Três pontos sobre… … 03/06/1934 – Tchecoslováquia 3 x 1 Alemanha
(Imagem: Impromptuinc)
● Foi a primeira partida na história entre Alemanha e Tchecoslováquia.
Nas eliminatórias, a Tchecoslováquia eliminou a Polônia – contra quem tinha uma disputa territorial. Os tchecos venceram em Varsóvia por 2 x 1 e os poloneses abriram mão de jogar a partida de volta, dando a qualificação ao rival.
Na Copa, os tchecoslovacos venceram a Romênia nas oitavas de final (2 x 1) e a Suíça nas quartas (3 x 2).
● Essa era uma partida considerada “inferior” pela imprensa europeia. “Itália vs. Áustria” era uma “final antecipada”. Nem Tchecoslováquia, nem Alemanha (que pouco apresentaram nos primeiros jogos) seriam páreo para nenhum dos outros dois adversários.
Enquanto o San Siro lotou na primeira semifinal, onde os favoritos se digladiavam por uma vaga na decisão, apenas 15 mil pessoas compareceram ao Stadio Nazionale PNF para assistir ao duelo entre tchecoslovacos e alemães – em partida que a imprensa chamou de “atalho para a grande decisão”.
O público não apreciava o jeito alemão de jogar. Tanto que, mesmo com pouca gente, essa foi a partida da Alemanha com maior público nessa Copa.
No quesito organização, a Tchecoslováquia estava à frente de seu tempo. Foi a primeira seleção a ter oficialmente um segundo uniforme, sem precisar de nenhuma improvisação. Até então, quando dois adversários tinham camisas de mesma cor, o costume era pedir camisas emprestadas de outras seleções ou de times locais que tivessem cores diferentes do adversário. Em uma emergência, também compravam camisas novas em cima da hora. Mas os tchecos inovaram. A camisa principal era toda vermelha e a reserva era toda branca – ambas contando com o brasão de armas do país. A camisa branca foi usada nos dois primeiros jogos, mas, contra os alemães, foi utilizado o fardamento vermelho.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.
Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.
● Foi um choque de estilos de jogo. Com um time formado por jogadores de apenas duas equipes – Sparta Praga e Slavia Praga – a Tchecoslováquia tinha melhor entrosamento e uma técnica mais apurada, enquanto os alemães apostaram na obediência tática e na força física.
Taticamente, a Alemanha era a seleção mais avançada da competição. Era a única que jogava no sistema W-M. Todas as outras ainda atuavam no sistema “clássico”, com dois zagueiros de área, três médios e cinco atacantes. No W-M, o centromédio era recuado para uma linha de três zagueiros e dois atacantes jogavam um pouco mais recuados para armar as jogadas como meias. Com isso, formava-se um quadrado no meio de campo, com os dois médios restantes e os dois meias – numa espécie de 3-2-2-3, que, visto de cima, pareciam as letras W e M. Essa inovação tática se tornaria padrão no Mundial seguinte, em 1938, mas a Alemanha já era vanguardeira em 1934.
Mas a ousadia tática dos alemães foi deveras prejudicada por dois sensíveis desfalques. O meia-atacante Karl Hohmann estava lesionado. Mas a ausência do médio Rudolf Gramlich foi mais inusitada.
Após a vitória de sua seleção sobre a Suécia nas quartas de final, Gramlich recebeu a notícia de que a fábrica de sapatos na qual trabalhava como curtidor, em Frankfurt, tinha sido confiscada pelas autoridades nazistas. Como o futebol alemão era amador e a fábrica era seu único emprego remunerado, ele abandonou a Copa para tentar ajudar seus patrões judeus a salvar a empresa. Nem sua boa reputação representando seu país no Mundial foi suficiente e ele não conseguiu impedir a prisão e posterior morte de seus patrões. Algum tempo depois, Gramlich se tornou militar do exército nazista.
A ausência de ambos desmontou o sistema de jogo alemão, o W-M ficou sem dois de seus mais importantes artífices e o time ficou um pouco perdido em campo.
Assim, prevaleceu o jogo mais técnico e metódico dos tchecos. Eles se sobressaíram no meio de campo, conseguiram controlar o jogo com seu estilo mais refinado: com toques curtos, de pé em pé, evoluindo lentamente, mas com muita eficiência.
(Imagem: Impromptuinc)
A Tchecoslováquia justificou a superioridade e mereceu abrir o placar ainda na etapa inicial. Nejedlý fez o primeiro gol aos 19′.
No segundo tempo, a Alemanha reagiu e buscou o empate aos 17′, quando František Plánička não conseguiu segurar um chute fraco de Rudolf Noack.
Com o empate, muitos pensaram que os alemães tinham o aspecto psicológico a seu favor. Mas foi justamente o contrário. O gol germânico acordou a equipe eslava, que soube aproveitar seu potencial ofensivo para marcar mais duas vezes.
A Alemanha não conseguiu resistir ao forte adversário e o goleiro Willibald Kreß falhou em dois gols, soltando bolas fáceis nos pés do artilheiro tcheco. Oldřich Nejedlý estava impossível e completou seu “hat trick”, marcando aos 26′ e aos 35′.
O goleiro Kreß teve uma jornada infeliz (Imagem: Impromptuinc)
Apesar de não constar em nenhuma das relações dos prováveis candidatos ao título, a Tchecoslováquia chegou na decisão da Copa do Mundo pela primeira vez em sua história.
Quatro anos depois, a Polônia mantinha praticamente o mesmo time que conquistou o 3º lugar na Copa anterior, com o belo acréscimo do meia-atacante Zbigniew Boniek e o retorno de Włodzimierz Lubański. O atacante polonês não havia disputado o Mundial anterior por ter se lesionado pouco antes, mas havia sido o maior destaque de sua seleção na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique.
Portando a camisa 12 e a faixa de capitão, o meia Kazimierz Deyna ainda era o articulador criativo de sua seleção. A esperança de gols permanecia sendo o velocista Grzegorz Lato, artilheiro da Copa de 1974. O goleiro Jan Tomaszewski continuava dando segurança à defesa, assim como o zagueiro Władysław Żmuda. A ausência era o inteligente ponta esquerda Robert Gadocha.
Mas, se o elenco polaco era quatro anos mais experiente, também era quatro anos mais velho e cansado.
(Imagem: Impromptuinc)
● Por sua vez, a Alemanha Ocidental estava se renovando aos poucos. O goleador Gerd Müller agora dava lugar ao craque Karl-Heinz Rummenigge. O Kaiser Franz Beckenbauer também havia saído de cena, mas alguns importantes campeões do mundo continuavam na Mannschaft, como o agora capitão Berti Vogts, o goleiro Sepp Maier, Rainer Bonhof e outros.
Mas a Nationalelf estava sentindo falta de outros jogadores de alto nível, como Wolfgang Overath e Jürgen Grabowski. Um dos principais desfalques era o rebelde Paul Breitner, que estava em litígio com o veterano técnico Helmut Schön.
O técnico Helmut Schön escalou a Alemanha Ocidental no 4-3-3 com Rüssmann atuando como zagueiro na sobra.
O treinador Jacek Gmoch mandou a Polônia a campo no sistema 4-3-3.
● O jogo de abertura da Copa geralmente é truncado e sem graça. Mas todos esperavam um duelo elétrico como o de 1974. Ledo engano.
Não foi um bom presságio para quem esperava uma Copa com inovações táticas e jogadores de alto nível técnico, como quatro anos antes.
Um dos problemas era o campo. Alguém – não se sabe quem – teve a iluminada ideia de irrigar o gramado do estádio Monumental de Núñez com água do mar. Logicamente, a grama ficou arruinada e teve que ser substituída em cima da hora. Com isso, tufos de grama se soltavam a cada jogada, prejudicando o toque de bola.
Para piorar, alemães e poloneses preferiram jogar para evitar a derrota ao invés de partirem em busca da vitória. Não foi um bom jogo tecnicamente, com nenhuma chance clara ou remota de gol.
Com atuações bem abaixo do esperado, as duas seleções deixaram entediados e com sono os 67 mil expectadores.
(Imagem: Impromptuinc)
● Na sequência da primeira fase, a Polônia venceu a Tunísia (1 x 0) e o México (3 x 1). A Alemanha goleou o México por 6 a 0 e empatou sem gols com a Tunísia. Com esses resultados, os poloneses terminaram como líderes do Grupo 2, com os alemães se classificando em segundo lugar.
Assim como em 1974, a segunda fase não era composta por oitavas ou quartas de final em partidas eliminatórias (o famoso mata-mata), mas sim uma nova fase de grupos, que classificaria o vencedor para a final.
Nessa fase, pelo Grupo B, a Polônia perdeu para a Argentina por 2 x 0, venceu o Peru por 1 x 0 e se despediu perdendo para o Brasil por 3 x 1.
Pelo Grupo A, a Alemanha Ocidental empatou por 0 x 0 com a Itália e por 2 x 2 com a Holanda. Precisando vencer para ter alguma chance de ir para a final, perdeu para a vizinha Áustria por 3 x 2 e o resultado foi a eliminação.
(Imagem: Impromptuinc)
● FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA OCIDENTAL 0 x 0 POLÔNIA
Data: 01/06/1978
Horário: 16h00 locais
Estádio: Monumental de Nuñez (EstadioAntonioVespucioLiberti)
Três pontos sobre… … 27/05/1934 – Alemanha 5 x 2 Bélgica
(Imagem: Impromptuinc)
● A Bélgica já havia vivido a experiência de disputar um Mundial. Foi uma das poucas seleções europeias que participaram da primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, mas o desempenho foi ruim. Perdeu as duas partidas que disputou, para Estados Unidos (3 x 0) e Paraguai (1 x 0). Ficou em último lugar do Grupo 4, sem marcar um gol sequer.
A Alemanha estreava em Copas. Quatro anos antes, declinou o convite devido à grave crise econômica que afetou toda a Europa, ocasionadas pelo crash de 1929 e resquícios da Primeira Guerra Mundial.
Nas eliminatórias, a Alemanha disputou apenas uma partida pelo Grupo 8, goleando Luxemburgo por 9 a 1. Como a França também venceu os luxemburgueses (6 a 1) e a chave reservava duas vagas, nem foi preciso que alemães e franceses se enfrentassem.
Por sua vez, pelo Grupo 7, os belgas empataram com a Irlanda por 4 a 4 e perderam para a Holanda por 4 a 2. Curiosamente, se qualificaram sem vencer nenhuma partida – já que os irlandeses sofreram um gol a mais na partida diante da Holanda (5 a 2).
Mas a seleção belga viajou à Itália bastante renovada. Apenas quatro jogadores eram remanescentes de 1930: o goleiro Arnold Badjou, o zagueiro August Hellemans e os atacantes Louis Versyp e Bernard Voorhoof, além do técnico Hector Goetinck. Desses, apenas Voorhoof era titular.
(Imagem: Impromptuinc)
● Diferentemente da primeira edição do Mundial, a Copa do Mundo de 1934 teve um formato diferente. Ao invés de fase de grupos, houve um torneio eliminatório direto, começando nas oitavas de final. Se uma partida terminasse empatada depois de 90 minutos, seriam jogados mais 30 minutos de prorrogação. Persistindo a igualdade, haveria outro jogo-desempate no dia seguinte.
Oito equipes eram cabeças de chave: Itália, Brasil, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Holanda, Alemanha e Argentina.
A política era uma das principais motivações dos alemães para fazerem um bom papel no torneio. Naqueles tempos, o então chanceler Adolf Hitler já estava começando sua teoria de superioridade da raça ariana – que chegaria ao ápice nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Antes das partidas, os atletas da Nationalelf eram obrigados a executar a saudação ao futuro Führer – assim como os italianos saudavam o Duce Benito Mussolini.
