Três pontos sobre…
… Rei Pelé e algumas curiosidades
(Imagem: Placar)
● Desde pequenininho brincava de bola, por influência do pai, Seu Dondinho, que era jogador de futebol profissional. Mas foi exatamente em 16/07/1950, aos nove anos de idade, na final da Copa do Mundo perdida pelos brasileiros em casa para o Uruguai por 2 x 1, que o menino, ao ver o choro do pai pela derrota, afirmou: “Não chore, papai. Vou ganhar uma Copa para o senhor”. Aí é que Dondinho chorou mesmo! E o menino venceu três Mundiais.
● Ganhou dinheiro com futebol pela primeira vez aos 10 anos, quando recebeu 4.500 réis para jogar pelo Ipiranguinha, um time amador de Bauru. Com a mesma idade, ainda em Bauru, criou um time, o Sete de Setembro. Para comprar uniforme e outros itens, Pelé e os coleguinhas roubavam amendoim nos trens e vendiam na praça da cidade.
● Aos 16 anos, atuou com a camisa cruzmaltina em um combinado Santos-Vasco. Na zaga de seu time estava Augusto, capitão brasileiro na Copa de 1950 e que, segundo histórias, acabou com a carreira de Dondinho.
● Em 1958 se tornou artilheiro do Campeonato Paulista com incríveis 58 gols, recorde praticamente inalcançável.
● Em jogo treino da seleção brasileira em 1958, preparatório para a Copa, Pelé levou uma pancada de Ari Clemente e lesionou o joelho, mas foi mantido na delegação após uma reunião de cinco horas. O psicólogo João Carvalhaes afirmava que Pelé era imaturo e mesmo com todas as dificuldades, foi bancado pela comissão técnica e estreou no terceiro jogo, contra a União Soviética. Se tornou e é até hoje o campeão mais jovem da história das Copas, aos 17 anos.
● Já famoso e campeão do mundo, ele serviu ao exército por seis meses, em 1959, no 6º grupo de artilharia de costa motorizado, na cidade litorânea Praia Grande.
● No segundo jogo da Copa de 1962, no 0 x 0 contra a Tchecoslováquia, teve um raro estiramento aos 28 minutos do primeiro tempo e ficou o jogo todo apenas fazendo número. No fim do torneio se tornou bicampeão, mas não conseguiu comemorar dentro do campo. Em 1966 foi literalmente caçado em campo e viu o Brasil cair ainda na primeira fase. Em 1970, no auge de sua forma, liderou o Brasil ao terceiro título.
● Depois de consagrado mundialmente, apenas em uma vez em toda a carreira Pelé foi reserva. Foi na preparação para a Copa do Mundo de 1970, no Morumbi, em amistoso sem gols contra a Bulgária. Pelé substituiu Tostão no segundo tempo e vestiu o número 13. A camisa 10 não foi usada por ninguém nesse dia.
● Pelé é chamado de Rei desde a Copa de 1958. Mas se tornou também Cavaleiro da Rainha em 03/12/1997, sendo condecorado pela rainha britânica Elizabeth II e se tornou “Sir”. Por não ser britânico, ele não pode usar o título de forma fixa, sendo apenas Cavaleiro Honorário. Antes, em 1994, recebeu a mais alta insígnia da Hungria, a Cruz da Ordem do Mérito da República da Hungria.
● Pelé perdeu apenas 14 pênaltis na carreira, sendo todos pelo Santos. Desses, a metade chutou para fora, um na trave e apenas seis foram defendidos pelo goleiro adversário.
● Foi expulso em 13 partidas, todas pelo Santos. O árbitro que mais o pôs para fora foi Armando Marques, em quatro jogos. No campeonato paulista de 1957, o Corinthians precisava vencer o Santos para ser campeão. O Peixe venceu por 1 a 0 e o São Paulo foi campeão. Pelé apanhou o jogo todo e foi expulso quando revidou. Inconformado, ao fim do jogo afirmou: “esse time não vai ganhar campeonato nenhum”. A maldição durou até 1977, exatos doze dias após o Rei se retirar definitivamente do esporte.
● Em janeiro de 1969, o Santos foi para mais uma excursão na África, em que previa amistosos no Congo-Kinshasa (ex-Zaire e atual República Democrática do Congo) e no Congo-Brazzaville (atual Congo). O único senão era a guerra que há meses era travada naquele momento entre os dois países. Mas a trégua foi forçada para ver Pelé. O barco que levou o time do Peixe pelo Rio Congo foi escoltado pelos soldados de Brazzaville até o encontro com o exército de Kinshasa. Nos dois países, foram cinco jogos em nove dias, em que Pelé marcou sete gols. Na segunda partida, contra uma seleção do Congo-Brazzaville, o Santos perdia por 2 a 0 e a arbitragem era absurdamente tolerante com as pancadas africanas. Pelé, revoltado, resolveu protestar e pensou em sair de campo. Mas sabia que a sua vida e a de seus colegas de time poderiam estar em risco se os africanos se enfurecessem. Assim, os santistas simplesmente sentaram no gramado. No mesmo instante, o árbitro da partida recebeu um bilhete misterioso e convenceu os jogadores santistas a voltarem ao jogo e passou a apitar corretamente. O Santos virou por 3 x 2, com dois gols de Pelé. Apenas nos vestiários é que souberam o teor do bilhete: “O Santos, time de Pelé, está aqui para dar um espetáculo. Eu estou aqui para assistir a esse espetáculo. Se você não apitar segundo as regras do jogo, vai sair preso do estádio.” Quem assinou foi o comandante Marien Ngobi, chefe de estado do Congo-Brazzaville. Por causa de Pelé nesta visita, o então presidente de Congo-Kinshasa, Joseph Mobuto, oficializou no país o dia 23 de janeiro como o Dia Nacional do Esporte.
● Na mesma excursão, em 04/02/1969, o Santos esteve na Biafra (atual Nigéria), onde a guerra civil já durava dois anos. O jogo, na cidade de Benin, não estava programado e só foi realizado após as autoridades garantirem a segurança de todos. Foi um breve momento de paz na cidade e o tenente coronel Samuel Ogbemudia decretou feriado na parte da tarde e liberou a ponte que ligava as cidades de Benin e Sapele, autorizando a passagem de todos que quisessem ver Pelé. Assim que o Santos subiu no avião, as hostilidades recomeçaram e a guerra só teve fim em janeiro de 1970. Ou seja, em apenas uma viagem, Rei Pelé parou duas guerras.
● Ainda no histórico ano de 1969 (em que também sairia o gol 1.000), em uma excursão pela Colômbia, no estádio El Campín, foi expulso pelo árbitro local Guillermo Velásquez. O público ficou irritadíssimo, pois foram ao estádio para ver o Rei. O juiz teve que ser trocado e Pelé continuou fazendo a festa do povo.
● Em 1959 a usina Chiabrando & Amandola, da cidade paulista de Piracicaba, ofereceu a Seu Dondinho uma proposta para a criação da “Caninha Pelé”. O rótulo tinha a foto de Pelé com o terno usado na volta da Suécia na Copa do Mundo de 1958. O garoto ainda era menor de idade e coube a seu pai receber a oferta. Mesmo assim, aconselhado por Zito, o Rei disse ao pai: “isso não é bom pra mim. Propaganda de pinga não pega bem.” As raras amostras de testes do produto se tornara artigo de colecionador e custam atualmente na faixa de R$ 17 mil. No fim, Pelé nunca aceitou associar seu nome à bebidas alcoólicas e ao tabaco.
● Pelé sempre tocou violão, é compositor e já gravou um CD produzido pelo respeitadíssimo Sérgio Mendes. Fez diversas publicidades bem diferentes, como sobre a alfabetização (“abc, abc, toda criança tem que ler e escrever…”) e a de um jogo de Atari chamado Championship Soccer, que ficou conhecido nos EUA com o nome de Pelé’s Soccer. Mas uma das mais marcantes foi a propaganda do Viagra em 2002, em que dizia: “consulte seu médico. Eu faria isso”. Entre 1977 e 1982, Maurício de Souza publicou histórias em quadrinhos com o personagem Pelezinho. Já o “Café Pelé” foi criado em 1970 após assinatura de contrato entre a empresa Cacique e o Rei. Atualmente, Edson Arantes do Nascimento não é proprietário da marca “Pelé”, pois vendeu os direitos sobre o nome em 2010 para a empresa americana Legends 10.
● Certa vez, o cantor Jair Rodrigues e Pelé se encontraram em um aeroporto e Jair brincou com o Rei: “Tu tá rico, hein,Negão? Uma mala bonitona dessas eu nunca vou ter”. Ao chegar em casa, dias depois, Jair encontrou uma mala de couro igualzinha a de Pelé. Ao questionar a empregada, ela respondeu: “Foi um negão que trouxe e disse que era o Pelé. Vê se pode, Seu Jair?! Mas não se preocupa que eu nem deixei o homem entrar.”
● Pelé cursou faculdade e se formou na década de 70 na Faculdade de Educação Física de Santos (atual Universidade Metropolitana de Santos).
● O armário número 6 do vestiário principal da Vila Belmiro, que Pelé usava, está trancado desde sua despedida do clube em 1974. Só ele tem a chave e o clube o aposentou em respeito ao ídolo. Ninguém nunca o viu aberto e não se sabe o que tem dentro. Nem o Rei fala. Especula-se que ele tenha deixado dois pares dede chuteiras, um chapéu de couro e um colete.
● Foi o primeiro entrevistado de Maradona no programa “La Noche del Diez”, programa semanal argentino que era apresentado por Diego Armando Maradona. Além de ambos trocarem passes de cabeça em embaixadinhas, Maradona chamou Pelé de Rei. Pelé, por sua vez, cantou a música de sua composição “Quem sou eu, quem é você?”. Veja a entrevista completa neste vídeo:
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