desde então, fazendo o sinal da cruz em cada gol seu.

Aos 11 minutos de jogo no estádio Jalisco, Petráš arrancou pela intermediária passando pelo zagueiro Brito e chutou da entrada da área, na diagonal, no canto direito de Félix. Correu junto à bandeirinha de escanteio, fez o sinal da cruz e juntou as mãos, como se fosse uma oração. Era uma comemoração raríssima, quase única, para a época. Apenas dois anos antes, seu país tinha sido lançado em forte regime comunista, com a Primavera de Praga, forçada pela União Soviética, em um comunismo que perseguia as religiões, especialmente a católica. Com o ato, Petráš não apenas expressou sua fém mas também seu descontentamento político com profundo significado. Uma pena que depois milhões de jogadores até medíocres banalizariam o mesmo sinal cristão.

Petráš tinha menos de 24 anos nesse jogo e, se era desconhecido fora de seu país, já era um ídolo na Tchecoslováquia. Dotado de talento com a bola nos pés, era de uma personalidade difícil. Sempre tinha problemas disciplinares e era expulso frequentemente pelos árbitros. Logo após a Copa de 70, quebrou sem dó nem piedade a perda do zagueiro Václav Migas, seu colega de seleção. O regime da “Cortina de Ferro” decidiu que enquanto Migas não se recuperasse de sua fratura exposta, Petráš também não jogaria. Assim, ambos ficaram 14 meses sem jogar.

Laci-Baci (como era chamado em seu país) começou a carreira aos 17 anos no FK Baník Prievidza e aos 21 se transferiu para o FK Dukla Banska Bystrica, sendo artilheiro da liga nacional com 20 gols. No ano seguinte, em 1969, foi para o FK Inter Bratislava, onde ficou até 1980, se tornando um mito para os aurinegros. Dizem que certa vez ele fugiu do hospital para disputar uma partida, retornando ao leito após o jogo. Foi artilheiro do campeonato novamente em 1974/75, também com 20 gols. Nesse mesmo torneio, fez cinco gols no mesmo jogo contra o poderoso AC Sparta Praha (a partida foi 7 x 4 para o Inter). Virou lenda quando em uma partida, Petráš marcou três gols na sequência e, após o terceiro, simplesmente saiu de campo sorrindo, como que dizendo que já tinha feito sua parte no jogo. Pela liga tchecoslovaca, fez 85 gols em 239 partidas. Ainda jogou no WAC Viena, da Áustria, até 1983. Curiosamente nunca ganhou um título nacional em campo, mas foi campeão como auxiliar técnico do campeonato eslovaco pelo seu Inter. Foi técnico da seleção eslovaca sub-21 em 2006.

Pela seleção da Tchecoslováquia, Petráš jogou apenas 19 vezes e marcou 6 gols (entre 1969 e 1977), mas entrou para a história com grandes momentos.

Ladislav Petráš nasceu na cidade de Prievidza, em 01/12/1946 e completa 70 anos hoje.


(Imagem: Alchetron)

● Antonín Panenka nasceu em Praga, em 02/12/1948 (exatamente dois anos e um dia após Petráš, seu então conterrâneo). Começou com apenas dez anos na divisão de base do Bohemians Praha, ficando até 1981, com 318 gols em 678 partidas. A legislação do regime socialista do país só permitia o êxodo de jogadores maiores de 30 anos e entre 1981 e 1985, Panenka foi atuar no austríaco SK Rapid Wien (63 tentos em 127 jogos), sendo bicampeão da Bundesliga Austríaca em 1981/82 e 1982/83. Foi também tricampeão da Copa da Áustria, entre 1983 e 1985. Chegou na final da Recopa Europeia em 1984/85, mas perdeu para o Everton por 3 x 1. Ainda passaria por outros times da Áustria: VSE St. Pölten (1985-1987), SK Slovan Wien (1987-1989), ASV Hohenau (1989-1991) e Kleinwiesendorf (1991-1993), onde encerrou definitivamente a carreira, aos 45 anos de idade. Depois, voltou a seu país natal e se tornou presidente do Bohemians, cargo que ocupa atualmente.

