Três pontos sobre…
… 02/06/1962 – Chile 2 x 0 Itália
A “Batalha de Santiago”
(Imagem: BBC)
● O Chile foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 1962, apesar de todas as deficiências na infraestrutura, acentuadas por um terremoto no sul do país, que atingiu 9,5 graus na escala Richter a dois anos da competição. Liderado pelo dirigente Carlos Dittborn, o lema do país era: “Porque não temos nada, daremos tudo”.
Os anfitriões não tinham um bom histórico em Copas e foram sorteados para um grupo difícil na primeira fase, com Itália, Alemanha Ocidental e Suíça. Na primeira partida, os chilenos venceram a Suíça por 3 x 1, enquanto alemães e italianos empataram sem gols. Assim, na partida seguinte a Itália deveria vencer os anfitriões, senão correria sérios riscos de uma eliminação precoce.
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Durante a candidatura do Chile para sediar o torneio, os jornalistas italianos Antonio Ghirelli e Corrado Pizzinelli escreveram sobre a situação precária de Santiago. Essa matéria provocou indignação em toda a imprensa chilena e foi reproduzida no jornal El Mercurio dias antes da partida entre as duas seleções, deixando ainda mais pesado o clima.
Cientes que a partida seria duríssima, os jogadores italianos entraram em campo jogando flores brancas para a torcida local, com a intenção de amenizar um pouco os ânimos. Porém, como repúdio, a torcida atirou de volta as flores em cima dos italianos. Diz a lenda que Omar Sívori se negou a jogar essa partida já prevendo o clima de guerra.
A Itália (como quase sempre) contava com uma força estrangeira: além dos bons argentinos Sívori e Maschio (que inclusive disputaram a Copa América de 1957 pelo seu país natal), foi reforçada pelos brasileiros Sormani e Altafini, o “nosso” Mazzola, campeão do mundo pelo Brasil em 1958.
Tanto Chile quanto Itália jogavam no sistema 4-2-4, mas com estrutura diferente, como podemos observar nos esquemáticos
● Assim que a partida começou, rapidamente ficou claro o estilo de jogo das duas equipes: forte e violenta marcação. A primeira falta foi aos 12 segundos de jogo e desde o início os chilenos saíam em bloco para cercar o juiz, reclamando de tudo. Ainda aos 7 minutos, Toro deu um chute em Mora e levou o troco de Ferrini, mas apenas Ferrini foi expulso. Ele se negou a abandonar o gramado e teve que ser retirado pela polícia.
Pouco depois, foi Landa que cometeu uma falta forte, mas não foi advertido pelo árbitro. O jogo passou a ficar travado a medida que a cada falta os jogadores se embolavam, discutindo e se agredindo.
Aos 38 minutos houve a jogada mais marcante. Leonel Sánchez dribla rumo à ponta esquerda, quando é derrubado por David, que o chuta repetidamente no chão. Sánchez levanta e lhe dá um soco, quebrando o nariz do italiano, mas a arbitragem foi condescendente com ambos. Minutos depois, David se vingou, dando uma voadora no pescoço de Sánchez e foi imediatamente expulso pelo juiz.
Com tudo isso, o primeiro tempo durou 72 minutos.
No segundo tempo e com dois jogadores a mais, o Chile foi superior. Mas só abriu o placar aos 28 minutos, quando Rojas cobriu uma falta da intermediária, o goleiro rebateu e Ramírez encobriu dois defensores com uma cabeçada. Um minuto depois, Landa teve um gol anulado por impedimento.
Mas a três minutos do fim, Toro recebe na intermediária e chuta forte no canto esquerdo do goleiro, ampliando o marcador.
(Imagem: Dailly Mirror)
● Com a vitória, o Chile estava classificado e a Itália precisava de um milagre. Mas a Itália seria eliminada mesmo vencendo a Suíça por 3 x 0, já que os alemães venceram os chilenos por 2 x 0.
Na sequência, o Chile ainda venceria a União Soviética (2 x 1) nas quartas de final. Nas semifinais, não foi páreo para o Brasil, liderado por um endiabrado Garrincha e perdeu por 4 x 2. Na decisão do 3º lugar, o chile “deu tudo de si” e venceu a Iugoslávia por 1 a 0.
O árbitro inglês Kenneth “Ken” Aston foi mundialmente criticado por favorecer os chilenos. Aston reconheceu depois que teve uma má atuação, mas se justificou: “Eu não estava apitando uma partida de futebol; estava atuando com um juiz em um conflito militar”. Ele ainda afirmou que pensou em suspender a partida, mas temeu a reação do público. Depois dessa partida, ele encerrou a carreira. Não por causa do jogo, e sim por uma lesão muscular. Posteriormente, ele foi nomeado diretor de arbitragem da FIFA e acabou responsável pela escala de árbitros da Copa de 1966. Em 1967, para melhorar a comunicação entre árbitros e jogadores, ele criou os cartões amarelo e vermelho, hoje indispensáveis no futebol.
Com certeza foi a partida mais violenta da história das Copas. Ficou conhecida como a “Batalha de Santiago”.
● FICHA TÉCNICA: |
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CHILE 2 x 0 ITÁLIA |
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Data: 02/06/1962 Horário: 15h00 locais Estádio: Nacional Público: 66.057 Cidade: Santiago (Chile) Árbitro: Ken Aston (Inglaterra) |
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CHILE (4-2-4): |
ITÁLIA (4-2-4): |
1 Misael Escuti (G) |
12 Carlo Mattrel (G) |
2 Luis Eyzaguirre |
19 Francesco Janich |
3 Raúl Sánchez |
18 Mario David |
4 Sergio Navarro (C) |
16 Enzo Robotti |
5 Carlos Contreras |
20 Paride Tumburus |
6 Eladio Rojas |
4 Sandro Salvadore |
7 Jaime Ramírez |
21 Giorgio Ferrini |
8 Jorge Toro |
8 Humberto Maschio |
9 Honorino Landa |
9 José Altafini |
10 Alberto Fouilloux |
7 Bruno Mora (C) |
11 Leonel Sánchez |
11 Giampaolo Menichelli |
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Técnico: Fernando Riera |
Técnicos: Paolo Mazza / Giovanni Ferrari |
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SUPLENTES: |
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12 Adán Godoy (G) |
1 Lorenzo Buffon (G) |
22 Manuel Astorga (G) |
13 Enrico Albertosi (G) |
13 Sergio Valdés |
2 Giacomo Losi |
14 Hugo Lepe |
5 Cesare Maldini |
15 Manuel Rodríguez |
6 Giovanni Trapattoni |
16 Humberto Cruz |
3 Luigi Radice |
17 Mario Ortiz |
22 Giacomo Bulgarelli |
18 Mario Moreno |
14 Gianni Rivera |
19 Braulio Musso |
10 Omar Sívori |
20 Carlos Campos Silva |
15 Angelo Sormani |
21 Armando Tobar |
17 Ezio Pascutti |
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GOLS: |
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73′ Jaime Ramírez (CHI) |
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87′ Jorge Toro (CHI) |
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EXPULSÕES: |
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8′ Giorgio Ferrini (ITA) |
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41′ Mario David (ITA) |
Melhores momentos da partida, a partir de 0:56:
Jogo completo:
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