O treinador alemão Otto Nerz era um entusiasta do regime nazista e tinha o apoio de Hitler (que chegou a intervir na federação de seu país). Em 1926, Nerz havia sido o primeiro a assumir oficialmente o posto de técnico da seleção alemã. Com tempo para trabalhar, ele conseguiu transformar uma equipe medíocre em uma camisa respeitada no futebol europeu. Era sempre aberto a novas aprendizagens, estudando e absorvendo conhecimentos técnicos e táticos de lendas como James Hogan, Hugo Meisl e Vittorio Pozzo. Foi um dos primeiros em nível internacional a implementar o “W-M” – sistema tático criado pelo inglês Herbert Chapman, em 1925, no Arsenal. O esquema tinha como objetivo fortalecer a defesa e dar ênfase ao jogo de meio de campo, com uma espécie de “quadrado” – dois meias defensivos e dois meias ofensivos.
Após as eliminatórias, Nerz selecionou 38 jogadores, que foram submetidos a rígidos tratamentos físicos durante 60 dias, até serem definidos os 18 que seriam convocados para a Copa. E a Alemanha viajou para a Itália com a seleção mais jovem da Copa, com média de idade de 23 anos.
Otto Nerz era um adepto do sistema W-M, recém criado na Europa. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá enfâse ao trabalho do meio de campo.
Nos anos 1930, todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5 – a exceção foi mesmo a Alemanha.
● No Stadio Comunale, em Florença, os termômetros registravam 30º C à sombra. Até por isso, apenas 8.000 torcedores se animaram a ir ao estádio.
Este duelo não era uma novidade. Cerca de um ano antes, a Alemanha goleou a Bélgica por 8 a 1 em um amistoso. E todos esperavam outra fácil vitória alemã. Todavia, tudo é diferente em uma partida de Copa do Mundo.
A Alemanha até saiu na frente aos 25 minutos do primeiro tempo, com Stanislaus Kobierski.
Mas a Bélgica empatou quatro minutos depois, com Bernard Voorhoof – aquele que foi o primeiro gol marcado pelos belgas na história das Copas.
Dois minutos antes do intervalo, Voorhoof anotou seu segundo tento na partida e virou o placar. Com 30 gols marcados em 61 partidas, Voorhoof é até hoje o terceiro maior artilheiro da história da seleção belga, atrás de Romelu Lukaku (59) e Eden Hazard (32), empatado com Paul Van Himst.
Os belgas viraram o jogo e terminaram o primeiro tempo com vantagem de 2 a 1 no placar, mas, no segundo tempo, a Alemanha controlou o jogo e demonstrou um desempenho capaz de superar qualquer crise.
Logo aos 4′, Otto Siffling empatou o jogo em 2 a 2.
A vitória germânica só foi construída nos últimos 25 minutos. O jovem atacante Edmund Conen, de apenas 19 anos, se empolgou e anotou um “hat trick”, marcando aos 21′, 25 e 42′.
(Imagem: Popper Foto / FIFA)
● A vitória consistente e a classificação deram motivação aos alemães e esse sucesso foi muito aproveitado pelos nazistas nas propagandas políticas.
E juntando todos os resultados da primeira rodada, pela única vez em uma Copa do Mundo, todas as oito seleções classificadas para as quartas de final eram da Europa.
Na sequência, a Alemanha venceu a Suécia nas quartas de final por 2 a 1. Na semifinal, perdeu para a Tchecoslováquia por 3 a 1. Terminou a Copa em um honroso 3º lugar ao vencer a arquirrival Áustria por 3 a 2.
(Imagem: Impromptuinc)
● FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA 5 X 2 BÉLGICA
Data: 27/05/1934
Horário: 16h00 locais
Estádio: StadioComunale / Giovanni Berta (atual Artemio Franchi)
Três pontos sobre… … Lothar Matthäus, o “Mr. Copa”
(Imagem: DFB)
Mesmo tendo pendurado as chuteiras há mais de vinte anos, ele ainda detém alguns dos recordes no futebol.
É o jogador que disputou mais partidas em Copas do Mundo (25).
É um dos poucos a disputarem cinco edições do Mundial (juntamente com os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez e o italiano Gianluigi Buffon).
É o alemão que mais disputou partidas pela sua seleção (150 partidas, entre 1980 e 2000).
Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA na primeira edição do prêmio, em 1991.
Também eleito Bola de Ouro pela revista France Football em 1990.
Eleito em 2020 para o Dream Team da Bola de Ouro como um dos melhores meio-campistas defensivo da história.
Foi o capitão e líder da seleção alemã que levantou a taça da Copa de 1990.
Venceu quase todos os títulos possíveis. Só a UEFA Champions League lhe escapou (já nos acréscimos, em 1998/99).
Às vezes ele é subvalorizado pela mídia e pelos torcedores atuais, que pouco o viram jogar. Mas Matthäus era o jogador completo, vanguardeiro, um dos primeiros “box to box”, que liderava a marcação e o sistema defensivo, mas também aparecia no ataque para fazer seus vários gols – especialmente em chutes potentes e certeiros de fora da área.
Era um dos nomes mais impactantes de sua época. Tanto que é notável a quantidade exponencial de “Matheus” com menos de 35 anos. Homenagem mais do que justa.
Hoje esse craque completa 60 anos. Parabéns, capitão.
Três pontos sobre… … 20/07/1966 – Alemanha Ocidental 2 x 1 Espanha
(Imagem: Impromptuinc)
● O árbitro da partida foi o brasileiro Armando Marques. Então com 36 anos, ele era famoso no Brasil por sua mania de querer ser o centro do espetáculo. Mas não havia qualquer dúvida de que ele era o melhor árbitro do país na década de 1960. Seus famosos e folclóricos erros só viriam a acontecer nos anos 1970, como, por exemplo, o equívoco na contagem de pênaltis na decisão do Campeonato Paulista de 1973.
Ambas as seleções constavam no grupo das favoritas ao título. O Brasil era o candidato natural, por ter vencido as duas Copas anteriores (1958 e 1962). A Inglaterra era a dona da casa. A Espanha havia conquistado a Eurocopa de 1964. A Hungria havia ganhado a medalha de ouro do futebol nos Jogos Olímpicos de 1964. A União Soviética contava o goleiro Lev Yashin em seu auge. A Alemanha Ocidental tinha um bom elenco, onde brilhavam o veterano atacante Uwe Seeler e uma jovem dupla no meio campo: Franz Beckenbauer e Wolfgang Overath.
Em sua primeira partida, a Nationalmannschaft goleou a Suíça por 5 x 0. Na segunda rodada, empatou sem gols com a Argentina. Com a vitória dos albicelestes sobre os suíços por 2 x 0 no dia anterior, a Alemanha jogava por uma vitória simples para ser a líder do Grupo B ou, na pior dar hipóteses, precisava de um empate para ficar com a segunda vaga da chave.
(Imagem: Impromptuinc)
● Em sua estreia, a Espanha perdeu para a Argentina por 2 x 1. Depois, venceu a Suíça pelo mesmo placar. No terceiro jogo, precisava vencer os alemães de qualquer jeito para se classificar.
Por isso, o técnico José Villalonga radicalizou geral. Ele aproveitou a lesão do meia Pirri e trocou praticamente todo o time do meio de campo para a frente. Só o ponta direita Amancio Amaro continuou no onze titular.
Foram barrados jogadores consagrados, como o ponta esquerda Paco Gento, do Real Madrid (jogador mais vezes campeão na história da UEFA Champions League, com seis títulos), o atacante Joaquín Peiró e o meia Luis Suárez, ambos da Inter de Milão (que havia vencido a Champions por duas vezes em anos anteriores) e o meia Luis del Sol, da Juventus.
Esses nomes de peso foram substituídos por jovens que estavam no elenco que ajudou a Espanha a se sagrar campeã da Eurocopa de 1964, como Josep Maria Fusté, Adelardo, Marcelino e Carlos Lapetra.
Porém, o certo é que os onze jogadores que pisaram no Villa Park naquele dia nunca haviam sequer treinado juntos.
Ambas as equipes jogavam no sistema tático 4-2-4.
● Os primeiros 30 minutos dessa partida foram os mais intensos dos espanhóis desde a Copa de 1950. Dominando as ações ofensivas, o time demonstrou uma vontade incomum e partiu para cima da Alemanha honrando o apelido de Fúria. Com um time menos talentoso, mas dedicado e esforçado, os espanhóis começaram pressionando e empurrando os teutônicos para o campo de defesa. Tamanho esforço e vigor só poderia ser recompensado com um gol.
Aos 23′, Emmerich deu um passe errado para Franz Beckenbauer. Josep Maria Fusté interceptou, abriu na esquerda com Marcelino e se infiltrou na área. A devolução foi perfeita para Fusté dominar no peito e tocar no canto direito, antes da chegada do goleiro Hans Tilkowski. Os alemães reclamaram que Fusté havia conduzido a bola com o braço, mas Armando Marques, como sempre, nem quis escutar.
Aos 39′, Sigfried Held cobrou um lateral rápido para Lothar Emmerich na ponta esquerda. Quase da linha de fundo, Emmerich soltou uma bomba que passou entre a trave direita e o goleiro José Ángel Iribar, morrendo no outro ângulo. Foi um verdadeiro “gol espírita”, um dos maiores de todas as Copas. O chute tomou o rumo do gol sem ter ângulo algum.
Esse gol ficou imortalizado na Alemanha. Desde então, quando um gol é marcado de um ângulo impossível, é chamado de “Emmerich Tor” (“gol Emmerich”) no jargão futebolístico alemão.
Um golaço, que foi considerado o gol mais bonito da história do estádio Villa Park até a época.
Era um verdadeiro castigo para o que os espanhóis estavam jogando. Não havia mais justiça no placar.
A Espanha retornou com menos confiança para o segundo tempo e só voltaria a equilibrar as ações a partir dos 20 minutos, mas sem a adrenalina da primeira etapa. A Fúria tentou o segundo gol a qualquer custo, mas o time cansou.
E a virada alemã aconteceu aos 39′. Held foi à linha de fundo e cruzou rasteiro da esquerda. Uwe Seeler dominou na linha da pequena área e bateu no canto esquerdo de Iribar.
Assim como o primeiro gol alemão, o segundo também ocorreu em um momento que abalou psicologicamente os espanhóis, que agora precisavam anotar dois gols em sete minutos.
E o nervosismo dos ibéricos ainda resultou em outras duas chances perdidas pelos germânicos. Em uma delas, Uwe Seeler roubou a bola de Severino Reija, entrou sozinho na área e driblou o goleiro Iribar, mas ficou sem ângulo para a finalização.
(Imagem: Impromptuinc)
● De forma melancólica, a Espanha deu adeus a mais uma Copa do Mundo. O zagueiro Gallego resumiu bem a partida: “Nós criamos as oportunidades e eles fizeram os gols”.
Curiosamente, a Espanha tinha em seu elenco um atacante que começou a carreira no Flamengo. Nascido em Pontevedra, na região da Galícia, José Armando Ufarte viveu a infância no Brasil e começou a carreira nas divisões de base do rubro-negro, antes de voltar ao seu país e jogar no Atlético de Madrid. Jogou também pelo Corinthians e pelo Racing Santander. Pelo Flamengo, conquistou o Campeonato Carioca em 1961 e o Tornio Rio-São Paulo em 1963.
Com a vitória, a Alemanha foi a líder de seu grupo graças ao critério do goal average (divisão do número de gols marcados pelo número de gols sofridos), furando a previsão de seu ex-técnico Sepp Herberger, campeão mundial em 1954 e jornalista em 1966. Ele havia afirmado que os alemães seriam eliminados ainda na primeira fase.
Nas quartas de final, a Alemanha Ocidental goleou o Uruguai por 4 x 0. Nas semifinais, venceu a forte União Soviética por 2 x 1. Na decisão, enfrentou a Inglaterra, dona da casa. Conseguiu um empate no tempo normal, mas, na prorrogação, sofreu um gol bastante polêmico (até hoje não existe um ângulo de qualquer imagem que tenha mostrado a bola dentro do gol) e perdeu por 4 x 2.
Três pontos sobre… … 13/07/2014 – Alemanha 1 x 0 Argentina
(Imagem: ESPN)
● Quase 35 milhões de telespectadores assistiram à partida na Alemanha, no recorde histórico de audiência na TV do país.
Era um jogo imprevisível. Os alemães tinham um elenco mais homogêneo, maduro e pronto para vencer. A Argentina tinha Lionel Messi e bons coadjuvantes.
Na estreia, a Nationalmannschaftgoleou Portugal de Cristiano Ronaldo por 4 x 0. Nos jogos seguintes, empatou com Gana (2 x 2) e venceu os EUA (1 x 0). Nas oitavas de final, precisou da prorrogação para eliminar a ardilosa Argélia (2 x 1). Nas quartas, venceu a França por 1 x 0 em um duelo muito equilibrado. Na semifinal, não houve equilíbrio algum ao massacrar a Seleção Brasileira, dona da casa, nos famosos 7 a 1. Na decisão, enfrentaria uma velha conhecida: a Argentina.
Na primeira fase, a seleção albiceleste venceu as três partidas válidas pelo Grupo F: 2 x 1 sobre a Bósnia e Herzegovina, 1 x 0 no Irã e 3 x 2 na Nigéria. Nas oitavas de final, precisou da prorrogação para vencer a Suíça por 1 x 0. Nas quartas, eliminou a “ótima geração belga” com uma vitória por 1 x 0. Na semifinal, venceu a Holanda nos pênaltis por 4 x 2, após empate sem gols no tempo normal e na prorrogação.
Do lado portenho, Ángel Di María foi uma ausência muito sentida, não se recuperando da contusão na coxa que sofreu nas quartas de final contra a Bélgica. O técnico Alejandro Sabella preferiu proteger mais o meio de campo com Enzo Pérez.
Sami Khedira se lesionou no aquecimento, minutos antes da decisão, e foi substituído por Christoph Kramer, que nunca havia sido titular da seleção antes.
A Alemanha jogou no 4-3-3. Com a bola, Lahm avançava e Höwedes recuava, formando um 3-4-3.
A Argentina atuou no 4-3-3. Sem a bola, Lavezzi recuava e o time formava um 4-4-2.
● A Alemanha dominou a posse de bola desde o começo. Sabella povoou o meio de campo e os alemães não encontravam tantos espaços quanto na partida contra o Brasil.
A Argentina parecia dar a bola aos alemães, na tentativa de roubar e avançar em contragolpes rápidos.
E a albiceleste foi a primeira a assustar o adversário. Ezequiel Lavezzi roubou a bola de Mats Hummels na direita do ataque argentino e a bola sobrou para Gonzalo Higuaín bater cruzado e sem ângulo, mas a bola saiu pela linha lateral.
Phillip Lahm cruzou da direita, mas Miroslav Klose estava marcado por Martín Demichelis e não conseguiu alcançar.
Após chutão de Manuel Neuer para o ataque, a bola ficou no alto sendo rebatida de um lado para o outro até que Toni Kroos tentou recuar para o seu goleiro quase da intermediária, errou na força da cabeçada e acabou colocando Higuaín cara a cara com o gol. O camisa 9 teve tempo para deixar a bola quicar, ajeitar o corpo e bater. Incrivelmente, a bola foi para fora. Ele desperdiçou o presente. Difícil um centroavante de alto nível perder um gol desses e Higuaín conseguiu.
Aos 29′, Messi abriu com Lavezzi, que cruzou para a área. Higuaín bateu de primeira e dessa vez acertou o gol, mas a arbitragem já havia parado o lance apontando impedimento depois do cruzamento de Ezequiel Lavezzi.
Dois minutos depois, o volante Kramer precisou ser substituído por causa de uma dividida com Ezequiel Garay logo no início da partida. O técnico Joachim Löw ousou e colocou o atacante André Schürrle em seu lugar, adiantando o time. Kroos passou a atuar mais recuado e Mesut Özil foi jogar no centro, com Shurrle na esquerda.
Thomas Müller ganhou de Pablo Zabaleta no corpo, entrou na área e cruzou rasteiro para trás. Schurrle chegou batendo forte, mas Sergio Romero espalmou pela linha de fundo.
O jogo era muito bom tecnicamente.
Messi era muito bem marcado, mas se apresentava e participava bem do jogo. Ele também teve sua oportunidade aos 39′, quando ganhou na velocidade de Hummels, mas Neuer saiu para fechar o espaço e Jérôme Boateng tirou o perigo da área alemã.
Apesar da Argentina ter assustado primeiro, a Nationalelf tratou de responder à altura, com envolventes trocas de passes e aproximação dos jogadores.
Pouco antes do intervalo, Kroos bateu escanteio da direita a Benedikt Höwedes cabeceou forte, mas a bola foi explodiu na trave. Na volta, Müller estava impedido.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● No intervalo, Sabella trocou Lavezzi por Kun Agüero.
Logo aos dois minutos, Messi teve uma grande chance de abrir o placar. Ele escapou nas costas da defesa, recebeu lançamento de Lucas Biglia, avançou e chutou cruzado, mas a bola foi para fora, tirando tinta da trave esquerda de Neuer. Um gol perdido nível 9 na “escala Higuaín”.
Depois, Messi recebeu na direita, cortou para o meio em sua jogada característica, mas bateu para fora.
Mas estranhamente a Argentina foi perdendo o ímpeto ofensivo.
Agüero não fazia a recomposição na marcação como Lavezzi e a Alemanha passou a ter superioridade no meio do campo.
Bastian Schweinsteiger abriu na ponta direita com Müller, que cortou a marcação e rolou para trás e Toni Kroos chutou para fora.
Os sul-americanos eram sólidos na defesa, mas não conseguiam levar perigo no ataque.
Messi buscava a bola e saía driblando, mas não conseguia passar por todo o exército alemão.
Cansado de ver Higuaín perder gols, o treinador argentino o trocou por Rodrigo Palacio e colocou Fernando Gago no lugar de Enzo Pérez.
Löw tirou o apagado veterano Miroslav Klose e colocou em campo o jovem Mario Götze.
Aos 36′, Javier Mascherano errou o passe no campo de defesa, Özil tabelou com Müller e rolou para trás para Kroos bater rasteiro, mas Romero pegou firme.
Sem gols durante os 90 minutos, a partida se encaminhou para a prorrogação.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● E as duas equipes foram muito mais cautelosas no tempo extra, parecendo que queriam levar a decisão para os pênaltis.
Logo aos 30 segundos, Götze fez o pivô e rolou para Schurrle bater do bico da pequena área. Romero espalmou para frente e Özil chutou o rebote em cima da marcação.
Rojo cruzou para a área, Hummels errou o tempo de bola e Palacio tentou encobrir Neuer e mandou para fora.
Mas, aos oito minutos do segundo tempo, Schurrle arrancou em ótima jogada pela esquerda, passou por três adversários e cruzou na primeira trave. No bico da pequena área, Mario Götze dominou no peito e, sem deixar a bola cair, chutou cruzado para estufar as redes. Um golaço.
Mario Götze foi o primeiro e até hoje único jogador a ter saído do banco de reservas e fazer o gol do título de uma Copa do Mundo.
No finalzinho, Marcos Rojo cruzou da linha de fundo e Messi cabeceou por cima.
Em toda a competição, a Argentina só ficou atrás no placar por sete minutos. Justamente os minutos derradeiros que lhe tiraram o título na decisão.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● Ao fim da partida, o estádio Maracanã estava em festa. Os alemães festejavam sua conquista e os brasileiros vibravam pela derrota da Argentina.
A Alemanha deu uma aula de futebol, consagrando uma geração brilhante e o trabalho sério e longevo do técnico Joachim Löw, no comando de sua equipe desde 2006. Um trabalho que pôde ser amadurecido nas derrotas das últimas Copas do Mundo e Eurocopas, mas que chegou à maturidade e rendeu louros no maior palco do futebol mundial.
O título premiou com justiça e deixou na história os personagens da velha guarda como Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger, Miroslav Klose, Łukas Podolski e Per Mertesacker, além de outros mais jovens como Manuel Neuer, Jérôme Boateng, Mats Hummels, Toni Kroos, Mesut Özil e Mario Götze.
Os alemães deixaram um legado dentro de campo. Mas esse legado se estendeu para fora do campo. O centro de treinamento onde os germânicos se prepararam para a disputa do Mundial, em Santa Cruz Cabrália, no litoral sul da Bahia, se tornou um lindo resort. Além disso, os alemães doaram €$ 10 mil para os índios da tribo pataxó e várias bicicletas para uma escola da região.
Curiosamente, Gonzalo Higuaín tentou mais chutes a gol na final de 2014 do que o total de finalizações da seleção albiceleste na decisão da Copa de 1990 (uma só).
A Alemanha se tornou a primeira seleção europeia a vencer um Mundial no continente americano.
Ao conquistar o quarto título, a Alemanha se igualou à Itália como a seleção europeia com mais Copas do Mundo.
Discutivelmente, Lionel Messi foi eleito o melhor jogador da competição. Antes dele, apenas um argentino havia ganhado essa honraria: Diego Armando Maradona, em 1986.
Manuel Neuer ficou quatro partidas sem sofrer gols. Dentre todos os goleiros alemães, apenas Oliver Kahn, em 2002, conseguiu ficar mais jogos invicto (cinco).
Miroslav Klose se tornou o segundo jogador com mais partidas na história das Copas do Mundo, com 24. Só fica atrás de seu conterrâneo Lothar Matthäus, com 25. Além disso, Klose é o maior artilheiro da história das Copas, com 16 gols.
Três pontos sobre… … 11/07/1982 – Itália 3 x 1 Alemanha Ocidental
(Imagem: Getty Images)
● A decisão da Copa do Mundo de 1982 foi entre as bicampeãs Itália e Alemanha Ocidental. Quem vencesse, se tornaria tricampeão e igualaria o número de títulos da Seleção Brasileira.
Havia também uma disputa particular pela artilharia, já que Paolo Rossi e Karl-Heinz Rummenigge tinham cinco gols cada.
O árbitro brasileiro Arnaldo Cezar Coelho se tornou o primeiro não-europeu a apitar uma final de Copa do Mundo.
(Imagem: Imortais do Futebol)
● Na estreia, a Alemanha Ocidental perdeu por 2 x 1 para a surpreendente Argélia, de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Se recuperou na rodada seguinte ao bater o Chile por 4 x 1. Na terceira partida, protagonizou o jogo mais vergonhoso da história das Copas, um jogo de compadres, ao vencer a Áustria por 1 x 0, no único placar possível para classificar as duas seleções e eliminar os argelinos. Essa partida ficou conhecida como “Jogo da Vergonha” ou “A Vergonha de Gijón”. Na fase seguinte, venceu a Espanha, dona da casa, por 2 x 1 e empatou sem gols com a Inglaterra – o suficiente para garantir a vaga entre os quatro primeiros. Na semifinal, esteve perto de perder da França na prorrogação mas, após empate por 3 x 3, venceu nos pênaltis por 5 x 4. Mais uma de muitas decisões para os alemães.
Com esse mesmo time base, a Alemanha havia conquistado o título da Eurocopa de 1980. A principal ausência era o meia Bernd Schuster, do Barcelona. Com apenas 20 anos, era talentoso, mas sua presença dividia o elenco. Ele pediu dispensa da delegação pouco antes da Copa de 1982. Só depois se soube o motivo: ele preferiu passar mais tempo de férias com a esposa Gaby Lehman, dez anos mais velha que ele e famosa por ter pousado nua para a revista Stern. Schuster se aposentaria de vez da Nationalelf em 1984, com apenas 25 anos.