Meia-armador talentoso, bom passador, com excelente visão de jogo, era especialista na bola parada, tanto em faltas quanto em pênaltis. É considerado o maior jogador da Tchecoslováquia entre Josef Masopust e Pavel Nedvěd. Pela seleção da Tchecoslováquia, marcou 17 vezes em 59 partidas, entre 1973 e 1982. Disputou as Eurocopas de 1976 e 1980 (3º lugar) e a Copa do Mundo de 1982, caindo na primeira fase.

● As carreiras de Petráš e Panenka se encontraram da seleção da Tchecoslováquia, especialmente na Eurocopa de 1976, na Iugoslávia. Petráš era reserva, mas Panenka era o craque do time.

Na prorrogação, os tchecos venceram o Carrossel Holandês por 3 a 1. Após passar pelo vice-campeão da última Copa do Mundo, eles enfrentaram os campeões na final. Após empate por 2 a 2 entre Tchecoslováquia e Alemanha Ocidental, essa foi a primeira final importante a ser decidida nos pênaltis. Todos os jogadores vinham convertendo as cobranças, até que o craque alemão Uli Hoeneß chutasse por cima. Coube a Antonín Panenka decidir o título, mas ele não “apenas” converteu o chute. Mesmo com a pressão de ter no gol adversário o lendário Sepp Maier, o meia tcheco cobrou tranquilamente: enquanto o goleiro caía no canto esquerdo, o camisa 7 chutou de “cavadinha” no centro do gol. Foi a primeira vez que se cobrou um pênalti assim. Até hoje na Europa o estilo é chamado de “Panenka“. Assim, Panenka inventou moda e entrou para a história da Eurocopa e do futebol por um lance simples e genial.

Antonín Panenka e Ladislav Petráš entraram na história, no plantel da Tchecoslováquia campeã da Eurocopa de 1976, único título da história do país (e dos países que viriam a se formar em 1992, Tchéquia e Eslováquia).


(Imagem: Total Pro Sports)

… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”

Três pontos sobre…
… Gigi Riva: o “Estouro do Trovão”


(Imagem localizada no Google)

● Luigi Riva nasceu em 07/11/1944, no vilarejo de Leggiuno, na província de Varese, localizado na região da Lombardia, norte da Itália. Foi concebido em uma família humilde. Sua mãe, Edis, era dona de casa e seu pai, Ugo, foi cabeleireiro e alfaiate. O menino perdeu o pai aos nove anos, em um acidente de trabalho em uma fábrica, quando um pedaço de metal se soltou de uma máquina e perfurou sua barriga. Sua mãe passou a trabalhar na indústria têxtil e complementava seus ganhos como faxineira. Luigi foi enviado para o colégio interno, mas sempre fugia dizendo que os pobres eram humilhados na instituição. Sua mãe morreu quando ele tinha 16 anos. Teve que cuidar sozinho das duas irmãs mais novas. Esse fato lhe acendeu a vontade, ou melhor, a necessidade de vencer: o salário de eletricista não bastava e ele complementava jogando pelo Laveno Mombello (1960-1962), uma equipe amadora, ganhando 3 dólares por partida, desde que vencesse o jogo. Apesar de seus esforços, uma das irmãs faleceu de leucemia e a outra ficou paralítica após um acidente automobilístico. Gigi nunca deixou transparecer seus problemas pessoais e, pela sua introspecção, ganhou também o apelido de “Homem do Lago”, já que também gostava de pescar às margens do Lago Maggiore.

Só pôde se dedicar exclusivamente ao esporte na temporada de 1962/63, quando foi aceito no time do Legnano, equipe profissional da Serie C1. Na temporada seguinte, foi contratado pelo Cagliari, que jogava a Serie B, por 37 milhões de liras. Mesmo com saudade de casa, pois na época Riva tinha ainda apenas 19 anos de idade, permaneceu no Cagliari porque sabia que ali seria o seu lugar. Fez sua estreia no time em uma derrota por 1 x 2 para a Roma, em 13/09/1964 e logo em sua primeira temporada, a equipe consegue o acesso para a Serie A pela primeira vez em sua história. No primeiro ano na elite, em 1964/65, conseguiu um honroso 6º lugar, com 9 gols de Riva. Imediatamente passou a fazer parte da seleção.

