… 04/06/1938 – Suíça 1 x 1 Alemanha

Três pontos sobre…
… 04/06/1938 – Suíça 1 x 1 Alemanha


(Imagem: Impromptuinc)

● O Grupo 5 das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1938 tinha Suíça e Portugal. Houve uma única partida para decidir a vaga no Mundial, realizada no dia 01/05/1938, em campo neutro, no estádio San Siro, em Milão. Portugal tinha um ligeiro favoritismo, pois havia deixado uma boa impressão ao empatar com a Alemanha por 1 x 1 em Frankfurt, uma semana antes. Além disso, ainda contava com o fantástico centroavante Fernando Peyroteo. Mas a Suíça resolveu logo o jogo no primeiro tempo, com dois gols em cinco minutos. Georges Aeby marcou aos 23′ e Lauro Amadò fez aos 28′. Portugal só reagiu com um gol de pênalti de Peyroteo, aos 28′ da etapa final. Depois, os suíços se trancaram na defesa e garantiram a classificação para o Mundial. Nas tribunas de honra do San Siro, foi impossível deixar de notar a ilustre presença dos ditadores Benito Mussolini e Adolf Hitler, que pareciam inseparáveis naqueles tempos que antecederam a Segunda Guerra Mundial.

O Grupo 1 do qualificatório dava direito a duas vagas no torneio. A Alemanha e Suécia haviam vencido Estônia e Finlândia e já estavam classificados quando se enfrentaram em Hamburgo. Sem levar isso em consideração, os alemães fizeram valer o status de favoritos e venceram os suecos por 5 x 0.

Como vamos detalhar amanhã, pouco menos de três meses antes do Mundial, o exército nazista invadiu a Áustria e decretou o “Anschluß”, a anexação da Áustria por parte da Alemanha, abrangendo todos os aspectos da vida do país. Com isso, a Federação de Futebol Alemã comunicou à FIFA que a Áustria havia “deixado de existir como país” e os jogadores nascidos em seu território poderiam representar a nova pátria. Resumindo: o “Wunderteam” austríaco teria jogadores sendo obrigados a “prestar serviços” à seleção alemã no Mundial.


(Imagem: Impromptuinc)

● O regulamento do Mundial era o mesmo da edição anterior. Sem fase de grupos, houve um torneio eliminatório direto, começando nas oitavas de final. Se uma partida terminasse empatada depois de 90 minutos, seriam jogados mais dois tempos de 15 minutos de prorrogação. Em caso de empate, os times disputariam mais uma prorrogação nos mesmos moldes. Persistindo a igualdade, haveria outro jogo-desempate dois ou três dias depois. Curiosamente, na decisão, se não houvesse vencedor após os dois jogos com duas prorrogações, a taça seria dividida entre os finalistas.

A Alemanha tem um histórico de dar longevidade aos seus treinadores. Otto Nerz deixou o comando da Mannschaft depois do fiasco nos Jogos Olímpicos de 1936. Mesmo jogando em Berlim, a Alemanha foi eliminada precocemente nas quartas de final para a Noruega. Quem assumiu o cargo de técnico da Nationalelf foi o ex-auxiliar de Nerz, Sepp Herberger – uma astuta raposa.

A seleção alemã contou com nove atletas da extinta equipe austríaca: o goleiro Rudolf Raftl, o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock, Stefan Skoumal e Franz Wagner, além dos atacantes Wilhelm Hahnemann, Leopold Neumer, Hans Pesser e Josef Stroh. Desses nove, quatro faziam parte do elenco da Áustria na Copa de 1934: Raftl, Schmaus, Wagner e Stroh.


Nos anos 1930, quase todas as equipes atuavam no ofensivo sistema “clássico” ou “pirâmide”, o 2-3-5. Uma das exceções era a adversária – Alemanha.


A Alemanha já atuava há alguns anos no sistema W-M, sendo uma das pioneiras a utilizar esse esquema entre as seleções. O esquema tático reforça melhor o sistema defensivo e dá ênfase ao trabalho do meio de campo.

● Quando a Alemanha entrou em campo no estádio Parc de Princes, em Paris, para a partida inaugural da Copa, a tradicional camisa branca seguia o mesmo padrão de quatro anos antes. A novidade foi a inclusão da gola vermelha e de símbolos nazistas ao escudo do lado esquerdo do peito.

A honra de dar o pontapé inicial coube ao presidente da França, Albert Labrun. E ele conseguiu a proeza de errar o chute, arrancando grama do chão e mal fazendo a bola se mover.

