… Íbis: o pior time do mundo

Três pontos sobre…
… Íbis: o pior time do mundo


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● O Íbis Sport Clube foi fundado em 15/11/1938 na cidade de Paulista, na região metropolitana de Recife, pela Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP), tendo a frente Amaro Silva, Onildo Ramos e Alex Codiceira, além do proprietário da fábrica, João Pessoa de Queiroz. O clube foi criado pela necessidade de lazer, como forma de entretenimento para os operários da empresa. No início apenas funcionários da empresa jogavam algumas partidas amistosas. Depois, o clube cresceu e se profissionalizou, tornando inclusive um dos fundadores da Federação Pernambucana de Futebol. Com o passar do tempo e o falecimento do proprietário da TSAP, seus herdeiros não tiveram interesse pela agremiação, o time foi abandonado pela empresa o gerente Onildo Ramos assumiu o clube. Desde então, o nome da Família Ramos sempre esteve ligado ao Íbis.

Fundado em um bairro boêmio, vendo as manhãs de sol, a origem do nome vem do Egito. Íbis é uma ave negra, pernalta e adorada pelos egípcios. Reza a lenda que a ave transmite azar. Desde sua fundação, as cores sempre foram vermelha e preta, em referência ao escudo da TSAP. Foi durante muito tempo chamado pela imprensa pernambucana de o “rubro-negro das Salinas”, por causa do padroeiro do bairro de Santo Amaro das Salinas.

O primeiro jogo do Íbis (incrivelmente) foi uma vitória contra um time chamado Vasco Football Clube, por 1 x 0, em 15/11/1938. Mas as dificuldades do clube se originam de longa data. No campeonato estadual de 1950, em um dos jogos, só apareceram seis jogadores. O limite mínimo da partida era (como ainda é) de sete atletas. Para completar o time, o ex-presidente Ozir Ramos calçou as chuteiras e entrou em campo.

Venceu o Torneio Início do Campeonato Pernambucano em 1948 e 1950, além do bicampeonato do Torneio Incentivo de 1975/76. Em divisões de base, foi campeão estadual sub-20 em 1948 e 1995 e sub-17 em 1995. Disputou a primeira divisão pernambucana em 1946-1950, 1952-1960, 1962-1970, 1972-1976, 1978-1987, 1989, 1991-1993 e 2000.

● Mas em 78 anos de existência, a principal conquista do Íbis é o registro no Livro Guinness dos Recordes. O motivo é o título (nada) honorário de “Pior Time do Mundo”.

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o Íbis ganhou fama mundial por sua péssima qualidade nos gramados. Com nove derrotas consecutivas e uma sequência de 23 jogos sem vitórias, conquistou fama nacional e, posteriormente, mundial. Foram três anos e onze meses sem conquistar uma única vitória. A fama de “pior time do mundo” veio com uma brincadeira de jornalistas da época, mas pegou. A sucessão de derrotas chegou a ser citada em uma edição do “New York Times”, um dos jornais mais importantes do mundo.

A notoriedade começou no Campeonato Pernambucano de 1979, cujo balanço do Íbis foi o seguinte: doze jogos, doze derrotas, 51 gols contra e um a favor (marcado contra pelo zagueiro Cícero, do Sport, na goleada de 8×1). O clube estava a dezenove jogos sem vencer, entre 1978 e 1979 e bateu o Ferroviário por 1 x 0 em 20/07/1980, valendo pelo campeonato estadual de 1980. Depois disso, só voltaria a vencer em 17/06/1984, ganhando do Santo Amaro por 3 x 1.

Mesmo após passar anos sem ganhar um único jogo e levando goleadas “estrondosas”, o clube só foi rebaixado para a segunda divisão em 1995. Em 1999, foi vice-campeão pernambucano da segunda divisão, disputando a elite em 2000, mas caiu novamente no mesmo ano. Afinal como, lembra Ozir Ramos, para o Íbis, mais que competir o “importante é existir”.

Porém, não só de derrotas vive o Pássaro Preto. O time também já bateu no trio de ferro pernambucano:

28/08/1947 – Íbis 5 x 4 Sport (Aflitos)
29/01/1948 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)
01/08/1948 – Íbis 5 x 3 Náutico (Aflitos)
30/11/1952 – Íbis 2 x 0 Sport (Ilha do Retiro)
16/06/1961 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)
18/07/1965 – Íbis 1 x 0 Santa Cruz (Aflitos)
10/05/1970 – Íbis 1 x 0 Sport (Arruda)
25/03/2000 – Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)

O departamento de marketing do clube é muito bom, pois utiliza a “fama” do Íbis para aparecer principalmente nas redes sociais. Só nesse ano, sugeriu um novo torneio entre os grandes eliminados em fases anteriores dos estaduais, a “Eliminados League”, com: Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Avaí, Treze, Náutico e o próprio Íbis. Também publicou “propostas” e até sugestões de contratos para o técnico José Mourinho, Zlatan Ibrahimovic e para o lateral-direito Douglas (ex- São Paulo e cujos direitos pertencem ao Barcelona).

Apareceu na mídia também ao aplicar uma sonora goleada por 8 x 2 no Timbaúba, pela Série A-2 do Campeonato Pernambucano.

● Se o time principal é famoso por vexames, as divisões de base foram prolíficas, ao revelarem principalmente o centroavante Vavá, bicampeão da Copa do Mundo em 1958 e 1962, que deu seus primeiros passos com a bola como meia do Pássaro Preto. Outros dois ex-jogadores de seleção que usaram a camisa rubro-negra foram o lateral esquerdo santista Rildo, em 1959, e o meia direita Bodinho, sensação do Internacional de Porto Alegre, na década de 50.


(Imagem: Resenha Esportiva)

Mas com certeza o maior ídolo da história do Íbis é o camisa 10 Mauro Shampoo. Ele jogou no Íbis por dez anos, entre 1980 e 1990, atuou em 55 partidas e marcou um gol, na derrota para o Ferroviário do Recife por implacáveis 8 x 1. Logo após marcar o gol, Shampoo declarou ter realizado a obra de sua vida e concretizado seu maior sonho. “Só fiz um gol na carreira, e mesmo assim dizem que foi contra. O goleiro deu rebote e a bola caiu na marca do pênalti. Fiz o gol e corri o estádio todinho. O estádio estava lotado… Lotado de espaço vazio. Perdemos de 8 a 1, mas eu fiz um golaço. Não tem registro, por isso dizem que foi contra. Dói no coração. É o gol da minha vida.” Após pendurar as chuteiras, Shampoo virou cabeleireiro e construiu um salão de beleza na Praia da Boa Viagem, que é um dos principais pontos turísticos da capital. O folclórico camisa 10 atende o telefone de seu salão dessa forma: “Jogador do Íbis, cabeleireiro e homem. O único no Brasil. Mauro Shampoo às suas ordens.” Tentou a vida política, sem sucesso.

Se tornou tema de um curta-metragem (25 min), chamado “Mauro Shampoo – Jogador, Cabeleireiro e Homem”, dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e Leonardo Cunha Lima em 2006, que conta a história do “craque”, que, mesmo tendo feito apenas um gol em toda a sua carreira, se tornou famoso como um símbolo do Íbis Sport Club que entrou para Guinness. O filme ganhou diversas premiações. Compõe a trilha sonora uma canção de Oswaldo Montenegro, chamada “A Incrível História de Mauro Shampoo”.

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