Na temporada 1966/67 marcou incríveis 18 gols em 23 jogos, levando o time novamente à 6ª colocação, a apenas 9 pontos da campeã Juventus.

Em 1967/68, solidificou sua posição na seleção e venceu a Euro68. No ano seguinte, foi novamente o goleador e levou seu time ao vice-campeonato. Recebeu uma proposta da Internazionale, que pagaria US$ 2 milhões e ainda financiaria a construção de um moderno hospital na cidade, para esfriar uma eventual fúria da torcida. A recusa da proposta foi explicada por um dirigente: “até agora, só o atum nos deu fama. Com Riva, a Sardenha tem a admiração de toda a Itália”. Gigi Riva não teria outra forma melhor de retribuir o carinho. Na temporada seguinte à oferta, foi novamente o artilheiro e levou o Cagliari ao título da Serie A 1969/70. Mesmo com o Scudetto, novamente fraturou a perna e mesmo assim teve moral o suficiente para ser chamado para a Copa do Mundo de 1970.

Na UEFA Champions League de 1970/71, Riva marcou 3 gols nas 4 partidas do time. Após eliminar o Saint-Étienne, caiu frente ao Atlético de Madrid na fase seguinte.
Nos anos seguintes, o Cagliari continuou em boas posições no campeonato. Em 1973, Riva recusou nova proposta de um gigante, dessa vez da Juventus.

Mas em 1976 ele sofreu a lesão que abreviaria sua carreira, ao machucar o tendão direito. Infelizmente, o Cagliari não conseguiu se virar sem seu craque e foi lanterna e rebaixado na Serie A de 1975/76. Riva ficou dois anos sem jogar até assumir que não poderia voltar e anunciou o fim da carreira. O corpo arrebentado por lesões o obrigou a encerrar a carreira com apenas 32 anos, com o saldo de 156 gols marcados em 289 partidas disputadas na Serie A, um enorme feito na época de grandes retrancas do país (“Cattenaccio”). Após encerrar a carreira, continuou morando em Cagliari, inclusive fundando uma escolinha de futebol com o seu nome, em 1976 (primeira escolinha de futebol na Sardenha). Foi presidente do clube em 1986/87 e foi dirigente da Federação Italiana de 1990 a 2013. Em 05/01/2005, o Cagliari aposentou a camisa nº 11 em sua homenagem. Foi laureado como cidadão honorário da cidade em 09/02/2005. O cantor e compositor Piero Marras, de Nuoro, na Sardenha, lhe dedicou a canção “Quando Gigi Riva tornerà” (Quando Gigi Riva retornará).

● Estreou na seleção em 27/06/1965, em amistoso contra a Hungria, perdendo por 2 a 1, logo após sua primeira temporada na Serie A, sendo o primeiro jogador de sua equipe a defender a seleção. Poderia ter jogado a Copa do Mundo de 1966, ainda mais porque um grande concorrente não poderia ser convocado. José João Altafini (o brasileiro Mazzola, campeão do mundo em 1958) não poderia mais defender a Squadra Azzurra, pois a FIFA passou a proibir estrangeiros que já tivessem atuado pelo seu país de origem. Mas uma fratura na perna e, principalmente, a inexperiência impediu Riva de ser convocado. Foi para a Inglaterra apenas como um jogador extra, para completar o time em treinamentos. Nos treinos, voava baixo, deixando o técnico Edmondo Fabbri bastante arrependido por não tê-lo inscrito na competição.

“Prefiro não saber porque Fabbri não me chamou. Por outro lado, eu me esforçava para valer nos rachões, que era a única maneira que eu tinha para extravasar. Eu marcava um gol atrás do outro. Estava em plena forma e furioso!” — Gigi Riva

Foi um dos heróis do título da Itália na Eurocopa de 1968, jogando apenas o replay da final contra a Iugoslávia, mas marcando o gol que abriu o placar e encaminhou o título italiano. Foi escolhido para a seleção do torneio, mesmo tendo disputado apenas uma partida.