(Imagem: Bob Thomas / Getty Images / FIFA)
● Na fase de grupos, a Itália se classificou como segunda colocada do Grupo 1, com três empates: Polônia (0 x 0), Peru (1 x 1) e Camarões (1 x 1). Só se classificou porque fez um gol a mais que Camarões (que também empatou três vezes). Na primeira partida do grupo C das quartas de final, veio a primeira vitória: sobre a então campeã mundial Argentina por 2 a 1. Na sequência, derrubou o favorito Brasil por 3 a 2. Nas semifinais, venceu por 2 a 0 a forte Polônia, desfalcada de Zbigniew Boniek – suspenso pelo segundo cartão amarelo.
Enzo Bearzot não podia contar com Giancarlo Antognoni, o cérebro do time no meio campo. As opções seriam o reserva imediato Giuseppe Dossena, mas ele ainda não havia estreado na Copa e estava sem ritmo. Franco Causio mexeria muito no ataque e Bruno Conti acabaria sacrificado por jogar por dentro. A escolha mais natural era escalar o volante Gianpiero Marini e adiantar Marco Tardelli para ser o armador do time. Mas, Claudio Gentile de volta ao time e o jovem zagueiro Giuseppe Bergomi, de 18 anos, normalmente voltaria ao banco de reservas. Surpreendentemente, o treinador preferiu manter Bergomi no time, fortalecendo o sistema defensivo para liberar mais o meio de campo como um todo.
Havia também uma mudança de visual. Gentile não havia atuado na semifinal diante da Polônia e entrou em campo sem seu vasto bigode, raspado na véspera. Como tinha feito em toda a fase final, ele era responsável pela marcação individual no craque adversário – no caso, em Rummenigge. Curiosamente, Gentile era nascido na Líbia, uma ex-colônia italiana.
A Itália jogava no “4-4-2 italiano”, com um líbero atrás da defesa. O lateral esquerdo apoiava, enquanto o ponta direita recuava para fechar os espaços. Atacava no 3-4-3 e se defendia no 4-5-1.
A Itália fazia a chamada “zona mista”, combinando a marcação individual na defesa e a marcação por zona no meio de campo. O sistema era uma espécie de 4-4-2 adaptado e era imutável, rígido há alguns anos.
O time era formado por quatro defensores: um líbero (Scirea) atrás de dois zagueiros mais centralizados (Gentile, o centrale, mais à direita, e Collovati, o stopper, mais à esquerda) e um lateral mais ofensivo (chamado terzino fluidificante, que era Cabrini, pela esquerda, com liberdade para avançar. O meio de campo tinha outras quatro funções: o mediano (uma espécie de volante, que normalmente era Oriali, mas nessa partida foi Bergomi); o centrocampista centrale (que marcava e armava, uma espécie de box-to-box, que geralmente era Tardelli, mas que na decisão foi Oriali); o regista ou fantasista (o meia mais criativo, que era a função de Antognoni, mas na decisão foi de Tardelli) e o ala tornante que jogada do lado contrário do lateral ofensivo (era uma espécia de ponta que voltava para ajudar a marcação e organização ofensiva, que era Bruno Conti, pela direita). Dois eram os homens de ataque: o centravanti (homem de área, Paolo Rossi) e o seconda punta (que voltava para marcar o lateral rival, função de Graziani).
A Alemanha Ocidental do técnico Jupp Derwall atuava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Bernd Förster fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Kaltz, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Briegel. Dremmler ficava mais na marcação e Paul Breitner era o “todo-campista” indo de área a área. Littbarski ocupava as pontas e o centroavante era Klaus Fischer. O craque Rummenigge tinha liberdade para flutuar no ataque.
● O rei Juan Carlos I, da Espanha, era o convidado de honra dentre os 90 mil presentes no estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, para a 12ª final de Copa do Mundo. Pela sexta vez na história, era uma final com duas seleções europeias.
A Itália chegava com muita moral, após eliminar Argentina e Brasil, os dois principais favoritos ao título. Os alemães chegavam bem desgastados depois de uma difícil prorrogação diante da França. E historicamente, o time italiano sempre foi carrasco dos alemães no futebol.
O técnico alemão Jupp Derwall escalou um time mais ofensivo. Tirou o apagado Felix Magath e trouxe de volta o capitão Karl-Heinz Rummenigge, mesmo em más condições físicas. Ele não poderia prescindir de seu craque em um momento decisivo.
O início do jogo foi truncado, um verdadeiro duelo tático entre ambas as equipes.
Logo nos primeiros minutos, Littbarski escapou dos carrinhos de Gentile e Tardelli, tocou para Klaus Fischer fazer o pivô, cortar a marcação de Collovati e tocar para o meio. Na meia-lua, Littbarsli dominou com a direita e bateu de esquerda, mas Dino Zoff agarrou a bola sem dar rebote.
Paul Breitner lançou a bola para a área, Rumennigge dominou e girou, mas mandou para fora.
Ainda no começo do jogo, Francesco Graziani caiu sobre o ombro direito que havia lesionado durante a semifinal e teve que sair logo aos sete minutos de partida para a entrada de Alessandro Altobelli.
Bergomi chutou de longe, mas a bola foi por cima, sem assustar o goleiro Schumacher.
Aos 25,’ Marco Tardelli abriu na esquerda para Antonio Cabrini, que deixou para Altobelli cruzar na área. Briegel subiu empurrando Bruno Conti e Arnaldo marcou pênalti. Cabrini bateu cruzado no canto esquerdo de Schumacher, mas mandou para fora. Esse foi o terceiro pênalti marcado na história das finais de Copa e até hoje é o único desperdiçado.
“Mudei de ideia no último momento e cometi um erro. Olhei para o lado esquerdo, mas o goleiro pendeu nesse sentido. Bati mais aberto e fui mal.” ― Antonio Cabrini
Oriali foi derrubado por Uli Stielike na entrada da área. Bruno Conti cobrou a falta e chutou forte, mas no centro do gol, facilitando a defesa para Schumacher.
Rummenigge dominou pelo alto e ajeitou para Dremmler, mas ele chutou por cima do gol.
No intervalo, Bearzot tentou levantar a moral de sua equipe, que estava sem Antognoni e Graziani e ainda havia perdido um pênalti. A insegurança não podia tomar conta da Azzurra naquele momento.
(Imagem: Imortais do Futebol)
● O início do segundo tempo foi muito pegado, com os dois times parando muito o jogo com seguidas faltas.
Aos 12 minutos do segundo tempo, Rummenigge fez falta em Gabriele Oriali. Marco Tardelli cobrou rápido com Claudio Gentile na direita e ele cruzou à meia altura para a área. A bola passou por Altobelli, mas Paolo Rossi se antecipou a Kaltz e completou de joelho para o gol. Era o sexto gol de Il Bambino d’Oro na Copa de 1982. Os milhares de tifosi começaram a sonhar com o tricampeonato.
A Alemanha Ocidental buscava o empate e o treinador mandou seu time ao ataque, trocando o volante Wolfgang Dremmler pelo gigante atacante Horst Hrubesch.
Em cobrança de falta da direita, Kaltz cruzou e Zoff saiu catando borboletas, mas Briegel não conseguiu aproveitar.
Briegel passou por Bruno Conti e cruzou da esquerda. A bola bateu em Collovati dentro da pequena área, mas o goleiro Zoff pegou firme.
Aos 24′, Rummenigge tocou para Paul Breitner pelo meio, mas Rossi roubou a bola e o grande Gaetano Scirea avançou em velocidade na transição, como se deve fazer um líbero de verdade. Ele deixou com Bruno Conti, que cortou da direita para o meio. Rossi abriu na direita para Scirea que caiu pela ponta. Ele tocou de calcanhar para Bergomi, recebeu de volta e rolou para Marco Tardelli na entrada da área. O camisa 14 não dominou bem e deixou a bola escapar, mas, mesmo caindo, chutou forte de esquerda, no canto esquerdo do goleiro Harald Schumacher. Tardelli marcou e saiu comemorando em delírio. Uma das imagens mais marcantes de todas as Copas.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
“A sensação de fazer um gol como aquele não tem como contar. Apenas sentir. Aquele grito que apareceu na televisão foi como uma libertação. Era um sonho marcar numa final. Também me senti libertado de certas pessoas, que sempre nos criticavam. Foi como se estivéssemos em guerra contra eles. Mas ganhamos no final. E todos tiveram de celebrar com a gente. Gritaram como eu. E devem ter ficado sem ar como eu também quase fiquei.” ― Marco Tardelli
“O protocolo mandava ficar sentado na cadeira, no máximo batendo palmas. Era o que estava fazendo o rei da Espanha ao meu lado, e ao lado do chanceler alemão, todo triste. Mas como eu iria me segurar com um gol daquele? Eu tinha mais é de levantar e comemorar como qualquer italiano estava fazendo!” ― Sandro Pertini, presidente da Itália, que vibrou bastante nas tribunas.
A velocidade italiana foi demais para os desgastados alemães. Logo depois do gol, o técnico Jupp Derwall tirou o baleado Rummenigge para colocar em campo Hansi Müller e sua habilidosa perna esquerda.
O líbero Uli Stielike puxou contra-ataque e foi derrubado por trás por Oriali. Stielike levantou desorientado e partiu para cima do italiano. Arnaldo deu um cartão amarelo justo a Orialli, mas nada sossegou o alemão, que ficou o jogo todo tentando intimidar o árbitro brasileiro.
Aos 36′, a Squadra Azzurra fez o terceiro gol e praticamente matou o jogo e definiu o título. Em um contra-ataque, Bruno Conti avançou sozinho pela direita, entrou na área e rolou para a marca do pênalti. Altobelli dominou, driblou o afobado goleiro Schumacher, que saiu aos seus pés, e chutou de esquerda, já caindo. Um belo gol de Altobelli, seu primeiro e único no Mundial.
Na saída de bola Littbarski cruzou da direita e Hrubesch cabeceou fraco em cima de Zoff.
Os alemães descontaram dois minutos depois. Manfred Kaltz deixou com Uli Stielike pelo meio e ele abriu com Hans-Peter Briegel na esquerda. O Panzer (tanque de guerra alemão) ganhou no corpo de Bruno Conti, o acertando de forma involuntária com o cotovelo, e o italiano respondeu com um carrinho por trás no alemão. Falta do lado esquerdo da área, quase um mini escanteio para a Alemanha. Hansi Müller cruzou para a área, a bola passou por Collovati e Gentile afastou mal, para o meio da área. Paul Breitner emendou um voleio cruzado, de primeira, e mandou no cantinho direito de Zoff.
Breitner se tornou um dos raros jogadores a marcar gols em duas finais de Copas diferentes, pois já havia marcado de pênalti na decisão de 1974, em vitória por 2 x 1 sobre a Holanda de Johan Cruijff. Apenas Vavá, Pelé e Zinedine Zidane repetiram o feito.
Mas o alemão nem comemorou esse gol. A partida estava no fim e a vantagem italiana era muito grande até para os alemães.
Bearzot ainda teve tempo para homenagear Franco Causio, um de seus jogadores prediletos e um dos líderes do elenco. Ele entrou em campo no lugar de Altobelli, que já tinha entrado no início da partida.
E a Squadra Azzurra terminou a partida tocando a bola sob o ritmo tradicional do olé espanhol.
No fim da partida, o árbitro Arnaldo Cezar Coelho se meteu no meio de um passe dos italianos, agarrou a bola e a levantou antes de apitar, como se fosse um troféu. O brasileiro teve uma das melhores arbitragens de uma final de Copa até hoje. A bola do jogo é considerada por ele como seu maior troféu.
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● A Itália se sagrava tricampeã do mundo, vencendo 44 anos depois de seu último título. A Azzurra tinha erguido duas vezes a antiga Taça Jules Rimet e agora levantava com justiça o novo troféu da Copa do Mundo. O time treinado por Enzo Bearzot tinha jogadores de alto nível, mas o maior destaque nesse título foi o espírito de luta dos italianos.
Para Enzo Bearzot, o resultado era uma vitória pessoal. Durante anos ele vinha tentando tirar a sua seleção de campanhas medianas e agora a colocou de volta ao topo do mundo.
Por incrível que pareça, era a ressurreição de dois heróis italianos. O goleiro e capitão Dino Zoff havia sido bastante criticado não só pela idade elevada, mas por ter tomado um gol de Nelinho na decisão do 3º lugar da Copa de 1978, diante do Brasil. Zoff se tornou o jogador mais velho a conquistar uma Copa do Mundo, com 40 anos e 133 dias.
Já Paolo Rossi, estava há dois anos sem jogar. Envolvido no escândalo da loteria esportiva italiana, em 1980, ele foi suspenso por três anos, mas teve a pena revogada em abril de 1982. Ou seja, ele voltou a jogar apenas dois meses antes do Mundial. Para piorar mais o clima, a imprensa italiana criou o boato que ele e Antonio Cabrini tinham uma relação homossexual, que fez os atletas romperem de vez com os veículos de comunicação e não darem mais entrevistas. Mas o atacante foi bancado pelo técnico Bearzot mesmo fora de forma e abaixo do peso. Ele passou os quatro primeiro jogos sem marcar gols, mas desencantou contra o Brasil com três, fez dois diante da Polônia e abriu o placar contra os alemães. Paolo Rossi conseguiu um feito que jamais foi repetido: foi campeão, artilheiro e eleito o melhor jogador da competição.
Curiosamente, apenas a Itália de 1938 e 1982 e a Alemanha Ocidental em 1990 foram campeãs do mundo sem ficar em nenhum momento atrás no marcador, em nenhuma partida.
“Vai ser difícil explicar como uma seleção tão ruim foi campeã.” ― Bruno Conti, ironizando os críticos da Azzurra.
“Estávamos totalmente convencidos de que poderíamos chegar até a final e sair de campo vencedores. Jogamos tranquilos a decisão em Madri. O mérito disso é de Enzo Bearzot, homem extraordinário e um talentoso treinador. Ele nos ensinou como perseverar e seguir um objetivo.” ― Dino Zoff
“Nós não éramos presunçosos, e, sim, confiantes. No futebol, não vence quem é forte – forte é quem vence. Tínhamos certeza que ganharíamos a Copa depois de passar pela Polônia. Estávamos tão certos porque estávamos em ótima forma física e mental. A Alemanha, em contrapartida, não estava tão bem. Vinha cansada da prorrogação contra a França.” ― Claudio Gentile
“A vitória contra o Brasil criou uma aura em torno da equipe. Sentíamos que éramos os melhores.” ― Paolo Rossi
(Imagem: Getty Images / FIFA)
● FICHA TÉCNICA:
ITÁLIA 3 x 1 ALEMANHA OCIDENTAL
Data: 11/07/1982
Horário: 20h00 locais
Estádio: Santiago Bernabéu
Público: 90.000
Cidade: Madri (Espanha)
Árbitro: Arnaldo Cézar Coelho (Brasil)
ITÁLIA (4-4-2):
ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):
1Dino Zoff (G)(C)
1 Harald Schumacher (G)
6 Claudio Gentile
20 Manfred Kaltz
5FulvioCollovati
4KarlheinzFörster
7 Gaetano Scirea
15 UliStielike
4 Antonio Cabrini
5BerndFörster
3Giuseppe Bergomi
6WolfgangDremmler
13 Gabriele Oriali
2Hans-Peter Briegel
14 Marco Tardelli
3Paul Breitner
16 Bruno Conti
7PierreLittbarski
20 Paolo Rossi
8Klaus Fischer
19 Francesco Graziani
11 Karl-Heinz Rummenigge (C)
Técnico: Enzo Bearzot
Técnico: JuppDerwall
SUPLENTES:
12 Ivano Bordon (G)
21 BerndFranke (G)
22 Giovanni Galli (G)
22 Eike Immel (G)
2Franco Baresi
12 Wilfried Hannes
8PietroVierchowod
19 HolgerHieronymus
10 Giuseppe Dossena
17 Stephan Engels
11 Gianpiero Marini
18 Lothar Matthäus
9GiancarloAntognoni
14 Felix Magath
15 Franco Causio
10 Hansi Müller
21 Franco Selvaggi
13 Uwe Reinders
17 Daniele Massaro
16 Thomas Allofs
18 Alessandro Altobelli
9HorstHrubesch
GOLS:
57′ Paolo Rossi (ITA)
69′ Marco Tardelli (ITA)
81′ Alessandro Altobelli (ITA)
83′ Paul Breitner (ALE)
CARTÕES AMARELOS:
31′ Bruno Conti (ITA)
61′ Wolfgang Dremmler (ALE)
73′ UliStielike (ALE)
73′ Gabriele Oriali (ITA)
88′ Pierre Littbarski (ALE)
SUBSTITUIÇÕES:
7′ Francesco Graziani (ITA) ↓
Alessandro Altobelli (ITA) ↑
62′ Wolfgang Dremmler (ALE) ↓
Horst Hrubesch (ALE) ↑
70′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↓
Hansi Müller (ALE) ↑
89′ Alessandro Altobelli (ITA) ↓
Franco Causio (ITA) ↑
(Imagem: O Globo)
Melhores momentos da partida, na narração de Luciano do Valle:
Três pontos sobre… … 10/07/1994 – Bulgária 2 x 1 Alemanha
(Imagem: Getty Images)
● Recém unificada, a Alemanha vinha de três finais de Copa do Mundo consecutivas (1982, 1986 e 1990) e chegou ao Mundial de 1994 com um time ainda melhor do que o campeão quatro anos antes. O técnico era Berti Vogts, que havia sido auxiliar de Franz Beckenbauer entre 1986 e 1990. O time base era praticamente o mesmo, reforçado com atletas que vinham da antiga Alemanha Oriental, como o meio campo Matthias Sammer e o centroavante Ulf Kirsten. Com isso, os alemães eram os maiores favoritos à conquista da Copa, ao lado de Brasil e Argentina.
O bom goleiro Bodo Illgner era garantia de segurança na meta. A defesa tinha Jürgen Kohler, com o craque Lothar Matthäus jogando como líbero. Thomas Helmer e Guido Buchwald se revezavam nas posições de zagueiro e volante. O interminável Thomas Berthold jogava pela direita e Martin Wagner era o ala pela esquerda. O rápido e criativo Thomas Häßler era o armador pela direita e o habilidoso Andreas Möller era o meia pela esquerda – diante dos búlgaros, eles inverteram a posição. O ataque era o mesmo de 1990: o oportunista Jürgen Klinsmann e o matador Rudi Völler. No banco, destaques para o jovem goleiro Oliver Kahn, veterano Andreas Brehme e o artilheiro Karl-Heinz Riedle.
Na estreia, uma frustrante vitória por um magro 1 x 0 sobre a frágil Bolívia começou a levantar suspeitas sobre a capacidade dos alemães. E tudo ficou ainda pior depois do empate em 1 x 1 com a mediana seleção da Espanha. Na terceira partida, a Mannschaft estava vencendo a Coreia do Sul por 3 x 0 e deixou os asiáticos diminuírem para 3 x 2. Nesse jogo, os germânicos suaram frio para manter a vitória, apesar dos 46º C – a maior temperatura já registrada em um jogo de Copa. Aos 30′ do segundo tempo dessa partida, o meia Stefan Effenberg foi substituído e mostrou o “dedo médio” para os torcedores que o cobriam de vaias. No dia seguinte, Vogts expulsou o meia da delegação. Nas oitavas de final, venceu a Bélgica por 3 x 2, com a dupla de ataque sendo decisiva, com dois gols de Völler e um de Klinsmann. O favoritismo era enorme diante dos búlgaros.
(Imagem: Getty Images)
● Na época, a Bulgária ocupava a obscura 31º colocação no ranking da FIFA. Se qualificou em segundo lugar no grupo 6 das eliminatórias europeias, um ponto atrás da Suécia. A classificação veio em uma vitória de virada sobre a França em pleno estádio Parc des Princes. Eric Cantona abriu o placar, mas Emil Kostadinov marcou dois gols, sendo o segundo no último lance da partida. O milagre búlgaro começava em Paris.
Os Demônios da Europa (apelido da seleção búlgara) viajaram aos Estados Unidos com o melhor elenco de sua história. O goleiro era o experiente capitão Borislav Mikhailov. No miolo de zaga, Petar Hubchev era o escudeiro do lendário Trifon Ivanov, o “Lobo Búlgaro”. Na lateral direita, Iliyan Kiryakov ganhou a vaga do ex-titular Emil Kremenliev. Tsanko Tsvetanov era o lateral esquerdo. Zlatko Yankov era o único volante do time. A criatividade ficava por conta dos meias Yordan Letchkov e Krasimir Balakov. O ataque tinha Nasko Sirakov pelo centro, sempre se movimentando para abrir espaços para Emil Kostadinov pela direita e para o genial Hristo Stoichkov pela esquerda. No banco, destaque para os meias Daniel Borimirov e Ivaylo Yordanov. A ausência sentida era do atacante Lyuboslav Penev, que havia marcado três gols nas eliminatórias, mas precisou se afastar do futebol no início de 1994 após descobrir um câncer no testículo (ele retomaria a carreira com sucesso meses depois).
Mesmo com uma boa equipe, os búlgaros chegavam ao Mundial com um retrospecto desolador. Em cinco participações anteriores e 16 partidas disputadas, a Bulgária nunca tinha vencido um único jogo em Copas do Mundo (10 derrotas e 6 empates). Nada dizia que seria diferente em 1994, ao ser goleada logo na estreia pela Nigéria por 3 a 0. Mas a partir do segundo jogo, tudo mudou. Vitórias sobre a Grécia por 4 x 0 e Argentina (já sem Maradona) por 2 x 0 garantiram os balcânicos na segunda colocação do Grupo D. Nas oitavas de final, empatou com o México no tempo normal por 1 x 1 e venceu por 3 x 1 na decisão por pênaltis, quando o goleiro Mikhailov defendeu duas cobranças para dar a vaga nas quartas de final ao seu país, onde enfrentaria a favoritíssima Alemanha.
(Imagem: Twitter @FIFAWorldCup)
● Mas, pelo que ambos vinham jogando, uma vitória búlgara não seria a maior zebra do mundo. A seleção treinada pelo ex-zagueiro Dimitar Penev estava em evolução. E o favoritismo dos alemães era apenas pelo histórico, pelos jogadores mais renomados e pela “Mentalität” – a mentalidade vencedora natural e própria dos alemães, um conceito da pseudociência protonazista da superioridade do estado mental alemão, que foi amplamente utilizado pelos técnicos do futebol do país para conseguirem fazer seu time se sobressair nas maiores vitórias de sua história, especialmente por Sepp Herberger diante da Hungria em 1954 e por Helmut Schön diante da Holanda em 1974.
Mas a Alemanha chegava cheia de problemas para a partida, principalmente no meio de campo. Effenberg já não estava mais no elenco. Mário Basler havia pedido dispensa para cuidar da esposa que vivia complicações na gravidez. Matthias Sammer estava sofrendo com lesões (como quase sempre). Assim, Berti Vogts precisou apostar na recuperação física de Lothar Matthäus e pelo fim do imbróglio contratual de Thomas Häßler com a Roma.
Pelo lado búlgaro, o elenco comemorava uma vitória fora do campo. Depois de uma longa queda de braço, os dirigentes da federação do país aceitaram pagar um prêmio de US$ 15 mil a cada jogador em caso de vitória sobre a Alemanha. “O assunto está resolvido. Domingo, vamos vencer”, assegurava o otimista Hristo Stoichkov.
A Bulgária jogava em um misto de 4-4-2 (quando se defendia) e 4-3-3 (quando atacava).
A Alemanha jogava em seu tradicional 3-5-2, com Matthäus como líbero.
● A partida ocorreu no Giants Stadium, em East Rutherford, mesmo palco em que a Bulgária havia eliminado o México cinco dias antes.
A Bulgária começou a partida de forma mais cautelosa, na defesa. E a Alemanha não conseguiu criar nenhuma chance clara nos primeiros minutos. Era um duelo equilibrado. Mas aos poucos os dois times foram se soltando.
O primeiro lance de perigo foi quando Stoichkov invadiu a área pela direita e rolou para trás, mas Balakov acertou o pé da trave.
Mas os alemães responderam à altura com ataques verticais. Häßler bateu de longe e Mikhailov segurou com tranquilidade.
Häßler jogou muita bola naquele dia. Ele cruzou da direita e Klinsmann finalizou com um peixinho à queima-roupa que Mikhailov defendeu em cima da linha.
Klinsmann ganhou uma dividida e tocou para Völler, que deixou Ivanov sentado após um drible e chutou fraco para fora.
Illgner saiu jogando com Möller, que tocou para Buchwald, que deixou com Matthäus. Da linha central, o camisa 10 fez um lançamento preciso para a grande área. Klinsmann virou batendo bonito, mas a bola foi por cima do gol.
Nos primeiros 45 minutos, os alemães tiveram uma ligeira superioridade, mas o placar se mantinha zerado. Mas tudo mudou na volta do intervalo.
Logo no primeiro lance do segundo tempo, Wagner fez o lançamento de sua intermediária, Buchwald ganhou de cabeça de Ivanov e Klinsmann dominou dentro da área. Esperto, ele esperou o contato de Letchkov e se jogou. O árbitro colombiano José Torres Cadena marcou a penalidade. Lothar Matthäus bateu com categoria. Ele esperou Mikhailov pular para o lado direito e bateu firme à meia altura no canto esquerdo. Alemanha, 1 a 0.
Mas, apenas seis minutos depois, o ala esquerdo Martin Wagner sofreu um choque de cabeça, ficou desacordado e teve que sair para a entrada de Thomas Strunz. Wagner estava muito bem na partida e sua saída desestruturou a defesa alemã e deixou o meio campo mais lento.
Com isso, liderada por Balakov, a Bulgária passou a coordenar as ações no meio e a jogar no campo de ataque.
Mesmo com a pressão búlgara, a Alemanha teve chances de matar a partida antes da metade do segundo tempo.
Häßler deu um belo chute de fora da área e Mikhailov salvou com a ponta dos dedos.
Aos 28′, Thomas Häßler – sempre ele – dominou pela ponta esquerda, cortou para o meio e tocou para Möller. Da entrada da área, o camisa 7 chutou na trave. Na sobra, Völler dominou e bateu para o gol vazio, mas a arbitragem já havia sinalizado o impedimento do centroavante alemão.
(Imagem: Rick Stewart / All Sport)
Assim como nas partidas anteriores, os alemães sofreram muito com o calor do meio-dia e pregaram no segundo tempo. E, como diz aquele velho ditado: “Quem não faz…”
Yankov abriu na direita com Kiryakov, que cruzou. A bola desviou em Thomas Strunz e foi pela linha de fundo. Balakov bateu o córner e Buchwald escorou de cabeça para fora da área. Stoichkov dominou de costas e cavou a falta, após receber o contato de Möller. A bola estava posicionada um pouco à direita da meia lua, em lugar perfeito para a canhota calibrada do camisa 8. Hristo Stoichkov bateu com perfeição e a bola encobriu a barreira. Bodo Illgner nem se mexeu. Era o merecido empate, a quinze minutos do fim.
“Na hora em que ajeitei a bola para bater a falta, me lembrei que era o dia do aniversário da minha filha, Michaela. Ela está fazendo seis anos e, em questão de segundos, pensei que um gol seria uma grande lembrança para ela ter em sua vida. Aí me concentrei e chutei. Não houve nada de especial. A bola simplesmente foi direto para o gol.” ― Hristo Stoichkov
A mãe do astro do Barcelona teve um princípio de infarto ao assistir pela TV o golaço do filho.
A Bulgária se empolgou com o empate e continuou no ataque. E a virada veio três minutos depois.
Möller errou o passe no campo de ataque. Sirakov interceptou e abriu na ponta direita para Kostadinov, mas Matthäus estava na marcação e mandou pela linha de fundo. Balakov novamente bateu o escanteio e Matthäus escorou para a linha lateral. Kiryakov cobrou rápido para Kostadinov, que devolveu. Kiryakov viu a aproximação de Yankov e deixou com o volante, que cortou a marcação de Berthold e cruzou para a área. Yordan Letchkov apareceu como um raio, ganhou no alto do baixinho Häßler e meteu a careca na bola, que encobriu o goleiro Illgner. Lechkov jogava no Hamburgo, da Alemanha, e recebeu ameaças de morte após voltar ao país.
Berti Vogts ainda tentou apelar para a estrela do veterano Andreas Brehme, mas não teve sucesso.
Dimitar Penev foi suicida e tirou seus dois atacantes Stoichkov e Kostadinov para a entrada de Yordanov (meia) e Boncho Genchev (zagueiro). O treinador búlgaro apostou em fechar os espaços, mas estaria sem poder de fogo em uma eventual prorrogação – que não ocorreu.
A Alemanha ainda pressionou, mas a Bulgária resistiu firme e garantiu a inédita classificação para as semifinais.
Nos últimos instantes do jogo, Brehme cruzou da esquerda e Rudi Völler tentou imitar Maradona fazendo um gol de mão, mas não foi tão discreto e acabou recebendo um cartão amarelo muito bem aplicado.
(Imagem: Pinterest)
● A Alemanha estava fora da Copa. O futebol búlgaro já não era mais zebra e tinha que ser respeitado.
A festa na capital Sófia foi enorme, com milhares de pessoas nas ruas para comemorar a maior vitória da história do país no futebol.
“Há um Cristo no céu e um Hristo na terra.” ― Hristo Stoichkov
“É justo a equipe jogar em torno de mim. Sou o melhor do time.” ― Hristo Stoichkov
“No início do jogo contra a Alemanha, o time estava psicologicamente bem, muito calmo e com a mente aberta, porque não tínhamos nada a perder, só a ganhar. E, no final, ganhamos.” ― Krasimir Balakov
Nessa partida, Lothar Matthäus completou 21 partidas em Copas do Mundo, se igualando ao polonês Władysław Żmuda e ao argentino Diego Armando Maradona. Na Copa de 1998, Matthäus chegaria a 25 jogos e é o recordista até hoje. O alemão Miroslav Klose tem 24 partidas e o italiano Paolo Maldini tem 23, logo na sequência.
O goleiro e capitão búlgaro Borislav Mikhailov era conhecido por utilizar uma peruca durante os jogos. Ele havia prometido que se a Bulgária passasse pela Itália na semifinal, jogaria sua peruca para a torcida na comemoração. Mas o sonho búlgaro ruiu diante de um iluminado Roberto Baggio e a Itália venceu por 2 x 1. Na decisão do 3º lugar, a desmotivada Bulgária perdeu para a Suécia por 4 x 0. Mas já tinha superado as expectativas até dos mais otimistas e entrado para a história como uma das seleções mais adoradas dos últimos tempos pelos amantes do futebol.
Três pontos sobre… … 08/07/1982 – Alemanha Ocidental 3 x 3 França
“A noite de Sevilha”
(Imagem: Pinterest)
● Depois da Seleção Brasileira, era a França quem tinha o futebol mais encantador do planeta. Les Bleus voltavam à uma semifinal após 1958. O destaque era o meio campo, com os “Três Mosqueteiros” franceses, que, como no livro, também eram quatro: Bernard Genghini, Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini. Um meio campo leve, habilidoso, de ótimo toque de bola e visão de jogo. No ataque, dois pontas de origem, Didier Six e Dominique Rocheteau, abriam espaço nas defesas adversárias para o avanço dos meias.
Desde 1979, Michel Platini e Jean-François Larios eram companheiros de clube no Saint-Étienne e se tornaram bons amigos. Platini era casado com Christelle Bigoni desde 1977 – uma loira linda, muito atraente e de olhos azuis. Aconteceu de Larios ter um caso com a esposa de Platini e o assunto ter explodido às vésperas da derrota da França para a Inglaterra por 3 x 1 na estreia. Depois de todo o alvoroço feito pela imprensa, Platini deu o ultimato ao técnico Michel Hidalgo para que escolhesse entre um e outro. O treinador não tinha como fazer diferente e optou por manter seu capitão e camisa 10.
Sem Larios, a França goleou o Kuwait por 4 x 1 do técnico Carlos Alberto Parreira – em jogo em que um xeique do país árabe invadiu o campo e obrigou o árbitro a anular um gol legítimo dos gauleses. Na sequência, a França empatou com a Tchecoslováquia por 1 x 1 e se classificou em segundo lugar no Grupo D. A segunda fase foi mais tranquila. Venceu a Áustria por 1 x 0 e a Irlanda do Norte por 4 x 1. Nas semifinais, enfrentaria a Alemanha Ocidental.
A Alemanha Ocidental perdeu por 2 x 1 na estreia para a surpreendente Argélia, de Rabah Madjer e Lakhdar Belloumi. Se recuperou na rodada seguinte ao bater o Chile por 4 x 1. Na terceira partida, protagonizou o jogo mais vergonhoso da história das Copas, um jogo de compadres, ao vencer a Áustria por 1 x 0, no único placar possível para classificar as duas seleções e eliminar os argelinos. Essa partida ficou conhecida como “Jogo da Vergonha” ou “A Vergonha de Gijón”. Na fase seguinte, venceu a Espanha, dona da casa, por 2 x 1 e empatou sem gols com a Inglaterra. Foi o suficiente para se garantir entre os quatro primeiros do Mundial pela sétima vez em sua história.
A Alemanha Ocidental do técnico Jupp Derwall atuava em um falso 4-4-2 em um misto de 3-5-2. O lateral esquerdo Bernd Förster fazia o papel de um terceiro zagueiro, a fim de liberar o outro lateral, Kaltz, que apoiava um pouquinho mais pela direita, fazendo o contra-peso do meia esquerda Briegel. Paul Breitner era o “todo-campista” indo de área a área. Dremmler marcava para Magath armar as jogadas para o ponta Littbarski e o centroavante Klaus Fischer.
Treinada por Michel Hidalgo, a França atuava no sistema tático 4-4-2. O destaque era seu quarteto de meio campo, com muita qualidade técnica: Ghengini, Tigana, Giresse e Platini.
● Eleito pela revista France Football o Bola de Ouro como melhor jogador da Europa em 1980 e 1981, o craque alemão Karl-Heinz Rummenigge estava em más condições físicas e, por isso, começou no banco de reservas. A França colocou em campo o que tinha de melhor.
A Alemanha começou melhor e partiu logo para o ataque, com a intenção de marcar um gol logo e se fechar. Mas o primeiro chute a gol foi dos franceses, aos cinco minutos de jogo, mas o chute de Giresse foi para fora.
Em sua primeira Copa, Pierre Littbarski era o mais acionado no ataque alemão. Único remanescente da Copa de 1974, Paul Breitner era o líder no meio de campo. O líbero Uli Stielike comandava a defesa teutônica.
Três minutos depois, Littbarski cobrou uma falta e a bola bateu na trave.
Depois, Rocheteau ajeitou com o peito e Genghini chutou por cima.
A Alemanha Ocidental abriu o placar aos dezessete minutos. Paul Breitner recebeu a bola de Wolfgang Dremmler no meio entre três franceses e avançou e tocou para Klaus Fischer. O goleiro francês Jean-Luc Ettori saiu da meta e defendeu, mas a bola sobrou na linha da grande área para Littbarski emendar forte e rasteiro para o gol.
Aos 21′, Platini cabeceou para fora.
Seis minutos depois, Manfred Kaltz (capitão na ausência de Rummenigge) derrubou Genghini. Giresse cobrou a falta, Platini desviou de cabeça e Bernd Förster derrubou Rocheteau dentro da área. Platini bateu o pênalti com frieza, no canto direito do goleiro Harald Schumacher, que caiu para o lado esquerdo.
(Imagem: UOL)
Com o passar do tempo, o jogo foi ficando mais pegado. Manuel Amoros e Littbarski se estranharam. Dremmler derrubou Tigana em um lance em que mereceria pelo menos o cartão amarelo. Depois, Schumacher deixou o corpo em uma dividida com Platini. Mais adiante, Bernd Förster acertou as costas de Rocheteau com o joelho em um lance fora da área. Schumacher trombou com Six e deu um bruto empurrão no atacante francês.
Em uma partida com tanto contato físico, os alemães acabavam levando vantagem. O time francês era leve, sem nenhum volante de ofício. Giresse e Genghini foram obrigados a se desdobrarem na marcação e receberam cartão amarelo.
O jogo continuava aberto. Em um contra-ataque, Rocheteau serviu Platini, que não conseguiu virar o jogo.
Depois, o tanque Hans-Peter Briegel surgiu na área e finalizou de primeira, mas viu Ettori espalmar pela linha de fundo.
Ainda no primeiro tempo, o perigoso Littbarski cabeceou a queima-roupa depois de um cruzamento da direita.
No fim do primeiro tempo Platini chutou de primeira de fora da área, mas a bola foi pela linha de fundo.
Na volta do intervalo, o técnico Michel Hidalgo já pensava em dar mais mobilidade a seu time e mandou Patrick Battiston ir para o aquecimento. E ele entrou aos sete minutos no lugar de Genghini.
No início do segundo tempo, Rocheteau ganhou de Schumacher e fez o gol, mas o árbitro anulou por falta do gaulês.
Platini e Battiston chutaram por cima. A França estava mais perto do gol.
(Imagem: UOL)
● Um lance decisivo para os rumos da partida aconteceu aos doze minutos do segundo tempo.
Maxime Bossis roubou a bola de Dremmler e deixou com Platini na meia direita. O camisa 10 lançou para Battiston nas costas da defesa germânica, entre o goleiro Schumacher e o líbero Stielike. O volante francês chegou primeiro para tocar de esquerda na saída do goleiro alemão, mas a bola foi para fora. Schumacher tinha saído do gol com uma fúria desproporcional e voou com tudo para cima do francês, sem se importar com a bola e acertou o quadril no rosto de Battiston. Proposital ou não, o goleiro alemão levou o francês a nocaute. Desmaiado em campo, ficou desacordado por quase 30 minutos.
Atônito, Platini acompanhou Battiston até fora do campo e pensou que o colega havia morrido: “Não tinha pulso, estava pálido…”
De forma absurda e ridícula, o árbitro holandês Charles Corver não viu a falta e deixou o jogo seguir, não expulsou o goleiro alemão pela agressão e ainda demorou um longo tempo para permitir a entrada da maca.
E Schumacher observava tudo de longe, mascando um chiclete, como se não tivesse feito nada, querendo cobrar logo o tiro de meta. Tudo isso enquanto Battiston é atendido pela equipe médica com direito a balão de oxigênio. Foi necessário colocar uma rampa sobre o fosso para que a ambulância conseguisse entrar próxima ao gramado.
Levado ao hospital, Battiston entraria em coma, mas se recuperaria logo. Ele sofreu uma concussão, teve dois dentes quebrados, três costelas fraturadas, algumas vértebras danificadas e permaneceu seis meses sem jogar após o episódio. Vinte e cinco anos mais tarde, ele passou por um transplante de osso na mandíbula. E não parou de sofrer e de passar por cirurgias.
Quando disseram a Schumacher que o francês tinha perdido dois dentes, o alemão aumentou ainda mais o ódio do mundo contra ele ao dizer: “Se é só isso que está errado com ele digam-lhe que pago as coroas”. Um jornal francês fez uma enquete poucos dias depois e o resultado deixava claro o que pensavam: o goleiro era o segundo alemão mais odiado da história, atrás apenas de Adolf Hitler.
Anos depois, Schumacher se defendeu em sua autobiografia “Anpfiff” (“Apito”, em alemão), dizendo que não se aproximou para ver o estado de Battiston porque o francês estava rodeado de colegas que lhe faziam gestos ameaçadores.
“Pediu desculpa, perdoei, mas não quero falar mais disso. Não quero me encontrar com ele. Senti que ao longo dos anos ele ficou marcado por isso, mas acabou. Passou. Foi um acidente em campo, nunca saberemos se foi propositado ou não.” ― Patrick Battiston, anos depois.
E Battiston, que havia acabado de entrar, teve que sair dez minutos depois para a entrada de Christián López.
(Imagem: Mais Futebol)
● E depois de uma queda após o atendimento a Battiston, o ritmo do jogo voltou a acelerar. Aos 27′, o pouco inspirado Felix Magath deu lugar a Hrubesch, “Das Kopfball-Ungeheuer” (“A Besta Cabeceadora”).
López anhou no alto de Schumacher, mas mandou por cima.
Aos 35′, Six chutou e Schumacher pegou.
A Alemanha respondeu, com Ettori pegando o chute de Briegel.
Fischer e Littbarski cruzaram com perigo, mas sem ninguém para aproveitar.
Rocheteau chutou com perigo, mas Schumacher evitou o gol.
Com o tempo regulamentar próximo do fim, o jogo estava aberto. Os franceses controlavam o ritmo e os alemães investiam em ataques em velocidade.
Aos 45′ do segundo tempo, Amoros chutou de fora da área e a bola foi no travessão.
Breitner também chutou de fora da área, Ettori espalmou para o lado e mergulhou para evitar o rebote de Fischer. Uma defesaça!
(Imagem: Pinterest)
● Na prorrogação o jogo pegou fogo de vez.
Logo no segundo minuto do tempo extra, Didier Six cobrou escanteio e a defesa alemã tirou. Platini ficou com o rebote na ponta direita e foi derrubado por Hans-Peter Briegel. Giresse cobrou a falta, a bola desviou na barreira e sobrou na marca do pênalti, na medida para Marius Trésor emendar um voleio indefensável para o gol.
Littbarski, um dos melhores em campo, chutou e Ettori pegou.
Até os alemães estavam torcendo para a França. Mas se Schumacher era o vilão, Karl-Heinz Rummenigge era o anti-herói. Mesmo em más condições físicas, Rummenigge foi para o jogo aos sete minutos e seria decisivo. O melhor jogador do mundo no ano anterior era o único capaz de carregar sua equipe mesmo sem estar no seu melhor. Mas antes, veria a Mannschaft tomar o terceiro gol.
No minuto seguinte, Dominique Rocheteau puxou contragolpe pela direita. Da meia-lua, Platini viu Didier Six sozinho na esquerda da área. Ele segurou, percebeu a aproximação de Giresse e rolou para o baixinho emendar bonito, da risca da grande área. A bola ainda bateu na trave antes de ir morrer no fundo das redes.
Sem sorte, a Alemanha respondeu com um chute na trave de Fischer.
Aos 12′, Uli Stielike ganhou uma dividida com Bossis. Rummenigge passou para Littbarski na esquerda, recebeu de volta e deixou para Stielike abrir de novo para Littbarski invadir a área e cruzar da esquerda. Rummenigge se antecipou à marcação de Trésor e desviou de costas para o gol.
A presença de Rummenigge desorientava a defesa francesa. Aos três minutos do segundo tempo, o craque tocou de três dedos para Bernd Förster, que abriu na esquerda para Littbarski. O ponta alemão continuava impressionante. Ele foi à linha de fundo e cruzou da esquerda para a segunda trave. Hrubesch subiu e escorou de cabeça para a entrada da pequena área e Klaus Fischer virou uma linda bicicleta e mandou para o gol.
O jogo continuou intenso até o apito final, mas sem grandes chances de nenhum lado.
E assim foi necessária a primeira decisão por pênalti da história dos Mundiais.
(Imagem: These Football Times)
● Tudo igual em 120 minutos e a partida foi decidida nos pênaltis.
A França bateu o primeiro. Giresse pôs o time na frente, batendo rasteiro à direita, deslocando Schumacher.
Manfred Kaltz empatou, cobrando à esquerda, quase no meio do gol. Ettori caiu para o lado direito.
Manuel Amoros cobrou com calma, à meia altura e à esquerda, enquando o goleiro alemão foi para o outro canto.
Paul Breitner mandou alto e no meio do gol. Ettori foi surpreendido e ficou parado, sem reação.
Rocheteau foi o cobrador seguinte. Bateu à esquerda, deslocando o arqueiro alemão.
Uli Stielike, jogador do Real Madrid, bateu mal, à meia altura e à direita e o goleiro Ettori defendeu. O alemão se ajoelhou e chorou, até ser conduzido por Littbarski para receber o consolo dos demais colegas de equipe.
Mas Didier Six retribuiu e bateu da mesma forma e Schumacher pegou.
Littbarski empatou em 3 a 3. Ele mandou no ângulo esquerdo, sem chances para o goleiro.
Platini converteu o seu, batendo à esquerda, enquanto o arqueiro alemão pulou para o lado contrário.
Rummenigge bateu rasteiro à esquerda e o goleiro ficou parado.
Maxime Bossis foi um dos melhores em campo e foi um dos grandes defensores de sua geração. Ele foi o primeiro a bater nas cobranças alternadas. Chutou rasteiro e à direita, mas Schumacher voou para pegar. O goleiro que deveria ter sido expulso e banido do esporte por um longo tempo era o vilão do futebol e o heróis dos alemães.
Com uma frieza incrível, Horst Hrubesch bateu no canto esquerdo e Ettori ficou parado no meio. Gol da classificação: 5 a 4 para a Alemanha Ocidental. Com a vitória, todos vão comemorar com Stielike, que ainda estava desolado.
(Imagem: Mais Futebol)
● Uma partida dramática, uma das maiores semifinais da história das Copas.
A Nationalelf se garantia em mais uma decisão de Mundial, enquanto os franceses estavam inconsoláveis. Uma das derrotas mais doídas numa semifinal de Copa do Mundo.
“Foi meu jogo mais bonito. O que aconteceu naquelas duas horas reuniu todos os sentimentos da própria vida. Nenhum filme, nenhuma peça, conseguiria capturar tantas contradições e emoções. Foi completo. Tão forte. Fabuloso.” ― Michel Platini
Na decisão do 3º lugar, a França perdeu para a Polônia por 3 x 2. Mas dois anos depois, Michel Platini estava exuberante e liderou Les Bleus na conquista da Eurocopa de 1984. Na Copa do Mundo de 1986, a França eliminou o Brasil e chegou novamente às semifinais, mas caiu mais uma vez diante da Alemanha Ocidental. Ficou em 3º lugar ao bater a Bélgica por 4 x 2 na prorrogação. O título mundial só veio em 1998, na geração comandada por Zinedine Zidane.
Em quatro decisões por pênaltis somando todos os Mundiais, a Alemanha sempre foi vencedora. Incrivelmente, a cobrança de Uli Stielike contra a França em 1982 é a única penalidade perdida até hoje pela Alemanha nesse tipo de disputa.
Na final, a Alemanha Ocidental enfrentaria a Itália. Contaremos a história dessa partida no dia 11 de julho.
(Imagem: Getty Images)
● FICHA TÉCNICA:
ALEMANHA OCIDENTAL 3 x 3 FRANÇA
Data: 08/07/1982
Horário: 21h00 locais
Estádio: Ramón Sánchez Pizjuán
Público: 70.000
Cidade: Sevilha (Espanha)
Árbitro: Charles Corver (Holanda)
ALEMANHA OCIDENTAL (4-4-2):
FRANÇA (4-4-2):
1 Harald Schumacher (G)
22 Jean-Luc Ettori (G)
20 Manfred Kaltz (C)
4 MaximeBossis
4KarlheinzFörster
8 MariusTrésor
15 UliStielike
5 GérardJanvion
5BerndFörster
2 ManuelAmoros
6WolfgangDremmler
9BernardGenghini
2Hans-Peter Briegel
14 Jean Tigana
3Paul Breitner
12 Alain Giresse
14 Felix Magath
10 Michel Platini (C)
7PierreLittbarski
18 Dominique Rocheteau
8Klaus Fischer
19 Didier Six
Técnico: JuppDerwall
Técnico: Michel Hidalgo
SUPLENTES:
21 BerndFranke (G)
1DominiqueBaratelli (G)
22 Eike Immel (G)
21 Jean Castaneda (G)
12 Wilfried Hannes
3PatrickBattiston
19 HolgerHieronymus
6Christian Lopez
17 Stephan Engels
7PhilippeMahut
18 Lothar Matthäus
11 René Girard
10 Hansi Müller
13 Jean-François Larios
13 Uwe Reinders
15 Bruno Bellone
16 Thomas Allofs
16 Alain Couriol
9HorstHrubesch
17 Bernard Lacombe
11 Karl-Heinz Rummenigge
20 Gérard Soler
GOLS:
17′ Pierre Littbarski (ALE)
27′ Michel Platini (FRA) (pen)
92′ MariusTrésor (FRA)
98′ Alain Giresse (FRA)
102′ Karl-Heinz Rummenigge (ALE)
108′ Klaus Fischer (ALE)
CARTÕES AMARELOS:
35′ Alain Giresse (FRA)
40′ Bernard Genghini (FRA)
46′ BerndFörster (ALE)
SUBSTITUIÇÕES:
50′ Bernard Genghini (FRA) ↓
Patrick Battiston (FRA) ↑
60′ Patrick Battiston (FRA) ↓
Christian Lopez (FRA) ↑
73′ Felix Magath (ALE) ↓
Horst Hrubesch (ALE) ↑
97′ Hans-Peter Briegel (ALE) ↓
Karl-Heinz Rummenigge (ALE) ↑
DECISÃO POR PÊNALTIS:
ALEMANHA 5
FRANÇA 4
Manfred Kaltz (gol, no meio do gol)
Alain Giresse (gol, à direita)
Paul Breitner (gol, alto, no meio do gol)
Manuel Amoros (gol, à esquerda)
UliStielike (perdeu, à direita, defendido por Ettori)
Dominique Rocheteau (gol, à esquerda)
Pierre Littbarski (gol, no ângulo esquerdo)
Didier Six (perdeu, à direita, defendido por Schumacher)
Karl-Heinz Rummenigge (gol, com curva, no canto esquerdo)
Michel Platini (gol, no canto esquerdo)
Horst Hrubesch (gol, à esquerda)
Maxime Bossis (perdeu, à direita, defendido por Schumacher)
Gols da partida (Rede Globo):
Melhores momentos (FIFA):
Reportagem e entrevistas com Schumacher e Battiston (FIFA):
Três pontos sobre… … 03/07/2010 – Alemanha 4 x 0 Argentina
(Imagem: UOL)
● Alemanha e Argentina haviam se enfrentado nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006 e o jogo terminou em discussão e pancadaria, após a vitória germânica nos pênaltis. Na África do sul, se encontravam novamente nas quartas de final e vários personagens se repetiam, mas eram outros times em relação a quatro anos antes.
Em busca de encerrar a fila de 24 anos sem o título mundial, a Argentina juntou seus dois maiores nomes em todos os tempos: Lionel Messi em campo e Diego Armando Maradona como técnico. Treinando a seleção albiceleste desde outubro de 2008, Don Diego esperava transferir seu status de divindade a Messi, que ainda não havia feito uma grande competição com a camisa da seleção. Em 2009, Messi tinha sido eleito o melhor jogador do mundo pela primeira vez e estava chegando em seu auge técnico, treinado por Pep Guardiola no Barcelona.
Entre os 23 nomes convocados, alguns nomes de confiança de Maradona, como os veteraníssimos Juan Sebastián Verón (35 anos) e Martín Palermo (38). Mas outros homes históricos foram deixados de fora, como Javier Zanetti, Esteban Cambiasso e Juan Román Riquelme.
A defesa do goleiro Sergio Romero jogava em linha e era composta por Nicolás Otamendi, Martín Demichelis, Nicolás Burdisso e Gabriel Heinze, sem os avanços dos laterais. No meio, o capitão Javier Mascherano fazia a proteção, enquanto Maxi Rodríguez era o meia pela direita e Ángel Di María era seu espelho pela esquerda. Lionel Messi era o enganche, responsável pela criação das jogadas para a dupla de ataque, composta por Carlos Tevez e Gonzalo Higuaín. No banco, contava com ótimas opções do meio para frente, especialmente Kun Agüero (genro do treinador) e Diego Milito (em fase esplendorosa na Inter de Milão).
Na primeira fase, a Argentina enfrentou a Nigéria (como sempre) e venceu por 1 x 0. Na segunda partida, goleada sobre a Coreia do Sul por 4 x 1, com direito a um “hat trick” de Huguaín. No terceiro jogo, bateu a Grécia por 2 x 0. Nas oitavas de final, sofreu um pouco, mas venceu o México por 3 x 1.
(Imagem: BBC)
● O técnico Joachim Löw substituiu Jürgen Klinsmann em 2006 e levou a Alemanha ao vice-campeonato da Eurocopa dois anos depois, ganhando prestígio no país. Mas o comandante tinha vários desfalques de última hora para a disputa do Mundial. O zagueiro Heiko Westermann era cotado como titular, mas se machucou em um amistoso pouco antes de o técnico definir a lista dos 23 convocados.
Löw também não pôde contar com seus dois goleiros principais. Robert Enke seria o número 1, mas foi acometido de uma depressão e cometeu suicídio em novembro do ano anterior. René Adler quebrou as costelas às vésperas da convocação. Com isso, fram convocados Manuel Neuer (então no Schalke 04), Tim Wiese (que se tornaria fisiculturista e lutador de Wrestling tempos depois) e o veterano Hans-Jörg Butt, de 36 anos.
Mas a pior perda foi a do capitão Michael Ballack. Ele se contundiu dia 16 de maio, ao sofrer uma pancada no tornozelo desferida por Kevin-Prince Boateng. Prince é nascido na Alemanha, mas optou por representar a seleção de Gana (país de origem de seus pais). Na final da Copa da Inglaterra, ele atuava no Portsmouth e havia levado um tapa na cara de Ballack, do Chelsea, resolvendo revidar com a entrada dura. Curiosamente, essa lesão que afastou Ballack abriu espaço para a convocação de seu irmão Jérôme Boateng. Ao contrário de Prince, Jérôme optou por defender a seleção alemã e eles se tornariam os primeiros irmãos a se enfrentarem em uma Copa do Mundo, na terceira partida da primeira fase de 2010.
A defesa contava com o capitão Philipp Lahm e Jérôme Boateng nas laterais e o miolo de zaga tinha os lentos e experientes Per Mertesacker e Arne Friedrich. Com a perda de Ballack, o renovado meio campo contava com Sami Khedira e Bastian Schweinsteiger fazendo o balanço defensivo para a criação de Mesut Özil. Thomas Müller e Łukas Podolski eram os pontas e o inoxidável Miroslav Klose era o principal responsável pelos gols. No banco, destaques para o ainda jovem Toni Kroos, o meia Piotr Trochowski (que sempre entrava durante os jogos), além dos atacantes Mario Gómez e Cacau (nascido no Brasil).
Na fase de grupos, a Alemanha goleou a Austrália por 4 x 0 na estreia. Depois, perdeu para a Sérvia por 1 x 0 e venceu Gana pelo mesmo placar. Nas oitavas, a Alemanha se vingou de 1966 e goleou a Inglaterra por 4 x 1.
Joachim Löw armou a Alemanha no sistema 4-2-3-1.
Maradona escalou a Argentina no 4-3-1-2, com Messi fazendo o papel de “enganche”.
● As duas equipes haviam se enfrentado quatro meses antes em um amistoso, com vitória argentina por 1 x 0, com gol de Higuaín em passe de Di María. Felizmente a troca de provocações na véspera do jogo não se refletiu em campo.
A Alemanha queria decidir logo a sua sorte e armou uma “blitzkrieg” (“guerra relâmpago”). E conseguiu ser recompensada ao abrir o placar logo aos três minutos de partida. Schweinsteiger cobrou falta do bico esquerdo da área e Thomas Müller se antecipou a marcação de Otamendi para cabecear para o fundo das redes, contando com o mau posicionamento do goleiro argentino Romero.
A partir daí, o que se viu foi os sul-americanos tentarem ir à frente na base do talento individual, mas não conseguindo passar pela barreira defensiva alemã.
Aos 22′, Messi criou a jogada para Tevez, mas Neuer se antecipou para ficar com a bola.
Dois minutos depois, os germânicos deram o troco. Müller avançou pela direita e tocou para a marca do pênalti, mas Klose finalizou por cima.
Aos 32 min, Tevez puxou contragolpe e tocou para Di María, que invadiu a área e chutou fraco para a defesa de Neuer.
Com 55% de posse de bola, a Argentina até tentava criar, mas não conseguia finalizar com perigo. A Alemanha recuou demais e chegou a temer pelo empate.
(Imagem: Globo Esporte)
Aos três minutos do segundo tempo, Di María chutou da intermediária e a bola passou raspando à trave direita do arqueiro alemão.
Pecando muito nas finalizações, a Argentina tentava atacar desordenadamente e cedia espaços em sua defesa. Bastian Schweinsteiger era um monstro no meio de campo e a marcação sob pressão dos europeus encurtava os espaços e não deixava Messi se criar. O time argentino não tinha comando e a Alemanha explorava a fragilidade da marcação adversária. Mascherano sozinho não conseguia parar o rápido ataque teutônico, que foi mais eficiente nas chances que teve.
Na metade da etapa final, Sami Khedira avançou pela esquerda e tocou para Thomas Müller. Mesmo caído, ele conseguiu fazer o passe para Podolski cruzar rasteiro para o implacável Miroslav Klose ampliar o marcador.
Seis minutos depois, Schweinsteiger passou por Di María, Higuaín e Pastore e cruzou rasteiro para o zagueiro Friedrich fazer o terceiro gol alemão.
No último minuto do tempo normal, Schweinsteiger puxou contra-ataque e passou para Özil cruzar da esquerda para Klose bater de primeira no contrapé do goleiro Romero e marcar seu 14º gol na história das Copas – ficando a um tento de igualar Ronaldo Fenômeno.
Thomas Müller, melhor jogador alemão no Mundial, recebeu o segundo cartão amarelo na fase final da competição e estava suspenso para a semifinal contra a Espanha. A Alemanha até tentou segurar o irresistível “tiki-taka” espanhol, mas perdeu por 1 x 0, com um gol de cabeça de Carles Puyol. Na decisão do 3º lugar, venceu o renascido Uruguai por 3 x 2.