O time titular da Alemanha contava com cinco jogadores austríacos: Raftl, Schmaus, Hahnemann, Pesser e Mock – o capitão da equipe.

E saiu na frente com um gol de Josef Gauchel, aos 29 minutos da etapa inicial.

Mas a Suíça, um time mais organizado em campo, empatou ainda no primeiro tempo. André Abegglen marcou aos 43′.

Não houve gols na segunda etapa e nem nas duas prorrogações de 30 minutos seguintes.

Como mandava o regulamento, o placar em igualdade forçou um jogo extra para desempatar a peleja.

O ponta esquerda alemão/austríaco Hans Pesser foi o primeiro jogador expulso no Mundial, aos seis minutos do primeiro tempo da prorrogação. Ele cometeu uma falta muito violenta sobre o capitão suíço Severino Minelli. A falta foi tão dura que a própria Federação Alemã de Futebol o puniu, o suspendendo por seis meses em seu clube (Rapid Viena) e por um ano na seleção alemã.

Houve um enorme equilíbrio nas oitavas de final. Dos sete jogos disputados, cinco foram para a prorrogação (Alemanha 1 x 1 Suíça, Brasil 6 x 5 Polônia, Tchecoslováquia 3 x 0 Holanda, Cuba 3 x 3 Romênia e Itália 2 x 1 Noruega). Duas dessas prorrogações terminaram empatadas e foram necessários jogos extras (Cuba 2 x 1 Romênia e Suíça x Alemanha).

FICHA TÉCNICA:

 

SUÍÇA 1 X 1 ALEMANHA

 

Data: 04/06/1938

Horário: 17h00 locais

Estádio: Parc des Princes

Público: 27.152

Cidade: Paris (França)

Árbitro: John Langenus (Bélgica)

 

SUÍÇA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

Willy Huber (G)

Rudolf Raftl (G)

Severino Minelli (C)

Paul Janes

August Lehmann

Willibald Schmaus

Hermann Springer

Andreas Kupfer

Sirio Vernati

Hans Mock (C)

Ernst Lörtscher

Albin Kitzinger

Lauro Amadò

Ernst Lehner

André Abegglen

Rudolf Gellesch

Alfred Bickel

Josef Gauchel

Eugen Walaschek

Wilhelm Hahnemann

Georges Aeby

Hans Pesser

 

Técnico: Karl Rappan

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

Erwin Ballabio (G)

Fritz Buchloh (G)

Renato Bizzozero (G)

Hans Jakob (G)

Adolf Stelzer

Reinhold Münzenberg

Albert Guinchard

Jakob Streitle

Oscar Rauch

Ludwig Goldbrunner

Paul Aeby

Stefan Skoumal

Alessandro Frigerio

Franz Wagner

Tullio Grassi

Fritz Szepan

Leopold Kielholz

Leopold Neumer

Eugen Rupf

Otto Siffling

Fritz Wagner

Josef Stroh

 

GOLS:

29′ Josef Gauchel (ALE)

43′ André Abegglen (SUI)

 

EXPULSÃO: 96′ Hans Pesser (ALE)

Imagens da partida:


… 09/06/1938 – Suíça 4 x 2 Alemanha


A Suíça manteve o time e o esquema.


A Alemanha também manteve o sistema, mas mudou meio time.

● Para a partida desempate, o treinador suíço Karl Rappan mandou a campo o mesmo time que havia atuado no primeiro jogo.

Por sua vez, o técnico Sepp Herberger fez seis alterações na seleção alemã. Saíram o zagueiro Willibald Schmaus, os meias Hans Mock e Albin Kitzinger e os atacantes Rudolf Gellesch, Josef Gauchel e Hans Pesser. Entraram os zagueiros Jakob Streitle e Ludwig Goldbrunner, o meia Stefan Skoumal e os atacantes Josef Stroh, Leopold Neumer e Fritz Szepan.

Novamente eram cinco atletas nascidos na Áustria: Raftl, Skoumal, Hahnemann, Neumer e Stroh.

Essas mexidas fizeram bem aos alemães, que começaram melhor e abriram logo 2 a 0.

Wilhelm Hahnemann fez o primeiro aos 9′ e Ernst Lörtscher marcou um gol contra aos 22′.

Para dificultar a vida dos suíços, o ponta Georges Aeby teve de sair de campo com a cabeça machucada. Como não eram permitidas substituições à época, a Suíça teve que seguir na partida com um jogador a menos.