Nas eliminatórias, marcou 7 dos 10 gols que garantiram a Azzurra na Copa de 1970. No torneio, passou toda a primeira fase sem marcar, mas fez 2 mas quartas de final, contra os anfitriões mexicanos, na virada por 4 x 1. Faria outro gol no 4 x 3 da lendária prorrogação na semifinal, contra a Alemanha Ocidental. Na final contra o Brasil, Riva desdenhou do adversário, dizendo que iria acabar com as pretensões da “ridícula Seleção Brasileira”. Mesmo com a goleada sofrida por 4 a 1, enquanto os colegas de equipe demonstravam claro esgotamento, Riva foi um dos poucos italianos a lutar até o fim da partida, mas nada pôde fazer. Mesmo com a condição física já prejudicada, ainda se despediu de sua seleção disputando a Copa de 1974, mas não marcou nenhum gol e a Itália caiu ainda na primeira fase.

É considerado um dos melhores jogadores da história da Itália, sendo um atacante completo, oportunista e com faro de gol. Era muito bom na conclusão das jogadas. Começou jogando como ponta esquerda, mas posteriormente foi adiantado para ser centroavante, se destacando mais. Por sua velocidade, potência e precisão na frente do gol, o jornalista Gianni Brera o apelidou de “Rombo di Tuono” (Estouro do Trovão). Chutava preferencialmente com a perna esquerda e tinha um chute muito forte e preciso. Segundo o técnico Manlio Scopigno, campeão com o Cagliari em 1970, “o pé direito de Gigi Riva só servia para entrar no bonde”. Mas ele provou que também era capaz de marcar gols com o pé direito e de cabeça, devido à sua presença física e bom posicionamento. Apesar de ser forte, tinha muita habilidade, drible e bom passe. Também era muito veloz, se destacando com grandes arrancadas a gol. Era um excelente cobrador de pênaltis.

Na eleição da Bola de Ouro da revista France Football, Gigi Riva foi o 13º em 1967, 6º em 1968 e em 1969, foi o segundo melhor jogador do ano, perdendo para Gianni Rivera por apelas 4 pontos. Em 1970, foi o terceiro melhor, atrás de Gerd Müller e Bobby Moore.

VEJA MAIS:
… 17/06/1970 – Itália 4 x 3 Alemanha Ocidental

Feitos e premiações de Gigi Riva:

– Campeão da Serie A da temporada 1969/70 com o Cagliari.
– Campeão da Eurocopa de 1968 com a Itália.
– Vice-campeão da Copa do Mundo de 1970 pela Itália.
– Artilheiro da Serie A por três vezes: 1966/67 (18 gols), 1968/69 (20 gols) e 1969/70 (21 gols).
– Artilheiro da Coppa Italia também por três vezes: 1964/65 (3 gols), 1968/69 (9 gols) e 1972/73 (8 gols).
– Maior artilheiro da história da Squadra Azzurra com 35 gols em 42 jogos (média de 0,8 gols por partida).
– Um dos seis jogadores a marcar 4 gols no mesmo jogo pela seleção italiana.
– Maior Artilheiro da História do Cagliari: 164 gols em 315 jogos (na Serie A) e 213 gols em 392 jogos (no total).
– Eleito para a seleção da Eurocopa de 1968.
– Eleito o 33º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar em 1999.
– Eleito o 24º Maior Jogador do Século XX pelo Guerín Sportivo em 1999.
– Eleito o 74º Melhor Jogador do Século XX pela revista World Soccer.
– Eleito o 43º Melhor Jogador Europeu do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 8º Melhor Jogador Italiano do Século XX pela IFFHS.
– Eleito o 87º Melhor Jogador da História das Copas pela revista Placar em 2006.
– Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal The Sunday Times.
– Desde 2005 está eternizado nas lendas do futebol que colocaram seu pé na “Golden Foot” (uma calçada da fama do futebol em frente ao mar, no Principado de Mônaco).
– Em 2011 entrou para o Hall da Fama do futebol italiano, sendo o primeiro homenageado como “veterano”.
– Eleito para o Hall da Fama dos esportes na Itália em 2015.
– Foi nomeado duas vezes como “Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana”, por iniciativa dos respectivos presidentes da Itália, em 30/09/1991 e 12/07/2000.
– Ganhou também a homenagem do Comitê Olímpico Italiano, de “Estrela de Ouro do Mérito Esportivo”, em 23/10/2006, por ser dirigente da seleção durante o título da Copa do Mundo de 2006.
– Em 03/11/2016, em Roma, ganhou a “Medalha de Ouro do Mérito Esportivo”.

“Não entro em campo para outra coisa que não seja marcar meus gols. Prefiro jogar mal e marcar do que jogar apenas muito bem.” — Gigi Riva

… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães

Três pontos sobre…
… Uwe Seeler: o professor dos centroavantes alemães


(Imagem: Hamburgo)

● Terceiro filho de Anny e Erwin Seeler (ex-jogador do Hamburgo), Uwe nasceu em Hamburgo, norte da Alemanha, em 05/11/1936 (exatamente 80 anos atrás). Na sua carreira, defendeu apenas duas camisas: Hamburger SV (clube de sua cidade natal) e a seleção da Alemanha Ocidental. A cidade retribuiu e o transformou em uma celebridade e cidadão honorário desde 2003. É considerado o melhor jogador da história do Hamburgo e um verdadeiro símbolo. Começou nas divisões de base aos dez anos e toda a vida recusou diversas propostas de transferência, tanto de clubes alemães, quanto de equipes estrangeiras. Pagou um preço por essa lealdade, conquistando apenas dois títulos em dezenove temporadas no clube (1953 a 1972). Foi campeão alemão da temporada 1959/60 (vice em 1957 e 1958) e conquistou a Copa da Alemanha em 1962/63 (3 x 0 no Borrussia Dortmund, com Seeler fazendo os três gols – foi vice em 1956 e 1967). Na Liga dos Campeões de 1960/61, ao lado de seu irmão Dieter Seeler, foi até as semifinais onde perdeu para o Barcelona (que seria vice). Teve a chance de um título continental, mas perdeu a final da Recopa Europeia de 1968 para o Milan (foi artilheiro da competição).

Pelo Hamburgo, marcou 764 gols em 810 jogos (ambos recordes difíceis de serem batidos no clube). Foi oito vezes o artilheiro do campeonato alemão (1955: 28 gols; 1956: 32 gols; 1957: 31 gols; 1959: 29 gols; 1960: 36 gols; 1961: 29 gols; 1962: 28 gols), sendo o primeiro goleador da Bundesliga (criada em 1963/64) com 30 gols. Foi o artilheiro da Copa da Alemanha em 1956 e 1963 e três vezes eleito como o jogador alemão do ano (1960, 1964 e 1970). No total da Liga Alemã, anotou 404 gols em 476 partidas, sendo 137 gols em 239 jogos pela Bundesliga. Recebeu um único cartão vermelho na carreira, em 1970. Foi eleito o terceiro melhor jogador do ano de 1960 pela Bola de Ouro da revista France Football (primeiro alemão no pódio do prêmio). Pelé o nomeou para a polêmica lista “FIFA 100” (os 125 melhores jogadores da história que até então estavam vivos em 2004).

Era um centroavante baixo para os padrões alemães, ainda mais para a época. Tinha só 1,69 m, mas muita força física. É considerado o precursor do homem de área germânico, o primeiro dos “Panzer” (tanques de guerra do país). Seeler tinha muita potência, brigava por espaço na área adversária e o conquistava, chegando com relativa facilidade ao gol. Seus gols eram simples, sem dribles, classe, efeitos, mas no duelo por espaço e na bola aérea (apesar de não ser alto) ele era imbatível. Era chamado pelos compatriotas de “Rei dos 18 metros” (o tamanho da grande área). Sua raça e sua dedicação em campo eram contagiantes e sua eficiência impressionava. Ele acabou ensinando às gerações futuras de atacantes que o jogo de corpo e a proteção da bola era a saída para quem não nasceu craque. Olivier Bierhoff e Miroslav Klose, dentre outros, aprenderam direitinho.

Seis anos após ter se aposentado, em 23/04/1978, disputou uma partida pelo Cork Celtic, a convite da Adidas, de seu amigo Adi Dassler. Marcou os dois gols na derrota por 2 x 6 contra o Shamrock Rovers, pelo campeonato da Irlanda.

● Na seleção, lhe faltou um pouco de sorte, pois a Alemanha Ocidental venceu as Copas de 1954 e 1974 e Uwe Seeler disputou como titular quatro Copas do Mundo (1958, 1962, 1966 e 1970 – 21 partidas no total), ou seja, todas as Copas entre um título e outro. Sua melhor classificação foi o vice-campeonato em 1966, quando perdeu na prorrogação para a anfitriã Inglaterra. Foi 3ª colocado na Copa de 1970 e 4º em 1958. Curiosamente, possui o recorde de marcar gols em quatro Copas do Mundo diferentes, em todas que disputou, juntamente com Pelé, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo. Era o capitão em 1966 e em 1970. Quando se aposentou, em 1972, a Federação de Futebol Alemã lhe concedeu a honraria de “capitão honorário da seleção”. É o único com tal honraria que nunca conquistou títulos pelo seu país.

Em fevereiro de 1965 sofreu uma ruptura do tendão de aquiles da perna direita e chegou a ter o fim da carreira anunciada. Mas ele voltou a jogar em agosto, às vésperas da convocação da seleção para o jogo contra a Suécia, para as eliminatórias da Copa de 1966. Foi selecionado, jogou e fez o gol da vitória dos alemães. Na Copa de 1970, fez 3 gols, mas foi obrigado a jogar fora de suas características, chamando a marcação e abrindo espaço para que surgisse um novo matador e artilheiro à sua altura: Gerd Müller.

Em 1987, na primeira Copa Pelé de Masters, a Alemanha tinha um “pequeno barril” no ataque, causando o riso de todos. Quando o “tiozinho” tocou na bola, todos ficaram estupefatos e viram que o velhote sabia das coisas. Sua equipe não foi muito longe no torneio, mas ele foi um dos destaques. No total, pela Alemanha Ocidental, fez 72 jogos e marcou 43 gols. O total da carreira foi 815 gols em 882 jogos.

● Uwe se casou em 18/02/1959 com Ilka (que conheceu no réveillon de 1953) e tem três filhas e sete netos. Um deles, Levin Öztunalı, de apenas 20 anos, é um meia que atua no Mainz 05.

Em 1972, Uwe interpretou a si mesmo em um filme de comédia alemã chamado “Willi wird das Kind schon schaukeln” (algo como “Willi vai fazer alguma coisa certa”). No fim do filme, um time de futebol chamado Jungborn faz uma contratação espetacular: o próprio Seeler. Todo mundo está em festa, mas o técnico do time, Willi Kuckuck (Heinz Erhardt), fica perplexo e pergunta: “Quem diabos é esse cara?”. Piada pronta, pois Seeler era um dos rostos mais conhecidos do país na época.

Em 1995, assumiu a presidência do Hamburgo, renunciando ao mandato em 1998 devido a um escândalo financeiro. Seeler não estava envolvido, mas assumiu a responsabilidade, pois funcionários indicados por ele foram responsáveis pelas irregularidades.

Em 24/08/2005 foi inaugurada uma escultura de seu pé direito, orçada em 250 mil euros e doada por um empresário alemão. Situada em frente a o estádio do Hamburgo, o Imtech Arena (antigo Volksparkstadion), com quatro toneladas, 5,15 metros de largura e 3,50 de altura, o monumento mostra um pé ferido e calejado por tantos esforços.

Publicou sua autobiografia em 2003, chamada “Obrigado, Futebol!”. Atualmente, vive em Norderstedt, perto de Hamburgo.