Três pontos sobre…
… Milésimo gol de Pelé
(Imagem: R7)
● No dia 14/11/1969, Edson Arantes do Nascimento marcava seu gol nº 999. Em vitória por 3 x 0 contra o Botafogo/PB, no estádio Governador José Américo de Almeida, em João Pessoa, aos 13 minutos do segundo tempo, Manoel Maria sofreu pênalti, convertido por Pelé. Aos 28 da etapa complementar, o goleiro Jair Estevão trombou com um adversário dentro da área e passou mal. Segundo a lenda, o técnico Antoninho escalou apenas um goleiro para a partida e pediu para ele simular uma contusão para o Rei ir para o gol, a fim de deixar o gol 1.000 para palcos mais famosos (Fonte Nova ou Maracanã).
No jogo seguinte, dia 16/11, Santos e Bahia empataram por 1 x 1, em uma Fonte Nova com 100 mil expectadores. Pelé ia marcando o milésimo, quando Pelé driblou o goleiro Jurandir e chutou. O zagueiro tricolor Nildo tirou a bola em cima da linha e foi substancialmente vaiado pela própria torcida. No fim do jogo, o Rei ainda acertaria uma bola no travessão. “Nunca tinha visto algo desse tipo. O beque do Bahia tirou a bola em cima da linha e foi vaiado pelo estádio inteiro”, contou Pelé.
● Era um dia 19/11/1969, quarta-feira, em um Maracanã com 65.157 pagantes, em um jogo sem grande importância na classificação do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. O Santos empatava com o Vasco por 1 a 1. No segundo tempo, Clodoaldo lançou rasteiro para Pelé, que entrou na área e foi tocado pelo zagueiro Fernando. Os jogadores do Vasco cercaram o árbitro e reclamaram acintosamente. O lateral Fidélis pisou na marca do pênalti, tentando deixá-la irregular para dificultar a batida. Pelé se prepara para cobrar a penalidade máxima. O mundo inteiro aguardava com ansiedade. Um verdadeiro batalhão de fotógrafos e cinegrafistas se aglomera atrás do gol.
Aos 33 minutos do segundo tempo, exatamente às 23h23, Pelé estava com a mão na cintura, esperando a autorização do árbitro Manoel Amaro de Lima e levou o ombro ao rosto para secar o suor. Ficou de costas para a meta vascaína e, da meia-lua, olhou os jogadores do Santos perfilados no centro do gramado.
“Havia muita cobrança naquela época. Desde quando me aproximei do milésimo gol, a imprensa do mundo todo começou a seguir o Santos”, explicou Pelé ao Estadão quarenta anos depois. “Foi um momento muito especial. Quando olhei para trás, na hora de bater o pênalti, vi todos os jogadores do Santos abraçados no meio-campo. Putz, pensei… Se eu errar não vai ter ninguém para pegar o rebote… O Maracanã todo gritava ‘Pelé, Pelé’… Minhas pernas tremeram. Eu não podia perder aquele gol…”
O Rei correu para a bola, fez a contumaz paradinha e o resto é história. Bateu com o pé direito a meia altura, no canto esquerdo do goleiro Edgardo Norberto Andrada, que rezou para defender a cobrança e ainda tocou na bola, segundo ele próprio. Em vão. Pelé marca seu gol nº 1000 em treze anos de carreira. Ocorreu o que Andrada mais temia: foi esquecido como bom goleiro (que realmente era) chorou de tristeza por entrar para a história como o goleiro que levou o histórico gol de Pelé. “Ele não queria levar o milésimo gol de forma alguma”, lembra Pelé. No vestiário, por rádio, o argentino conversou com o Rei e lamentou o gol sofrido: “Você merece muito mais de mil gols, Pelé. Mas lamento que tenha sido eu o goleiro mil. Confesso que não queria de jeito algum que você fizesse esse gol em mim”. Em seguida, Pelé se relativizou: “Uma das coisas que gostei foi que você fez tudo para evitar o milésimo gol, o que o valorizou”.
Mas enquanto Andrada ficou socando o gramado de raiva, o Camisa 10 santista correu no fundo do gol, rodeado pelos repórteres que invadiram o campo, pegou a bola e a guardou, dizendo para a posteridade: “Pensem no Natal. Pensem nas
criancinhas.” “Pelo amor de Deus, minha gente! Agora que todos estão ouvindo, faço um apelo especial a todos: ajudem as crianças pobres, ajudem os desamparados. É o único apelo nesta hora muito especial para mim.”
Depois de ser carregado pelo goleiro santista Agnaldo e cumprimentado pelos outros colegas, Pelé vestiu uma camisa do Vasco com o número 1000 e deu a volta olímpica no estádio, com a torcida aplaudindo de pé, apesar de seu gol ter sido o da derrota do time da casa por 2 a 1. No vestiário, voltou a lembrar das crianças carentes: “Ajudemos às crianças desafortunadas, que precisam do pouco de quem tem muito”.
● Assim foi escrito um dos mais belos e importantes capítulos da história do futebol mundial.
Vasco 1 x 2 Santos
Data: 19/11/1969
Estádio: Jornalista Mário Filho (Maracanã)
Público: 65.157
Cidade: Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Manoel Amaro de Lima
Vasco: Andrada; Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Bougleaux, Renê, Acelino (Raimundinho) e Adílson; Benetti e Danilo Menezes (Silvinho). Técnico: Célio de Souza.
Santos: Aguinaldo; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo, Lima, Manoel Maria e Edu; Pelé (Jair Bala) e Abel. Técnico: Antoninho.
Gols: Benetti, aos 17 minutos do primeiro tempo; Renê (contra), aos 10; e Pelé (pênalti), aos 32 minutos do segundo tempo.
Este é histórico do futebol mundial embora não tenha jogado fora do seu burgo país