Apesar das dificuldades, Eugen Walaschek (russo naturalizado suíço) diminuiu o placar a três minutos do fim do primeiro tempo.

Mas a confiança germânica era tamanha que, no intervalo, integrantes da comissão técnica resolveram enviar um telegrama ao ditador Adolf Hitler, informando a vitória parcial e o fato de estar jogando com um homem a mais.


(Imagem: Impromptuinc)

Muitos acreditavam em uma goleada alemã. Mas o imponderável do futebol apareceu novamente e a sorte sorriu para os helvéticos.

Ainda com dez homens, Alfred Bickel empatou o jogo para a Suíça aos 19′.

Aos 25′, Aeby conseguiu retornar a campo para ajudar seu time e igualou também o número de atletas em campo.

A virada e a classificação suíça veio com dois gols de André Abegglen em três minutos, aos 30′ e aos 33′.


(Imagem: Impromptuinc)

● Curiosamente, o autor do segundo gol suíço diante dos alemães, Alfred Bickel, é um dos únicos jogadores que disputaram jogos de Copa antes de depois da Segunda Guerra Mundial, juntamente com o sueco Erik Nilsson.

Com a eliminação da Suíça para a Hungria nas quartas de final (derrota por 2 a 0), o austríaco Karl Rappan (técnico dos helvéticos), chegou a conclusão que sua equipe só conseguiria vencer adversários mais fortes se tivesse um sistema de jogo bastante defensivo. Essa foi a origem do chamado “ferrolho suíço”, que mudou a essência ofensiva do futebol.


(Imagem: Impromptuinc)

Com o resultado, a hostilidade da torcida alemã resultou em várias garrafas quebradas, vandalizando as ruas de Paris.

A derrota foi colocada na conta do treinador Sepp Herberger, que insistiu em colocar em campo cinco jogadores austríacos que ele foi obrigado a convocar. Era mesmo natural que o técnico tivesse dificuldade para mesclar estilos de jogo tão diferentes. Os austríacos tinham um futebol mais clássico, baseado no toque de bola. Os alemães privilegiavam a força e os passes longos.

Várias fontes culpam a proposital atitude derrotista dos austríacos. Um jornalista alemão comentou posteriormente que “alemães e austríacos preferiam jogar um contra o outro até mesmo estando no mesmo time”.

Para frustração da comunidade nazista, a teoria de superioridade da raça ariana não resistiu à primeira rodada. A eliminação acabou sendo uma grande surpresa.

Foi a primeira vez que a Nationalelf não passou da primeira fase em uma Copa do Mundo. Esse fato ocorreria novamente apenas oitenta anos depois, na Copa de 2018, na Rússia.


(Imagem: Impromptuinc)

FICHA TÉCNICA:

 

SUÍÇA 4 X 2 ALEMANHA

 

Data: 09/06/1938

Horário: 18h00 locais

Estádio: Parc des Princes

Público: 20.025

Cidade: Paris (França)

Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)

 

SUÍÇA (2-3-5):

ALEMANHA (W-M):

Willy Huber (G)

Rudolf Raftl (G)

 Severino Minelli (C)

Paul Janes

August Lehmann

Jakob Streitle

Hermann Springer

Andreas Kupfer

Sirio Vernati

Ludwig Goldbrunner

Ernst Lörtscher

Stefan Skoumal

Lauro Amadò

Ernst Lehner

André Abegglen

Josef Stroh

Alfred Bickel

Wilhelm Hahnemann

Eugen Walaschek

Fritz Szepan (C)

Georges Aeby

Leopold Neumer

 

Técnico: Karl Rappan

Técnico: Sepp Herberger

 

SUPLENTES:

 

 

Erwin Ballabio (G)

Fritz Buchloh (G)

Renato Bizzozero (G)

Hans Jakob (G)

Adolf Stelzer

Reinhold Münzenberg

Albert Guinchard

Willibald Schmaus

Oscar Rauch

Albin Kitzinger

Paul Aeby

Hans Mock

Alessandro Frigerio

Franz Wagner

Tullio Grassi

Josef Gauchel

Leopold Kielholz

Rudolf Gellesch

Eugen Rupf

Hans Pesser

Fritz Wagner

Otto Siffling

 

GOLS:

8′ Wilhelm Hahnemann (ALE)

22′ Ernst Lörtscher (ALE) (gol contra)

42′ Eugen Walaschek (SUI)

64′ Alfred Bickel (SUI)

75′ André Abegglen (SUI)

78′ André Abegglen (SUI)

Imagens da partida:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *